Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
16
Mar 13
publicado por José Geraldo, às 11:33link do post | comentar | ver comentários (1)
Este é um texto que eu gostaria que todo mundo copiasse e compartilhasse, com ou sem atribuição de autoria.

O copiador de conteúdo trabalha contra o objetivo maior do novato, que é o de tornar-se conhe­cido. Aquilo que ele semeia, o copiador vem e arranca. Se você é um escritor novo e des­co­nhe­cido, o seu maior inimigo não é o editor vampiro, porque ele não pode invadir o seu bolso a menos que você o convide a entrar. Com alguma dose de bom senso e bons conselhos, você pode até conseguir utilizar em seu proveito os serviços de uma editora ruim. Mas você não pode fugir do copiador de conteúdo, a menos que evite blogar.

Esta é uma solução inaceitável, porém. Como não blogar se justamente o blogue é o meio pelo qual o escritor anônimo pode esperar chegar a um público e ser reconhecido? As gavetas não avaliarão o seu texto e as quatro paredes de seu quarto nunca lhe oferecerão um contrato. Eis, então, a monstruosidade do copiador de conteúdo, e eis porque os estou convidando a entrarem comigo nessa luta.

É legítimo que o jovem autor, ou o autor amador, jovem ou não, crie blogues para compartir os seus textos com o mundo. A internet oferece essa via para aqueles que não têm mídia. Muitos autores começaram blogando, lá fora até mais do que aqui. Quando cria um blogue para compartilhar os seus textos, o que espera é que pessoas venham ler e retornem caso gostem. Você quer que memorizem o seu nome para que adquiram seu livro, se futu­ramente aparecer numa prateleira de livraria, material ou virtual. Acessoriamente você pode esperar ganhar algum dinheiro com anúncios. Cada um desses objetivos é frustrado pelo copiador.

O copiador de conteúdo cria um blogue ou saite, mas o utiliza para republicar textos escritos por outras pessoas, retirados de outros blogues ou saites, em vez de populá-lo com os seus pró­prios textos, ou de autores exclusivos. Isto pode ser feito com o consentimento do autor e con­forme con­di­ções negociadas (podendo ou não envolver valores). Neste caso, não há sacanagem envolvida. Se, por acaso, houver erro nos procedimentos, é caso para se corrigir. No máximo, pedir desculpas. A sacanagem começa quando a transferência ocorre à revelia do autor e/ou desrespeitando as condi­ções propostas.

Idealmente, não deveria haver nenhuma cópia de conteúdo porque, como disse acima, o autor coloca seu texto na internet para se promover. O autor “gosta de aparecer”. Se não gostasse, não criava blogue, não fazia Facebook, não participava de antologia, nada disso. Então, quando tira o texto do blogue e o leva para outro lugar, você está desaparecendo um pouco com a promoção que o autor queria fazer para si. No entanto, se você faz um bom tra­balho de divulgação do seu grande meta-blogue ou saite, o autor não vai se importar com isso porque a visibilidade que ele terá com o seu texto, mesmo entre dezenas, em um saite muito visitado pode ser maior do que a de seu obscuro blogue original. Por isso, esse “idealmente” é muito relativo. E ninguém deve ter vergonha de copiar texto de blogue para pôr no seu saite, pelos motivos acima expostos.

É justamente essa visibilidade que traz a "remuneração" metafórica que o autor busca. Você deve permitir que o autor usufrua do benefício de ter um texto no seu grande meta-blogue ou saite, através do aumento da exposição de seu blogue original e de seu nome. Caso você crie obstáculos para essa visibilidade do autor você está sendo canalha com ele. E esse texto é contra você. Você é parte do que está errado no mundo. Você é um vampiro de conteúdo.

O primeiro passo da vampiragem é não notificar o autor. Esse simples aviso já é uma remu­ne­ração para um autor amador. Dependendo do renome de seu saite, o autor mandará e-mail a muita gente para gabar-se que foi selecionado (o que não deixa de ser publicidade gratuita para você). É um estímulo, também, para que ele continue produzindo.

Em seguida está a não atribuição de um link recíproco (backlink). Esse link direcionará os leitores do texto para o endereço de onde foi retirado. Quem gostar daquele texto procurará ler outros do mesmo autor. Esse aumento de tráfego poderá gerar receita de publicidade para o autor (através de AdSense ou outro serviço) ou pode servir como outro estímulo.

O último nível em que ainda dá para supor a boa fé está na remoção do crédito da autoria. Ainda é possível pensar que foi apenas erro (caso tenha sido um caso isolado) ou um mero desconhecimento da etiqueta (especialmente no caso de traduções). Mas a remoção da autoria já é uma ação perniciosa, que trabalha contra o reconhecimento do trabalho do autor, cer­ta­mente já lhe causando grande frustração. Muitos textos acabam se tornando apócrifos por causa disso, negando crédito a quem realmente os escreveu.

Saindo do terreno dos incautos e caindo firmemente na área da picaretagem amadora, existe gente que se atribui (ou a outrem) a autoria dos textos copiados. Isso nem sempre é aparente, basta uma simples notícia de copyright no rodapé da página (frequentemente adicionada por padrão a todas as páginas do blogue ou saite) para configurar uma reivindicação de autoria. Picare­tas um pouco mais mal-intencionados vão mascarar a autoria original introduzindo pequenas altera­ções no texto (adição ou subtração de palavras, mudança da configuração de parágrafos). Alterações que não resistem segundos a uma análise em um programa de diff. Se o picareta for ainda mais sofisticado, tentará forjar uma prova de anterioridade da autoria, blogando com data retroativa (algo fácil de se fazer na maioria das plataformas de blogue).

Picaretas realmente profissionais tentarão impedir que o autor identifique o roubo de seu texto e suprimirão suas tentativas de protesto caso ele apareça reclamando em grupos do Facebook, comunidades do Orkut/Plus, clãs do Netlog, blogues coletivos, fóruns, etc. Esses são mais perigosos, porque não agem sozinhos: conseguem parceiros para ajudá-los a mode­rar comentários ou até mesmo para hackear o blogue do autor, ou fazer-lhe um ataque DdoS. Com a ajuda desses parceiros, e também de sockpuppets (perfis falsos em redes sociais e fóruns), produzirão uma campanha
de ofuscamento do feito, difamação do autor e obstaculi­za­ção de toda tentativa de esclarecer o que aconteceu.

Caso o ataque continue por bastante tempo e seja efetivo para apagar a vida online do autor (dele­ção de blogue, expulsão de comu­ni­dades/grupos), o copiador poderá impedir defi­ni­ti­va­mente que se reivindique sua pro­priedade original do texto. Porém, como são poucos os auto­res que identi­fi­cam tais abusos e "correm atrás" de seus direi­tos, o esforço dispendido pelos copi­a­dores é pequeno. O objetivo desta campanha é torná-lo maior, para que seja menos lucra­tivo (em termos de remuneração monetária ou subjetiva).

Nem todo copiador de conteúdo tem a intenção de prejudicar o autor do texto original. Todos, porém, pensam em ganhar alguma coisa (dinheiro ou reconhecimento) com o seu projeto. Quando esse ganho não impede que o autor também ganhe alguma coisa por si, temos uma relação justa e até desejável. A coisa só se torna imoral quando o copiador, além de ganhar, impede (intencionalmente ou não) que o autor também ganhe.

Algumas destas práticas descritas são “benignas” (na mesma acepção de “tumor benigno”) porque é pos­sível supor que não houve intenção. Outras são malignas justa­mente por­que a suposição é improvável. Mas algumas são muito malig­nas pois, além da intenção ser evi­dente, ainda fica evidenciado um trabalho persistente de manutenção ou extensão do dano.

Acredito que uma boa prática para saites ou blogues que publicam conteúdo alheio deveria envol­ver os seguintes passos:
  1. Contactar ao autor, informando-lhe que um texto seu foi selecionado para publicação. Mesmo que o contato não seja possível, se o autor tiver publicado sob uma licença que pres­supõe auto­riza­ção de cópia, como a Creative­Commons usada no meu blogue, ainda se poderá fazer a publi­cação, desde que respeitados os passos seguintes, mas sem autorização não se deverá nunca republicar texto algum.
  2. O contato deve sempre perguntar ao autor se ele autoriza a publicação do texto tal como está no blogue ou se deseja fazer alguma revisão.
  3. A publicação sempre deverá incluir atribuição de autoria visível (no cabeçalho, nunca no rodapé) e deverá ser oferecido um link para o endereço de onde o texto foi retirado (preferencialmente vinculado ao nome do autor ou, menos elegantemente, no rodapé).
  4. Para valorizar os autores, especialmente os que tiverem mais de um texto republicado, é boa ideia criar uma página de perfil, com foto, minibiografia e lista de seus textos constantes no local.
Agindo desta forma, os meta-blogues ou saites que reproduzem conteúdo estarão oferecendo aos autores uma compensação justa pelo trabalho que realizam e manterão esses autores moti­vados a continuar escrevendo e compartilhando textos na internet. Agindo de outra forma, será cada vez mais frequentes que os escritores tenham receio de colocar o seu texto na rede (como eu já deixei de fazer), o que reduzirá a longo prazo a quantidade e a qualidade dos textos livremente dispo­níveis para leitura on-line. A menos que esse seja o seu objetivo, acre­dito que você será sensi­bilizado por este manifesto e adequará suas práticas.

13
Mar 13
publicado por José Geraldo, às 11:00link do post | comentar
Um dos problemas de se ter um blogue na internet é que as pessoas ainda não se deram conta de que o direito autoral existe e, pior, não distinguem entre o abuso de direito autoral cometido por uma multinacional que chega a pagar propina a congressistas para estender os prazos de seus direitos, e os de um pobre autor amador e desconhecido que só os quer usar para obter reconhecimento pelo seu trabalho.

Tive dois casos desagradáveis esse ano, de utilização não creditada de trabalhos meus. O primeiro eu ainda estou correndo atrás, para ver se compenso o estrago (que é enorme para as proporções de meu blogue) e o segundo acabou de ocorrer, mas foi tudo deletado já, sem ter causado estrago maior, porque percebi rápido.

No primeiro caso fizeram um e-book com a minha tradução do romance “A Casa no Fim do Mundo” (de William Hope Hodgson) sem incluir link nos créditos (condição exigida pela licença Creative Commons que aplico a tudo no meu blogue) e colocaram na blogosfera e na comunidade brasileira de e-books sem nenhuma menção a não ser uma, minúscula, dentro do arquivo epub. Ou seja, trabalhei mais de 180 horas nesta tradução e não estava tendo nem mesmo o retorno em visitas (e consequentemente AdSense) ao meu blogue. Que tipo de estímulo você pode ter para fazer uma tradução e compartilhá-la com a comunidade blogueira se esta comunidade, em vez de cumprir a condição que você estabelece visando ao seu reconhecimento, prefere “fuzilar” o seu direito como se você não devesse esperar nenhuma remuneração e nenhuma retribuição (sequer moral) pleo seu trabalho?

Quando reclamei, os responsáveis se fizeram de ofendidos, me chamaram de estrelinha, ficaram de mal etc. e só um se comprometeu a modificar os arquivospara incluir  os links. Os demais simplesmente removeram (ao menos temporariamente) os arquivos eletrônicos e se calaram sobre a minha existência. Existem centenas ou até milhares de cópias dessa tradução em e-book que não contém informação correta do responsável pelo trabalho. E o crédito vai para os criadores desses sites de distribuição de conteúdo, que nada pagam e nada se esforçam para traduzir. Vampirizam o trabalho dos amadores para seu ganho pessoal (que, de qualquer forma não deve ser grande). Algumas dessas pessoas certamente devem até estar falando mal de mim por aí, dizendo que sou difícil, irascível.

A causa de tudo isso: o responsável pela criação do e-book jamais teve a ideia de me contactar para sequer me dar um “oi”, nunca me disse que estava distribuindo o meu trabalho e nem me pediu qualquer opinião sobre, talvez, a necessidade de mais uma revisão. Certamente, ao visitar meu blogue, ele se sentiu como quem faz compras. Quem compra um queijo não liga para o supermercado para avisar que o está comendo. Só que o comprador do queijo pagou por ele, e adquiriu o direito de comê-lo sem dar satisfações. No meu blogue é diferente: há um claro aviso, repetido três vezes na página, de que você pode levar o meu queijo de graça, desde que todos saibam que você pegou ele de mim.

Isso é parte de uma mentalidade comum na internet. As pessoas acham revolucionário fuzilar o direito autoral. Adquirimos uma naturalidade no pensar que existe uma classe de pessoas que trabalha de graça. Não peça a um jardineiro que pode sua grama em troca de um sorriso. Mas há quem imagine que se deve traduzir um livro de 160 páginas em troca de nada, nem mesmo o sorriso. E quando você reclama, errado está você com seu “mimimi”, com seu estrelismo. O carinha simplesmente copiou o meu texto e formatou um epub. Teve certo trabalho para isso, porque estava tudo distribuído em 28 páginas do blogue, o que lhe deu bastante tempo para ver alguma das três notícias de licenciamento que há em cada página. Agora existem centenas de pessoas que leram esta tradução e gostaram mas não sabem que fui eu que fiz. Algumas destas pessoas podem ter gostado do livro e gostariam de ler mais coisas do autor, ou poderiam ficar curiosas em saber que outros textos o meu blogue tem, já que gostaram desse. Isso foi negado a esses leitores. Quem reproduziu sem autorização a minha tradução não lesou somente a mim: lesou aos leitores igualmente.

Além de lesados no seu direito de satisfazer uma possível curiosidade por mais conteúdo da mesma fonte, esses leitores foram lesados na possibilidade de conhecer mais sobre a obra de William Hope Hodgson, porque eu não me sinto nem um pouco estimulado a continuar enfrentando a dura tarefa de trazer para o português “The Night Land” sendo que minha primeira grande investida não me trouxe nenhum benefício. Como não parece haver nenhuma editora interessada no autor (que é menos que uma nota de rodapé na história da literatura anglo-americana que se ensina no Brasil), esses leitores não lerão nunca a obra prima de Hodgson porque eu não vou traduzi-la. E os responsáveis pelos sites plagiadores também não vão.


O segundo caso foi ainda pior: um site "de autores" de literatura fantástica publicou sem dar crédito nenhum a minha tradução de "Uma Noite em Malnéant", conto de Clark Ashton Smith. Nem mesmo mencionaram que o tradutor fora eu. Os que violaram a licença de meu trabalho, no primeiro caso, pelo menos tiveram a decência de deixar o meu nome em algum lugar, ainda que sem destaque. Para adicionar insulto à ofensa, o site plagiador é um desses que inclui notícia de copyright nas suas páginas, provavelmente sem ter a mínima ideia do que isto significa.

Ainda estou tentando criar coragem para começar a averiguar que outros textos meus (originais ou traduções) podem ter sido apropriados sem autorização e à revelia da licença. E não sei se fico alegre, pelo interesse que meu trabalho está despertando, ou triste por ver que não tem sido dado valor ao meu esforço, e que a qualidade de meu trabalho, que o leva a ser compartilhado, não importa nada diante da “ofensa” do dono do site, que passa a me boicotar como se eu tivesse exigido a lua em troca de um beijo.

Sim, reitero. Estas pessoas, quando lêem a minha reclamação, em vez de simplesmente admitirem o erro, acham que errado estou eu, que sou o mal educado, o estrelinha, o complicado. Vários sites de e-books preferiram remover o ebook "A Casa no Fim do Mundo" a republicá-lo com as modificações que sugeri. Algo semelhante foi feito no caso da "Noite em Malnéant", o responsável pelo site preferiu despublicar a me dar a atribuição. Se ofendem por eu reclamar meus direitos, mas acham que eu não devo me ofender por se apropriarem do meu trabalho. Comportam-se como se escritores e tradutores fossem uma classe pessoas que não merece ser paga pelo que faz. E não importa que você cobre pouco, numa perversidade de parábola, aquele que tem pouco, mesmo isso lhe será tirado. Uma amiga, de vida nada fácil, certa vez me disse que é melhor cobrar, e caro, porque é muito mais fácil negar os pequenos pagamentos do que os grandes. Muitas vezes ninguém cobra vinte centavos, mas a cidade inteira fica sabendo quando você deve cem mil. Pois eu estou cobrando apenas um link e um nome no pé da página. Mesmo isso me é negado.

Coisas assim me fazem perguntar se ainda vale a pena blogar ficção fantástica. O retorno financeiro é nulo e o meu único objetivo concreto, que é o de obter visibilidade através do meu trabalho, é inviabilizado por esses compartilhamentos sem respeito ao meu ÚNICO PEDIDO que é o de incluir atribuição com link.

"Acabei cometendo um erro de não dar os devidos créditos ao tradutor, mas acho que isso poderia ser resolvido sem carnaval, teria dado os crédito sem problema se me falasse ou despublicar se assim desejasse, mas... Algumas pessoas gostam de aparecer."

É difícil explicar para as pessoas que eu não tenho que lhes pedir crédito. Elas vieram ao meu site e, se se interessaram pelo meu conteúdo, caberia a elas saber como usá-lo de uma forma legal (não somente no sentido jurídico, mas no popular). Quando você faz algo desrespeitando a vontade de alguém, é natural que ela reclame. Não na cabeça dos donos desses sites. Eles acham errado o escritor querer aparecer. 

Mania essa que escritor tem, né? Mania de querer aparecer.

15
Jan 13
publicado por José Geraldo, às 01:18link do post | comentar | ver comentários (1)
Você certamente não lembra, porque hoje este blogue tem muito mais leitores do que no começo de 2012, mas há aproximadamente um ano eu me perguntava se valia a pena manter um blogue literário. Minha conclusão foi de que não valia, pois o trabalho divulgado aqui não estava atendendo a nenhum dos objetivos que eu tinha em mente: não estava aumentando a minha notoriedade, não me estava gerando receita e nem me angariando elogios. Entretanto eu não me dava ainda por vencido e, apesar da sensível queda na quantidade de postagens ao longo do ano de 2012 (uma queda de mais de 50% em relação ao ano anterior), segui tentando encontrar meios de atrair visitantes e me estabelecer como um “blogueiro de sucesso”, mas, de fato, não tinha muita esperança de ir longe.

Esta relativa desatenção fez com que eu acabasse não concluindo o projeto de formatar e publicar o e-book da tradução do romance «A Casa no Fim do Mundo», de William Hope Hodgson. Fui deixando no limbo porque não via resultados decentes em termos de visitas ou receita.

Qual não foi a minha surpresa ao descobrir, porém, neste fim de semana, que alguém havia preenchido esta lacuna e feito o e-book da tradução. Com uma capa até bonita, e ele havia “caído na rede”, sendo distribuído por vários sites e blogues literários nacionais.

Foi um misto de espanto, supresa e frustração. Porque, afinal, este fato demonstrou a qualidade da obra original, a solidez de minha tradução e o interesse do público pelo trabalho. E eu já nem esperava mais por isso. Mas frustração também, porque as mesmas pessoas que haviam criado o e-book, retirando o conteúdo deste blogue, haviam-no feito sem respeitar a única condição imposta por mim à cópia de conteúdo. Como está no rodapé: Permitida a reprodução exclusivamente mediante citação da fonte, com link. Para maior clareza eu ainda incluí no menu de navegação à esquerda o link da licença Creative Commons que eu aplico a todo o conteúdo que publico aqui, que é a CC-BY-NC-ND. Explicando:
  • CC = Creative Commons, esta é uma licença padrão, que permite a reprodução sem custo do conteúdo aqui divulgado.
  • BY = quer dizer que eu estou pedindo que minha autoria seja mantida, e que isto seja feito cumprindo condições que eu posso especificar.
  • NC = permito o uso, mas não permito que sejam criadas obras comerciais, ou auferido lucro de qualquer forma, sem negociação prévia comigo.
  • ND = non-derivative, quer dizer que eu não autorizo a apropriação de minha obra como parte de uma obra alheia.
Essencialmente isto quer dizer que todos os e-books que foram feitos estão em violação da licença que aplico ao meu trabalho. Certo, eles estão copiando algo que eu permito que seja copiado. Certo, eles estão mantendo a menção de minha autoria; mas apenas internamente no arquivo, e não incluem o link, que eu exijo como vinculação da autoria. Certo eles não estão ganhando dinheiro com os e-books, pois me consta, até agora pelo menos, que toda a distribuição é gratuita. Mas, porém, no entanto, todavia… 

A licença CC-BY-NC-ND proíbe a criação de obras derivadas sem a minha autorização. O e-book (seja mobi, seja e-pub, seja pdf) é uma obra derivada. Ainda mais porque nas “propriedades” do e-book quem aparece como “autor” do arquivo é um tal de Augusto. Então Augusto criou o e-book a partir do texto por mim publicado. Pronto, criou uma obra derivada. Violou a licença Creative Commons.

Ao fazer isto, o “Augusto” me roubou da única remuneração que eu peço em troca de meu trabalho, que é a divulgação do link de meu blogue, para que todos que gostem do trabalho venham aqui procurar outros trabalhos meus. Veja bem, o que eu estou pedindo não é muito, é quase nada, eu estou praticamente mendigando um link que me ajude a difundir meu nome e que me atraia alguns caraminguás em AdSense. Mas nem isso me foi dado.

As pessoas que fizeram este e-book nunca imaginaram que, talvez, possivelmente, o cara que gastou mais de duzentas horas traduzindo esse livro poderia querer alguma coisa em troca? Dificilmente, eles pensaram, sim. Mas preferiram ignorar, preferiram pegar o meu texto, formatar  e distribuir sem nem perguntar o que eu achava. Que não tenham posto o link é um erro desculpável, afinal nem todo mundo lê letras miúdas, mas que tenham feito a publicação e a divulgação sem sequer me avisarem é de uma falta de elegância muito grande. Há quanto tempo a minha tradução anda rolando na internet sem eu saber?

Como quantificar o prejuízo que me foi causado? Se tudo o que eu queria era que a minha tradução divulgasse o meu nome e o meu blogue, como quantificar o que eu deixei de ganhar desde que o e-book saiu? É impossível dizer quanto foi (foi pouco, mas foi alguma coisa). O que importa é que, em essência, a atitude do criador do e-book foi uma violação da licença (muito permissiva, mas ainda assim uma licença) que eu pus em meu trabalho. Violação de licença e falta de respeito. Mas parece que o autor não merece respeito, né? Se tá num blogue então tá liberado para copiar e usar à vontade, não é?

Depois de horas regurgitando a minha decepção, resolvi reclamar em alguns dos blogues que me citavam. Não todos, só alguns. Porque já era tarde da noite e eu estava com sono. Reclamei da ausência do link, fui meu grosso em dois ou três casos, mas não fui exatamente articulado, e não me expliquei tão bem.

O resultado foi alguns dos blogueiros me responderem, recebi resposta por e-mail, por comentário neste blogue, por Facebook. Todos se isentando de responsabilidade por distribuírem o e-book, alguns me chamando de grosso, embora dois ou três afirmassem entender a minha frustração.

Devo dizer que me arrependo de algumas das coisas que escrevi ontem, sim. Pensando bem, a culpa dos blogueiros que divulgam esse e-book pirata é menor do que a do seu autor original, o tal “Augusto”. É certo que os blogueiros deveriam, ou pelo menos, poderiam, ter verificado alguma coisa a respeito da tradução, pesquisado no Google pelo nome do tradutor, etc. Com pouco esforço chegariam até este blogue, e até mim como o tradutor. Mas é certo, também, que estão de tal forma acostumados a “passar adiante” o que pegam, e muito do que pegam é pirata, que perderam o hábito, se um dia o tiveram, de considerar a situação dos autores das obras que divulgam.

Talvez, para alguns deles, “autor” seja uma figura abstrata, morta ou morando no estrangeiro, que só se representa através de agentes e advogados, figuras detestáveis por si. Não lhes ocorre, talvez, que o “autor” possa ser um cara como eles, que eles poderiam encontrar na rua, que eles poderiam adicionar no Facebook e que um dia poderia chamar-lhes e dizer: “ei, cara, você se apropriou indevidamente do meu trabalho”.

Reservo para o final a última afirmação: como a licença CC-BY-NC-ND foi violada, o resultado é que as condições que permitiam a cópia gratuita, não tendo sido atendidas, não vigoram. Portanto, a utilização deste conteúdo de forma não autorizada recai sobre a velha lei do direito autoral. E, desta forma, o e-book passa a ser um e-book pirata. Não é preciso que a obra original seja vendida caro para que uma cópia não autorizada mereça este adjetivo. Pode-se fazer cópias piratas daquilo que é gratuito também. Neste caso, foi feito.

Todo aquele que está de posse deste e-book está, na verdade, com um trabalho derivado de uma obra minha, derivação esta que não é autorizada e é, portanto, ilegal segundo a legislação brasileira de direito autoral, que segue os termos da Convenção de Berna. Trata-se de uma apropriação indevida e desrespeitosa de um trabalho feito com desprendimento e com carinho, cuja única remuneração esperada era um link para este que vos escreve.

Um link.

Somente um mísero link. E o Augusto não foi capaz de atender isso.

Se ele pelo menos tivesse me escrito para contar do que pretendia fazer, eu lhe teria esclarecido sobre como fazer certo. Talvez até o ajudasse a fazer.

Mas, ah, um link é muita coisa. O autor não tem o direito de exigir tanto, é falta de educação reclamar por causa disso. Afinal, o que vale uma porra de um link? O que vale essa merda desse seu trabalho, afinal, quem você acha que é, José Geraldo, seu grosso, seu caipira convencido!

05
Jun 12
publicado por José Geraldo, às 22:59link do post | comentar | ver comentários (6)

O Facebook Não Serve Para o que Eu Quero. Cheguei a esta constatação analisando hoje o modo como esta rede social tem se desenvolvido desde que comecei a interagir através dela, há cerca de um ano, egresso do Orkut. Não estou aqui querendo dizer que o Orkut fosse «melhor» (apenas diferente), ou dizendo como eu acho que o Facebook deveria ser. Apenas compreendi que estou perdendo muito tempo aqui para pouco resultado. Ainda continuarei utilizando a rede, mas apenas para finalidade recreativa — e muito menos do que faço hoje — porque as minhas esperanças com ela deixaram de existir.

Os meus objetivos ao interagir em redes sociais são manter contatos profissionais e atrair leitores para o meu blog literário. O problema a que me refiro é que o Facebook não serve para nenhuma destas duas coisas. Então, devo usá-lo para o que serve e desencanar disso para que não serve. Manter contatos profissionais fica bastante difícil se você só pode adicionar pessoas que já conhece ou com quem já interagiu (amigos de amigos, por exemplo). Não posso, por exemplo, encontrar e contatar um tradutor lá do estrangeiro para passar meu livro para a sua língua. Para atrair leitores fica ainda mais difícil, porém.

Ao contrário do Orkut, que era centrado em suas «comunidades», onde as pessoas interagiam, mesmo as desconhecidas, o Facebook é um cercadinho que procure lhe oferecer sempre «mais do mesmo». O Orkut lhe dava a opção de escolher, o Facebook tenta escolher por você e só será possível escapar da oferta limitada e controlada de informação que ele lhe oferece se você se dedicar ativamente a remover os obstáculos. Algo que eu já sei fazer, mas que não tenho o direito de esperar que os meus potenciais leitores façam pelo privilégio de me lerem.

Constato esse problema cada vez que vejo o número de adesões ao meu Google Friend Connect. Quando deixei o Orkut, em julho ou agosto de 2011, eram 83 conexões. Hoje são 81. Além de não ter ganho nenhuma nova conexão em quase dez meses, perdi duas (certamente um fato esperado, devido às contas que caducam ou são eliminadas pelo Google). Evidentemente menos pessoas estão tomando conhecimento da existência de meu blogue — e por isso menos pessoas o estão seguindo.

A explicação para isso é simples: somente têm acesso às minhas publicações (entre elas as atualizações das postagens do blogue, feitas por um aplicativo chamado RSS Graffitti) as pessoas que assinam o meu feed ou que são amigos próximos com quem interajo frequentemente. As demais pessoas nunca saberão do que eu estou falando. Isto quer dizer, em essência, que o Facebook retira das redes sociais justamente o seu maior atrativo, que era a amplificação do discurso individual e a possibilidade de interação em larga escala. Nesse sentido o Orkut era revolucionário e anárquico. O Facebook não tem nada disso.

Por esta razão não estranhem os meus cada vez mais frequentes desaparecimentos da rede social. Estarei procurando outros meios de divulgar o meu trabalho. E vai sobrar menos tempo para ler publicações nos perfis dos amigos.


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