O argumento do INACREDITÁVEL começa citando a famosa “Lei de Godwin”, segundo a qual “Se uma discussão na Internet se prolonga por algum tempo, a chance de aparecerem comparações envolvendo Hitler ou nazistas se aproxima de 100%”. Godwin é advogado, não historiador ou filósofo e humildemente não tentou aduzir implicações lógicas de sua frase humorística.
O objetivo dessa lembrança é claro: algo que é visto como tão mau não pode, logicamente ser tão mau. Me parece apenas wishful thinking: o fato de nós não gostarmos de uma ideia não quer dizer que a ideia é falsa. Mas para o INACREDITÁVEL, o fato de o nazismo ser tão mal falado significa que ele não pode ser tão ruim quanto dizem, o que não faz nenhum sentido enquanto argumento. Poderíamos dizer, em nome desse relativismo torto, que um conhecido psicopata, como o Andrei Chikatilo, não é tão ruim assim porque ninguém pode ser tão ruim?
Para o INACREDITÁVEL o fato de Hitler e sua camarilha terem se perpetuado como arquétipos do mal, daquilo que a humanidade deve evitar é algo que, por alguma razão, o incomoda. Imagino que os descendentes de Vlad Ţepes ou de Giles de Rais ou de Erzsebét Bátory devem se sentir de forma semelhante. Mas se o nosso amigo não é descendente de algum nazista (será?) então porque lhe incomoda que exista tal modelo? Por que ser tão insistente em tentar desmascará-lo?
Não me parece razoável que tantas pessoas, de forma tão insistente, se insurjam contra algo que, de qualquer forma, NÃO LHES DIZ RESPEITO. A questão do nazismo é hoje, basicamente, um tema histórico que fica cada vez mais no passado. A obsessão, porém, em “limpar a lápide” de Hitler do sangue que ele derramou é indício de alguma motivação que ainda nos escapa.
Poderia um pesquisador comportamental humano aduzir ao reflexo maniqueísta imediato, ou seja, o momento de nosso raciocínio a que sejamos orientados a nos utilizar da comparação mais inequívoca possível: a citação “nazista” como argumento irrefutável.
Também confesso que não gosto de comparações maniqueístas e por essa razão, enquanto professor de história, sou também eu um revisionista. Apenas não sou um negacionista: não vejo necessidade em dizer que todo mundo tem sido enganado o tempo todo desde décadas. A maioria dos historiadores também é revisionista: todo ano surgem livros de história que revisam o que se sabe sobre o passado a partir de novos dados arqueológicos ou pesquisas em fontes.
Esse revisionismo patrocinado pela própria academia não é bombástico e nem afirma que somos todos idiotas: ele é parte do processo natural de acúmulo do conhecimento que ocorre a todo momento entre os pesquisadores. Infelizmente, na boca do leigo a História é uma ciência monolítica e imutável. Para ele, existe uma História oficial que é imposta a todos pela goela abaixo.
Esta crendice a respeito da História é muito estúpida, mas tem uma dose de maldade. É estúpida ao supor que os historiadores têm o poder de determinar o que as pessoas pensam sobre o passado: eles não o têm e o fato de existirem pessoas que ainda negam o Holocausto até hoje é prova de que os historiadores não têm credibilidade generalizada. Mas é maldosa porque lança uma acusação vexaminosa contra toda uma ciência que já é tida pelo vulgo, pelo leigo, pelo ignorante, como uma ciência de secundária importância. O negacionismo é um ataque contra o método histórico e contra o caráter dos que fazem os livros de História.
Não custa notar que quando alguém afirma que todos estão errados, que o “sistema” está errado (seja lá o que isso signifique) esta pessoa se concede uma posição messiânica: sou eu que estou certo. mesmo sendo leigo e monoglota, eu detenho um conhecimento melhor do que o dos “professores”. Na ausência de uma explicação razoável para a origem de tão maravilhoso conhecimento os messiânicos negacionistas recorrem ao conhecimento revelado: reverenciam líderes de bando, como o hediondo S. E. Casten e outros da mesma criminosa laia, e papagaiam seus argumentos pelo mundo como o “disangelho” de uma crença religiosa perversa.
Em outras oportunidades eu já enumerei indícios claros e evidentes de que o neonazismo (subjacente ao negacionismo) se tornou ou está em vias de se tornar uma religião. Dentro em breve estaremos assistindo aos neonazistas reivindicando o mesmo tipo de liberdade de expressão e de culto que é garantido aos católicos, aos umbandistas ou aos budistas. E não é preciso analisar muito para entender que eles têm razão se o fizerem, pois o neonazismo funciona exatamente como uma religião.
Por que a citação comunista não provoca o mesmo efeito?
Nosso amigo INACREDITÁVEL se julga muito esperto e acha que com essa pergunta tirou um coelho da cartola: “ora — imagina ele — se ninguém condena o comunismo, por que condenar o nazismo?” Este é o velho truque índio chamado de falácia tu quoque, que consiste em inverter o sentido da mudança. Em vez de dizer, “o comunismo possui analogias com o nazismo, logo devemos condená-lo também” o falacioso diz: “o nazismo tem analogias com o comunismo, que não é condenado, então não condenemos o nazismo.”
Até aqui o leitor já deve ter percebido que a argumentação de nosso amigo INACREDITÁVEL, como não poderia deixar de ser, começa a fazer água. Ela começou falida ao tentar defender o indefensável, mas piora ao tentar fazer isso mediante o emprego de falácias.
Outra falácia curiosa é a da amostra insuficiente: imagina nosso amigo que uma breve visita a qualquer livraria ou banca de jornais é suficiente para provar que a Segunda Guerra Mundial ainda é um tema relevante para o conjunto da sociedade. Esquece-se ele de que muito poucos são os brasileiros que têm o hábito da leitura. Convenientemente não menciona que boa parte dos livros e revistas destinam-se justamente ao consumo dos neonazistas, e não a uma demanda da sociedade como um todo.
Em seguida, perdendo a vergonha de mostrar o seu arsenal de manipulações verbais, ele entra de sola já qualificando o Holocausto de “religião” e de “indústria” que explora o “suposto” genocídio que, claro, não houve. Na ótica torta desse argumento, o fato de haverem pessoas que se identificam morbidamente com um regime que passou a história como o exemplo de tudo que NÃO deve ser feito por um país civilizado indica que deve haver, igualmente, pessoas que gostam de “apreciar” fotos do genocídio, que ele qualifica de “pornográficas” por certa razão.
Obra do fundamentalismo judaico. Ele coloca todas as pessoas que se denominam "judeus" como alvo de rancores e dissabores de suas intrigas e perversidades…
Passa-se em seguida ao velho truque da culpabilização da vítima: é o fundamentalismo judaico que faz com que os não judeus se tornem alvo do rancor do resto da sociedade. Desta forma, argumenta-se, mesmo que tenha havido um Holocausto, que “não houve”, ele teria sido causado pela perversidade do judeu.
Para o INACREDITÁVEL, o fato de existirem tantos filmes e livros sobre o assunto indica que há um objetivo declarado de “denegrir” a imagem de pessoas tão boas e santas como Herman Göring, Heinrich Himmler, Josef Mengele, Klaus Barbie, Adolf Hitler, etc. Não imagina ele que tal repetição se deve meramente à riqueza que o nazismo apresenta, por suas características inerentes, como elemento dramático. Não percebe ele que a Alemanha Nazista, o Império Romano, a França Napoleônica e, no Brasil, o sertão nordestino, são e serão temas eternos devido à sua riqueza imagística e arquetípica. Falar em arquétipos com um negacionista chega a ser engraçado, visto que ele dificilmente terá sensibilidade para compreender o conceito, mas é necessário para que os demais reflitam.
Ele vê, no entanto, outras formas mais sutis de evocação do nazismo, tais como, segundo ele cita, o sutil sotaque alemão daquele vilão terrível. Esquece o INACREDITÁVEL que já havia, há séculos, uma tendência a vilanização dos alemães, por várias e complexas razões, especialmente na na França, inimiga figadal da Áustria e dos príncipes alemães. Esquece-se ele de que a Primeira Guerra Mundial já havia sedimentado a má reputação dos alemães, em parte injustamente, isto é fato. E por fim, a brutalidade do regime comunista Alemão Oriental, hoje conhecida, tampouco tem a ver com o paradigma do vilão alemão. E não podemos nos esquecer, é claro, que na ótica do INACREDITÁVEL, todo estereótipo que se vê no cinema tem uma função propagandística, claro.
Se até aqui o leitor ainda não se convenceu, parte-se então para a evocação de um demônio de nome pomposo, o “Sionismo Internacional”. A simples menção da palavra “Internacional” já funciona como um mantra a causar repulsa na cabeça do direitista clássico, que tem uma ideologia autonomista e anti-global. Depois de citar casos conhecidos de fundamentalismo, islâmico e cristão, o INACREDITÁVEL afirma que o Sionismo é um movimento fundamentalismo judaico, ou seja, religioso. Nada mais distante da verdade, pois o sionismo é um movimento secular originado do desejo dos judeus de terem um pátria para abrigar-se justamente das perseguições que sofriam na Europa por não terem a sua. Atualização em 15/08/2010: Mais do que isso, o Movimento Sionista tem relações com o Socialismo e o Trabalhismo. Voltamos a culpabilizar a vítima.
Passando por cima de uma série de citações de pessoas que se constrangeram por usar frases ou fantasias nazistas, finalmente o autor admite, de forma previsível, que parte do interesse pelo nazismo é apenas o genuíno interesse de pessoas para as quais a guerra já passou e o odioso inimigo é apenas outro “Império Romano”, com uniformes bonitos e insígnias bacanas. E como o povo gosta de uniformes e insígnias!
Mas o mais interessante é que a seguir, por vias tortuosas, tenta-se argumentar que o nacional-socialismo é a única forma legítima de nacionalismo. Isto é feito de forma bastante sutil, quase não se podendo isolar uma frase, a não ser esta:
… culminando hodiernamente na condenação e perseguição de todos os resquícios dos movimentos nacionalistas da primeira metade do século XX.
Para o inacreditável, a derrota do nazismo e o “massacre de todos os movimentos nacionalistas” são parte de um Grande Plano para implantar à força uma nova ordem mundial. Este discurso não lhe parece familiar? Onde foi que você leu isso? Se você é ou já foi cristão pirado, você já leu coisas assim na Espada do Espírito. Mais uma vez o negacionismo tergiversa com a pregação religiosa ao inventar uma forma de escatologia.
Posto isso, a conclusão forçosa é de que o Sistema se alimenta integralmente da versão histórica oficial para os acontecimentos ligados à 2ª G.M. Não pode e não quer se desvencilhar do “nazismo” por um único motivo: a subsistência das ideologias dominantes depende da constante reafirmação de que aqueles que hoje ocupam as posições de poder são os “heróis”, vitoriosos sobre o “mal”. Evidente simbiose entre a necessária legitimidade e a manutenção do mito. Os Aliados venceram os nazistas, mas se tornaram escravos de sua memória, atormentados pelo medo de seu retorno.
Com um pouco mais de coragem o INACREDITÁVEL teria chamado a ONU de Grande Besta e algum líder internacional de hoje de Anti-Cristo. Esta interpretação da História sob a ótica revisionista é extremamente falha porque desconsidera a motivação econômica, segundo o idealismo dos negacionistas, a roda da História é movida pelos ideais de sociedades secretas ultra-poderosas. A teoria clássica de conspiração se manifesta em toda sua glória ao final de quase todo artigo negacionista.
Fato curioso é observar o ressurgimento de movimentos denominados “neonazistas”. A despeito de todo o esforço para a condenação desta ideologia, surpreende o aparecimento de tantas organizações clandestinas empunhando esta que é a bandeira mais difamada de todas.
Ninguém deveria se surpreender com isto, pois em matéria de ideologia, sempre há um “chinelo velho para um pé cansado”: praticamente toda ideologia tem simpatizantes. O fato de haverem judeus neonazistas indica que não há nada de surpreendente em jovens niilistas aderirem a ideologias tidas como inaceitáveis pela sociedade, por exemplo.
A ideologia nazista é discriminada pelo código pelo código penal brasileiro por incluir como pedra fundamental o racismo, mas principalmente por pregar a lealdade a uma nação estrangeira e denegrir a imagem de nosso país, que contra o nazismo lutou.
São os lacaios do Sionismo Internacional, estes sim, que trabalham incessantemente para impedir o ressurgimento do Nacional-Socialismo, principalmente através da manutenção do mito do Holocausto, e não o contrário!
Esta frase é interessantíssima, porque ela corrobora a minha interpretação de que o revisionismo/negacionismo nada mais é do que um instrumento para tentar recriar o Nacional-Socialismo enquanto alternativa política aceitável. Vejam bem, isto foi escrito no próprio site do INACREDITÁVEL, na época em que eu fui expulso da comunidade HISTÓRIA por acusar o revisionismo de ser um instrumento político e não uma vertente legítima de História. Fui expulso pelos moderadores de lá, que toleram a uma imensa canalha de fakes neonazis e fascistoides, como o INACREDITÁVEL, o Idi Amin e o Massa Sofrida, mas expulsam quem tenta desmascará-los em vez de se engalfinhar com eles em debates circulares e irrelevantes. O INACREDITÁVEL continuou para refutar-me e denegrir a minha imagem, postando em seu site suas invectivas vazias.
Vejam o absurdo, em que a luta pela verdade histórica é acusada de fraudulenta por aqueles que realmente possuem o poder de manipulação, pois ocupam as posições-chave na sociedade (mídia, governo, meio acadêmico, organizações internacionais e de lobby econômico).
E como todo debate com negacionistas é circular, voltamos ao início, ao momento em que eu dizia do messianismo embutido no discurso neonazi.
A supressão do espírito crítico com vistas à pacificação política, dogmatizados pontos estratégicos da História Mundial, é prática já amplamente denunciada e com validade em vias de exaurimento.
Não deixa de ser curioso que o adepto de uma ideologia dogmática e que, uma vez no poder, exerceu indiscriminada repressão contra outras correntes de pensamento, venha a censurar a “supressão do espírito crítico”. Mais curioso é que ele fale em coisas feitas em nome da pacificação, se os nazistas provocaram a maior guerra da História. É mais curioso ainda é que um neonazista recrimine o suposto “dogmatismo” de outrem. Mas não devemos temer, afinal, como todo messianismo, o negacionismo afirma que este sistema de coisas está em vias de terminar pois Jesus vem logo, digo, o Nacional-Socialismo ressurgirá para nos libertar (desde é claro que sejamos brancos, de olhos azuis e sobrenomes germânicos, de outra forma seremos escravizados).
Originalmente publicado no Igreja Orkutista da Salvação.
Este debate causou a minha expulsão de uma comunidade de História no Orkut.