Poetas são artistas. Sensatos, sensíveis.Sensacionalmente incensados, mas simples- -mentepessoas que vivem, que mentem, que sãoaquilo ensaiam em sonhos, que sonhamaquilo que ensaiam de dia.Alguns temem fantasmas, outros atacam moinhos.Alguns amam à morte, outros se acabam no vinho.Todos que escrevem se acham demais.Loucos demais, gênios demais, sofridos demais.Mas sobretudo, o poeta se acha o único a ter— ou pelo menos o que mais merece —a atenção do leitor.Isolado entre parede ou pensativo no bar,cada poeta escolhe sua própria missão.Para alguns a regra é não encontrar uma regra,outros não vivem sem sua régua, sua rima,seu conjunto cuidadoso de crenças e vocabulário.São muitos os que gostam de versos, muitos que cantam.Mas são poucos os que amam poetas, poucos os que ouvem.O que há de raro nesta incongruênciaé que todo poeta começa mais cedoa enxergar o que ninguém enxerga.Captam conspirações, veem vilezas,fantasiam fantasmas, sonham sutilezas.Mas se esquecem, todos eles,de que não existe “O Poeta”, este ser tão mitológico e notável.Há apenas a poesia, esta musa malbaratadanas mãos de muitos que não trabalham-na.Fazem da poesia uma escrava,ela que me sirva seus densos amorespara que eu os publique aos outros.Quantos têm o carinho de dar-se à poesiae aumentá-la com sua obra?