Tive dois casos desagradáveis esse ano, de utilização não creditada de trabalhos meus. O primeiro eu ainda estou correndo atrás, para ver se compenso o estrago (que é enorme para as proporções de meu blogue) e o segundo acabou de ocorrer, mas foi tudo deletado já, sem ter causado estrago maior, porque percebi rápido.
No primeiro caso fizeram um e-book com a minha tradução do romance “A Casa no Fim do Mundo” (de William Hope Hodgson) sem incluir link nos créditos (condição exigida pela licença Creative Commons que aplico a tudo no meu blogue) e colocaram na blogosfera e na comunidade brasileira de e-books sem nenhuma menção a não ser uma, minúscula, dentro do arquivo epub. Ou seja, trabalhei mais de 180 horas nesta tradução e não estava tendo nem mesmo o retorno em visitas (e consequentemente AdSense) ao meu blogue. Que tipo de estímulo você pode ter para fazer uma tradução e compartilhá-la com a comunidade blogueira se esta comunidade, em vez de cumprir a condição que você estabelece visando ao seu reconhecimento, prefere “fuzilar” o seu direito como se você não devesse esperar nenhuma remuneração e nenhuma retribuição (sequer moral) pleo seu trabalho?
Quando reclamei, os responsáveis se fizeram de ofendidos, me chamaram de estrelinha, ficaram de mal etc. e só um se comprometeu a modificar os arquivospara incluir os links. Os demais simplesmente removeram (ao menos temporariamente) os arquivos eletrônicos e se calaram sobre a minha existência. Existem centenas ou até milhares de cópias dessa tradução em e-book que não contém informação correta do responsável pelo trabalho. E o crédito vai para os criadores desses sites de distribuição de conteúdo, que nada pagam e nada se esforçam para traduzir. Vampirizam o trabalho dos amadores para seu ganho pessoal (que, de qualquer forma não deve ser grande). Algumas dessas pessoas certamente devem até estar falando mal de mim por aí, dizendo que sou difícil, irascível.
A causa de tudo isso: o responsável pela criação do e-book jamais teve a ideia de me contactar para sequer me dar um “oi”, nunca me disse que estava distribuindo o meu trabalho e nem me pediu qualquer opinião sobre, talvez, a necessidade de mais uma revisão. Certamente, ao visitar meu blogue, ele se sentiu como quem faz compras. Quem compra um queijo não liga para o supermercado para avisar que o está comendo. Só que o comprador do queijo pagou por ele, e adquiriu o direito de comê-lo sem dar satisfações. No meu blogue é diferente: há um claro aviso, repetido três vezes na página, de que você pode levar o meu queijo de graça, desde que todos saibam que você pegou ele de mim.
Isso é parte de uma mentalidade comum na internet. As pessoas acham revolucionário fuzilar o direito autoral. Adquirimos uma naturalidade no pensar que existe uma classe de pessoas que trabalha de graça. Não peça a um jardineiro que pode sua grama em troca de um sorriso. Mas há quem imagine que se deve traduzir um livro de 160 páginas em troca de nada, nem mesmo o sorriso. E quando você reclama, errado está você com seu “mimimi”, com seu estrelismo. O carinha simplesmente copiou o meu texto e formatou um epub. Teve certo trabalho para isso, porque estava tudo distribuído em 28 páginas do blogue, o que lhe deu bastante tempo para ver alguma das três notícias de licenciamento que há em cada página. Agora existem centenas de pessoas que leram esta tradução e gostaram mas não sabem que fui eu que fiz. Algumas destas pessoas podem ter gostado do livro e gostariam de ler mais coisas do autor, ou poderiam ficar curiosas em saber que outros textos o meu blogue tem, já que gostaram desse. Isso foi negado a esses leitores. Quem reproduziu sem autorização a minha tradução não lesou somente a mim: lesou aos leitores igualmente.
Além de lesados no seu direito de satisfazer uma possível curiosidade por mais conteúdo da mesma fonte, esses leitores foram lesados na possibilidade de conhecer mais sobre a obra de William Hope Hodgson, porque eu não me sinto nem um pouco estimulado a continuar enfrentando a dura tarefa de trazer para o português “The Night Land” sendo que minha primeira grande investida não me trouxe nenhum benefício. Como não parece haver nenhuma editora interessada no autor (que é menos que uma nota de rodapé na história da literatura anglo-americana que se ensina no Brasil), esses leitores não lerão nunca a obra prima de Hodgson porque eu não vou traduzi-la. E os responsáveis pelos sites plagiadores também não vão.
O segundo caso foi ainda pior: um site "de autores" de literatura fantástica publicou sem dar crédito nenhum a minha tradução de "Uma Noite em Malnéant", conto de Clark Ashton Smith. Nem mesmo mencionaram que o tradutor fora eu. Os que violaram a licença de meu trabalho, no primeiro caso, pelo menos tiveram a decência de deixar o meu nome em algum lugar, ainda que sem destaque. Para adicionar insulto à ofensa, o site plagiador é um desses que inclui notícia de copyright nas suas páginas, provavelmente sem ter a mínima ideia do que isto significa.
Ainda estou tentando criar coragem para começar a averiguar que outros textos meus (originais ou traduções) podem ter sido apropriados sem autorização e à revelia da licença. E não sei se fico alegre, pelo interesse que meu trabalho está despertando, ou triste por ver que não tem sido dado valor ao meu esforço, e que a qualidade de meu trabalho, que o leva a ser compartilhado, não importa nada diante da “ofensa” do dono do site, que passa a me boicotar como se eu tivesse exigido a lua em troca de um beijo.
Sim, reitero. Estas pessoas, quando lêem a minha reclamação, em vez de simplesmente admitirem o erro, acham que errado estou eu, que sou o mal educado, o estrelinha, o complicado. Vários sites de e-books preferiram remover o ebook "A Casa no Fim do Mundo" a republicá-lo com as modificações que sugeri. Algo semelhante foi feito no caso da "Noite em Malnéant", o responsável pelo site preferiu despublicar a me dar a atribuição. Se ofendem por eu reclamar meus direitos, mas acham que eu não devo me ofender por se apropriarem do meu trabalho. Comportam-se como se escritores e tradutores fossem uma classe pessoas que não merece ser paga pelo que faz. E não importa que você cobre pouco, numa perversidade de parábola, aquele que tem pouco, mesmo isso lhe será tirado. Uma amiga, de vida nada fácil, certa vez me disse que é melhor cobrar, e caro, porque é muito mais fácil negar os pequenos pagamentos do que os grandes. Muitas vezes ninguém cobra vinte centavos, mas a cidade inteira fica sabendo quando você deve cem mil. Pois eu estou cobrando apenas um link e um nome no pé da página. Mesmo isso me é negado.
Coisas assim me fazem perguntar se ainda vale a pena blogar ficção fantástica. O retorno financeiro é nulo e o meu único objetivo concreto, que é o de obter visibilidade através do meu trabalho, é inviabilizado por esses compartilhamentos sem respeito ao meu ÚNICO PEDIDO que é o de incluir atribuição com link.
"Acabei cometendo um erro de não dar os devidos créditos ao tradutor, mas acho que isso poderia ser resolvido sem carnaval, teria dado os crédito sem problema se me falasse ou despublicar se assim desejasse, mas... Algumas pessoas gostam de aparecer."
É difícil explicar para as pessoas que eu não tenho que lhes pedir crédito. Elas vieram ao meu site e, se se interessaram pelo meu conteúdo, caberia a elas saber como usá-lo de uma forma legal (não somente no sentido jurídico, mas no popular). Quando você faz algo desrespeitando a vontade de alguém, é natural que ela reclame. Não na cabeça dos donos desses sites. Eles acham errado o escritor querer aparecer.
Mania essa que escritor tem, né? Mania de querer aparecer.