André Dahmer é quase um filósofo. A profunda amargura de suas tirinhas se torna quase engraçada quando analisamos. Ele que me perdoe, mas não resisto a escrever sobre esta tirinha, de algumas semanas atrás. Provavelmente vou dizer merda, mas dizem que a arte se caracteriza por ser aberta a interpretações. Então tenho a minha, que provavelmente discorda da do Dahmer.
Vemos nesta figura a expressão mais acabada da impotência dos sonhadores diante da injustiça do mundo. Talvez somente a piada do mineirinho e do copo de veneno seja mais pungente, mas esta tirinha tem mais poesia, certamente. Dudu é um inconformado. Ele constroi seu balão para fugir de "tudo isso". Talvez o balão, um hobby arriscado, seja apenas uma forma de suicídio sublimado, talvez apenas uma maneira de expressar concretamente seu desapego. Mas no momento em que está concluíd sua preparação, alguém à força usurpa-lhe esta possibilidade e foge em seu balão.
Quantas vezes na vida não fogem no nosso balão? Quantas vezes não somos surpreendidos na vida, como poeta Raul de Leoni, cuja magnífica amendoeira dobrou-se sobre o muro ao crescer e foi dar frutos no quintal alheio? André Dahmer poetiza o mesmo drama abordado pelo poeta petropolitano, de uma forma um tanto mais crua, mais adequada a esse mundo carnívoro em que vivemos, incapaz de ainda apreciar filigranas poéticas como os versos quase femininos de Raul de Leoni.
Pobre Dudu, seu fado é contemplar o voo do balão que construiu, que transporta alguém que não o sonhou. Tal como o jovem que sonha com a amada e a vê casar-se com outro. Tal como o garoto que plantou a amendoeira que sorveu o húmus de seu quintal mas foi florir no jardim do vizinho, deitada sobre a cerca.