Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
06
Nov 11
publicado por José Geraldo, às 08:30link do post | comentar | ver comentários (1)

Vocês devem estar imaginando, então, que eu sou mais um que celebra o futuro esfuziante que vem aí. Que sou contra as ferramentas de controle do conteúdo, mas que abraço entusiasticamente o mundo eletrônico. Nem tão depressa assim, motorista, pare o ônibus do futuro, pois quero descer.

Quero voltar para minha casa, achar meu próprio armário debaixo da escada, ali me esconder, com minha velha máquina de escrever, e então, de dentro da escuridão desse meu canto, oferecer-lhes meu vislumbre desse futuro. Uma resposta algo poética demais (e hoje em dia a poesia se tornou algo pejorativo), porém somente com poesia se atinge a contundência. Não me acusem de dramalhão, falo em nome de valores que muita gente não entende, falo do ponto de vista de quem está acuado no quarto debaixo da escada. O que para vocês pode parecer casca, para mim é a medula.

Eu sou o ego. Eu sou a ambição do ego. Eu falo em nome dos desejos do ego. Eu não acho que o ego seja ruim.

É errado supor que o ego seja egoísta. O egoísmo é uma perversão tão grande quanto a total ausência de amor por si. Eu não sou egoísta, apenas aprecio ser quem sou, apenas aprecio a ideia de poder ser quem quero ser. Sei que muitas coisas que eu sou, ou sei, resultam do amálgama de coisas que foram ditas, ou feitas, por outras pessoas. Resultam de coisas que vi, ouvi, e copiei. Mas todas as coisas que fazem parte de mim, quando não foram simplesmente se instalando, como mofo numa toalha, são escolhas que eu fiz. Ninguém me impôs que eu escrevesse, por exemplo, ninguém conscientemente me fez ver que há mais beleza na mulher morena do que na loura.

O Ego é bom. Penso, logo existo — ele diz. “Penso” não é um fenômeno coletivo. “Penso” é uma ilusão de individualidade que nos torna saudáveis. “Penso” é a felicidade.

No mundo eletrônico, o ego está sob ataque. Movem guerra nuclear contra ele. Uma guerra cuja primeira batalha foi travada, décadas antes do primeiro chip de computador, quando alguém teve a ideia de que os livros escritos pelos autores não eram bons o bastante, que era necessário haver um “profissional” capaz de ensinar o escritor a escrever.

O nome desta profissão é “censura” e o seu fruto é a negação do ego. O autor não tem a “permição” de escrever com cê-cedilha, a não ser em contextos muito limitados. Tal como atores de novelas não podem falar com outro sotaque que não o de Capacabana, a não ser em contextos muito limitados, como novelas regionais caricatas. O nome desta profissão é “censura” e a sua marca é a soberba.

Houve um tempo em que escritores escreviam, revisores revisavam e editores editavam. Hoje escritores escrevem, revisores reescrevem, editores mandam reescrever. No fim do processo “interativo” a obra que chega a ser publicada já foi expurgada dos defeitos do autor. Todo autor tem defeitos, os únicos perfeitos são os editores e os revisores.

Mas esse tema é tão complexo que tenho que deixar para semana que vem.


04
Nov 11
publicado por José Geraldo, às 20:30link do post | comentar

Na postagem passada eu argumentei que o “livro eletrônico” entre aspas (marketeado como “e-book”) não é um produto novo, mas uma tentativa de mercantilizar algo que já existe. E que o objetivo do “e-book” não é oferecer conteúdo, mas controlá-lo.

O livro é uma ferramenta muito poderosa. Tão poderosa que ele, praticamente sozinho, acabou com a Idade Média e produziu esta sociedade em que você vive, este Admirável Mundo Novo, cheio de tantas pessoas adoráveis. Não acredite nos historiadores tradicionais: o mundo que nós conhecemos não é fruto das contradições do feudalismo e nem de uma fase de grandes navegações, mas de uma mudança de mentalidade produzida por uma invenção que rapidamente revolucionou a transmissão do conhecimento pelo mundo: a imprensa.

Antes da imprensa o conceito de autoria era difuso porque o próprio livro era algo inexistente. Os manuscritos antigos e medievais eram reproduzidos por copistas, que muitas vezes alteravam, adulteravam ou abreviavam o original. Certos tipos de obras, especialmente poesia e música, tinham um caráter efêmero, não eram vistas como “obras de arte” no sentido em que hoje as vemos.

Com a imprensa o livro se difunde e com ele se difunde o nome de seu autor, criando a vaidade da originalidade, da autoria. Não se passaram dois séculos até começarem a surgir as primeiras leis regulando os direitos do autor. Estas leis eram, em essência, justas. Procuravam remunerar o criador do conteúdo, em vez de deixar todo o lucro nas mãos do dono da impressora. Permitiram que homens de classes pobres ganhassem a vida sem ser de forma braçal: surgiu a figura do “intelectual” este ser abjeto e detestado hoje em dia. Junto com ele surgiram profissões, como o jornalismo, a literatura de ficção, a crônica. O ápice das leis do direito autoral se consubstanciou na Convenção de Berna, que assegurou que cada país respeitasse os direitos dos autores nascidos em outros, permitindo assim que o mercado de traduções funcionasse, e aumentando os ganhos dos autores.

Quando o autor se tornou profissional, foi necessário que ele passasse a ter proteção para continuar profissional. Se a proteção do direito autoral se extinguisse com a sua morte, haveria sérios riscos e inconvenientes. Pelo lado do editor/impressor, havia a possibilidade de que a morte súbita do escritor lançasse em domínio público uma obra de que se fizera há pouco uma grande tiragem, causando prejuízo a quem investira nela. Pelo lado do autor, havia a perspectiva de se tornar impublicável à medida em que envelhecesse, pois os editores simplesmente esperariam que ele morresse, para poderem ter acesso gratuito à sua obra. Por isso foi criada a extensão póstuma do direito autoral.

Porém, tal como as pensões das filhas de militares, nisso também se criou uma situação escabrosa. Muitas vezes o autor morria e deixava de herança uma renda expressiva em forma de “royalties” para parentes que em vida o haviam desprezado, abandonado, tachado de louco etc. Imagine, por exemplo, se Bruna Surfistinha, que até hoje não foi perdoada pelos pais, for casada em regime de separação de bens (não sei se é ou não e isso não me interessa, a não ser teoricamente, para fins de argumentação). Em caso de sua morte agora, os direitos de suas obras escandalosas ficaria sob o controle deles. Como nem os loucos rasgam dinheiro, o mais certo é imaginar que eles aproveitariam muito bem esse dinheiro. Usei um caso famoso e próximo de nós, mas casos análogos existiram às pencas pelo mundo. Tudo graças a extensão póstuma do direito autoral, que em alguns países chega a absurdos noventa anos!

Eu escrevi tudo isso sobre o direito autoral porque somente entendendo o alcance que ele tem, e a ideologia que existe por detrás dele, é possível ver porque os “livros eletrônicos” buscam controlar o fluxo de conhecimento e de informação. Existem empresas interessadas em manter em seu lugar a atual estrutura de poder — que não é de todo injusta, como já disse, embora longe de perfeita. Para chegar a esse fim quimérico, posto que na contramão do rumo indicado pela tecnologia, esses interesses estão atacando e solapando a democracia.

Imagine um mundo no qual leis impostas pelos fabricantes de carruagens tentassem impedir os automóveis de andar a velocidade maior que a de um cavalo em trote (15 km por hora). Imagine um mundo no qual leis impostas pelos pintores tentassem impedir que os fotógrafos tirassem mais de uma fotografia por dia, e que fizessem mais de uma cópia de cada negativo. Imagine um mundo no qual leis impostas pelos copistas impedissem edições de livros acima de vinte exemplares. Agora imagine um mundo no qual leis impostas pelos antigos controladores do conteúdo (editores e gravadoras) tentam impedir que os arquivos digitais (por sua própria natureza transmissíveis, copiáveis e alteráveis) sejam justamente transmitidos, copiados e alterados.

A introdução de novas tecnologias deve ensejar a criação de novas estruturas de poder e marcos regulatórios, adaptados aos novos tempos. Tentar continuar com as mesmas leis e paradigmas de antes é um obstáculo ao curso da natureza. E toda lei que tenta impedir a natureza de seguir seu curso produz violência. Pois somente com violência é possível “tentar” resistir à natureza. E sempre que a violência vence a natureza, o resultado é uma terra arrasada.

Na próxima postagem, apesar desta defesa apaixonada do futuro, lhes explicarei porque tenho fascínio pelo passado e medo do que está por vir.


02
Nov 11
publicado por José Geraldo, às 20:30link do post | comentar

Comecei a postagem passada dizendo que o “e-book” é uma “buzzword” poderosa, que adquiriu um caráter de dogma, e cuja crítica é retrucada com o anátema. Esta é uma característica predominante de nosso tempo: após décadas de modernismo, caracterizado pelo pensamento multifacetado, vivemos uma era de aspiração ao pensamento único, sob o signo do infame “fim da História” apregoado por Francis Fukuyama, nome que será eternamente lembrado pela ignomínia. Algumas “buzzwords” nomeiam coisas que efetivamente existem, são novas e se consolidam, como foi o caso da internet (que já foi um tema da moda, antes de virar item básico de nossa sociedade). Outras são apenas conceitos desenhados no ar por pessoas interessadas em ganhar o dinheiro de pessoas que gostam de palavras aéreas. Outras ficam no meio termo: nomeiam coisas que existem, mas não são novas, apenas revestidas de nova aparência. Penso que o “livro eletrônico” está neste terceiro grupo.

A rigor, se julgarmos pelo sentido literal das duas palavras, podemos dizer que existem livros eletrônicos desde meados dos anos setenta, quando foi criado o Projeto Gutenberg, com o objetivo de transcrever em formato eletrônico a herança cultural da humanidade. Desde então surgiram outros projetos e outras formas de geração, distribuição e leitura de conteúdo textual (e não textual). Um sítio na internet não deixa de ser um livro eletrônico, se contiver texto apropriado para um livro.

Porém, quando os marketólogos do mercado põem a mão em algo, eles procuram criar um produto a partir de uma “commodity”. O “livro eletrônico” etiquetado como “e-book” só traz de novo o velho anseio de manter sob controle o conteúdo que a internet, anárquica por natureza, ameaçava arrebentar. Os leitores de livros eletrônicos sempre procuram restringir o acesso do usuário ao conteúdo, criando formatos incompatíveis, licenças dificultosas, impedimentos operacionais. Pessoas que adquiriram os primeiros leitores de livros eletrônicos e gastaram dinheiro comprando “livros” para eles provavelmente hoje se perguntam aonde foram parar: quando o aparelho deu defeito os livros simplesmente sumiram. Arquivos digitais somem. Se para morrer basta estar vivo, para um arquivo digital desaparecer irremediavelmente, basta que ele tenha sido criado.

Como autor eu deveria estar preocupado com o controle sobre o meu texto. E estou. Como ser humano eu deveria estar preocupado com a realidade de que um dia morrerei. Eu estou. Em um caso, como no outro, porém, eu enfrento o inevitável: o conhecimento quer circular e as pessoas querem compartilhar aquilo de que gostam. As empresas que vendem produtos culturais gostariam de impedir isso e criam regras absurdas. Se eu fosse seguir tais regras, eu sequer poderia tocar na festinha de aniversário de minha filha o CD da Xuxa que lhe dei de presente, pois está proibida a “execução pública”. Portanto, eu sei que se o meu texto for bom e agradar, ele será copiado e eu não ganharei dinheiro nenhum com isso. Só me resta esperar que pelo menos a maior parte dos copiões tenha, pelo menos, a decência de não remover a menção à minha autoria (se bem que confio mais na decência dos cachorros do que na do ser humano, considerado em sua média).

Portanto, quando são criadas regras para controlar o acesso ao conhecimento, mesmo que tais regras sejam feitas em meu nome (ou seja, em nome dos criadores de conteúdo, profissionais ou não), eu sei que elas não me beneficiarão, que dificilmente beneficiarão aos controladores de tal conteúdo (gravadoras, editoras etc.) e que certamente prejudicarão à humanidade. Inúmeras são as leis que são criadas e custosos são os procedimentos e processos que são levados a termo em nome do combate à pirataria, tal como são inúmeros e custosos em relação ao combate quixotesco contra as drogas. O ser humano quer anestesiar-se, e ocasionalmente destruir-se, e é inútil tentar suprimir as ferramentas, pois se a necessidade existe, outras ferramentas sempre serão inventadas. O ser humano é inteligente e engenhoso, sabe improvisar em caso de necessidade. E o ser humano quer o conteúdo. Quer ver o filme, quer ouvir a música, quer ler o livro.

Na próxima semana continuarei analisando o tema, desta vez falando sobre o tipo de proteção e de reconhecimento que realmente me interessam como autor.


01
Nov 11
publicado por José Geraldo, às 21:02link do post | comentar | ver comentários (1)

O site Contemporary Brazilian Short Stories, sediado na Califórnia, Estados Unidos, selecionou, traduziu e republicou meu conto infantil “A Menina que Gostava de Ouvir Histórias”. Este é o primeiro texto meu a ser traduzido e republicado fora do Brasil (esperemos que outros se sigam).

A versão em inglês, feita por Rafa Lombardino, foi intitulada “The Girl Who Liked Listening to Stories” e foi publicada hoje.


31
Out 11
publicado por José Geraldo, às 20:30link do post | comentar | ver comentários (1)

Discutir o tema “livro eletrônico” é clamar por encrenca. Como toda “buzzword” da era da internet, “e-book” é um conceito que adquiriu uma aura de dogma e qualquer tentativa de dissensão resulta em anátema. Aliás, qualquer pessoa que se preocupe com “firulas” como “privacidade” e “direitos” acaba sendo tachada de coisas horríveis, tal como fazem com o Richard Stallman — um sujeito brilhante, embora pouco hábil para cativar as pessoas pela simpatia, ingenuamente imaginando que as pessoas são racionais e compreendem argumentos lógicos. Richard Stallman é uma verdadeira geni da era da Internet, tudo porque há trinta anos ele se insurge contra praticamente tudo quanto é novidade alardeada pelo “mercado”. Até hoje ele esteve certo todas as vezes. E eu, como não me incomodo em perder mais dois ou três de meus leitores, ouso aqui entrar em mais um terreno pantanoso.

O principal texto de Stallman que interessa ao tema se chama “The Right to Read” (“O Direito de Ler”). Trata-se de um conto de ficção científica no qual um jovem apaixonado por uma colega de classe pobre enfrenta um dilema existencial: ajudá-la a estudar para a prova, emprestando-lhe seus livros eletrônicos (e assim cometendo um crime), ou negar-se a isso, cumprir a lei e perder a oportunidade de cativar a garota de seus sonhos. Sob a capa deste dilema tão comezinho está a questão do “Gerenciamento de Direitos Digitais” (ou “Digital Rights Management — DRM”, como preferem os anglófilos): ao impedir a cópia de um arquivo digital, não fica apenas impedida a difusão sem pagamento das obras publicadas, mas fica também impossibilitada uma tradição de séculos: o empréstimo e/ou doação de livros. Na escola do futuro descrita no conto de Stallman, os alunos precisam pagar por todos os livros pedidos no currículo. Não existe para eles a opção de ir à biblioteca da escola e consultá-los lá, gratuitamente.

A leitura desta história, em 2002, deixou uma impressão forte em mim. Primeiro porque sou fã de ficção científica desde meus tempos de moleque, quando assisti, cheio de lágrimas nos olhos, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”. Segundo porque, sendo eu um usuário de Linux, as ideias de Stallman estão muito mais próximas de mim do que de um usuário comum de Windows: Linux não é só um sistema operacional, mas uma ideologia sobre como deveria ser o mundo. A ideologia foi dada justamente por Stallman, em 1984, quando abandonou o emprego no MIT para criar um sistema operacional inteiramente livre, dando origem, assim, à FSF (“Free Software Foundation” — “Fundação em prol do Software Livre”). Muita água rolou de lá para cá sob a ponte.

Uma ideia é algo muito poderoso. Depois que você tem contato com ela, depois que você a entende e assimila, será preciso muito mais do que um argumento racional para retirá-la de seu castelo no fundo de sua alma. Porque ideias não plantam apenas conceitos, mas desconfianças. Stallman plantou em mim a salutar desconfiança de que as poucas e poderosas empresas que dominam o mercado mundial de computadores e de programas para computadores não estão interessadas em construir uma democracia mais bonita, um mundo de fartura e alegria, etc. Empresas estão interessadas em dinheiro, e sem a focinheira do Estado em suas bocas, elas comerão tudo. Não foi um comunista barbudo que disse que “não existe almoço grátis”, mas um expoente do pensamento liberal, Milton Friedman. Stallman é barbudo e suas ideias muitas vezes tangenciam o comunismo, mas ele concorda com Friedman: tudo que existe de graça relacionado a computadores está interessado em conhecer e controlar você. Com esse conhecimento e esse controle é que as empresas ganham rios de dinheiro.

O mundo já foi um lugar mais simples para os escritores. A chance de ser publicado era ínfima, claro, mas o mundo era mais livre, pois cada um era dono do próprio caderno e da própria máquina de escrever. Não era preciso pagar aluguel pelo uso da estante, nem temer que um texto pela metade evaporasse sem remédio por causa da falha de um programa mal escrito. E quando o autor chegava a ter seu livro publicado, tinha a garantia de que ele existiria fisicamente por décadas a frente, que não desapareceria se simplesmente a editora se arrependesse de tê-lo publicado. Para quem chegava a obter o sucesso, especialmente nos países mais estáveis, como os Estados Unidos, décadas de direitos autorais poderiam assegurar a profissionalização. Era um mundo excludente, que só funcionava para poucos, mas ninguém acha a loteria injusta só porque os vencedores são raros.

Acontece que este mundo, bom ou mau, está caquético, prestes a perder os últimos dentes. Dentro de poucos anos será inimaginável esperar ter uma carreira como a de um Stephen King ou mesmo a de um Graham Greene. Isto ocorre porque o “livro eletrônico” (ou “e-book”, como preferem os anglófilos) possui um caráter totalmente diferente do livro tradicional, tal como a fotografia é outra coisa, quando comparada com a pintura a óleo sobre tela, que era a principal expressão artística mundial antes do século XX. Vivemos agora a transição entre os dois mundos, não temos ainda como prever como será o futuro “fotográfico” da literatura, mas já sabemos que não será como o passado, e que isso não será necessariamente bom.

Na próxima postagem continuarei destrinchando este tema, abordando a questão do “livro eletrônico” como um conceito repressivo, comparado com o tradicional.


23
Set 11
publicado por José Geraldo, às 20:20link do post | comentar | ver comentários (1)

Denilson Ricci, responsável pelo Site Lovecraft está prestes a lançar ao mundo um dos mais ousados projetos editoriais independentes dos últimos tempos, talvez o mais ousado da década até agora. Movido apenas pelo trabalho de voluntários (tradução, revisão, ilustração, projeto gráfico, catalogação) e com a proposta de venda a um grupo fechado de compradores, ele pretende dar à luz um volume que deve, em breve, ser referência para autores brasileiros de ficção científica e horror: a primeira edição abrangente das obras de H. P. Lovecraft no Brasil.

O objetivo é ambicioso: reunir as obras mais significativas do mestre do horror cósmico, tanto em prosa quanto em verso, em um volume ilustrado e acompanhado de prefácio e de uma longa biografia do autor. Espera-se que o volume tenha mais de 400 páginas! Além disso, a edição será em formato grande, em papel de primeira qualidade, em vez das edições de bolso que normalmente são reservadas para os gêneros “menores” (como a ficção científica e o horror) pelas editoras tradicionais.

Esta edição foi possível porque toda a obra do autor encontra-se em domínio público no Brasil desde 2007, considerando que ele morreu em 1937. Mas de nada adiantaria a obra estar disponível se Denílson não conseguisse reunir, através da internet, uma variada equipe de pessoas de todas as partes do país, das mais diversas profissões e interesses. Tradutores, revisores, críticos, biógrafos, desenhistas, designers. Coordenando um grupo de dezenas de pessoas, separadas pelas distâncias físicas e culturais que a Internet, e apenas ela, permite vencer, o editor nos traz a esse momento glorioso, em que nasce, quase de um parto, um livro destinado a ser referência pelos anos que hão de vir.

Sinto profundo orgulho de ter colaborado nesse trabalho, com a tradução de nada menos que quatro contos do Mestre, dos quais três devem ser aproveitados nesse primeiro volume:*

  • A Busca de Iranon (The Quest of Iranon),
  • Um Sussurro na Escuridão (A Whisperer in Darkness),
  • O Habitante das Trevas (The Haunter of the Dark)
  • O Depoimento de Randolph Carter (The Statement of Randolph Carter)

Visite o Site Lovecraft para mais informações, e prepare alguns cobres para comprar, até janeiro ou fevereiro, a primeira edição de luxo e independente das obras de H. P. Lovecraft no Brasil.

Sugiro fazer já a sua reserva, pois a tiragem será restrita aos que encomendarem. Eu já encomendei OS MEUS.

*Sim, ouso dizer “primeiro volume” porque seria mais do que apropriado usar o conhecimento já adquirido e fazer um segundo volume. O autor tem obras em quantidade suficiente para alimentar várias repetições desse projeto. E eu ainda sonho, muito em traduzir para o português The Dream-Quest for Unknown Kadath.


07
Set 11
publicado por José Geraldo, às 15:57link do post | comentar | ver comentários (3)

Reza uma lenda urbana que um certo cantor gaúcho certa vez entrou em um boteco e encontrou um palhaço comendo uma coxinha com Coca-Cola. Um palhaço desses que animam festa infantil e vendem balões na praça. Dizem que o famoso cantor, bêbado ou drogado (sabe-se lá), implicou com palhaço dizendo-lhe: “Ei, palhaço, faz uma palhaçada para a gente aí”. O palhaço, talvez já de paciência esgotada por aguentar crianças, ou por não ser a primeira vez que lhe provocavam, deixou a coxinha sobre o balcão e sentou a mão na cara do cantor, que saiu rodopiando e caiu de cara na calçada, para gargalhadas gerais dos frequentadores do lugar, e arrematou: “Sou palhaço para quem me paga.”

Esta história — verdadeira, segundo juram os alfarrábios da música brasileira — encerra uma importante moral, aliás, duas importantes morais. A primeira é que as pessoas não costumam ser em sua vida pessoal a mesma coisa que em sua vida profissional. Aquele palhaço era um anjo de paciência com as crianças porque ganhava a vida suportando-as, mas não tinha nenhuma obrigação de ser paciente com bêbados, mesmo que famosos ou pseudo-famosos. A segunda lição é que é uma ofensa pedir ao profissional que faça de graça para você algo que ele faz por dinheiro. O palhaço ganhava a vida fazendo palhaçadas, mas cobrava por isso. Fazer uma palhaçada para o cantor ver seria ridículo.

Acredito que todo profssional tem a sua dignidade, mesmo aqueles a que as pessoas costumam dar valor — como palhaços e escritores. Seja lá o que for que o sujeito faça para ganhar a vida, se não é crime e não faz mal a ninguém, é um meio honrado de ganhar a vida. Merece respeito. Não é porque você pinta a cara com uma maquiagem engraçada que você passa a ser uma pessoa inferior. E nem porque sua arte é ingênua e aparentemente fácil (digo aparentemente, porque não é realmente fácil fazer uma criança feliz).

Mas em geral as pessoas tendem a achar que as pessoas que fazem arte não precisam ou não estão interessadas em dinheiro. Pedem uma “palhinha” para o amigo músico, acham feio o amigo escritor querer vender-lhes o seu livro em vez de dar de presente, querem que o humorista conte suas piadas na mesa do bar. Dizem que o falecido comediante Bussunda certa vez protagonizou um caso desses, ainda no começo da carreira, quando a sua fama de mal-humorado ainda era pouco conhecida. Um parente de um amigo a quem foi apresentado pediu-lhe para ver se ele era mesmo engraçado, pediu-lhe que contasse uma piada. Bussunda se prontificou a contar a piada, mas antes pediu licença ao novo conhecido porque precisava de um favor. Sabendo que o sujeito era médico, começou a descrever-lhe uma série de sintomas e a pedir-lhe opiniões sobre medicamentos. O homem o interrompeu dizendo que não poderia dar uma resposta ali no palco e o convidou para ir ao seu consultório. Bussunda, então, retrucou que não poderia fazê-lo rir ali e o convidou para ir assistir ao espetáculo que estava fazendo (“A Noite dos Leopoldos”) ou comprar um dos livros que fizera ou então assistir ao programa na televisão (na época acho que ainda era o “Dóris Para Maiores”).

Essas histórias me chegaram, todas, por e-mail. Enviadas por conhecidos, alguns escritores outros não, quando chegou-lhes ao conhecimento que eu estou com meu primeiro livro publicado. Alguns ainda me criticaram por publicar quase tudo que escrevo neste blog.

Se você vendesse salgadinho na rua, não sairia dando quibe de presente. Mas você escreve ficção, e fica distribuindo de graça no blog. Você não deveria dar de graça aquilo que você tem para oferecer.

Tudo isso me faz pensar, especialmente considerando a ameaça que a internet realmente representa para o futuro da arte. Um músico pode dar de graça as suas gravações e tentar viver de suas apresentações ao vivo. Mas se eu dou de graça as minhas “escreveções”, onde vou me apresentar ao vivo como escritor para ganhar a vida? Aliás, o que seria a apresentação ao vivo de um escritor, seria eu me sentar na praça com um laptop e escrever as histórias das pessoas que passarem? Alguém vai parar para ver? Alguém vai pagar?


03
Set 11
publicado por José Geraldo, às 19:12link do post | comentar

Estou finalizando a tradução do último capítulo do livro do Hodgson hoje e começarei a preparar a publicação desta obra de forma independente. Pretendo utilizar os serviços do Lulu.com e do AGBook. Possivelmente vou colocar no Kindle store e outros lugares também, desde que tenha condições de fazer isso sem grandes burocracias. A edição será preparada em dois formatos: EPUB e PDF. Pretendo também preparar uma versão para impressão, que poderá ser adquirida através destes sites.

Se você gostou da tradução e pretende anexá-la ao seu leitor de livros digitais (ou e-book reader, como preferem alguns) ou pôr de pé em sua estante, vá reservando uns cobres porque a data prevista será meados de novembro. A tempo de dar de presente no Newtal…

Atualização em 05 de setembro de 2011: Terminei ontem à noite a tradução dos últimos capítulos. A publicação no blog terminará em 18 de outubro, com o epílogo. Até lá eu vou começar a formatar o e-book e fazer as revisões necessárias.

Atualização em 09 de setembro de 2011: Ontem voltei a pesquisar sobre o formato de arquivo Djvu e até andei brincando com alguns programinhas de conversão. Fiquei espantado de ver que em alguns casos os arquivos Djvu conseguem ser 85% menores que os PDF e mantêm a mesma qualidade de impressão! O visor de Djvu para Linux (djview) ainda tem uma característica interessante: carrega uma página de cada vez, fazendo que ao clicar no arquivo você tenha uma janela instantânea aberta com a capa! Acho que vou fazer o ebook em Djvu em vez de PDF.


08
Jul 11
publicado por José Geraldo, às 19:07link do post | comentar | ver comentários (1)

A viagem entre Cataguases (minha cidade natal) e o local onde fica a Praia do Sossego (a verdadeira, que inspirou alguns dos episódios de meu romance deste nome) dura apenas algumas horas. Mas a viagem entre a concepção e a publicação de minha obra de estreia em livro demorou bem mais que isso: foram 11 anos!

Hoje finalmente recebi um email da editora confirmando que meu romance de 218 páginas, além dos cem exemplares que adquiri para noite de autógrafos e promoções várias, também está à venda no website. Este passo era psicologicamente muito importante para mim, pois somente desta forma posso finalmente saber que meu livro foi “publicado” (com todos os efes e erres que esta palavra não tem).

Agora convido a todos os amigos virtuais que fiz nesses quase seis anos de atividade nas redes sociais: conheçam este meu humilde trabalho, no qual coloquei muita inspiração, mas nem tanta transpiração, ao contrário do que os onze anos podem dar a entender, pois boa parte deste prazo foi perdida entre a concepção inicial e a revisão final, sem falar do ano e meio de negociações com a editora e com o meu orçamento…

Desde hoje já posso me considerar realizado. Sou um autor publicado, e não publiquei pouca porcaria não, é um livrinho grossinho o suficiente para parar em pé na estante.

Quanto aos amigos que residem na minha cidade natal, ou em Leopoldina, onde atualmente vivo, ou em qualquer cidadezinha das redondezas (incluindo Juiz de Fora, nosso distrito comercial…) dentro em breve organizarei um evento para marcar formalmente minha entrada, com casca e tudo, no mundo das letras.


12
Mai 11
publicado por José Geraldo, às 12:56link do post | comentar | ver comentários (1)

Entre as muitas coisas polêmicas que me encasquetam a cabeça a respeito de temas literários reside uma em particular que me tem inquietado muito: o significado de Paulo Coelho para a literatura de um modo geral e para o mercado editorial de forma mais específica. Acredito que o mago tenha se tornado uma personalidade que ninguém pode ignorar, sob pena de ser ignorante. Podemos amá-lo ou odiá-lo, mas não podemos mais fingir que ele não existe. Infelizmente, muita gente finge. E muita coisa não se compreende a respeito do enigma que ele representa.

Em primeiro lugar, devo dizer que minha opinião sobre a qualidade literária do que ele escreve é conhecida. Eu simplesmente não vejo nenhum valor em nada do que ele até hoje escreveu e penso que enquanto escritor ele é um excelente mago. E acrescento que sou inteiramente cético quanto a magias. Preciso começar dizendo isso para que os desavisados incapazes de boa interpretação de texto não venham a pensar que eu estou aqui defendendo esse embromador.

De certa forma, porém, odiar Paulo Coelho é tão inútil quanto amá-lo: uma e outra atitude não muda nenhum fato a respeito do autor e seus livros e ambas são irrelevantes para o público cativo do tipo de literatura a que o mago se dedica. Desta forma, a relevância a que me refiro não está no autor e nem em sua obra, mas no curioso fenômeno editorial em que ele se transformou. Estudar a biografia de Paulo Coelho e observar como ele veio a se tornar o que ele hoje é. Quando pensamos em todos os paradigmas quebrados por Paulo Coelho, fica evidente que ele representa algo diferente no universo literário (não nos cabe julgar se bom ou ruim) e que a sua posição no mercado editorial é digna de nota.

Os comentaristas brasileiros tendem a ser unanimemente críticos quanto à obra do mago, reservando-lhe os mais ferozes adjetivos. Eu mesmo me insiro nesses, tendo-lhe acusado até mesmo de ter um domínio insuficiente da língua portuguesa e de desconhecer técnicas narrativas básicas. Poucos são os comentaristas eruditos que se acercam dele sem pesadas pedras nas mãos (eu mesmo levei todas as que pude carregar e ainda tinha uma sacola cheia à tiracolo). Um dos que olharam para Paulo Coelho de forma mais leve e neutra foi o escritor iraniano Arash Hejazi, cujo texto The Alchemy of the Alchemist tece alguns comentários dignos de nota.

Hejazi começa lembrando quem era Paulo Coelho em 1988, antes do sucesso dO Alquimista: um autor então desconhecido, vivendo no Brasil, um país que não tinha uma tradição relevante de traduções de sua literatura para outras línguas.. Poucos de nós nos lembramos disso quando colhemos calhaus por aí para atirar nos outros. Paulo Coelho se tornou um best-seller internacional vencendo uma série de barreiras que ninguém antes dele tinha vencido. Será que não nos interessa saber como ele fez?

Paulo Coelho tornou-se desde então um dos autores vivos mais traduzidos do mundo e embora seus livros nem sempre estejam entre os mais vendidos em todos os países, em todos eles vendem suficientemente bem para serem um investimento rentável para seus editores e se em números absolutos. Isto se torna ainda mais significativo se considerarmos que na grande maioria dos países do mundo as obras traduzidas vendem menos do que as obras produzidas localmente (o Brasil é uma curiosa exceção a tal regra, com os best-sellers internacionais roubando mercado dos autores nacionais). Além do mais, alguns dos países nos quais Paulo Coelho se tornou um fenômeno de vendas (como França, Estados Unidos, Alemanha, Turquia, Irã, Itália, Grã Bretanha e Espanha) possuem literaturas fortes e variadas e o mercado editorial de pelo menos dois desses países (Grã Bretanha e Estados Unidos) é bastante fechado a autores estrangeiros, a não ser que algum fator externo (como um Prêmio Nobel ou a invasão de seu país pelos Estados Unidos) atraia interesse.

Não podemos esquecer que Paulo Coelho nasceu em algo que poderia ser considerado um “berço de ouro”, uma família de classe média alta no Rio de Janeiro. Graças às posses de sua família e aos contatos que ele mesmo construiu no mundo artístico, o autor começou muito cedo a travar contatos com gente como Raul Seixas e Christina Oiticica (mais tarde sua mulher), ganhando visibilidade no cenário cultural brasileiro. Certamente o nome que ele construiu na qualidade de parceiro de Raul lhe foi de grande ajuda resolveu migrar para a literatura.

Estas amizades tiveram também um papel preponderante no início da divulgação internacional dO Alquimista: foram conhecidos de Paulo Coelho que se dispuseram a trabalhar quase gratuitamente para traduzir, agenciar ou até publicar no exterior aquele que viria a ser o primeiro sucesso do mago. Houve até o caso de uma fã, filha de um editor, que rompeu com o negócio do pai e fundou a sua própria editora para publicar o livro depois que seu pai se recusara a fazê-lo por julgar o livro muito ruim. De uma forma que até parece sobrenatural, todos esses acontecimentos se encadeiam e levam ao sucesso de uma forma totalmente inesperada, e até contrária ao modo como normalmente funciona o mercado editorial.

Hejazi ressalta que o sucesso de Paulo Coelho foi frontalmente em contradição com os princípios tácitos que regem o mercado: um autor obscuro, de um país periférico no contexto internacional, escrevendo em uma língua que sequer está entre as dez mais traduzidas, um livro que não recorre ao exotismo local estilo macumba para turista, um livro que não teve nunca sequer uma página favorável de crítica em qualquer veículo de imprensa, um livro que não foi transformado em filme de sucesso e que nunca teve qualquer grande campanha de publicidade. Além disso Paulo Coelho nunca contratou agentes a peso de ouro e não escolheu um título de impacto, desenvolvido de acordo com regras semióticas precisas. Sem qualquer dessas características que o mercado editorial aconselha como “essenciais” aos livros de sucesso, ainda assim o mago conseguiu “chegar lá”, vendendo mais que os livros de muita gente que fez tudo “certo”.

Evidentemente, esse sucesso remando contra a maré não pode ser ruim para os interesses dos demais autores. Quando o mercado editorial desenvolve uma “fórmula” (tal como a descrita por Hejazi) e passa a martelar dentro desta “fôrma” as obras que pretende publicar, isto significa que numerosas obras, inclusive algumas de boa qualidade, serão rejeitadas e destinadas ao esquecimento não por seu valor, mas por simplesmente não se adequarem aos preconceitos dos editores. Não custa lembrar que outro grande fenômeno, J.K. Rowling, ouviu sete vezes o não de editores a quem enviou seu livro. Rowling chegou a ouvir que escrever não era para ela.

Mas existe algo especial a respeito do sucesso dO Alquimista: todos os envolvidos em sua tradução e publicação foram pessoas que gostaram tanto do livro que resolveram empenhar-se pessoalmente em publicá-lo, expondo-se em nome disso. O livro foi lido e foi gostado e a partir de então foi transformado em um projeto pessoal por tradutores e editores. Isto, claro, depois que o próprio Paulo Coelho investira seu próprio patrimônio em sua edição e dedicara-se a vendê-lo, praticamente como um mascate, nos eventos culturais de que participava.

O que há por dentro já não importa tanto. Como dizia McLuhan, em uma frase que se tornou praticamente um meme: O meio é a mensagem. Paulo Coelho não é um autor relevante pelo que escreve, mas pelo fato de ter conseguido ser um sucesso mesmo contrariando a todas as regras “infalíveis” do mercado editorial. Nesse sentido, o mago nos inspira a acreditar no próprio trabalho, em vez de acreditarmos na opinião muitas vezes preconceituosa de algum editor.


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