Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
08
Mai 11
publicado por José Geraldo, às 21:06link do post | comentar

Após uma gestação demorada e cheia de indas e vindas, finalmente está saindo, pela Editora Multifoco, o meu romance de estreia, Praia do Sossego. Escrito penosamente ao longo de onze anos (entre 1999 e 2010), este livro é importantíssimo para mim, quase um filho, pois ele contém trechos escritos em cada um desses onze anos (ainda que a revisão final seja entre 2009 e 2010). Trata-se de um verdadeiro testemunho de minha carreira literária, uma obra que contem todas as características básicas de minha ficção e de minha poesia de juventude, mesclando romantismo quase piegas com cenas picantes de sexo, citações existencialistas, ingenuidade juvenil, aventuras pelas estradas do Brasil e um cuidado quase gótico com o vocabulário.

Escrevê-lo foi praticamente uma Ilíada, uma aventura sem rumo e sem limites, que me custou muitas negativas mal educadas e muito desprezo por parte de pessoas que se acham escritores só porque pagam para publicar seus romances melosos e participam de movimentos inexpressivos. Por causa desse livro eu fui chamado de idiota, fui ridicularizado por trolls no Orkut e fui tachado de louco por membros da família que não conseguem acreditar que os escritores são capazes de escrever obras de ficção.

E eis que aí vem ele! A editora já me mandou o sinal verde, os livros estão na gráfica e começaram a ser-me entregues, sempre em lotes de trinta de cada vez, a partir do final do mês. Lançá-lo representa um momento de profunda realização, ainda que hoje eu tenha consciência de que teria escrito de forma diferente quase dois terços de suas páginas. Aliás, exatamente por isso. Se não o lançasse, eu o mutilaria de novo e perder-se-ia esse testemunho importante de minha juventude e de seus sonhos literários.

Começa agora a parte complicada: pôr para girar as engrenagens de minhas amizades, meus contatos com antigos professores, com as pessoas que acreditam em meu talento. Vou precisar gastar dinheiro e provavelmente não o recuperarei vendendo os exemplares. Mas ponho no mundo este livro, que me custou sangue e pele.

Mas de que se trata, exatamente, esse livro que tanto custou a sair?

Praia do Sossego é uma novela (gênero literário no Brasil muito confundido com o romance) sobre um jovem que atravessa uma depressão, causada principalmente pela morte precoce de sua amada. Não, eu não estou estragando a surpresa, isto está no Prólogo! A narrativa segue duas linhas convergentes, que se unem mais ou menos na metade do livro. A primeira linha segue o presente, no qual o protagonista, Ricardo, faz uma viagem a um lugar obscuro do qual apenas ouvira falar (a tal Praia do Sossego) para “respirar liberdade” e tentar distrair-se dos lugares que lhe lembravam a falecida Helena. Ao mesmo tempo, ele recapitula em flashbacks (intercalados como sonhos seus) todos os episódios de sua vida entre o momento em que conheceu Helena, no último ano do segundo grau, até o dia em que ela morreu, vítima de uma leucemia (a história se passa em algum momento do início dos anos 1990 e transplantes de medula ainda eram coisa de ficção científica). A linha presente é dinâmica e fortemente narrativa, acompanhando sua passagem por diversas cidades e encontrando vários personagens diferentes, com os quais ele, sempre tímido, quase nunca interage. Os flashbacks são fortemente metafóricos e poéticos, quase oníricos. No momento em que as duas linhas do argumento finalmente se encontram, a história se desata em outra direção, com outro estilo, rumo a um desfecho diferente do que Ricardo desejava.

Nesta obra tento manter a maior economia possível de personagens. Além de Ricardo, em torno do qual gira toda a história, só temos mais oito personagens vivos e o fantasma de Helena nos sonhos dele. Para um livro de cerca de 200 páginas isso parece pouco, mas é mais do que suficiente, se você considerar que a história que se conta não acontece “lá fora” em um mundo cheio de pessoas, mas “cá dentro” dos personagens, onde só coexistem as lembranças que eles escolhem conservar. A economia de personagens é fruto de um foco: originalmente havia mais, porém eu os fui “matando” ou simplesmente abandonando à medida em que fui revisando o livro. A morte de alguns personagens foi dolorosa: pela necessidade de eliminar um casal de personagens que parecia sobrar na maioria das cenas da Praia eu tive que limar uma magnífica cena romântica sob o luar que me custara um mês escrevendo. A cena se foi, relegada a um conto ainda inédito.

E assim eu cheguei ao conjunto que hoje perfaz este livro que me chegará as mãos nos próximos dias. Poucos personagens, vários cenários e uma ação mais concentrada em reações e reflexões do que em feitos e aventuras. Com esse conjunto lhes conto uma história que é essencialmente romântica, embora dotada de um certo “corte” enviesado que não é exatamente o das histórias românticas estilo Sabrina e Júlia. Essa é a história que eu vou convidar-lhes a conhecer quando lançar, em algum momento do mês de junho, o meu romance de estreia.

Um pós-escrito: cumprindo uma antiga aposta/promessa feita há muitos anos ao meu amigo Emerson “Toquinho” Teixeira Cardoso, poeta cataguasense e gente boa toda vida, não estou me desgastando para fazer um opúsculo, mas um livro que para em pé na estante… São mais de duzentas páginas, bicho!


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