Muitas são as horas em que eu tenho estado refletindo sobre o relato que está transcrito nas páginas seguintes. Eu acredito que os meus instintos não estão distorcidos quando me aconselham a deixar o texto em sua simplicidade, tal como me foi transmitido.
E o próprio manuscrito, você precisava me ter visto quando ele foi inicialmente colocado sob meus cuidados, virando suas páginas curiosamente e examinando-o rápida e desajeitadamente. Trata-se de um livro pequeno, mas grosso, e suas páginas estavam todas, exceto algumas das últimas, preenchidas com uma caligrafia estranha, mas legível, de forma muito apertada. Agora enquanto escrevo, ainda guardo em minhas narinas o cheiro incomum e distante de água de poço que ele desprendia, e os meus dedos têm a lembrança subconsciente da textura macia e úmida de suas páginas há muito fechadas.
Eu o li, e ao ler ergui as Cortinas do Impossível que obscurecem a mente, e vi dentro do desconhecido. Em meio a frases rígidas e abruptas eu me perdi e mesmo assim não tinha nenhum erro de que acusar o relato tão rude porque, melhor do que minha própria prosa ambiciosa, tal história mutilada é capaz de evocar tudo o que o Solitário que vivia naquela casa desaparecida, tentou dizer.
Sobre o relato simplório e rígido de tão extraordinários acontecimentos eu posso dizer pouco. Ele está diante de você. A história oculta deve ser desvelada, pessoalmente, pelo leitor, de acordo com a sua capacidade e seu desejo. E se alguém falhar em entender, tal como agora entendo, a sombria figura e o conceito daquilo a que alguns comumente dão o nome de Inferno e Céu, mesmo assim eu prometo certas excitações, apenas por ler esta história como ficção.
WILLIAM HOPE HODGSON December 17, 1907