Eu estava sentado novamente em minha cadeira, de volta a este velho escritório. Meu olhar percorreu o cômodo. Por um minuto ele me pareceu ter uma aparência oscilante — irreal e imaterial. Esta impressão logo passou e eu vi que ele não mudara em nada. Olhei para a janela e a veneziana estava erguida.
Pus-me de pé, ainda tremendo. Ao fazê-lo, um ruído baixo na direção da porta atraiu a minha atenção. Olhei em sua direção. Por um breve momento me pareceu que ela estava sendo fechada cuidadosamente. Fixei o olhar e percebi que deveria estar enganado — ela parecia bem fechada.
Em uma sucessão de esforços eu me arrastei até a janela e olhei para fora. O sol estava nascendo ainda, iluminando a macega selvagem dos jardins. Por talvez um minuto eu permaneci ali de pé a olhar. E passava a mão, confusamente, pela minha testa.
Então, no caos de meus sentidos, um pensamento súbito me ocorreu. Virei-me rapidamente e chamei por Pimenta. Não houve resposta, e eu tropecei através do cômodo, em um acesso frenético de medo. Ao fazê-lo, tentei pronunciar o seu nome, mas os meus lábios estavam mudos. Cheguei até a mesa e me inclinei na direção dele, com o coração apertado. Ele estava deitado abaixo da mesa, e eu não poderia ter-lhe visto da janela distintamente. Então, ao me inclinar, retive minha respiração brevemente. Não havia Pimenta, em vez disso eu estava inclinado sobre uma pilha alongada de poeira cinzenta…
Devo ter permanecido naquela posição reclinada por alguns minutos. Eu estava confuso, paralisado. Pimenta tinha mesmo passado à terra das sombras.