Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
23
Jan 09
publicado por José Geraldo, às 16:04link do post | comentar | ver comentários (1)

A maioria de nós está acostumada com um padrão porco de layout de texto. Não nos importa mais a qualidade porque nunca conhecemos a qualidade, ou então a julgamos algo inatingível. Ao longo desta postagem, no entanto, você conhecerá livros feitos com altíssimo padrão de qualidade de design, feitos com LATEX, e então se perguntará: por que eu não desejo que meus trabalhos tenham esta qualidade?

A maioria de nós está acostumada com a idéia de que devemos pagar a outras pessoas para que façam por nós aquilo que desejamos. Nada errado com isso se você tem condições de pagar. Mas para a maioria de nós que não tem dinheiro sobrando, a opção de fazer por conta própria é uma necessidade. Através do LATEX podemos obter isso, a um custo baixo.

LATEX é talvez o melhor e o mais estável programa de leiaute de documentos de texto do mundo.
Ele vem sendo aperfeiçoado e debugado há mais de vinte anos, além de ter sido originalmente feito de acordo com séculos de conselhos de tipógrafos. Herman Zapf (o sobrenome te diz alguma coisa) ajudou Donald M. Knuth a desenvolver o TEX original.
É o único programa que permite a impressão correta de fórmulas matemáticas.
Mas não pense por isso que ele se limita à matemática: a seguir você verá romances e obras de ciências humanas compostas com LATEX.
É software livre e gratuito e está disponível para todos os sistemas operacionais.
A principal conseqüência disso é que você não ficará preso a uma empresa e poderá obter a mesma qualidade tipográfica em todos os seus computadores.
Nenhum formato de arquivo de texto é tão estável e portável
Documentos gerados há vinte anos ainda podem ser corretamente impressos. Se você usa apenas os comandos padrão, sem depender de pacotes de terceiros, o seu documento poderá ser compartilhado com todos os usuários do programa, sem problemas.
O código fonte é um arquivo de texto
Você não corre risco de “corrupção do arquivo” e nem terá problemas apra mandá-lo por correio eletrônico.
LATEX não é mais difícil do que HTML.
Portanto, a menos que você realmente rejeite de antemão aprendê-lo, você tem como usá-lo sem dificuldades.
Sua única grande fraqueza é não ser visual
Mas isto pode ser uma qualidade, pois você não dependerá de uma interface gráfica pesada e poderá rodá-lo em um sistema antigo.

Dario Taraborelli compilou uma série de exemplos de como o LATEX é superior ao MS Word e aos demais processadores de texto visuais. Gerben Wierda também possui uma lista de exemplos muito interessante, mas nada se compara aos exemplos da Tseng Books.

Como você pode ver, qualidade não é algo que dependa de um programa de cinco mil reais a licença ou de pagar mil reais a alguém que faça por você. Vamos pôr as mãos à obra?

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18
Jan 09
publicado por José Geraldo, às 21:24link do post | comentar

Certa vez em um filme sobre mortos vivos algo filosófico o mocinho ressuscitava sua namorada morta e logo ela começava a ter comportamento anômalo, tal como comer carne crua e fazer escarificações na pele. Quando ele lhe perguntou porque as fazia (as incisões) ela respondeu: "para sentir-me viva".

Acredito que certas pessoas têm uma dificuldade para experimentar o mundo sensorial, por isso elas precisam de extremos para conseguir satisfazer-se. Precisam que a cerveja esteja "estupidamente" gelada. Precisam correr com o carro a 160 km/h dentro da cidade. Precisam de comer uma pimenta "da braba". Precisam ser promíscuas ("já beijei um, já beijei dois, já beijei três"). Precisam de música no último volume com 20 mil watts de potência.

Precisam, enfim, de sensações extremas porque estão "meio mortas", ou melhor, amortecidas. Para superar a dormência de seus sentidos em mundo que as bombardeia de informação até torná-las incapazes de enxergar, ouvir, tatear, provar, cheirar sutilezas.

São semi-cadáveres? Ou são apenas pessoas que se sentem desesperadamente perdidas num mundo que não as nota e que, por isso, precisam de fazer coisas extremas? Há para ambos os gostos. Há até os que fazem essas coisas precisamente para não serem notados.

Tatuam-se dos pés à cabeça e se cobrem de piercings porque querem ser notadas, mas também, ocasionalmente, porque tatuar-se e perfurar-se é um tipo de rito de passagem no qual "se sentem vivas" e que lhes abre a participação em uma "tribo" (conceito antigo, revivido em nossa sociedade fragmentada).


17
Jan 09
publicado por José Geraldo, às 20:18link do post | comentar

Andei fuçando na Internet sem o que fazer, mais uma vez. Desta vez descobri que é possível criar um avatar de mim mesmo ao estilo dos Simpsons, através do site www.simpsonsmovie.com. Tá certo, a notícia é mais velha que guaraná de rolha (na Web um ano é um pouco menos que um milênio), mas não deixou de ser interessante.

Então esse camarada esquisitão aí do lado soy yo! Prestem atenção nos dentinhos protuberantes, na roupa conservadora, na estampa do Tux na camiseta e no formato do nariz. Tudo isto combinou. Só ficaram faltando minhas orelhonas, meu queixo duplo e minha barba eternamente por fazer.

Muito bacana mesmo, mas eu gostaria de ter tido a oportunidade de salvar a imagem sem ter que fazer uma impressão de tela. Talvez pelo fato de o site ser tão antigo algumas ferramentas já não funcionam.


16
Jan 09
publicado por José Geraldo, às 17:42link do post | comentar

Para a maioria das pessoas o LATEX parecerá um modo muito estranho de se trabalhar com documentos de texto. Afinal, texto é uma informação essencialmente visual e o LATEX trabalha com ela de forma não-visual e não-interativa. Pode parecer um contra-senso, mas na verdade é apenas uma forma conceitualmente diferente de se abordar o mesmo problema.

Processamento de Texto

Quando os primeiros computadores foram criados não havia nenhuma idéia de que eles algum dia fossem usados para produzir conteúdo, para compor livros, para trocar informações em texto. A idéia do computador era a de uma super máquina de calcular, que, aliás, é o que significa a palavra. Por esta razão os computadores não foram dotados, inicialmente, de toda a capacidade de geração e formatação de textos que estava disponível nos linotipos, as antigas máquinas de composição tipográfica.

Originalmente os computadores só incluíam 96 caracteres, que correspondiam às 52 letras (maiúsculas e minúsculas) os 10 algarismos e alguns sinais de pontuação e operadores matemáticos essenciais. Muitas simplificações foram feitas para economia de espaço. Por exemplo, as “aspas iniciais e finais” com formato diferente foram consolidadas em um único símbolo, as "aspas duplas". Os três tipos de símbolos de barras (hífen, sinal de menos e travessão) foram consolidados em um só. As ligaturas (letras especiais destinadas a facilitar a leitura) foram deixadas de fora. Nada disto era um problema muito sério quando o texto produzido pelo computador era em fonte monoespaçada e não se caracterizava pela complexidade. Demorou muito tempo até que alguém tivesse a idéia de armazenar no computador obras literárias.

Quando estas máquinas começaram a ser introduzidas no mercado editorial aconteceu uma queda sensível na qualidade gráfica de jornais, revistas e livros. As limitações do computador foram repassadas ao meio impresso porque as pessoas já haviam se acostumado a não mais usar coisas como aspas diferentes, ligaturas, travessões, etc. Demorou muito tempo até que o problema começasse a ser enfrentado.

O TEX, criado por Donald M. Knuth entre 1976 e 1983 foi uma dessas pioneiras tentativas. Outras surgiram depois. Todo programa de computador que se propõe a transferir texto armazenado em meio eletrônico para ser impresso é um processador de textos. Basicamente há três categorias de processadores de texto: os formatadores de texto, os formatadores baseados em linguagens de marcação e os interativos.

Um formatador de texto é um programa que utiliza um arquivo de texto qualquer e o transforma em um conteúdo imprimível, normalmente se limitando a formatar parágrafos e introduzir títulos segundo convenções básicas, que existem desde os primórdios da informática. Uma destas convenções é a de *texto entre asteriscos* quer dizer negrito e /texto entre barras/ quer dizer itálico.

Um formatador de textos baseado em linguagem de marcação é mais poderoso e também mais complexo: ele depende que o texto seja mesclado a comandos de formatação específico. Através destes comandos o LATEX pode, por exemplo, gerar equações impressas da forma correta.

Um processador de textos interativo lhe permite trabalhar simultaneamente no conteúdo e na apresentação de seu texto, ou seja, você digita e tem uma idéia quase segura de como o seu texto aparecerá impresso. Um exemplo desta abordagem é o Microsoft Word.

Controvérsia sobre o Processamento de Textos

Existe uma grande controvérsia [texto em espanhol] se esta “interatividade” (palavra que está na moda e passa grande credibilidade) é de fato algo bom. Para alguns autores, a visão simultânea do texto e de seu aspecto formatado funciona como uma distração, dificultando que o autor se concentre no conteúdo enquanto se preocupa com coisas de importância secundária, tais como alinhamento de parágrafos, linhas órfãs e viúvas, tipo e tamanho de letra, etc. Segundo esta visão, se o autor tiver a opção de trabalhar focado exclusivamente no conteúdo ele produzirá mais. Portanto, a separação de conteúdo e apresentação se apresenta como uma alternativa mais funcional. Esta é a estratégia que você adotará ao trabalhar com LATEX.

Ao instalar os programas que recomende em meu post anterior, você não verá nenhum programa novo em seu menu de programas. Você procurará e nada achará porque o LATEX não é um programa que possui interface de usuário! Depois de instalado e configurado, você precisará escolher a sua interface.

Eis um novo conceito ao qual o leitor talvez não esteja acostumado: escolha. A grande maioria dos usuários de computador está acostumado a soluções prontas, que supostamente “funcionam” out-of-the-box e se sente desconfortável com a perspectiva de ter de usar um programa que lhe pede escolhas. Isto, porém, não é uma desvantagem, mas uma vantagem: existem várias formas de se trabalhar com LATEX e você pode escolher a que melhor lhe sirva.

No site LATEX Llinks Page você encontra uma lista de editores populares para Windows. Se você usa Linux, suas escolhas óbvias recairão sobre o Kile ou algum editor de textos com suporte a LATEX, como o gVim, o TEA ou o Moo-Edit (mEdit). Uma abordagem diferente pode ser tentada através do LYX, mas ela só é recomendável se você realmente tiver muita dificuldade de digitar sem feedback visual.

Seu Primeiro Documento em LATEX

Uma vez instalado e configurado o seu editor de textos, tudo que você tem a fazer é escrever o seu texto, incluindo as marcas de formatação que julgar necessárias, e depois “compilar” o documento através do LATEX. A edição, teoricamente, poderia ser feita até no Bloco de Notas do Windows, a única coisa que os editores de LATEX fazem por você é automatizar tarefas como abrir e fechar chaves ou inserir automaticamente seqüências de comandos. Alguns permitem ainda que você compile de dentro deles o seu documento e execute o visualizador de documentos para saber como ficou.

O TEX (pronúncia correta igual ao inglês tech) é um programa de computador que faz a conversão de um arquivo de texto com marcas de formatação para um arquivo imprimível contendo a descrição da página. Atualmente o TEX original é considerado obsoleto, e a maioria das distribuições usa o pdfTEX de Han The Tan em seu lugar.

LATEX (pronúncia correta lay tech) é uma linguagem de macro que facilita o uso do TEX por leigos (aliás a primeira sílaba do nome se pronuncia exatamente igual à palavra inglesa lay, que significa "leigo"). Cada comando LATEX é um atalho para um conjunto de comandos TEX. Em outras palavras, LATEX é um tipo de interface de usuário para o TEX.

Um documento LATEX contém vários comandos, que especificam como ele será impresso. Alguns desses comandos são opções globais (fonte, tamanho de página, estilo do documento, etc.) outros são locais (itálico, negrito, etc.) e outros são ferramentas para permitir a inserção e controle de citações, referências cruzadas, etc. Estas ferramentas existem proque o LATEX foi desenvolvido para o preparo de textos acadêmicos. Se você usá-lo para formatar sua tese de Engenharia, por exemplo, aprenderá a amá-lo!

\documentclass[a4paper,oneside,12pt,titlepage]{scrreprt}\usepackage{ifpdf,html,mathptmx,courier,indentfirst,geometry}\usepackage[scaled=0.9]{helvet}\title{Título}\author{Autor}\date{\today}\begin{document}\maketitle\tableofcontents\chapter{Título do capítulo}Texto do capítulo.\begin{enumerate}\item item de uma enumeração\end{enumerate}\section{Título da seção}Texto da seção\begin{itemize}\item item de uma lista\end{itemize}mais algum texto\begin{quotation}Texto de uma citação\end{quotation}\end{document}

Um documento LATEX, como você pode ver, nada mais é do que texto mesclado a comandos. No documento acima temos os seguintes comandos:

  1. Escolha do tipo de documento (“documentclass”)
  2. Seleção de alguns pacotes de estilo (“usepackage”)
  3. Definição do título e do autor do documento
  4. Definição da data de composição como hoje
  5. Início do documento
  6. Colocação do título e do índice
  7. Primeiro capítulo
  8. Texto
  9. Uma enumeração
  10. Uma seção
  11. Uma lista de itens
  12. Uma citação
  13. Fim do documento

Tendo obtido um documento corretamente digitado, você executa sobre ele o comando de alguma variedade do LATEX, que pode ser o LATEX original, para impressão, o pdfLATEX para gerar um arquivo PDF ou o XELATEX, para gerar um PDF em Unicode usando fontes OpenType.

No próximo post eu vou apresentar uma série de modelos de documentos com os quais você pode gerar um livro formatado em alta qualidade.

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14
Jan 09
publicado por José Geraldo, às 16:39link do post | comentar

Para começarmos, devemos instalar o LaTeX em seu computador. Para isto é altamente recomendável que você tenha uma internet de alta velocidade pois será necessário baixar algumas centenas de megabytes de arquivos. De qualquer forma, o método de instalação menos exigente em termos de acesso à internet é a utilização do instalador do TeXlive em rede, que você encontra no site do Grupo de Usuários do TeX, aqui.

TeX, LaTeX, TUG!!! Hem?

Vamos primeiro nos entender quanto ao que são esses programas. Em primeiro lugar, TEX é o nome de um programa de computador criado entre 1976 e 1983 por Donald M. Knuth, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos com a finalidade de formatar suas obras sobre matemática. Knuth havia percebido que desde que os antigos linotipos foram substituídos por computadores, a qualidade gráfica de seus livros havia caído e ele queria criar um sistema que lhe permitisse controlar a apresentação de suas equações. Acabou criando um dos mais populares programas de formatação de texto do mundo.

Em 1989 o inglês Leslie Lamport criou o LATEX, um sistema de macros para o TEX que permitia que ele fosse usado por não-matemáticos (o próprio Knuth admitiu que criou o TEX para seu uso pessoal e que a princípio não imaginou que alguém mais o fosse usar). No início dos anos 90, Han The Than criou o pdfTEX, uma nova versão do TEX que produzia arquivos PDF em vez de apenas imprimir. Começou aí a popularização do LATEX, que passou a ser incorporado em todas as distribuições Unix e Linux do mundo.

Ainda nos anos 90 começou-se a desenvolver um projeto de internacionalização do TEX, para permitir que ele fosse usado para criar documentos em outras línguas. Depois de muitos anos de desenvolvimento, chegou-se, em 2005, ao XETEX, um programa que se comporta como o TEX, mas que aceita quaisquer caracteres e fontes. Agora, finalmente, documentos tipográficos de qualidade estavam disponíveis, no mesmo nível, para pessoas de todas as culturas.

O TUG (TEX Users Group) é a maior associação de usuários em todo o mundo. Ele é o responsável pela criação e pela distribuição do TEXLive, uma das mais populares distribuições TEX do mundo. O TEXLive inclui todos os programas de que precisamos, por isso é ele que eu estou recomendando.

Procedimentos de Instalação

Tendo baixado o programa de instalação linkado lá em cima (note que existem várias versões, para diversos sistemas operacionais), descompacte-o em algum lugar e depois execute-o. Ele vai fazer uma série de checagens para saber se o seu sistema suporta o TEXLive e, em caso positivo, o orientará durante a instalação.

O procedimento de instalação é simples, basta que você selecione quais pacotes você quer instalar. Se você não se importa em ficar muitas horas baixando e se tem 3 GB de espaço, talvez queira instalar tudo. Nesse caso basta escolher o pacote texlive-full e esperar. Mas isso não é necessário para obter o que queremos, basta instalar a seguinte lista de pacotes:

  • bin-lacheck
  • bin-pdftools
  • bin-texlive
  • collection-basic
  • collection-basicbin
  • collection-humanities
  • collection-langportuguese
  • collection-xetex
  • enumerate
  • enumitem
  • fancybox
  • fancyhdr
  • fancyref
  • fontspec
  • footmisc
  • hyperref
  • hyphen-portuguese
  • ifthenelse
  • lettrine
  • lshort-portuguese
  • makeindex
  • paralist
  • pdfpages
  • picinpar
  • poemscol
  • polyglossia
  • sectsty
  • setspace
  • titlesec
  • tocloft
  • url
  • xcolor
  • xunicode

Selecionando estes pacotes (e suas respectivas dependências) você já está preparado para usar o XETEX, mas não para usar o pdfTEX. Se você preferir usar este, deverá instalar uma série de outros pacotes, entre os quais os principais são:

  • babel
  • charter
  • collections-fontbin
  • collections-fontsrecommended
  • fontinst
  • fourier
  • fouriernc
  • gfs-artemisia
  • gfs-neohellenic
  • helvet
  • iwona
  • kerkis
  • kpfonts
  • libertine
  • mathdesign
  • mathpazo
  • mathptmx
  • pdftex
  • psfnss
  • pxfonts
  • ucs
  • txfonts
  • type1cm
  • zapfding

Em sua maioria estes pacotes adicionais são fontes e pacotes de suporte a fontes. Eles são necessários porque ao contrário do XETEX, que usa as fontes disponíveis no seu sistema, o pdfTEX precisa de fontes especiais, localizadas em uma estrutura especial em seu disco rígido.

Como tudo na vida, existem vantagens e desvantagens em ambos. O XETEX é mais fácil de usar, mas ao custo de se perder um pouco a qualidade tipográfica. O pdfTEX requer uma instalação muito maior e é mais difícil de usar (só um pouquinho, na verdade) mas obtém-se com ele um resultado gráfico superior.

O processo de instalação é bastante intuitivo e você não deve ter problemas. No próximo post eu lhe explico como interagir com o TEX.


publicado por José Geraldo, às 00:04link do post | comentar
  1. “Pegou com a própria mão.” Quem sabe conseguiria pegar com a orelha?
  2. “Suicidou-se a si mesmo.” Talvez nem seja pleonasmo, visto que a polícia costuma suicidar certos bandidos.
  3. “Caiu no chão.” Sei lá, de repente alguém já caiu no teto alguma vez, ou foi caindo em direção ao céu e foi parar em Júpiter.
  4. “Empresta seu celular pra eu fazer uma ligação.” Como é muito comum vermos pessoas jogando dominó com celulares, isso nem é pleonasmo.
  5. “Olha para você ver.” Como são muitos que olham para não ver, é preciso ressaltar que é para olhar para ver.
  6. “Cuidado com as surpresas inesperadas.” Eis um conselho tolo, as surpresas mais perigosas são aquelas que já esperamos, não é mesmo?
  7. “Labaredas de fogo.” Isso não é pleonasmo, sei de um lugar onde há labaredas de areia!
  8. “Veja com seus próprios olhos.” Como existe quem consegue ver com os olhos dos outros, é preciso pedir que olhe com os seus mesmo.
  9. “Ter um sorriso no rosto.” Olha, considerando que já vi muita bunda rindo, perdoaremos esse.
Originalmente publicado no Igreja Orkutista da Salvação
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13
Jan 09
publicado por José Geraldo, às 23:13link do post | comentar

Jonas é um verdadeira “figura”. Conheci-o há vários anos, na época em que eu era rico e tinha um carro novo. Fomos colegas de noitada por muito tempo até que o destino nos separou e nesse meio tempo vivemos muitos momentos divertidos dos quais eu me lembro com razoável saudade.

Entre as suas esquisitices estava sua fixação por cogumelos. Lembro-me que quando passávamos perto de algum lugar onde houvesse umidade e sombra ele cheirava o ar e dizia: “aqui nasce cogumelo do bom…”

Da primeira vez eu nem fiz nada além de rir, mas depois fiquei curioso e comecei a perguntar como ele sabia tanto de cogumelos. Ele então começou a a me confidenciar suas aventuras com “chás” e outras substâncias. E no meio de tantas aventuras ele acabou contando uma que jamais me esqueci devido às imagens marcantes que me traz à mente toda vez que a relembro.

Jonas havia sido um menino tímido e um pré-adolescente contido. Filho de mãe solteira casada com pastor evangélico, desde cedo era estimulado a comportar-se como devia, a ser um “bom menino” e evitar as inclinações más trazidas pelo “sangue ruim” do pai que nunca conhecera.

Mas quando os hormônios começaram a manifestar-se e a voz deixou de ser aquele falsete bonitinho de criança ele entrou numa longa fase de rebeldia da qual não tinha saído até quinta-feira passada. Foi mais ou menos nessa época que conheceu uma turma de amigos pouco recomendáveis, que o apresentou a sensações, tratados e experiências que um filhinho de pastor vivendo em cidade do interior normalmente não experimentaria.

Certa vez ele e os amigos pegaram a Brasília do pai de Jonas e foram para a roça tomar chá. Não, não era chazinho de menta e nem de camomila, era de cogumelo mesmo.

Foram até um sítio localizado a uns cinco quilômetros do perímetro urbano, um lugar bem bonito, cercado de morros cobertos de pastos verdejantes, cortado por um tranquilo regato. Do alto de um dos morros se descortinava uma paisagem linda e lá também havia uma pedra de formato curioso que eles chamaram de “Grande Sapão”, ao pé da qual acenderam uma fogueirinha.

Daí pegaram os benditos cogumelos (e até acharam outros no lugar) e prepararam o “xarope”. Pronta a beberagem, tomaram-na e ficaram olhando para a paisagem tentando ver fadinhas de açúcar. Dali a pouco começaram a acontecer aquelas coisas que só acontecem nessas viagens psicodélicas: montanhas saíam voando, vários sóis de cores diferentes perfumavam o céu, nuvens que escorriam gotejantes e empoçavam nas árvores, pedras pulsavam com olhos chamejantes de lírios, a grama sussurrava sensualmente enquanto crescia e trovejava macias palavras azedas…

De repente Jonas viu um “duende”, um serzinho de pele azul e gorrinho colorido na cabeça (não sei se era mesmo um duende ou um smurf, mas isto é detalhe). O trocinho olhava para ele e ria, dizendo bobagens em uma língua cheia de consoantes. Ofendido meu amigo se levantou, xingou a aparição e resolveu pisotear Papai Smurf, digo, o duende, mas logo notou que não adiantava pois ele reaparecia sempre em outro lugar. E lá se foi Jonas a pisotear de novo, depois de xingar de novo, e logo Papai Smurf aparecia em outro lugar ainda cacarejando consoantes concatenadas.

Imagino que deve ter sido uma cena muito linda de se ver aquele momento: um adolescente meio cabeludo, com olhos arregalados e “mucho loco” de “chá de caramelo” pisoteando duendezinhos azuis imaginários no alto de um morro, perto de uma pedra. Pelo menos deve ter sido engraçado até que Jonas tropeçou e rolou morro abaixo, bateu a cabeça e perdeu os sentidos.

Quando acordou Jesus Cristo o estava chamando e dizendo alguma coisa em húngaro. Jonas não entendia nada de húngaro e jamais vira Jesus Cristo antes — só o reconheceu por causa do boné azul, da camiseta fluorescente que faiscava com figuras de cobras e elefantes iridescentes que efervesciam num mar de olhares úmidos e mãos nervosas.

Olhou nos olhos de Jesus Cristo e lhe disse “Sacanagem, J.C., se eu soubesse que você vinha eu tinha feito a barba”. E tendo proferido tais sábias considerações sucumbiu definitivamente às alucinações cada vez mais complicadas que pousavam.

Sentiu-se flutuar acima do capim como Aladin sobre as areias do deserto em seu tapete mágico, só que em vez de sentado ia deitado de costas e por alguma razão suas costas esfregavam de vez em quando em algo duro.

Acordou duas horas depois e “Jesus Cristo” lhe dava café numa caneca de esmalte, um café tão forte que agarrava na língua e não queria descer pelo esôfago. Estava todo frio, como se lhe tivessem dado trinta banhos de água gelada — o que não estava tão longe da verdade, principalmente considerando que urinara nas calças e vomitara várias vezes num intervalo de menos de uma hora.

Ainda estava vendo coisas coloridas e sussurrantes nas esquinas das coisas e no rabo dos olhos. Mas já conseguia perceber que havia se arranhado todo nas costas e estava todo sujo e fedendo a vômito e a bosta de vaca.

Mesmo temendo a resposta, perguntou a um dos amigos o que ocorrera.

“De repente você começou a gritar desesperado em esperanto e a correr para lá e para cá pulando em cima de tudo quanto era bosta de boi que via pela frente, então escorregou numa que tava fresca e desceu rolando uns duzentos metros de morro abaixo até que bateu numa cerca na beira do córrego…”

Jonas lembrava-se vagamente de alguma coisa. Alguma voz idêntica à sua que gritava coisas como Vi stulta elfo, feku al vi! e Viaj fratrinoj estas malgrandajn!

Depois de recuperar-se Jonas jurou nunca mais tomar chá de cogumelo e abandonou para sempre seus estudos de esperanto. Só depois que ele me contou essa história entendi porque de vez em quando alguém lhe gritava na rua: stulta elfo!


publicado por José Geraldo, às 22:50link do post | comentar | ver comentários (1)

Até agora estivemos falando sobre as maravilhas do sistema de impressão sob demanda, das limitações que esta indústria ainda enfrenta no Brasil e as dificuldades que os novos autores — especialmente aqueles que não têm muito dinheiro disponível. Não expliquei ainda como realmente funciona o sistema de impressão sob demanda, ou como deveria funcionar. Passo a tentar explicar isso agora.

Tudo começa na escrita de seu livro. Se você ainda não tem um livro escrito, então é besteira pensar em publicação. Pode parecer ridículo que eu diga isso, mas minha experiência no Orkut me mostrou que há um número surpreendentemente grande de “escritores” que fazem uma sinopse e já saem procurando opiniões e editor. No entanto, por razões meramente didáticas, vamos supor que esta parte você já garantiu, que já tem um livro para mostrar. Então logicamente só nos falta entrar no tutorial.

O processo de publicação sob demanda envolve as seguintes etapas:

  1. Escreva um livro;
  2. Faça uma correção ortográfica e gramatical básica usando as ferramentas disponíveis no seu editor de textos favorito;
  3. Pague a um professor para que dê uma lida no texto e lhe faça sugestões de melhorias;
  4. Revise seu texto;
  5. De posse de um texto que já sofreu duas boas revisões, vamos ao processo de publicação;
  6. Se o seu texto tiver sido digitado no OpenOffice ou no Abiword, exporte-o para o formato “LaTeX”;
  7. Se o seu texto tiver sido digitado em outro programa, descubra como e exporte-o para o formato “LaTeX” — a razão da escolha deste formato é que ele é o meio mais barato de se obter qualidade tipográfica profissional, e também um dos mais efetivos;
  8. Gere o manuscrito de seu livro em formato PDF usando as dicas que mais tarde serão dadas aqui;
  9. Escolha uma gráfica sob demanda;
  10. Imprima o seu livro e compre um ou dois exemplares;
  11. Registre na Biblioteca Nacional;
  12. Se já estiver satisfeito, parabéns, acabou, mas se quiser mais;
  13. Gere novo manuscrito já contendo os dados do registro;
  14. Imprima certo número de exemplares (10 a 20) e envie para críticos, editores, agentes, o escambau;
  15. Espere que alguém te contrate para publicar de verdade, desta vez pode custar caro.
Espero que esta dica lhe ajude a situar-se no que realmente significa a impressão sob demanda. Se você quer algo assim, continue nos acompanhando
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publicado por José Geraldo, às 22:17link do post | comentar

Para publicar seu livro através do esquema de impressão por demanda você precisa ser capaz de gerar miolo e capa em formato PDF. Este formato de arquivo é o padrão da indústria no mundo todo, menos no Brasil, onde a maioria das gráficas prefere pedir seu texto em formato Word para que elas façam a diagramação e cobrem por isso. Gerar PDF já foi algo muito complicado, mas atualmente é algo muito fácil.

A facilidade da geração de PDF significa que muitas pessoas estão fazendo isso. A maioria dos livros eletrônicos que você pega na Internet estão em formato PDF. Verifica-se, porém, que a vulgarização de uma tecnologia é invariavelmente acompanhada de uma vertiginosa queda de qualidade. No caso o que temos é que a maioria das pessoas que atualmente fazem livros eletrônicos não tem noções básicas de composição tipográfica, e o resultado disso são documentos muito feios e poucos funcionais que, se impressos por um sistema sob demanda, resultarão em livros horrorosos, de aparência amadora. Não é isto que você quer.

Qualidade e Beleza Andam Juntas

A aparência desleixada e desenxabida de 9 em cada 10 documentos que você pega na Internet se deve a uma combinação de três fatores:

  1. Uso da ferramenta errada (processadores de texto, fontes, ferramentas de conversão, etc.);
  2. Abandono de convenções tidas como “ultrapassadas” ou “frescuras” que, na verdade, são o que diferencia um texto formatado porcamente de um texto agradável de se ler;
  3. Falta de gosto na hora de escolher os modelos de documento.

Para chegar a ser capaz de criar um documento bonito, então, você precisa usar a ferramenta certa, empregar as convenções tipográficas adequadas e ter bom gosto. Se você acha que não quer aprender isso, bem, não se preocupe, você sempre pode pagar para que alguém faça por você. ;-)

Ferramentas Adequadas

Eu não conheço todas as ferramentas adequadas que há no mercado, eu não sei de tudo. O que sei é que encontrei ferramentas que fizeram por mim o que preciso — e o fizeram muitíssimo bem. São estas as ferramentas que vou lhe recomendar.

LaTeX
Um programa para formatação de conteúdo e geração de PDF que apresenta qualidade tipográfica altamente profissional.
InkScape
Um programa para edição e criação de imagens vetoriais (que será usado para as capas)
Open Font Library
Site no qual você encontrará uma série de fontes de alta qualidade para compor o seu documento.

Você poderá, se quiser, utilizar outras ferramentas também. Só não me pergunte quais e nem como. Este é o meu caminho, nele eu posso lhe guiar.

Convenções Tipográficas

Usando LaTeX você praticamente não precisará se importar com isso, visto que ele formata o documento para você da melhor maneira possível. Os modelos LaTeX que vou disponbilizar também o ajudarão a superar esta barreira.

Bom Gosto

Gosto é algo relativo, e é por isso que muitos autores quererão ter o controle de como seus livros são colocados na impressora. Neste ponto o LaTeX já lhe oferece uma aparência bastante boa, personalizações são possíveis, mas para isso você deverá começar a aprender a mexer nas “entranhas” da linguagem.

Principais Erros na Formatação de E-Books

Entre os principais erros que já vi na formatação de livros eletrônicos, enumero os seguintes:

  1. Falta de justificação correta do texto dos parágrafos;
  2. Ausência de hifenização, gerando “rios” no meio dos parágrafos;
  3. Falta de controle de linhas órfãs e viúvas;
  4. Uso de fontes inadequadas, inclusive de tamanhos de fonte inadequados;
  5. Uso de formato de papel inadequado;
  6. Abuso de formatação;
  7. Uso de pontuação incorreta (travessões, aspas, dois pontos, etc.)
  8. Formatação incorreta de tabelas;
  9. Formatação incorreta de listas;
  10. Formatação incorreta de citações e referências;
  11. Formatação incorreta de notas de rodapé;
  12. Mau posicionamento de figuras, tabelas e gráficos;
  13. Falta de coerência na formatação de termos estrangeiros, termos técnicos, licenças poéticas, etc.;
  14. Ausência de indexação;
  15. Má formatação de áreas especiais (cabeçalhos e rodapés).

A observação de normas tipográficas e convenções de formatação de textos não é uma frescura, é um instrumento para valorizar o conteúdo, dando-lhe uma apresentação adequada. Se você pretende ser o seu próprio editor, mesmo que de uma pequena edição, então é claro que você precisa deixar de produzir documentos mal-feitos e difíceis de ler e obter uma qualidade tipográfica aceitável, uma aparência profissional que os seus leitores valorizarão.

Reconhecendo erros

Saber onde você está errando não é difícil. Pegue um livro e compare o que está impresso nele com o que você imprimiu de seu “livro” e se pergunte, seriamente, se você pode imprimir e sair vendendo aquilo que você acabou de imprimir. Se você acha que sim, então, das duas uma: ou você não precisa mais de minha ajuda, pois já sabe o que precisa saber e está pronto para publicar-se ou então é porque você ainda não tem capacidade de diferenciar o que é belo do que é feio, o que é certo do que é errado, o que é arte do que é lixo. Não se preocupe, você não está só, está é na maioria até.

Mas se você reconhece diferenças absurdas entre os dois exemplos, então provavelmente está na hora de você rever alguns de seus conceitos. Infelizmente não há espaço para explicar tudo sobre estas convenções. Por isso eu vou preferir explicar-lhe como instalar o LaTeX em seu computador. Através dele você obterá documentos de qualidade superior com relativa facilidade.


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Jan 09
publicado por José Geraldo, às 20:47link do post | comentar

O argumento do INACREDITÁVEL começa citando a famosa “Lei de Godwin”, segundo a qual “Se uma discussão na Internet se prolonga por algum tempo, a chance de aparecerem comparações envolvendo Hitler ou nazistas se aproxima de 100%”. Godwin é advogado, não historiador ou filósofo e humildemente não tentou aduzir implicações lógicas de sua frase humorística.

O objetivo dessa lembrança é claro: algo que é visto como tão mau não pode, logicamente ser tão mau. Me parece apenas wishful thinking: o fato de nós não gostarmos de uma ideia não quer dizer que a ideia é falsa. Mas para o INACREDITÁVEL, o fato de o nazismo ser tão mal falado significa que ele não pode ser tão ruim quanto dizem, o que não faz nenhum sentido enquanto argumento. Poderíamos dizer, em nome desse relativismo torto, que um conhecido psicopata, como o Andrei Chikatilo, não é tão ruim assim porque ninguém pode ser tão ruim?

Para o INACREDITÁVEL o fato de Hitler e sua camarilha terem se perpetuado como arquétipos do mal, daquilo que a humanidade deve evitar é algo que, por alguma razão, o incomoda. Imagino que os descendentes de Vlad Ţepes ou de Giles de Rais ou de Erzsebét Bátory devem se sentir de forma semelhante. Mas se o nosso amigo não é descendente de algum nazista (será?) então porque lhe incomoda que exista tal modelo? Por que ser tão insistente em tentar desmascará-lo?

Não me parece razoável que tantas pessoas, de forma tão insistente, se insurjam contra algo que, de qualquer forma, NÃO LHES DIZ RESPEITO. A questão do nazismo é hoje, basicamente, um tema histórico que fica cada vez mais no passado. A obsessão, porém, em “limpar a lápide” de Hitler do sangue que ele derramou é indício de alguma motivação que ainda nos escapa.

Poderia um pesquisador comportamental humano aduzir ao reflexo maniqueísta imediato, ou seja, o momento de nosso raciocínio a que sejamos orientados a nos utilizar da comparação mais inequívoca possível: a citação “nazista” como argumento irrefutável.

Também confesso que não gosto de comparações maniqueístas e por essa razão, enquanto professor de história, sou também eu um revisionista. Apenas não sou um negacionista: não vejo necessidade em dizer que todo mundo tem sido enganado o tempo todo desde décadas. A maioria dos historiadores também é revisionista: todo ano surgem livros de história que revisam o que se sabe sobre o passado a partir de novos dados arqueológicos ou pesquisas em fontes.

Esse revisionismo patrocinado pela própria academia não é bombástico e nem afirma que somos todos idiotas: ele é parte do processo natural de acúmulo do conhecimento que ocorre a todo momento entre os pesquisadores. Infelizmente, na boca do leigo a História é uma ciência monolítica e imutável. Para ele, existe uma História oficial que é imposta a todos pela goela abaixo.

Esta crendice a respeito da História é muito estúpida, mas tem uma dose de maldade. É estúpida ao supor que os historiadores têm o poder de determinar o que as pessoas pensam sobre o passado: eles não o têm e o fato de existirem pessoas que ainda negam o Holocausto até hoje é prova de que os historiadores não têm credibilidade generalizada. Mas é maldosa porque lança uma acusação vexaminosa contra toda uma ciência que já é tida pelo vulgo, pelo leigo, pelo ignorante, como uma ciência de secundária importância. O negacionismo é um ataque contra o método histórico e contra o caráter dos que fazem os livros de História.

Não custa notar que quando alguém afirma que todos estão errados, que o “sistema” está errado (seja lá o que isso signifique) esta pessoa se concede uma posição messiânica: sou eu que estou certo. mesmo sendo leigo e monoglota, eu detenho um conhecimento melhor do que o dos “professores”. Na ausência de uma explicação razoável para a origem de tão maravilhoso conhecimento os messiânicos negacionistas recorrem ao conhecimento revelado: reverenciam líderes de bando, como o hediondo S. E. Casten e outros da mesma criminosa laia, e papagaiam seus argumentos pelo mundo como o “disangelho” de uma crença religiosa perversa.

Em outras oportunidades eu já enumerei indícios claros e evidentes de que o neonazismo (subjacente ao negacionismo) se tornou ou está em vias de se tornar uma religião. Dentro em breve estaremos assistindo aos neonazistas reivindicando o mesmo tipo de liberdade de expressão e de culto que é garantido aos católicos, aos umbandistas ou aos budistas. E não é preciso analisar muito para entender que eles têm razão se o fizerem, pois o neonazismo funciona exatamente como uma religião.

Por que a citação comunista não provoca o mesmo efeito?

Nosso amigo INACREDITÁVEL se julga muito esperto e acha que com essa pergunta tirou um coelho da cartola: “ora — imagina ele — se ninguém condena o comunismo, por que condenar o nazismo?” Este é o velho truque índio chamado de falácia tu quoque, que consiste em inverter o sentido da mudança. Em vez de dizer, “o comunismo possui analogias com o nazismo, logo devemos condená-lo também” o falacioso diz: “o nazismo tem analogias com o comunismo, que não é condenado, então não condenemos o nazismo.”

Até aqui o leitor já deve ter percebido que a argumentação de nosso amigo INACREDITÁVEL, como não poderia deixar de ser, começa a fazer água. Ela começou falida ao tentar defender o indefensável, mas piora ao tentar fazer isso mediante o emprego de falácias.

Outra falácia curiosa é a da amostra insuficiente: imagina nosso amigo que uma breve visita a qualquer livraria ou banca de jornais é suficiente para provar que a Segunda Guerra Mundial ainda é um tema relevante para o conjunto da sociedade. Esquece-se ele de que muito poucos são os brasileiros que têm o hábito da leitura. Convenientemente não menciona que boa parte dos livros e revistas destinam-se justamente ao consumo dos neonazistas, e não a uma demanda da sociedade como um todo.

Em seguida, perdendo a vergonha de mostrar o seu arsenal de manipulações verbais, ele entra de sola já qualificando o Holocausto de “religião” e de “indústria” que explora o “suposto” genocídio que, claro, não houve. Na ótica torta desse argumento, o fato de haverem pessoas que se identificam morbidamente com um regime que passou a história como o exemplo de tudo que NÃO deve ser feito por um país civilizado indica que deve haver, igualmente, pessoas que gostam de “apreciar” fotos do genocídio, que ele qualifica de “pornográficas” por certa razão.

Obra do fundamentalismo judaico. Ele coloca todas as pessoas que se denominam "judeus" como alvo de rancores e dissabores de suas intrigas e perversidades…

Passa-se em seguida ao velho truque da culpabilização da vítima: é o fundamentalismo judaico que faz com que os não judeus se tornem alvo do rancor do resto da sociedade. Desta forma, argumenta-se, mesmo que tenha havido um Holocausto, que “não houve”, ele teria sido causado pela perversidade do judeu.

Para o INACREDITÁVEL, o fato de existirem tantos filmes e livros sobre o assunto indica que há um objetivo declarado de “denegrir” a imagem de pessoas tão boas e santas como Herman Göring, Heinrich Himmler, Josef Mengele, Klaus Barbie, Adolf Hitler, etc. Não imagina ele que tal repetição se deve meramente à riqueza que o nazismo apresenta, por suas características inerentes, como elemento dramático. Não percebe ele que a Alemanha Nazista, o Império Romano, a França Napoleônica e, no Brasil, o sertão nordestino, são e serão temas eternos devido à sua riqueza imagística e arquetípica. Falar em arquétipos com um negacionista chega a ser engraçado, visto que ele dificilmente terá sensibilidade para compreender o conceito, mas é necessário para que os demais reflitam.

Ele vê, no entanto, outras formas mais sutis de evocação do nazismo, tais como, segundo ele cita, o sutil sotaque alemão daquele vilão terrível. Esquece o INACREDITÁVEL que já havia, há séculos, uma tendência a vilanização dos alemães, por várias e complexas razões, especialmente na na França, inimiga figadal da Áustria e dos príncipes alemães. Esquece-se ele de que a Primeira Guerra Mundial já havia sedimentado a má reputação dos alemães, em parte injustamente, isto é fato. E por fim, a brutalidade do regime comunista Alemão Oriental, hoje conhecida, tampouco tem a ver com o paradigma do vilão alemão. E não podemos nos esquecer, é claro, que na ótica do INACREDITÁVEL, todo estereótipo que se vê no cinema tem uma função propagandística, claro.

Se até aqui o leitor ainda não se convenceu, parte-se então para a evocação de um demônio de nome pomposo, o “Sionismo Internacional”. A simples menção da palavra “Internacional” já funciona como um mantra a causar repulsa na cabeça do direitista clássico, que tem uma ideologia autonomista e anti-global. Depois de citar casos conhecidos de fundamentalismo, islâmico e cristão, o INACREDITÁVEL afirma que o Sionismo é um movimento fundamentalismo judaico, ou seja, religioso. Nada mais distante da verdade, pois o sionismo é um movimento secular originado do desejo dos judeus de terem um pátria para abrigar-se justamente das perseguições que sofriam na Europa por não terem a sua. Atualização em 15/08/2010: Mais do que isso, o Movimento Sionista tem relações com o Socialismo e o Trabalhismo. Voltamos a culpabilizar a vítima.

Passando por cima de uma série de citações de pessoas que se constrangeram por usar frases ou fantasias nazistas, finalmente o autor admite, de forma previsível, que parte do interesse pelo nazismo é apenas o genuíno interesse de pessoas para as quais a guerra já passou e o odioso inimigo é apenas outro “Império Romano”, com uniformes bonitos e insígnias bacanas. E como o povo gosta de uniformes e insígnias!

Mas o mais interessante é que a seguir, por vias tortuosas, tenta-se argumentar que o nacional-socialismo é a única forma legítima de nacionalismo. Isto é feito de forma bastante sutil, quase não se podendo isolar uma frase, a não ser esta:

… culminando hodiernamente na condenação e perseguição de todos os resquícios dos movimentos nacionalistas da primeira metade do século XX.

Para o inacreditável, a derrota do nazismo e o “massacre de todos os movimentos nacionalistas” são parte de um Grande Plano para implantar à força uma nova ordem mundial. Este discurso não lhe parece familiar? Onde foi que você leu isso? Se você é ou já foi cristão pirado, você já leu coisas assim na Espada do Espírito. Mais uma vez o negacionismo tergiversa com a pregação religiosa ao inventar uma forma de escatologia.

Posto isso, a conclusão forçosa é de que o Sistema se alimenta integralmente da versão histórica oficial para os acontecimentos ligados à 2ª G.M. Não pode e não quer se desvencilhar do “nazismo” por um único motivo: a subsistência das ideologias dominantes depende da constante reafirmação de que aqueles que hoje ocupam as posições de poder são os “heróis”, vitoriosos sobre o “mal”. Evidente simbiose entre a necessária legitimidade e a manutenção do mito. Os Aliados venceram os nazistas, mas se tornaram escravos de sua memória, atormentados pelo medo de seu retorno.

Com um pouco mais de coragem o INACREDITÁVEL teria chamado a ONU de Grande Besta e algum líder internacional de hoje de Anti-Cristo. Esta interpretação da História sob a ótica revisionista é extremamente falha porque desconsidera a motivação econômica, segundo o idealismo dos negacionistas, a roda da História é movida pelos ideais de sociedades secretas ultra-poderosas. A teoria clássica de conspiração se manifesta em toda sua glória ao final de quase todo artigo negacionista.

Fato curioso é observar o ressurgimento de movimentos denominados “neonazistas”. A despeito de todo o esforço para a condenação desta ideologia, surpreende o aparecimento de tantas organizações clandestinas empunhando esta que é a bandeira mais difamada de todas.

Ninguém deveria se surpreender com isto, pois em matéria de ideologia, sempre há um “chinelo velho para um pé cansado”: praticamente toda ideologia tem simpatizantes. O fato de haverem judeus neonazistas indica que não há nada de surpreendente em jovens niilistas aderirem a ideologias tidas como inaceitáveis pela sociedade, por exemplo.

A ideologia nazista é discriminada pelo código pelo código penal brasileiro por incluir como pedra fundamental o racismo, mas principalmente por pregar a lealdade a uma nação estrangeira e denegrir a imagem de nosso país, que contra o nazismo lutou.

São os lacaios do Sionismo Internacional, estes sim, que trabalham incessantemente para impedir o ressurgimento do Nacional-Socialismo, principalmente através da manutenção do mito do Holocausto, e não o contrário!

Esta frase é interessantíssima, porque ela corrobora a minha interpretação de que o revisionismo/negacionismo nada mais é do que um instrumento para tentar recriar o Nacional-Socialismo enquanto alternativa política aceitável. Vejam bem, isto foi escrito no próprio site do INACREDITÁVEL, na época em que eu fui expulso da comunidade HISTÓRIA por acusar o revisionismo de ser um instrumento político e não uma vertente legítima de História. Fui expulso pelos moderadores de lá, que toleram a uma imensa canalha de fakes neonazis e fascistoides, como o INACREDITÁVEL, o Idi Amin e o Massa Sofrida, mas expulsam quem tenta desmascará-los em vez de se engalfinhar com eles em debates circulares e irrelevantes. O INACREDITÁVEL continuou para refutar-me e denegrir a minha imagem, postando em seu site suas invectivas vazias.

Vejam o absurdo, em que a luta pela verdade histórica é acusada de fraudulenta por aqueles que realmente possuem o poder de manipulação, pois ocupam as posições-chave na sociedade (mídia, governo, meio acadêmico, organizações internacionais e de lobby econômico).

E como todo debate com negacionistas é circular, voltamos ao início, ao momento em que eu dizia do messianismo embutido no discurso neonazi.

A supressão do espírito crítico com vistas à pacificação política, dogmatizados pontos estratégicos da História Mundial, é prática já amplamente denunciada e com validade em vias de exaurimento.

Não deixa de ser curioso que o adepto de uma ideologia dogmática e que, uma vez no poder, exerceu indiscriminada repressão contra outras correntes de pensamento, venha a censurar a “supressão do espírito crítico”. Mais curioso é que ele fale em coisas feitas em nome da pacificação, se os nazistas provocaram a maior guerra da História. É mais curioso ainda é que um neonazista recrimine o suposto “dogmatismo” de outrem. Mas não devemos temer, afinal, como todo messianismo, o negacionismo afirma que este sistema de coisas está em vias de terminar pois Jesus vem logo, digo, o Nacional-Socialismo ressurgirá para nos libertar (desde é claro que sejamos brancos, de olhos azuis e sobrenomes germânicos, de outra forma seremos escravizados).

Originalmente publicado no Igreja Orkutista da Salvação.

Este debate causou a minha expulsão de uma comunidade de História no Orkut.

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