Os homens de lodo e de sonoaguardam o fim da última velarepetindo com vozes defuntassuas preces de cor sem sentido.O fascínio do latim está perdidoe a força do fantástico apagou-se,nenhum Aquiles romperá o nadapara lutar contra palavras ocas.A Torre de Marfim sofreu o golpe,os que nela vivem se espantam,mas as plantas crescem sem Platãoe os pássaros não ouvem Nietzsche.De dentro do esterco nasce a rosa,de dentro dos ruídos, porém, nada.Nada nas cores deste dia a certezade que este esterco é estéril.Os frisos de Atenas são vendidosem cópias plásticas baratas,tenho Tutancâmon em um quadroe o Discóbolo num livro.E tudo tem o seu lugar correto,nesta catedral de gostos mortose de dons postiços.Não tenho memória de ter sido,mas tenho palavras com que cavosaudades falsas de enfeite para o livro.Belas palavras que acendem-mea vontade de ter acontecido,mas isso não basta que me façamais que um tolo com sede de sentido.
Escrito originalmente em 1999, ligeiramente revisado nesta data.