Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
13
Mar 13
publicado por José Geraldo, às 11:00link do post | comentar
Um dos problemas de se ter um blogue na internet é que as pessoas ainda não se deram conta de que o direito autoral existe e, pior, não distinguem entre o abuso de direito autoral cometido por uma multinacional que chega a pagar propina a congressistas para estender os prazos de seus direitos, e os de um pobre autor amador e desconhecido que só os quer usar para obter reconhecimento pelo seu trabalho.

Tive dois casos desagradáveis esse ano, de utilização não creditada de trabalhos meus. O primeiro eu ainda estou correndo atrás, para ver se compenso o estrago (que é enorme para as proporções de meu blogue) e o segundo acabou de ocorrer, mas foi tudo deletado já, sem ter causado estrago maior, porque percebi rápido.

No primeiro caso fizeram um e-book com a minha tradução do romance “A Casa no Fim do Mundo” (de William Hope Hodgson) sem incluir link nos créditos (condição exigida pela licença Creative Commons que aplico a tudo no meu blogue) e colocaram na blogosfera e na comunidade brasileira de e-books sem nenhuma menção a não ser uma, minúscula, dentro do arquivo epub. Ou seja, trabalhei mais de 180 horas nesta tradução e não estava tendo nem mesmo o retorno em visitas (e consequentemente AdSense) ao meu blogue. Que tipo de estímulo você pode ter para fazer uma tradução e compartilhá-la com a comunidade blogueira se esta comunidade, em vez de cumprir a condição que você estabelece visando ao seu reconhecimento, prefere “fuzilar” o seu direito como se você não devesse esperar nenhuma remuneração e nenhuma retribuição (sequer moral) pleo seu trabalho?

Quando reclamei, os responsáveis se fizeram de ofendidos, me chamaram de estrelinha, ficaram de mal etc. e só um se comprometeu a modificar os arquivospara incluir  os links. Os demais simplesmente removeram (ao menos temporariamente) os arquivos eletrônicos e se calaram sobre a minha existência. Existem centenas ou até milhares de cópias dessa tradução em e-book que não contém informação correta do responsável pelo trabalho. E o crédito vai para os criadores desses sites de distribuição de conteúdo, que nada pagam e nada se esforçam para traduzir. Vampirizam o trabalho dos amadores para seu ganho pessoal (que, de qualquer forma não deve ser grande). Algumas dessas pessoas certamente devem até estar falando mal de mim por aí, dizendo que sou difícil, irascível.

A causa de tudo isso: o responsável pela criação do e-book jamais teve a ideia de me contactar para sequer me dar um “oi”, nunca me disse que estava distribuindo o meu trabalho e nem me pediu qualquer opinião sobre, talvez, a necessidade de mais uma revisão. Certamente, ao visitar meu blogue, ele se sentiu como quem faz compras. Quem compra um queijo não liga para o supermercado para avisar que o está comendo. Só que o comprador do queijo pagou por ele, e adquiriu o direito de comê-lo sem dar satisfações. No meu blogue é diferente: há um claro aviso, repetido três vezes na página, de que você pode levar o meu queijo de graça, desde que todos saibam que você pegou ele de mim.

Isso é parte de uma mentalidade comum na internet. As pessoas acham revolucionário fuzilar o direito autoral. Adquirimos uma naturalidade no pensar que existe uma classe de pessoas que trabalha de graça. Não peça a um jardineiro que pode sua grama em troca de um sorriso. Mas há quem imagine que se deve traduzir um livro de 160 páginas em troca de nada, nem mesmo o sorriso. E quando você reclama, errado está você com seu “mimimi”, com seu estrelismo. O carinha simplesmente copiou o meu texto e formatou um epub. Teve certo trabalho para isso, porque estava tudo distribuído em 28 páginas do blogue, o que lhe deu bastante tempo para ver alguma das três notícias de licenciamento que há em cada página. Agora existem centenas de pessoas que leram esta tradução e gostaram mas não sabem que fui eu que fiz. Algumas destas pessoas podem ter gostado do livro e gostariam de ler mais coisas do autor, ou poderiam ficar curiosas em saber que outros textos o meu blogue tem, já que gostaram desse. Isso foi negado a esses leitores. Quem reproduziu sem autorização a minha tradução não lesou somente a mim: lesou aos leitores igualmente.

Além de lesados no seu direito de satisfazer uma possível curiosidade por mais conteúdo da mesma fonte, esses leitores foram lesados na possibilidade de conhecer mais sobre a obra de William Hope Hodgson, porque eu não me sinto nem um pouco estimulado a continuar enfrentando a dura tarefa de trazer para o português “The Night Land” sendo que minha primeira grande investida não me trouxe nenhum benefício. Como não parece haver nenhuma editora interessada no autor (que é menos que uma nota de rodapé na história da literatura anglo-americana que se ensina no Brasil), esses leitores não lerão nunca a obra prima de Hodgson porque eu não vou traduzi-la. E os responsáveis pelos sites plagiadores também não vão.


O segundo caso foi ainda pior: um site "de autores" de literatura fantástica publicou sem dar crédito nenhum a minha tradução de "Uma Noite em Malnéant", conto de Clark Ashton Smith. Nem mesmo mencionaram que o tradutor fora eu. Os que violaram a licença de meu trabalho, no primeiro caso, pelo menos tiveram a decência de deixar o meu nome em algum lugar, ainda que sem destaque. Para adicionar insulto à ofensa, o site plagiador é um desses que inclui notícia de copyright nas suas páginas, provavelmente sem ter a mínima ideia do que isto significa.

Ainda estou tentando criar coragem para começar a averiguar que outros textos meus (originais ou traduções) podem ter sido apropriados sem autorização e à revelia da licença. E não sei se fico alegre, pelo interesse que meu trabalho está despertando, ou triste por ver que não tem sido dado valor ao meu esforço, e que a qualidade de meu trabalho, que o leva a ser compartilhado, não importa nada diante da “ofensa” do dono do site, que passa a me boicotar como se eu tivesse exigido a lua em troca de um beijo.

Sim, reitero. Estas pessoas, quando lêem a minha reclamação, em vez de simplesmente admitirem o erro, acham que errado estou eu, que sou o mal educado, o estrelinha, o complicado. Vários sites de e-books preferiram remover o ebook "A Casa no Fim do Mundo" a republicá-lo com as modificações que sugeri. Algo semelhante foi feito no caso da "Noite em Malnéant", o responsável pelo site preferiu despublicar a me dar a atribuição. Se ofendem por eu reclamar meus direitos, mas acham que eu não devo me ofender por se apropriarem do meu trabalho. Comportam-se como se escritores e tradutores fossem uma classe pessoas que não merece ser paga pelo que faz. E não importa que você cobre pouco, numa perversidade de parábola, aquele que tem pouco, mesmo isso lhe será tirado. Uma amiga, de vida nada fácil, certa vez me disse que é melhor cobrar, e caro, porque é muito mais fácil negar os pequenos pagamentos do que os grandes. Muitas vezes ninguém cobra vinte centavos, mas a cidade inteira fica sabendo quando você deve cem mil. Pois eu estou cobrando apenas um link e um nome no pé da página. Mesmo isso me é negado.

Coisas assim me fazem perguntar se ainda vale a pena blogar ficção fantástica. O retorno financeiro é nulo e o meu único objetivo concreto, que é o de obter visibilidade através do meu trabalho, é inviabilizado por esses compartilhamentos sem respeito ao meu ÚNICO PEDIDO que é o de incluir atribuição com link.

"Acabei cometendo um erro de não dar os devidos créditos ao tradutor, mas acho que isso poderia ser resolvido sem carnaval, teria dado os crédito sem problema se me falasse ou despublicar se assim desejasse, mas... Algumas pessoas gostam de aparecer."

É difícil explicar para as pessoas que eu não tenho que lhes pedir crédito. Elas vieram ao meu site e, se se interessaram pelo meu conteúdo, caberia a elas saber como usá-lo de uma forma legal (não somente no sentido jurídico, mas no popular). Quando você faz algo desrespeitando a vontade de alguém, é natural que ela reclame. Não na cabeça dos donos desses sites. Eles acham errado o escritor querer aparecer. 

Mania essa que escritor tem, né? Mania de querer aparecer.

02
Dez 12
publicado por José Geraldo, às 22:37link do post | comentar
Minha vida de solteiro não faz anos, faz meses. Melhor assim. A vida é curta demais para a medirmos em anos, décadas, séculos. Melhor pensar em termos mais exíguos. Em termos coisas próximas, curtas, fáceis de levar no bolso da alma como lembrança durante nossas andanças.

Estou solteiro desde que recebi minha promoção. Aluguei um apartamento na cidade onde assumi meu novo posto e minha mulher insistiu em ficar para trás. Primeiro foi para terminar o semestre das meninas na escola, depois para concluir o contrato temporário do emprego que conseguiu, depois para terminar o outro semestre, depois não sei mais o que será. Ela foi ficando e eu venho vindo.

Hoje minha segunda vida de solteiro completou sete meses. Não contei à minha mulher: esta comemoração, obviamente, eu só poderia fazer estando sozinho aqui em casa. Como todos os fins de semana, eu a fui visitar, mas voltei para casa no fim, para trabalhar no dia seguinte e dar seguimento a esta experiência estranha, que eu não tive quando menino.

São muitas as descobertas desta vida. Tentar fazer a própria comida, descobrir qual tipo de produto de limpeza adequado para retirar a inhaca de cada tipo de piso, como montar e desmontar sozinho os móveis para mudá-los de lugar cada vez que cismo de reorganizar as coisas, que veneno jogar nos vãos e corredores para evitar que entrem baratas e outros bichos.

Pela primeira vez na vida estou em uma casa com garagem anexa. Saio pela porta da frente e olho à esquerda e lá está meu carrinho, seus faróis me contemplam tristemente quando saio, implorando-me que o lave. Da última vez que tentei eu molhei todas as paredes e a minha roupa, mas ele continuou misteriosamente empoeirado depois que a água secou. Acredito que os carros, como os gatos, possuem uma aversão à água, que só com alguma habilidade se pode superar. Vou tentar de novo qualquer dia desses quando chegar mais cedo do trabalho, ainda de sol quente, pois não quero me gripar aqui nesta casa solitária. Tenho que me vacinar contra as situações em que desejaria alguém para minha companhia.

Tenho um quintal, também. Por enquanto ele está apenas exibindo um crescimento majestoso de ervas daninhas. Minha sogra, quando veio aqui, detectou a presença de plantas úteis também: batata doce, erva cidreira, hortelã pimenta, alecrim. Tenho dó de jogar herbicida e matar tudo. Comprei botas e luvas de borracha e vou arrancar as ervas com a mão, para preservar as plantinhas boas. Provavelmente terminarei nunca, mas ninguém tem nada com isso. Espero apenas ter sorte de terminar antes que o IBAMA declare meu quintal como “mata nativa em recomposição”.

Eu andava preocupado com a quantidade de insetos que frequentava a casa. Mas eles diminuíram significativamente desde que espargi inseticida pelos corredores laterais, na varanda dos fundos e na parte de fora das janelas. Ou talvez tenha algo a ver com os camaleões que apareceram. Camaleões adoram insetos, e eu gosto de camaleões. Se minha mulher ou minhas filhas estivessem aqui hoje, o pobre bichinho já estaria morto. Eu deixei sobras de bolo para ele. Se até logo à noite ele não tiver comido, vou varrer e jogar na lixeira do quintal para não atrair baratas.

Como a casa está vazia, vou me estimulando a comprar coisas para enchê-la: um capacho para a porta de entrada, um tapete antiderrapante para o banheiro, um baú de ferramentas para pôr num canto, uma mangueira de jardim para a torneira da varanda, aquela com que me molhei tentando lavar o carro. Minha cozinha está cheia de inutilidades úteis: queijeiras, pegadores de macarrão, saca rolhas, abridor de latas elétrico, biscoiteira, lixeira com tampa móvel. Algumas dessas coisas minha mulher nunca quisera comprar, achava-as inúteis quando a gente passava pela ala de utilidades domésticas do supermercado. Mas eu estou comprando de todas, e descobrindo suas utilidades. Coloquei o álcool em um borrifador (tenho três), eliminei o risco de acidentes e descobri como limpar o chão sem precisar enxaguar. Desajeitado que sou, essas pequenas descobertas me poupam tempo e trabalho. Só não consegui ainda descobrir o que vou fazer com tantos adaptadores de tomada e lâmpadas de formatos vários.

Terei, infelizmente, de comprar outro jogo de ferramentas. Não sei aonde foi parar a bolsa de veludo com velcro onde guardava as minhas chaves de fenda e de boca. Estou reduzido a um alicate, uma trena, um estilete e um martelo. Com eles eu monto e desmonto, prego e desprego. Uma beleza.

Mas beleza mesmo foi a faca de açougueiro com cabo de madeira que eu comprei ontem. Cheguei aqui hoje com a belezinha e já fui experimentado. Fiquei quase vinte minutos embevecido com sua eficácia ao cortar queijos (tenho seis tipos diferentes na geladeira), goiabada (experimentei uma fatia com cada tipo de queijo e realmente fica melhor com queijo minas frescal), frutas e até um trapo de pano de chão. Acho que vou comprar outros tamanhos de faca, também. Afinal, se preciso de várias chaves de fenda, de boca e de estrela, é inconcebível que uma faca de tamanho único sirva para tudo. Minha racionalidade masculina me diz que isto não faz sentido.

Esta dificuldade com os instrumentos, aliás. Nunca consegui entender as pessoas que cismam em usar as coisas de forma errada. Colheres são para líquidos, sopas e molhos. Garfos são para comida sólida. Facas são para cortar. Pegadores de macarrão são para pegar macarrão. Minha mãe, porém, punha uma colher para retirar o macarrão. Eu, particularmente, nunca consegui entender como ela conseguia servir-se usando aquela colher. Em minha casa este problema não existe: tenho pegador de macarrão, escumadeira de arroz, colher de feijão, queijeira, boleira, biscoiteira, saleiro, pimenteiro, azeiteiro, bule. Para cada coisa seu vasilhame ou utensílio. Um mundo ordenado, onde as coisas funcionam. Apenas se acumula lixo pelos cantos, copos sujos na pia e sujeira no tampo da mesa enquanto eu não resolvo varrer, lavar e limpar.

17
Nov 12
publicado por José Geraldo, às 20:37link do post | comentar
Analisando as estatísticas deste blogue descobri que nas últimas semanas um número significativo de pessoas aqui chegou, vindas do Google, pesquisando a expressão «brontops baruq». Fiquei curioso de saber o que raios isso significaria e fiz a pesquisa. Estranhamente meu blogue não apareceu nos resultados, o que só aumentou minha estupefação. Mas descobri a existência de um blogueiro que usa este pseudônimo.

Bem o fato de um blogueiro usar um pseudônimo assim original, em vez de fingir ser gringo e se chamar de Johnny, me fez ter vontade de ler. Descobri que o cara escreve bem, lendo um ótimo comentário seu sobre os mata-borrões. Mas não há lá nenhuma referência ao meu nome ou ao nome do meu blogue.

Persiste então o mistério: como chegaram até mim digitando «brontops baruq» no Google?
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18
Out 12
publicado por José Geraldo, às 01:17link do post | comentar | ver comentários (1)
Decidi-me a um passo radical nas minhas relações facebookianas. Estou começando a cortar relações com pessoas com quem não tenho conhecimento direto e, simultaneamente, não formam, em minha opinião, um público potencial para a minha literatura. Vou cortando esta turma porque estou cansado de conversas vazias que não vão a lugar nenhum, cansado de gente cheia de certezas, idênticas ou opostas às minhas.

Acredito que esta medida higiência me favorecerá bastante. Ajudará a me manter afastado da internet e mais perto de coisas como árvores, bichos e trabalho. Mesmo que não tenha esse condão, pelo menos me afasto de uns malas.

Esta semana fiquei conhecendo três.

O primeiro mala é aquele cara que posta coisas e depois reclama se você comenta. O segundo é o mala que te adiciona a grupos que ele acha que você quer participar. O terceiro é o mala que só sabe falar em Jesus.

Eu digo que fiquei conhecendo esses malas somente esta semana porque eu nunca tivera a oportunidade de trombar com eles. Mas tenho a certeza de que já os intuía antes: alguns me acompanhavam desde os tempos de Orkut.

Meu contato com o primeiro mala ocorreu quando ele postou um comentário qualquer, de cunho extremamente provocador. Era alguma coisa sobre uma campanha para desacreditar a campanha movida por alguns grupos na internet em favor de que seja também julgado o chamado «mensalão mineiro». Seu comentário foi o de que não há necessidade de julgar nada daquilo, porque é tudo mentira mesmo, já que a justiça até hoje não achou o que julgar, ou algo assim. E que o livro «Privataria Tucana», que acusa os acusadores do atual governo, seria uma «peça de ficção». Quando eu comentei que ele estava agindo movido por fé cega, sem prestar a mínima atenção à coerência, o mala me atacou com uma versão sofisticada daqueles dizeres de auto ajuda barata, algo como «eu nunca fui poluir o seu mural com as minhas opiniões, por que você vem me criticar no meu?» Senti-me atingido porque, de fato, era o mural dele e, de fato também, ele nunca comentara suas opiniões de ultra direitista no meu mural. Mas se eu não tenho o direito de comentar, mesmo acidamente, o que um «amigo» posta em seu mural, então esse não é um «amigo» meu, apenas um sujeito que está adicionado, sabe-se lá por que acaso. A única reação possível, diante da distância ideológica e da necessidade de preservação de seu cercadinho mental, foi a que tomei: desfazer a amizade. No momento em que o fiz, percebi que existem dezenas de outros «amigos» meus que tampouco são amigos: porque não tenho conhecimento pessoal seu, e nem confiança para, em algum momento, comentar livremente o que postam. Amigos que só aceitam comentários laudatórios ou neutros não são amigos. São pessoas que precisam ser ignoradas.

O segundo tipo de mala é mais sutil e, de fato, eu não tenho enfrentado esse problema nas últimas semanas, desde que excluí alguns adicionadores contumazes. Mas foi só nesta semana que eu percebi que essa prática também é um abuso, e um motivo para não somente eu excluir os «amigos», mas a própria conta no Facebook. Aguardarei o lançamento do segundo livro e talvez o faça.

O terceiro tipo de mala tem me atacado menos, e esse era, talvez, o que eu mais tinha noção anterior de sua existência. O que mudou esta semana foi a percepção de que, invariavelmente, a pessoa que toca no assunto Jesus nas primeiras vezes em que você conversa com ela é alguém que tem Deus na cabeça — e mais nada. Existem muitas pessoas que acreditam em Deus e são simpáticas, mas há pessoas que acreditam que a crença é uma desculpa para ser mala permanentemente ou,  pior, que se tornam tão obcecadas que se tornam malas sem querer. Eu não tenho saco para discernir os dois tipos: ignoro ambos.

Há outros tipos de malas bastante incômodos também, como o mala prolífico, aquele que resulta em 76 notificações de atividade, ou o mala científico, que é uma espécie de crente pregador das últimas descobertas científicas. Ambos são de dar dor de dente em galinha. Imagine você abrir suas notificações e ler que «Beltrano de Tal curtiu uma notícia em G1.com», daí você clica e lê que «Mônica Bérgamo (quem?) prepara pizza com Angélica». Ou, no caso do mala científico: «Observatório americano descobre que Plutão tem 0,5% mais merdato de bóstium do que se esperava — descoberta deve revolucionar a teoria das brânquias hipersônicas de Andrômeda». Daí você passa à notificação seguinte e outro «Fulano de Tal» curtiu uma página com «Todos os personagens de 'Malhação' se reúnem para homenagear Zé Ninguém das Couves». Você ignora, mas a notificação seguinte, novamente, do amigo científico, lhe lembra «Asteróide de 0,025 toneladas passou a 0,05 unidades astronômicas da Terra nesta noite». Daí você assusta achando que foi algo grande que passou perto e descobre que foi uma bosta de pedregulho irrelevante de 25kg que nos errou por um vigésimo da distância até o Sol.

Eu estava acostumado a conviver com esses dois malas, e mais o que a cada cinco minutos compartilha um versículo fofoso da Bíblia, ou uma pérola de auto ajuda. Nesta semana percebi o incômodo dos malas políticos que, por uma estranha coincidência, estão inundando o Facebook de calúnias contra o Fernando Haddad, o Lula, o Hugo Chávez e até contra as cerejas de bolo (porque também são vermelhas). Já vi gente dizendo que «Serra é lindo» (tem gosto para tudo, até para vômito) e outro dizendo que «tinha mais é que acabar com essa merda de democracia para afastar esses petralhas do poder». Sei muito bem o que é isso: é uma campanha de astroturfing em plena ação. Esses idiotas aparentes não vão continuar postando isso depois que acabar a eleição: quem está pagando vai deixar de exigir produtividade e eles vão voltar a compartilhar auto ajuda ou notícias irrelevantes, só alguns mais impressionáveis vão continuar bajulando os candidatos. É difícil conviver com isso, não tenho mais tanto tempo. Prefiro cair fora e torcer para eles caírem na real quando precisarem trocar as fraldas, melhor do que caírem na real quando houver tanques nas ruas, e não para lavar roupa suja.

Então, para evitar esse desgaste de meu humor, estou apagando essa gente chata e dedicando meu tempo livre a assistir os filmes do Monty Python e a pesquisar na Internet por discos de violeiros. Isso enquanto O Pecado da Tristeza não sai — e já tá demorando uma meia eternidade.

02
Out 12
publicado por José Geraldo, às 00:14link do post | comentar | ver comentários (1)

Às vezes a palavra que dizemos corta inadvertidamente quem está perto. É como brandir uma espada longa1 em círculo sem saber que alguém chegou pelas nossas costas. Culpa da espada? Do espadachim? Da vítima? Ou mero acaso.

Anteontem ofendi seriamente um amigo facebookiano por causa de minha postagem aqui.

Postei pensando num hábito irritante de dois ou três debatedores em um grupo político onde participo, sujeitos pedantes que gostam de pontuar suas frases com barbarismos léxicos achando que assim se mostram descolados. Essa fato me puxou o fio de muitas memórias, desde os tempos de Orkut, quando me cansei de ver garotos de 16 anos que tinham ido à Disneylândia achando que tinham cabedal para escrever um romance ambientando nos States.

Este amigo facebookiano me escreveu pedindo meu voto em uma espécie de concurso que está sendo promovido pelo Clube de Autores.

Mal sabia que o amigo facebookiano justamente me pedira para opinar num caso desses. Ele é o autor amador de um romance que começa por um título em inglês, que está ambientado em algum lugar dos Estados Unidos e tem uma história chupada diretamente dos filmes de terror americanos. Eu ainda não opinara, afinal o pedido era recente e eu tinha motivos razoáveis para supor que teria bastante tempo para analisar o livro e decidir se merecia ou não o meu voto. O fato de eu passar os fins de semana longe de meu computador pessoal era motivo suficiente para eu esperar pela semana.

Porque eu jamais daria meu voto sem ler a obra. A função de um concurso não é votar por amizade e nem pela beleza da capa: se esse era o tipo de voto buscado, buscou com a pessoa errada.

Então, inocente do conteúdo da obra que eu deveria avaliar, postei o que postei e segui com a vida. Hoje ao abrir o facebook me deparei com um irônico «agradecimento» do meu amigo e senti cheiro de coisa errada. Cliquei na ligação para o voto e detectei na hora de que se tratava.

Imagino que o meu amigo tenha razão para estar ofendido. Receber uma crítica é sempre ruim, porque de certa forma é como se alguém nos contasse que não somos geniais. E todo mundo se acha especial, genial. Mesmo uma crítica enviesada como essa, que só o atingiu na base do efeito colateral e da carapuça espontaneamente vestida.

Ao meu amigo só posso dizer que se acostume, e que aproveite. Viver para a arte é assim. Você se esforça e depois vem um idiota e diz que o seu trabalho é uma porcaria. Às vezes você passa a vida inteira sendo desvalorizado por idiotas e vira gênio depois que morre. Mas em muitos casos os idiotas têm razão e as pessoas ficam pensando porque você insistiu tanto, como o motorista da piada do barbeiro na contramão da Via Dutra.2

No fim das contas é muito difícil quem escreve, compõe ou faz qualquer coisa artística conseguir ter uma visão clara e definida da qualidade do que escreve. Em geral esta visão só se consegue com o tempo. Com cabelos brancos que nos embaçam os olhos e nos fazem enxergar o valor real do que fazíamos aos vinte anos. Para sorte da literatura nós só adquirimos a sabedoria tarde demais, e temos tempo de ser ousados antes, para o bem e para o mal — mais frequentemente para o mal, mas os fracassos se perdem no esquecimento, então não há nenhum grande prejuízo, a não ser para quem se ilude.

Muito Nero morre tangendo sua lira, sem nunca entender porque as plateias não aplaudiam. Em alguns casos eram platéias estúpidas, mas esse é um julgamento feito pela posteridade, então o melhor que o artista faz é não se matar por causa disso, nem perder suas amizades.

Diz um ditado piegas que «com as pedras que me atiraram fiz o meu castelo». Você não precisa fazer um castelo, mas se ficar jogando de volta não ganhará nada. Infelizmente esse tipo metafórico de pedras não serve para fazer castelos, o que é uma grande pena, mas serve para construir metafóricos muros mentais dentro dos quais o grande artista se isola com as pessoas que gostam do que ele faz.

Não sei se isso é errado, sei que não gosto. Queria que mais gente viesse me insultar aqui, enfiar o dedo nas feridas, gritar os meus defeitos.

As poucas coisas que aprendi na vida incluem uma constatação: se fazemos uma escolha certa desde o início é por mera sorte. Em geral deixamos de cair nos buracos porque alguém grita. Mas alguns têm a perseverança de ignorar a gritaria e seguir. Alguns são gênios, mas a maioria só fica teimando em coisas que ninguém quer, e que não sabe fazer direito.

Quem sou eu para julgar qual é o caso, mas reservo-me o direito de gostar do que escolho gostar. Quem vem me pedir que goste de outra coisa deve estar atento: não se pede a um atleticano que torça pelo Cruzeiro «só para ajudar».

1 O nome em português da longsword conhecida dos jogadores de RPG, Skyrim e outros jogos de guerra. O nome inglês evoca apenas o fato de ser comprida, em português se evoca o fato de ela ser tão grande e pesada que normalmente era usada apenas por cavaleiros (daí «montante», a espada que se usa montado a cavalo). Guerreiros excepcionalmente grandes e fortes costumavam lutar usando montantes a pé para intimidar seus inimigos com sua força, mas isso era só uma exibição gratuita de ignorância, sem muito efeito bélico.

2 A piada do motorista barbeiro na Via Dutra. Um motorista seguia pela Via Dutra, enquanto ouvia o rádio e xingava os outros motoristas por suas barbeiragens. O rádio deu a notícia: «Atenção motoristas que trafegam pela Via Dutra no sentido São Paulo/Rio, há um maluco dirigindo pela contramão na altura de Resende.» O motorista ouviu isso e comentou consigo mesmo: «Nossa, eles não sabem de nada! Um só!!!? Ahahah!»


27
Jul 12
publicado por José Geraldo, às 00:26link do post | comentar | ver comentários (1)
Resolvi adicionar, por sugestão de uma amizade (que me brindou com a história) mais um capítulo ao romance «Amores Mortos» antes de dá-lo ao mundo. O novo capítulo ajudará a tornar o meu anti-herói romântico ainda mais ambíguo.

A necessidade, porém, de transcrever como ficção uma história real, e muito real, que aconteceu com alguém que conheço (ou pelo menos ela disse que aconteceu) me coloca diante de um dilema: como evitar que as pessoas identifiquem a verdadeira fonte da história e, ao mesmo tempo, preservar a credibilidade de algo baseado em fatos reais?

Com a palavra os que já tentaram esta temeridade.
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05
Jul 12
publicado por José Geraldo, às 21:35link do post | comentar
Cada vez que acho um poema perdido numa gaveta ou num arquivo virtual amarelado pelos bits do tempo, convenço-me mais de que nunca fui realmente poeta. Fazia versos: não é a mesma coisa. Poeta é alguém que consegue escrever de vez em quando três ou quatro linhas que embasbacam até quem não sabe o que é poesia. Eu nunca fui desses, então nunca fui poeta.

Tenho mais de 1200 páginas de poesia devidamente escrita e catalogada, dolorosamente catalogada e editada ao longo de vinte anos. Foi escrevendo tudo isso que eu me fiz como gente. Foram anos de tentativa e erro, de aprendizado. Se escrevo algo que preste hoje, agradeço a ter tentado ser poeta, mesmo sem nunca ter sido. Mas vamos ser sinceros: meus melhores poemas dariam ótimas reminiscências em prosa inseridas em contos, crônicas ou qualquer outra coisa que não seja feita em versos.

Então tenho de cometer este ato de pública contrição: meus versos são umas porcarias. Não vou mais publicar poesia nenhuma em vida: o que escrevi ficará para as obras póstumas. De vez em quando vou incomodar os meus leitores com algum poema aqui no blog, claro, mas apenas porque postar poesia ruim é uma maneira de testar a fidelidade deles: os que não suportarem, é porque não gostavam suficiente de ler o que escrevo.
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03
Jun 12
publicado por José Geraldo, às 14:08link do post | comentar | ver comentários (1)

O amigo leitor terá percebido que neste ano de 2012 o ritmo do blog caiu bastante. No começo do ano isso aconteceu mesmo por causa das férias a que me forcei, para descansar o meu «nervo literário» e abrir espaço para ideias novas. Neste começo de ano li uns vinte livros diferentes, em vários gêneros, incluindo o ótimo romance de meu amigo Ronaldo Roque e o decepcionante best-seller de Michael Crichton intitulado «Devoradores de Mortos» (uma porcaria, verdadeiramente).

Outro fator, porém, está a afetar minha capacidade de produção literária: estou trabalhando em outra cidade, e durmo lá durante a semana. Inclusive mudei-me, com algumas malas, algumas cuias e o meu computador, para um pequeno apartamento lá. Nos fins de semana, quando venho em casa ver a patroa e as crianças, fico longe de meus alfarrábios e de meu instrumento de trabalho — de que resulta eu quase não conseguir interagir na internet. Hoje, por exemplo, eu montei o meu computador velho (que eu tinha aposentado porque ele andava apresentando congelamentos periódicos) e estou aqui fuçando na web e tentando pensar em alguma coisa. Foi o que me restou fazer, porque usar o notebook da minha mulher é algo que eu ainda não consigo: minhas manoplas se atrapalham com aquelas teclinhas e minha sutileza de quem nem sabe amarrar sapatos direito ainda não me permitiu aprender a usar um touchpad (comigo todo toque é um clique).

Espero que vocês medesculpem esta relativa seca literária, e que me acompanhem ainda, mesmo eu postando cinco ou seis vezes por mês ao invés de cinco ou seis por semana, como era antes. Aproveitem, inclusive, que vêm por aí novidades de meu segundo livro e uma crítica sobre o tal romance do Crichton que eu achei tão horrível.

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08
Mar 12
publicado por José Geraldo, às 07:45link do post | comentar

Neste Dia Internacional da Mulher, reservo este post para fazer uma homenagem a uma senhora alemã chamada Bertha, que causou uma tremenda comoção em seu país no ano de 1888. Bertha era a mulher do inventor Karl Benz, construtor de alguns dos primeiros automóveis, entre eles o primeiro movido por motor à explosão, chamado “Benz Patent Motorwagen”.

Esta senhora, em uma época em que ainda era cientificamente aceito que a mulher era menos inteligente e menos dotada de iniciativa que o homem, praticou um ato que é impressionante, quando visto em perspectiva.

No dia 5 de agosto de 1888 ela pegou o veículo construído pelo marido e viajou com os dois filhos pequenos, de Manheim, onde ficava a fábrica de Benz, a Pforzheim, onde residiam seus pais.

Não foi uma viagem fácil. O veículo tinha três rodas e era instável em estradas esburacadas. Tinha apenas uma marcha, que não era bastante forte para subir os morros mais íngremes levando mais de um passageiro. As pessoas por toda parte fugiam amedrontadas com o barulho e a fumaça produzidos pelo veículo e algumas foram agressivas.

Houve problemas mecânicos também. O motor ainda não estava plenamente testado e teve vários defeitos no meio do caminho, que a própria Senhora Benz teve de consertar, já que não havia mecânicos naquela época. O único defeito que ela não consertou pessoalmente foi a ruptura da corrente de tração, que foi solucionada por um ferreiro, que soldou a peça. Entre os defeitos que ela mesma consertou, um entupimento da válvula de alimentação de combustível, que ela solucionou usando um grampo de cabelo, e o desgaste prematuro das lonas de freio, que ela trocou usando um par reserva trazido de casa.

Outro problema foi conseguir combustível, já que o tanque do veículo era muito pequeno e o motor, pouco econômico. Ela resolveu isto comprando os ingredientes em empórios de produtos químicos e fazendo ela mesma a mistura, seguindo a receita que vira o marido tantas vezes preparar.

A viagem da Senhora Benz foi a primeira viagem da História feita em um veículo movido por motor a explosão. Antes dela ninguém andar mais do que algumas centenas de metros, sempre em recintos fechados. E não foi qualquer viagem, foram 106 quilômetros (mais ou menos dois terços da distância do Rio de Janeiro a Juiz de Fora).

Por incrível que pareça, ela não fez isso por mero capricho: ela tinha um objetivo: além de visitar os pais, divulgar a invenção do marido.

Nisso ela foi extremamente bem sucedida: o escândalo que ela causou, as notícias de jornal, tudo contribuiu para popularizar o conceito de automóvel. Bertha Benz não foi a primeira mulher motorista, foi a primeira motorista.


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Fev 12
publicado por José Geraldo, às 22:53link do post | comentar | ver comentários (1)

Um dia meus tesouros acabarão, este dia está — inclusive — bastante perto. Mas ainda consigo encontrar, fuçando em velhas caixas de minha mini-biblioteca doméstica, folhas avulsas datilografadas há dez, vinte ou vinte e cinco anos. Esta semana, organizando meus arquivos pessoais, encontrei trinta e oito delas, contendo alguns contos, algumas crônicas, ideias soltas, cinco ou seis poemas inéditos. Também achei alguns cadernos e blocos com minha inexprimível garatuja dos tempos de estudante.

Nos próximos dias digerirei este conteúdo em novas postagens do blogue, fazendo o mínimo de alterações, e espero que este encontro sirva para reatar meu caminho com a inspiração, que anda meio fugida nas últimas semanas. Aguardem.


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