Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
21
Fev 13
publicado por José Geraldo, às 11:05link do post | comentar | ver comentários (1)
Bem, sacode o negócio agora, menina (sacode o negócio)
Rebola e dá um gritinho (rebola e dá um gritinho)
Vem, vem, vem, vem cá, menina (vem cá, menina)
Vem cá fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer)
Bem, fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer)
Você sabe que você é muito boa (é muito boa)
Você sabe que você me bota para andar (me bota para andar)
Do jeito que eu sabia que andaria (eu sabia que andaria)

Bem, sacode o negócio agora, menina (sacode o negócio)
Rebola e dá um gritinho (rebola e dá um gritinho)
Vem, vem, vem, vem cá, menina (vem cá, menina)
Vem cá fazer a coisa se mexer (fazer a coisa se mexer)
Você sabe rebolar, novinha (rebolar, novinha)
Você sabe rebolar tão direitinho (rebolar tão direitinho)
Vem cá rebolar mais pertinho (rebolar mais pertinho)
E me deixa saber que você é minha (saber que você é minha))
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

Desafio trollagem da semana. Quem compôs esse funk proibidão aí e quem gravou a versão mais famosa. Quem adivinhar ganha um exemplar do e-book "A Casa no Limiar".

02
Jan 13
publicado por José Geraldo, às 01:09link do post | comentar | ver comentários (1)
Faz alguns dias que eu comecei a analisar o caso de Christopher Schewe, um idiota americano que aparece no YouTube comendo ou bebendo coisas com uma voracidade de avestruz no cio. Passou o fim de ano e eu me detive mais churrasqueando e entupindo os cornos de cidra barata e cerveja do que pensando no que continuar escrevendo sobre o tal babacão. Perdi a onda. Não vou continuar. Pensar em gente imbecil me imbeciliza, me estressa além da conta.

Vocês que já ouviram falar do cara, já devem estar procurando por suas aventuras na internet, inclusive seu famoso vídeo da ingestão de uma garrafa inteira de absinto (que seu fígado descanse em paz, Chris).

Depois de passarem por esse ordálio estúpido e sem razão, sugiro que se perguntem por que motivo esses conteúdos esdrúxulos atraem tanta atenção. Tanto filme bom para se ver, tanto livro legal para se ler, tanto blog como o meu ou melhor, e a audiência da internet vai para vídeos de um americano retardado que enfia uma garrafa de Coca Cola de dois litros pela boca adentro  e vai arrotando pela beirada da boca enquanto se enche daquele lixo tóxico com cor de chorume.

Se você assistiu a todos os vídeos que mencionei (e dos quais eu só ouvi falar através de comentários, depois de ter assistido o da Coca Cola e o do absinto) e alguns outros mais, saiba que você é parte daquilo que está errado no mundo. Sinta-se feliz em ser um semeador do apocalipse.

Mas pelo menos vá rindo enquanto semeia. O mínimo que um idiota merece é todos reconheçam sua idiotice. O suicídio é a eutanásia do imbecil.

02
Dez 12
publicado por José Geraldo, às 22:37link do post | comentar
Minha vida de solteiro não faz anos, faz meses. Melhor assim. A vida é curta demais para a medirmos em anos, décadas, séculos. Melhor pensar em termos mais exíguos. Em termos coisas próximas, curtas, fáceis de levar no bolso da alma como lembrança durante nossas andanças.

Estou solteiro desde que recebi minha promoção. Aluguei um apartamento na cidade onde assumi meu novo posto e minha mulher insistiu em ficar para trás. Primeiro foi para terminar o semestre das meninas na escola, depois para concluir o contrato temporário do emprego que conseguiu, depois para terminar o outro semestre, depois não sei mais o que será. Ela foi ficando e eu venho vindo.

Hoje minha segunda vida de solteiro completou sete meses. Não contei à minha mulher: esta comemoração, obviamente, eu só poderia fazer estando sozinho aqui em casa. Como todos os fins de semana, eu a fui visitar, mas voltei para casa no fim, para trabalhar no dia seguinte e dar seguimento a esta experiência estranha, que eu não tive quando menino.

São muitas as descobertas desta vida. Tentar fazer a própria comida, descobrir qual tipo de produto de limpeza adequado para retirar a inhaca de cada tipo de piso, como montar e desmontar sozinho os móveis para mudá-los de lugar cada vez que cismo de reorganizar as coisas, que veneno jogar nos vãos e corredores para evitar que entrem baratas e outros bichos.

Pela primeira vez na vida estou em uma casa com garagem anexa. Saio pela porta da frente e olho à esquerda e lá está meu carrinho, seus faróis me contemplam tristemente quando saio, implorando-me que o lave. Da última vez que tentei eu molhei todas as paredes e a minha roupa, mas ele continuou misteriosamente empoeirado depois que a água secou. Acredito que os carros, como os gatos, possuem uma aversão à água, que só com alguma habilidade se pode superar. Vou tentar de novo qualquer dia desses quando chegar mais cedo do trabalho, ainda de sol quente, pois não quero me gripar aqui nesta casa solitária. Tenho que me vacinar contra as situações em que desejaria alguém para minha companhia.

Tenho um quintal, também. Por enquanto ele está apenas exibindo um crescimento majestoso de ervas daninhas. Minha sogra, quando veio aqui, detectou a presença de plantas úteis também: batata doce, erva cidreira, hortelã pimenta, alecrim. Tenho dó de jogar herbicida e matar tudo. Comprei botas e luvas de borracha e vou arrancar as ervas com a mão, para preservar as plantinhas boas. Provavelmente terminarei nunca, mas ninguém tem nada com isso. Espero apenas ter sorte de terminar antes que o IBAMA declare meu quintal como “mata nativa em recomposição”.

Eu andava preocupado com a quantidade de insetos que frequentava a casa. Mas eles diminuíram significativamente desde que espargi inseticida pelos corredores laterais, na varanda dos fundos e na parte de fora das janelas. Ou talvez tenha algo a ver com os camaleões que apareceram. Camaleões adoram insetos, e eu gosto de camaleões. Se minha mulher ou minhas filhas estivessem aqui hoje, o pobre bichinho já estaria morto. Eu deixei sobras de bolo para ele. Se até logo à noite ele não tiver comido, vou varrer e jogar na lixeira do quintal para não atrair baratas.

Como a casa está vazia, vou me estimulando a comprar coisas para enchê-la: um capacho para a porta de entrada, um tapete antiderrapante para o banheiro, um baú de ferramentas para pôr num canto, uma mangueira de jardim para a torneira da varanda, aquela com que me molhei tentando lavar o carro. Minha cozinha está cheia de inutilidades úteis: queijeiras, pegadores de macarrão, saca rolhas, abridor de latas elétrico, biscoiteira, lixeira com tampa móvel. Algumas dessas coisas minha mulher nunca quisera comprar, achava-as inúteis quando a gente passava pela ala de utilidades domésticas do supermercado. Mas eu estou comprando de todas, e descobrindo suas utilidades. Coloquei o álcool em um borrifador (tenho três), eliminei o risco de acidentes e descobri como limpar o chão sem precisar enxaguar. Desajeitado que sou, essas pequenas descobertas me poupam tempo e trabalho. Só não consegui ainda descobrir o que vou fazer com tantos adaptadores de tomada e lâmpadas de formatos vários.

Terei, infelizmente, de comprar outro jogo de ferramentas. Não sei aonde foi parar a bolsa de veludo com velcro onde guardava as minhas chaves de fenda e de boca. Estou reduzido a um alicate, uma trena, um estilete e um martelo. Com eles eu monto e desmonto, prego e desprego. Uma beleza.

Mas beleza mesmo foi a faca de açougueiro com cabo de madeira que eu comprei ontem. Cheguei aqui hoje com a belezinha e já fui experimentado. Fiquei quase vinte minutos embevecido com sua eficácia ao cortar queijos (tenho seis tipos diferentes na geladeira), goiabada (experimentei uma fatia com cada tipo de queijo e realmente fica melhor com queijo minas frescal), frutas e até um trapo de pano de chão. Acho que vou comprar outros tamanhos de faca, também. Afinal, se preciso de várias chaves de fenda, de boca e de estrela, é inconcebível que uma faca de tamanho único sirva para tudo. Minha racionalidade masculina me diz que isto não faz sentido.

Esta dificuldade com os instrumentos, aliás. Nunca consegui entender as pessoas que cismam em usar as coisas de forma errada. Colheres são para líquidos, sopas e molhos. Garfos são para comida sólida. Facas são para cortar. Pegadores de macarrão são para pegar macarrão. Minha mãe, porém, punha uma colher para retirar o macarrão. Eu, particularmente, nunca consegui entender como ela conseguia servir-se usando aquela colher. Em minha casa este problema não existe: tenho pegador de macarrão, escumadeira de arroz, colher de feijão, queijeira, boleira, biscoiteira, saleiro, pimenteiro, azeiteiro, bule. Para cada coisa seu vasilhame ou utensílio. Um mundo ordenado, onde as coisas funcionam. Apenas se acumula lixo pelos cantos, copos sujos na pia e sujeira no tampo da mesa enquanto eu não resolvo varrer, lavar e limpar.

10
Dez 11
publicado por José Geraldo, às 18:40link do post | comentar

Se você acredita que alguém vai mandar vinte e cinco centavos para a família de uma criança com algum tipo de problema grave de saúde, parabéns, champz!, pode continuar compartilhando, mas eu não faço isso.

Primeiro porque a função do Facebook não é essa de ganhar centavinhos para famílias necessidades, segundo porque essa história é antiga e não passa de uma farsa criada por desocupados sem noção e só serve para poluir todo ambiente de convivência virtual.

Isso acaba funcionando porque a maioria das pessoas acha algo muito moralmente bonito dar um clique para "ajudar". Um clique não custa nada, não doi, e não envolve o «nojinho» de ficar perto de uma dessas pessoas. É como a história do "Mandarim" do Eça de Queirós. Aperte este botão e um rico mandarim morrerá na China e você receberá sua herança milionária. Apertar o botão é fácil, você não verá a morte do sujeito, não terá que conviver com as consequências da miséria de sua família. Então aperte-se o botão! No caso destas campanhas você não recebe uma herança milionária, mas uma consolação moral, a auto-satisfação de achar que está fazendo alguma coisa para ajudar alguém, mesmo que esta alguma coisa seja um mero clique, cujas consequências você não enxerga e não tem como controlar. É um tipo de fé: eu acredito que com esse clique eu salvei o menininho deformado, mesmo tendo me negado na semana passada a doar para a APAE ou para o Asilo da minha cidade. A salvação do distante me consola na minha convivência com o próximo necessitado.

Boa sorte a você que acha que de clique em clique vai salvando o mundo. Eu já desisti de argumentar com a fé cega das pessoas.


11
Set 11
publicado por José Geraldo, às 21:17link do post | comentar | ver comentários (5)

O sucesso não é algo que cai do céu, não é algo imponderável, não é um privilégio para escolhidos. Existe uma fórmula para chegar até ele e obter o que você deseja só depende de você. Para isso você precisa seguir os passos de quem já chegou lá, de preferência os de quem está chegando lá atualmente. Aprenda a ser bom, seguindo os melhores.

Este texto não pretende ser infalível, mas contém dicas seguras para você que não vê a hora de ter seu livro nas prateleiras das grandes livrarias e sua história adaptada para o cinema ou, modestamente, em uma mini série da Globo. O Prêmio Jabuti e um convite para a FLIP podem estar ao seu alcance, basta querer.

A dica mais importante é a que já está escrita um pouco acima: junte-se aos bons para ser um deles. Como se diz popularmente: quem se mistura aos porcos, come lavagem. Você não quer lavagem, você quer caviar de esturjão do Mar Cáspio acompanhado por Romanée Conti.

Quando você vai construir uma casa, podendo escolher, você não vai fazê-la no brejo, nem na beira do rio, nem em um barranco pedregoso e nem no meio do nada. Sua obra literária é a sua “casa” no mundo das letras, construa-a no melhor terreno que puder. E o melhor “terreno” é aquele que fica nos melhores bairros, vizinho dos bons nomes. A seguir temos uma lista de excelentes temas para o seu trabalho. Muita gente está ganhando dinheiro nesses “ramos”, então você não tem como errar.

Vampiros
Por razões óbvias
Lobisomens
Você provavelmente os incluirá se tiver escolhido o item anterior, mas eles também podem funcionar muito bem sozinhos, ou acompanhados de outros personagens
Uma garota solitária que convive com garotos bonitos
Idealmente essa garota terá passado por alguma circunstância triste, que a obrigou a viver em um lugar onde há tantos garotos bonitos
O cara mais bonito da escola se apaixona pela garota esquisita e/ou impopular
Possivelmente ela pertence a uma minoria étnica, tem algum tipo de relação com magia, é uma espiã alienígena ou então possui algum tipo de raro defeito físico ou dote
Um homem e uma mulher que se odeiam mas são forçados a permanecer juntos por um certo tempo e acabam se apaixonando
O motivo de ficarem juntos pode ser uma aposta, um naufrágio, uma catástrofe natural, uma invasão alienígena ou, idealmente, um feitiço
O clássico conto de fadas da princesa
No qual o príncipe se apaixona por uma garota plebeia inteligente, bonita, simpática, cheia de personalidade mas “comum” demais para os padrões da família real
Encontros amorosos em hospitais, necrotérios, cemitérios, igrejas, castelos abandonados, necrópoles arruinadas ou lugares assombrados
Afinal, nada é mais romântico do que a proximidade com doença, morte, sujeira, germes e… fantasmas, bruxas, duendes, lobisomens!
O amor do aluno pela professora, ou da aluna pelo professor (ou vice-versa)
Apenas tenha o cuidado de evitar uma diferença de idade maior que dez anos (isso seria bléargh!) e ambos têm de ser bonitos (afinal, professores são quase todos jovens e bonitos)
O amor por um fantasma
Além de todas as vantagens da história romântica tradicional, esta ainda tem um plus: devido à impossibilidade de contato físico entre os pombinhos, a história será considerada “segura para todas as idades”
A paixão da vítima pelo sequestrador
Isso não é uma condição psicológica e nem uma estratégia de sobrevivência, é amor do mais puro e verdadeiro
A paixão súbita entre dois amigos
Essas coisas acontecem o tempo todo, então ninguém vai achar estranho. Mas para dar mais realismo à história os dois têm que ser bonitos, bem resolvidos e sem preconceitos. Um deles ser famoso ajuda a tornar a história mais quente.
Super poderes
Nada mais interessante do que ler sobre pessoas comuns que ganham super poderes e resolvem todos os problemas do mundo. Isso inclui garotos sofridos que descobrem que são especiais em um universo paralelo ou garotas sofridas que descobrem ter o poder de matar ou destruir com as suas palavras
Cartas de amor
Pessoas apaixonadas escrevem cartas o tempo todo (e guardam cópias para futura publicação)
Fan fiction
Não são só os fãs da sua série de mangá favorita que vão se interessa em ler os “episódios perdidos” que você criou: todo mundo vai querer ler
Casamentos arranjados
Mas cuidado: no decorrer da história os noivos devem apaixonar-se de verdade e enfrentar uma série de inimigos que vão tentar separá-los. Um desses inimigos será o homem por quem a mocinha pensava estar apaixonada antes de casar-se. O noivo em hipótese alguma forçará a noiva a consumar o casamento, mas será paciente e atencioso até cativá-la
Escrever textos de auto ajuda ensinando os outros a fazer coisas
Porque o mundo está cheio de pessoas que gostam de seguir o que os outros fazem ou mandam fazer

Caso a sua obra não se baseie em nenhuma destas histórias você precisará se acostumar com a ideia de que será pouco lido e receberá poucos comentários. Também ganhará pouco com os cliques no AdSense e dificilmente receberá uma carta de uma grande editora estrangeira se oferecendo para traduzir e publicar sua heptalogia mediante um adiantamento de quinhentos mil dólares pelos direitos do livro um e mais 250 mil a cada novo livro completado.


23
Abr 11
publicado por José Geraldo, às 19:16link do post | comentar | ver comentários (1)

Nós, fãs do bom e velho rock'n'roll, sempre soubemos da verdade, mas faltava uma comprovoção científica que nos apoiasse contra a grande mentira contada pelos breganejos, de que o rock é música “deprê”.

Aqui está uma e mais outra referência de estudos científicos que comprovam que, quanto mais estações tocando música sertaneja em determinada região, maior a taxa de suicídio!.

E para os que falam mal do rock, o recado do Nazareno: Calada!


18
Fev 11
publicado por José Geraldo, às 09:00link do post | comentar

Fagundes Varela, notório poeta do romantismo brasileiro, foi um ser humano à frente de seu tempo, ousando externar em sua literatura coisas que somente Raul Pompeia voltaria a abordar, quase cinquenta anos depois. No caso específico deste poema, pode-se argumentar uma influência de Rimbaud e Verlaine quanto à temática, ainda que isto não esteja claro.

Segundo Gretovski (1969, p. 21), o poema Flor do Maracujá é a primeira obra abertamente homossexual da literatura brasileira. Kuranyi (2000, p. 76) não apenas concorda como interpreta o poema como uma ode ao ânus, transformado em uma fonte de prazer poético e de imagística retroativa e relativa à vida imaginária que o poeta sonhava, mas que a sociedade lhe negava, tal como Rimbaud e Verlaine haviam feito no antologizado e muito famoso Sonnet au Cul.

A análise dos dois autores depende muito do que disse Mário de Andrade (1929, 69) a respeito do poeta fluminense e do que disse Mário Filho (1957, 171) sobre o flamengo. Massimo Buraccio e Roberto Occo, dois renomados insemiólogos intalianos escreveram em “Transposições Vocálicas” (1996, 88) que na imagística pederástica é comum haver uma inversão da ordem das vogais, de forma a que simbolizem outras sons, especialmente quando uma determinada vogal apresenta uma rima mais homossexualmente rica.

Evocando Rimbaud, eles atribuem um sentido de cor às vogais. Apenas que o poeta gaulês lhes dava valores segundo a mítica francesa de Joseph Pujol (1909) enquanto Varela inventou uma nomenclatura tipicamente fluminense para as vogais na qual:

A significa U, E, significa O, I, significa I mesmo, O, significa E e o U significa A (Buraccio; Occo, 1996 p. 96).

Desta forma as abundantes rimas em “á”, que escorrem do poema do rio-clarense mais famoso do Brasil passam a ser rimas em “ú”:

Mas todo mundo sabe — ou devia saber — que o “u” não recebe acento, mas sim o assento é que recebe o “u” (Toledo, 1989 p. 24).

Como o “u” no simbolismo representa o azul e o roxo, segue-se que a flor (roxa) do maracujá possui um sentido evocativo “muito sugestivo” (Buraccio; Occo, 1996 p. 24).

Pennyman (1996, 666) enxerga no poema uma prefiguração do símbolo homossexual do arco íris. O autor cita Piruzzini (1973, p. 33), que atribuiu a escolha da bandeira gay à influência de um desconhecido “poeta dos trópicos” que os gays de Nova Iorque não quiseram nomear. O autor, então decodifica do texto de Varela, as sete cores do arco íris, expressas através de sete seres citados no texto:

  • Rosa (vermelho)
  • Maracujá (laranja)
  • Cravo (amarelo)
  • Folhas do gravatá (verde)
  • Fonte de água (azul)
  • Borboleta do Panamá (anil)
  • Flor do maracujá (roxo)

O fato de que as duas cores mais expressivas do movimento gay estejam presentes na flor do maracujá, que possui em seu centro dois cetros, ou espadas, foi visto como Lambistti (2002, 29) como um indício ignorado antes.

Desta forma, “A Flor do Maracujá” pode ser visto como um exemplo clássico de poesia homossexual em nossa literatura, e assim deve ser reconhecido.

Apareceu em uma comunidade literária do Orkut um aluno desses preguiçosos que estão sempre procurando quem lhes faça seus trabalhos escolares (afinal, é preciso sobrar tempo para o videogame). O trabalho em questão era uma interpretação do poema “À Flor do Maracujá”, de Fagundes Varella, clássico de nossa literatura romântica; não exatamente o mais complexo dos poemas da literatura universal, mas certamente num prateleira bastante alta para quem tenha o nível de texto exibido pelo aluno em questão que (pasmem!) se dizia estudante universitário. A título de mera galhofa, postei este texto, com a esperança de que o aluno tivesse, ao menos, capacidade para saber que não deveria utilizá-lo.

Este texto é de caráter satírico e se inspira no hilário “Ibid”, de H. P. Lovecraft. Obviamente você deve ter sabido agora que havia algo de Lovecraft neste texto, mas se só agora percebe que o texto é simplesmente humorístico-pastelão, espero que lhe sobre bom senso para não contar isso a ninguém.


09
Fev 11
publicado por José Geraldo, às 23:33link do post | comentar | ver comentários (3)
Esta é uma série de coisas que eu queria ter dito quando era professor, mas nunca pude dizer, ou não tive a coragem. Se bem que umas cinco ou seis dessas aí eu cheguei a dizer.
  • “No dia em que você tiver adquirido cultura suficiente para ter uma visão profunda deste assunto, publique um livro para provar porque tudo que se sabe a respeito está errado. Enquanto esse dia não vem, abra os olhos, destape as orelhas e seja humilde o bastante para aprender porque é para isso que você vem para a escola — e não para me ensinar o que eu fiquei a vida inteira estudando.”
  • “Com base em que você acha que eu estou errado mesmo? Você pode me citar quais documentos, autores ou fontes consultou?”
  • “Ao contrário de outros professores eu não tenho respeito pela ignorância.”
  • “Valorizar o esforço é importante, mas não valorizar ainda mais o sucesso é só uma maneira de fazer todos serem medíocres.”
  • “Se você se sente mal em não ter a minha atenção, eu sinto muito: eu também não estava tendo a sua.”
  • “A única coisa que me faz prestar atenção na ignorância é quando ela está acompanhada pela curiosidade. Se ela estiver acompanhada pela teimosia eu quero mais é que ela quebra as patas dando coice.”
  • “O ápice da pedagogia moderna se dá através da implementação desses ciclos viciosos, durante os quais é proibida qualquer espécie de dedução.” (pérola proferida em uma reunião na qual foi apresentado o conceito de Ciclos de Aprendizagem)
  • “Eu acho que venho aqui para ensinar o que há para ser ensinado e vocês para aprender. Acredito que eventualmente vocês me ensinarão alguma coisa também. Mas no dia que me disserem que a minha função essencial não é lhes ensinar a matéria, então eu vou buscar outra profissão porque eu não sou vagabundo para gostar de receber salário por fingir que trabalha.”
  • “O diploma certamente poderá lhe dar valor, mas certas pessoas prejudicam muito ao diploma.”
  • “Eu não sou arrogante, eu só estudei essa matéria. Duvido que você ensine o mecânico a consertar seu carro ou o médico a lhe tratar.”
  • “Existe uma palavra muito bonita para chamar aqueles que acham que já sabem antes de terem estudado: a palavra é ignorante.
  • “As contradições da ciência não devem ser usadas como desculpa para a preguiça de aprender, da mesma forma que tomar uns tombos não lhe impediu de aprender a andar de bicicleta.”
  • “Eu não acredito em inclusão social que não envolva conhecimento e compostura. Continue ignorante e se vestindo assim e não vai haver sistema de quotas que lhe garanta uma vida decente.”
  • “Todos nascemos ignorantes, alguns também nascem teimosos. Depois de algum tempo esses passam a ser chamados de burros.”
  • “As pessoas me dizem que não sou humilde o bastante para aceitar a palavra de Deus. Mas são as mesmas pessoas que não são humildes o bastante para reconhecer que nada sabem e começarem a estudar. Essas humildes pessoas que me dizem isso tão piedosamente são as mesmas que acham que Deus lhes contou tudo que elas precisavam saber e que nunca mais precisarão aprender nada. Um lindo exemplo.”
  • “Você pode não acreditar que o ser humano veio do macaco, mas a cada dia que passa mais eu me convenço de que há alguns voltando…”
  • “O sistema quer vocês burros, sejam obedientes e continuem não estudando. Tem muita carroça no mundo precisando ser puxada.”
  • “O diploma deste analfabeto não vai com a minha rubrica.  Processe-me se quiser, mas a minha nota para ele é aquela mesmo.” (reunião de final de ano durante a qual se argumentava em favor da aprovação de um aluno que tivera 82% de faltas e não tivera notas durante o ano letivo).

01
Jan 11
publicado por José Geraldo, às 18:01link do post | comentar | ver comentários (1)

Esse começo de ano é o momento em que ledores de mãos, botadores de tarô, jogadores de búzios e outros quejandos conseguem minutchinhos de fama na televisão para falar bobagens a respeito do ano novo. O objetivo da televisão é meramente encher linguiça — e não há melhor modo de fazer isso do que dando ao telespectador a ração de ignorância e superstição que ele tanto aprecia fuçar. O objetivo do “místico” da vez é sempre aparecer, fazer propaganda de si mesmo e de seus “talentos sensoriais” a fim de conseguir fregueses.

E já que tem tanta gente fazendo isso, e ligando para isso, e ganhando dinheiro com isso — por que não eu? Exercitar-me-ei em uma série de predições para o ano novo.

Bem, e com que base o farei — decerto indaga algum espírito-de-porco que me lê. Evidentemente com toda a base necessária: algum conhecimento oculto, que só eu entendo, ligado a um talento especial, que só pessoas como eu entendem. Então você não tem que perguntar como eu sei dessas coisas, tem só que acreditar que eu obtive essas revelações. Se insistir muito, eu lhe digo que sou formado em História e como diz o Paulo Coelho, numa célebre letra cantada pelo Raul Seixas: Eu sou astrólogo, eu conheça a História do princípio ao fim. Exato, isso mesmo, você entendeu. Na qualidade de licenciado em História eu possuo conhecimentos para interpretar os rumos arcanos dos acontecimentos e fazer extrapolações sensatas para o futuro. E tenho certeza de que minhas previsões fazem mais sentido do que as do “Jorge da Fé em Deus”, o célebre pai-de-santo baiano que previu que o Brasil ganharia a Copa do Mundo de 1982 e ainda decretou o adversário e o placar: Brasil 2x1 Argentina.

Seguem as previsões:

  • O ex-vice presidente José Alencar terá graves problemas de saúde.
  • O Flamengo anunciará planos de contratar pelo menos uma grande estrela do futebol internacional, mas não vai contratar ninguém.
  • Um parente de Michael Jackson dará entrevista a algum programa de televisão nos Estados Unidos afirmando que ele foi assassinado!
  • Silvio Berlusconi fará declarações polêmicas, que irritarão os líderes de outros países.
  • Os baianos afirmarão ter inventado um “novo ritmo” que, no entanto, será igual ao pagode e só terá um passinho diferente na dança.
  • Barack Obama terá dificuldades para implementar seus planos de governo.
  • Celso Roth não terminará o ano como técnico do Internacional, a menos que vença o campeonato gaúcho.
  • O presidente Lula seguirá tendo grande influência sobre o governo.
  • Haverá um golpe de estado em um país da África.
  • O site WikiLeaks publicará alguns segredos militares americanos.
  • O primeiro ministro do Japão renunciará.
  • A China apertará a censura contra sua população, especialmente na Internet.
  • A AIDS fará muitas vítimas no mundo inteiro, especialmente na África.
  • Haverá uma epidemia de dengue no Brasil.
  • Julian Assange será absolvido da acusação de estupro.
  • Paulo Coelho receberá uma homenagem no exterior.
  • Um astro do futebol brasileiro será contratado por um clube da Europa.
  • Haverá um atentado terrorista protagonizado por muçulmanos radicais.
  • Uma célula de simpatizantes do nazismo será “estourada” pela polícia no Brasil.
  • As seleções brasileiras participarão da Liga Mundial de Vôlei.
  • A Rede Globo apresentará no dia 31 de dezembro de 2011 um programa gravado contendo trechos musicais interpretados por números de sucesso da música popular.
  • Jorge Kajuru será processado.
  • Muitos técnicos perderão seus cargos nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro.
  • Acusações de corrupção derrubarão um político no Brasil.
  • O resultado do Carnaval carioca será muito polêmico.
  • Haverá grande atrito político entre a Coreia do Norte e a do Sul, mas não guerra declarada.
  • Eu lançarei um livro, pela Editora Multifoco.
  • Um líder muçulmano conclamará seus seguidores a matar uma personalidade europeia ou americana que supostamente ofendeu o Islã.
  • Palestinos serão mortos pelas Forças de Defesa de Israel.
  • Um brasileiro vencerá corridas de automóvel no exterior.
  • “Lula, O Filho do Brasil” não vencerá o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
  • São Paulo sofrerá com alagamentos causados por chuvas de verão.
  • Um novo modelo de automóvel será lançado.
  • O papa dará uma declaração sobre planejamento familiar.
  • A tese do Aquecimento Global Antropogênico sofrerá duras críticas de “pesquisadores independentes”.

Quem quiser mais previsões, pode também consultar o Capitão Óbvio.


01
Nov 10
publicado por José Geraldo, às 23:44link do post | comentar | ver comentários (1)

Ocorreu-me agora que há muitas coisas que se tornaram maiores nos últimos tempos: a população do mundo, os seios das mulheres famosas, a quantidade de páginas dos best-sellers, o ano letivo, a quantidade de membros de certos partidos.

Mas nem todas as coisas que aumentaram de tamanho realmente cresceram. Há uma diferença entre crescer, inflar e inchar. Uma diferença que nem sempre se vê por fora, mas que tem uma importância enorme para se prever o futuro próximo (ou distante) daquilo de que falamos.

Crescer envolve aumento de substância. O seio da mulher cresce quando ela amamenta porque ele passa a ter conteúdo, um livro cresce à medida em que lhe acrescentamos páginas que vale a pena ler, um partido cresce quando ganha afiliados capazes de dar-lhe força.

Mas olhando por fora é comum achar que algo que está maior terá crescido. Sem saber o que há por dentro, o aumento de tamanho pode nos iludir que há algum significado.

Uma coisa infla quando apenas sua forma aumenta, mas por dentro existe um grande vazio de conteúdo. Assim aumentam os peitos das modelos, cheios de próteses de silicone. Assim aumenta a população do mundo, com pessoas que não o tornam um lugar melhor. Assim se tornam maiores os livros da moda, cheios de páginas que nada dizem. Assim aumentam o ano letivo, sem que seja melhor usado o dia letivo.

E uma coisa incha quando se corrompe, quando se enche de putrefação, de inflamação, de perversão da natureza original do que anteriormente era. Um corpo incha com tumores, um partido incha com adesistas, um livro incha quando os acréscimos, em vez de meramente nada dizer, dizem coisas que destroem o valor do resto.

Devemos estar atentos para que o fruto de nosso trabalho cresça, em vez de meramente inflar ou inchar. Algo que cresce pode ser dividido, mas algo que inflou estoura e se perde quando tentamos cortar e algo que inchou, quando tocado, pode expelir um fedorento carnegão que contamina a tudo em volta.


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Ótima informação, recentemente usei uma charge e p...
Muito bom o seu texto mostra direção e orientaçaoh...
Fechei para textos de ficção. Não vou mais blogar ...
Eu tenho acompanhado esses casos, não só contra vo...
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Este saite está bem melhor.
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