Para a maioria das pessoas o LATEX parecerá um modo muito estranho de se trabalhar com documentos de texto. Afinal, texto é uma informação essencialmente visual e o LATEX trabalha com ela de forma não-visual e não-interativa. Pode parecer um contra-senso, mas na verdade é apenas uma forma conceitualmente diferente de se abordar o mesmo problema.
Processamento de Texto
Quando os primeiros computadores foram criados não havia nenhuma idéia de que eles algum dia fossem usados para produzir conteúdo, para compor livros, para trocar informações em texto. A idéia do computador era a de uma super máquina de calcular, que, aliás, é o que significa a palavra. Por esta razão os computadores não foram dotados, inicialmente, de toda a capacidade de geração e formatação de textos que estava disponível nos linotipos, as antigas máquinas de composição tipográfica.
Originalmente os computadores só incluíam 96 caracteres, que correspondiam às 52 letras (maiúsculas e minúsculas) os 10 algarismos e alguns sinais de pontuação e operadores matemáticos essenciais. Muitas simplificações foram feitas para economia de espaço. Por exemplo, as “aspas iniciais e finais” com formato diferente foram consolidadas em um único símbolo, as "aspas duplas". Os três tipos de símbolos de barras (hífen, sinal de menos e travessão) foram consolidados em um só. As ligaturas (letras especiais destinadas a facilitar a leitura) foram deixadas de fora. Nada disto era um problema muito sério quando o texto produzido pelo computador era em fonte monoespaçada e não se caracterizava pela complexidade. Demorou muito tempo até que alguém tivesse a idéia de armazenar no computador obras literárias.
Quando estas máquinas começaram a ser introduzidas no mercado editorial aconteceu uma queda sensível na qualidade gráfica de jornais, revistas e livros. As limitações do computador foram repassadas ao meio impresso porque as pessoas já haviam se acostumado a não mais usar coisas como aspas diferentes, ligaturas, travessões, etc. Demorou muito tempo até que o problema começasse a ser enfrentado.
O TEX, criado por Donald M. Knuth entre 1976 e 1983 foi uma dessas pioneiras tentativas. Outras surgiram depois. Todo programa de computador que se propõe a transferir texto armazenado em meio eletrônico para ser impresso é um processador de textos. Basicamente há três categorias de processadores de texto: os formatadores de texto, os formatadores baseados em linguagens de marcação e os interativos.
Um formatador de texto é um programa que utiliza um arquivo de texto qualquer e o transforma em um conteúdo imprimível, normalmente se limitando a formatar parágrafos e introduzir títulos segundo convenções básicas, que existem desde os primórdios da informática. Uma destas convenções é a de *texto entre asteriscos* quer dizer negrito e /texto entre barras/ quer dizer itálico.
Um formatador de textos baseado em linguagem de marcação é mais poderoso e também mais complexo: ele depende que o texto seja mesclado a comandos de formatação específico. Através destes comandos o LATEX pode, por exemplo, gerar equações impressas da forma correta.
Um processador de textos interativo lhe permite trabalhar simultaneamente no conteúdo e na apresentação de seu texto, ou seja, você digita e tem uma idéia quase segura de como o seu texto aparecerá impresso. Um exemplo desta abordagem é o Microsoft Word.
Controvérsia sobre o Processamento de Textos
Existe uma grande controvérsia [texto em espanhol] se esta “interatividade” (palavra que está na moda e passa grande credibilidade) é de fato algo bom. Para alguns autores, a visão simultânea do texto e de seu aspecto formatado funciona como uma distração, dificultando que o autor se concentre no conteúdo enquanto se preocupa com coisas de importância secundária, tais como alinhamento de parágrafos, linhas órfãs e viúvas, tipo e tamanho de letra, etc. Segundo esta visão, se o autor tiver a opção de trabalhar focado exclusivamente no conteúdo ele produzirá mais. Portanto, a separação de conteúdo e apresentação se apresenta como uma alternativa mais funcional. Esta é a estratégia que você adotará ao trabalhar com LATEX.
Ao instalar os programas que recomende em meu post anterior, você não verá nenhum programa novo em seu menu de programas. Você procurará e nada achará porque o LATEX não é um programa que possui interface de usuário! Depois de instalado e configurado, você precisará escolher a sua interface.
Eis um novo conceito ao qual o leitor talvez não esteja acostumado: escolha. A grande maioria dos usuários de computador está acostumado a soluções prontas, que supostamente “funcionam” out-of-the-box e se sente desconfortável com a perspectiva de ter de usar um programa que lhe pede escolhas. Isto, porém, não é uma desvantagem, mas uma vantagem: existem várias formas de se trabalhar com LATEX e você pode escolher a que melhor lhe sirva.
No site LATEX Llinks Page você encontra uma lista de editores populares para Windows. Se você usa Linux, suas escolhas óbvias recairão sobre o Kile ou algum editor de textos com suporte a LATEX, como o gVim, o TEA ou o Moo-Edit (mEdit). Uma abordagem diferente pode ser tentada através do LYX, mas ela só é recomendável se você realmente tiver muita dificuldade de digitar sem feedback visual.
Seu Primeiro Documento em LATEX
Uma vez instalado e configurado o seu editor de textos, tudo que você tem a fazer é escrever o seu texto, incluindo as marcas de formatação que julgar necessárias, e depois “compilar” o documento através do LATEX. A edição, teoricamente, poderia ser feita até no Bloco de Notas do Windows, a única coisa que os editores de LATEX fazem por você é automatizar tarefas como abrir e fechar chaves ou inserir automaticamente seqüências de comandos. Alguns permitem ainda que você compile de dentro deles o seu documento e execute o visualizador de documentos para saber como ficou.
O TEX (pronúncia correta igual ao inglês tech) é um programa de computador que faz a conversão de um arquivo de texto com marcas de formatação para um arquivo imprimível contendo a descrição da página. Atualmente o TEX original é considerado obsoleto, e a maioria das distribuições usa o pdfTEX de Han The Tan em seu lugar.
LATEX (pronúncia correta lay tech) é uma linguagem de macro que facilita o uso do TEX por leigos (aliás a primeira sílaba do nome se pronuncia exatamente igual à palavra inglesa lay, que significa "leigo"). Cada comando LATEX é um atalho para um conjunto de comandos TEX. Em outras palavras, LATEX é um tipo de interface de usuário para o TEX.
Um documento LATEX contém vários comandos, que especificam como ele será impresso. Alguns desses comandos são opções globais (fonte, tamanho de página, estilo do documento, etc.) outros são locais (itálico, negrito, etc.) e outros são ferramentas para permitir a inserção e controle de citações, referências cruzadas, etc. Estas ferramentas existem proque o LATEX foi desenvolvido para o preparo de textos acadêmicos. Se você usá-lo para formatar sua tese de Engenharia, por exemplo, aprenderá a amá-lo!
\documentclass[a4paper,oneside,12pt,titlepage]{scrreprt}\usepackage{ifpdf,html,mathptmx,courier,indentfirst,geometry}\usepackage[scaled=0.9]{helvet}\title{Título}\author{Autor}\date{\today}\begin{document}\maketitle\tableofcontents\chapter{Título do capítulo}Texto do capítulo.\begin{enumerate}\item item de uma enumeração\end{enumerate}\section{Título da seção}Texto da seção\begin{itemize}\item item de uma lista\end{itemize}mais algum texto\begin{quotation}Texto de uma citação\end{quotation}\end{document}
Um documento LATEX, como você pode ver, nada mais é do que texto mesclado a comandos. No documento acima temos os seguintes comandos:
- Escolha do tipo de documento (“documentclass”)
- Seleção de alguns pacotes de estilo (“usepackage”)
- Definição do título e do autor do documento
- Definição da data de composição como hoje
- Início do documento
- Colocação do título e do índice
- Primeiro capítulo
- Texto
- Uma enumeração
- Uma seção
- Uma lista de itens
- Uma citação
- Fim do documento
Tendo obtido um documento corretamente digitado, você executa sobre ele o comando de alguma variedade do LATEX, que pode ser o LATEX original, para impressão, o pdfLATEX para gerar um arquivo PDF ou o XELATEX, para gerar um PDF em Unicode usando fontes OpenType.
No próximo post eu vou apresentar uma série de modelos de documentos com os quais você pode gerar um livro formatado em alta qualidade.