Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
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Jun 07
publicado por José Geraldo, às 07:39link do post | comentar | ver comentários (2)

Mais uma novela imbecil escrita pelo Carlos Lombardi acaba de terminar. Mais uma vez considerada “uma das piores dos últimos tempos”. Mais um festival de homens de peito peludo aparecendo sem camisa, romances vazios baseados no sexo desregrado e nenhuma ideia interessante para desenvolver. É evidente que o cara deve ter um pistolão muito forte dentro da Rede Globo pois, além de serem um fracasso de crítica, as suas novelas não são nenhum sucesso de público. Nunca foram.

Cheguei à conclusão de que as novelas desse autor são como aqueles gols que o atacante perde dentro da pequena área, a um metro do linha final, sem goleiro ou defensor à frente: eu acho que, do mesmo modo como faria um gol naquelas condições, eu também escreveria uma novela como as do Carlos Lombardi.

A fórmula é simples: crie um anti-herói musculoso e bonitão que tem uma fraqueza (bebida, drogas, jogo, canalhice, uma ex-mulher, uma doença esquisita) e ponha-o no meio de um triângulo (ou melhor, um heptágono) amoroso envolvendo uma moça rica e mimada, uma pobretona sem sal e sem açúcar que vai ser deixada para trás depois de causar algumas emoções ou então será corrompida. Todos os outros personagens gravitam em torno dessa relação central. Depois crie um cenário esquisito, que pode ser um país imaginário, uma fazenda no interior do Rio de Janeiro ou um bairro da periferia de São Paulo mas sempre falará português com as gírias da Zona Sul do Rio de Janeiro, será parecido com a cidade cenográfica do Sítio do Pica-Pau Amarelo e será habitado por idosos gentis, mulheres safadas, crianças emocionalmente perturbadas e um ou dois vilões cheios de marra e estilo. Depois que fizer tudo isso, arranje desculpas para algumas cenas de semi-nudez, escreva muitos pretextos para demonstrações de tele-catch e ponha muito homem de peito peludo tomando banho, trabalhando sem camisa, nadando em rio ou fazendo ginástica. Para completar mate um personagem no começo da novela e crie algum mal-entendido óbvio relacionado à sua morte (tipo: “quem matou”, “ele tinha uma filha deserdada”, “ele planejou a própria morte”, etc.).

Depois de estabelecer estas “bases” é só encher linguiça durante cento e oitenta dias criando diálogos idiotas e episódios repetitivos de mal-entendidos, trocas de casais, brigas conjugais, perseguições automobilísticas, uma ou outra cena de violência moderada e algum melodrama. Para conseguir concluir a obra você terá, é claro, a ajuda de uns cinco ou seis manés que vão dividir os créditos com você. Ou seja, é mole fazer uma novela assim. Se a Globo estiver precisando economizar uns cobres eu topo pegar o emprego dela pela metade do salário (e ainda boto alguma reflexão madura embutida aqui e ali no enredo para agradar a essa parte da imprensa chamada “crítica”, que se acha “cultural” só porque leu um artigo sobre Umberto Eco e um livro do Foucault).

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