Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
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Jun 11
publicado por José Geraldo, às 11:05link do post | comentar | ver comentários (3)

Eu sempre achei que trabalhos de fôlego mais longo são difíceis de terminar. Levei nove anos para escrever meu primeiro romance, “Praia do Sossego”, que agora está finalmente sendo publicado. Levo já mais de três anos trabalhando no meu segundo romance, “O Reino Esquecido”, que está a três quartos de ser terminado (mas exatamente o quarto que falta é o mais difícil). Levo já mais de dois anos trabalhando no meu terceiro romance, “Serra da Estrela”, que ainda está longe da metade. Curiosamente já terminei o meu quarto romance, “Amores Mortos”, isso porque o construí a partir de histórias anteriormente escritas de forma independente, mas utilizando um mesmo personagem principal.

Em conjunto esses romances terão aproximadamente mil páginas páginas (225 delas de “Praia do Sossego“ e 240 de “Amores Mortos”, “Serra da Estrela” já tem 140 e “O Reino Esquecido” deverá passar de 250 ainda este ano; porém somente o primeiro deles está medido em termos de “livro” mesmo, os outros ainda estão em laudas, e devem ficar maiores, visto que “Praia do Sossego“ teve 196 laudas).

Citei esses números para lhes dar uma ideia do tamanho do desafio que está sendo traduzir “A Casa no Fim do Mundo”. O romance de William Hope Hodgson não é nada pequeno. A sua versão original em inglês, publicada em formato americano, tem 160 páginas. Traduções do inglês para o português costumam ficar entre dez e quinze por cento mais longas (devido à estrutura sintática de nossa língua). Estimo que o tamanho em laudas da tradução deva ultrapassar duzentas, e a publicação em formato brasileiro deverá ficar ainda mais grossa que “Praia do Sossego”. A vantagem é que não precisarei imaginar a história, me bastará encontrar as melhores palavras para traduzi-la.

Comecei esse trabalho em março, durante minha licença médica para operar um cálculo renal “encroado”. Ainda durante a licença, fui até o capítulo doze. De lá para cá (segunda metade do mês de abril, mais maio e junho) consegui avançar até o capítulo dezoito (que estou começando a traduzir exatamente hoje). Publicando à razão de um capítulo por semana e traduzindo um capítulo a cada quinze dias, em nove semanas (aproximadamente dois meses) estarei publicando o capítulo vinte e traduzindo o vinte e um. Em onze semanas o ritmo de publicação me alcançará, exatamente no capítulo vinte e dois.

Isso quer dizer que eu preciso melhorar o ritmo, e logo, ou então perderei o ritmo regular de publicar um novo capítulo toda terça feira. E o romance tem vinte e oito capítulos!

O problema é que traduzir já está me ocupando quase todo o tempo que deveria estar dedicando a escrever. Não é nenhuma novidade para vocês que me leem que eu sou um autor amador, que só posso escrever nas horas vagas. Desde que publiquei o primeiro capítulo, em 16 de abril já se passaram setenta dias, e a minha produção de textos novos foi a seguinte: seis crônicas, três textos de crítica, três contos, dois poemas, uma tradução. Comparando com qualquer outro período desde o início desse blog, estou em um ritmo de criatividade muito menor. Excetuando textos antigos republicados (que foram o grosso da produção nos primeiros seis meses), este blog vinha mantendo um ritmo muito melhor. Vamos comparar com os primeiros setenta dias do ano, entre 1 de janeiro e 11 de março: oito crônicas, um texto de crítica, nove contos, um poema, uma tradução.

Pode parecer uma redução pequena, apenas cinco textos, mas há que considerar que o tamanho médio dos textos produzidos nos primeiros setenta dias do ano era muito mais longo. Pelo menos três contos alcançam fácil as vinte páginas. Um deles até estava dividido em três partes, cada uma delas com pelo menos nove páginas.

Fiz este cálculo para lhes dar uma ideia do quanto é trabalhoso traduzir. Um trabalho que muitas pessoas não reconhecem. Um trabalho que é até meio braçal, de tão penoso, mas que exige uma sensibilidade semelhante à da criatividade, na escolha de palavras e na construção das frases. Sem falar que ainda terei de revisar tudo, quando tiver terminado, a fim de poder publicar.

Pense nisso da próxima vez em que pegar um livro traduzido: verifique o nome de quem traduziu, conheça o nome do sujeito. Se gostar, procure por outros livros traduzidos também por ele. Vamos valorizar o trabalho dos tradutores. Eu mesmo só tive essas ideias depois que me dispus a traduzir um romance e pude ver o quanto dá trabalho. Meu respeito a todos os tradutores profissionais deste país, graças a quem podem ler obras oriundas de outras literaturas.


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