Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
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Mai 07
publicado por José Geraldo, às 15:00link do post | comentar

Teresa era uma menina de apartamento. Como toda criança ela gostava de bichinhos, não só dos de pelúcia mas dos de verdade também. Teresa gostava muito de passarinhos e de cavalos: seu grande sonho era um dia poder cavalgar um pônei pelo pasto afora, sentindo o vento nos cabelos e o sol no rosto.

Mas o apartamento é um lugar pequeno: ali não dá para ter um cavalo. Coitado do bichinho! Onde ele pastaria? Em que riacho poderia brincar?

Teresa até pensou em pedir que sua mamãe lhe desse uma gaiola de passarinho, mas pensou: que tristeza o pobrezinho ficar preso numa coisa tão pequenina como uma gaiola, logo ele que pode voar, que gosta de brincar por toda parte.

Quando Teresa pensava na tristeza do passarinho engaiolado ela pensava também um pouquinho em si mesma: como se sentia triste por ficar tanto tempo dentro de casa, longe das outras crianças, longe das flores, dos riachos e dos bichinhos. Por isso mesmo Teresa não queria ter um passarinho na gaiola.

Mas Teresa vivia triste e pensativa, sonhando em poder cavalgar pelo pasto no lombo de um cavalinho, poder colher flores, tomar banho de riacho, brincar na terra com outras crianças, longe das paredes cinzentas dos prédios da cidade, esses caixotes de guardar gente.

Um dia o pai de Teresa voltou da rua com uma caixa grande, toda colorida. Quando Teresa rasgou o embrulho não conseguia acreditar: seu papai tinha comprado um pônei de brinquedo, tão grande que ela podia montar nele! O pônei tinha também rodinhas nos pés, até dava para Teresa fingir que estava cavalgando pela casa.

Desde esse dia Teresa passou a ser um pouquinho mais feliz. Ainda não havia cavalgado pelo pasto no lombo de um cavalinho de verdade, mas pelo menos tinha seu pônei de brinquedo — e com ele ela podia fingir que estava pelas montanhas afora, andando entre flores e animaizinhos.

Mas o tempo foi passando e Teresa perdeu a graça de brincar com o pônei, ele foi ficando lá num canto do quarto e Teresa voltou a ficar pensativa.

Um dia ela estava tão triste de vontade de poder passear a cavalo que foi dormir chorando, baixinho para os seus pais não ouvirem.

Mas Deus ouviu e resolveu dar uma pequena alegria para Teresa. Ele mandou que um anjinho muito brincalhão fosse levar um sonho colorido para a menina. Só que o anjinho resolveu fazer diferente: em vez de dar um sonho bonito para Teresa ele a acordou de mansinho no meio da noite e lhe mostrou o cavalinho de brinquedo:

— Venha, Teresa. Porque essa noite você vai andar a cavalo, vai ver flores, vai ver os bichinhos…

Teresa, ainda meio com sono, montou no pônei de brinquedo, e então o anjinho deu um beijo na testa do cavalinho e ele começou a se mexer! Virou um pônei de verdade, com um longa crina negra e um par de imensas asas castanhas, escuras como seu pêlo.

Teresa nem teve tempo de se assustar: o pônei bateu as asas e saiu voando, voando, alto bem alto acima das luzes da cidade e das nuvens. Teresa olhou para baixo e teve até medo, de tão alto que estava: lá embaixo os carros pareciam baratinhas e as pessoas pareciam formigas.

O pônei voou para além das montanhas altas e foi até o mar. Lá ele baixou para que Teresa pudesse estender a mãozinha e tocar a água fria e salgada do mar. Teresa levou o dedinho a boca e viu que a água era salgada mesmo, como uma lágrima.

Depois o pônei voou de novo através das montanhas, parou num lugar muito alto, cheio de cachoeiras, onde cresciam muitas flores diferentes, com perfumes estranhos. Teresa colheu algumas e fez um lindo ramalhete para sua mamãe, então montou de novo e seguiu passeando.Para além das montanhas havia uma grande mancha escura no chão.

— Você sabe o que é aquilo? — perguntou o pônei.

— Não sei, mas tenho medo — disse Teresa.

— Não tenha medo, pois é lá naquele lugar escuro que existem as coisas mais bonitas.

E desceu até a escuridão. Quando chegou perto Teresa viu que era uma floresta enorme, onde ainda não havia ruas e nem prédios. Dentro dela passava uma fita brilhante que Teresa logo percebeu que era um riachinho.

O pônei pousou junto ao riacho, bem perto de onde havia um bichinho esquisito bebendo água. Teresa teve medo do bichinho, mas o pônei lhe disse para chegar perto:

— Não tenha medo.

— Mas eu não quero assustar. Ele é tão bonitinho. Parece um rato com cara de gato, ou será um porco com cara de rato?

— É uma capivara, Teresa — disse o pônei.

Teresa achou o nome do bicho muito engraçado e deu uma risada. Justo nesse momento ela lembrou de casa e disse ao pônei:

— Xi, temos que voltar! Se mamãe não me vê na cama ela vai ficar muito assustada!

Então o pônei a levou de volta para casa. Teresa escondeu os chinelos sujos de barro debaixo da cama e foi dormir de novo.

No dia seguinte quando acordou não havia sinais de barro nos chinelos e nem o ramalhete que trouxera para a mamãe estava em cima da escrivaninha, mas havia ainda um aroma delicioso que ela nem sabia direito do que era, pois não era de nenhum perfume.


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