Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
10
Fev 13
publicado por José Geraldo, às 17:46link do post | comentar | ver comentários (1)
Não é preciso, absolutamente, discorrer sobre as virtudes de nosso sistema educacional. Mesmo porque, tal discurso não seria suficiente para preencher uma postagem. Suficiente para botar a Indonésia no chinelo e galgando um honroso 36º lugar mundial, graças ao fato de não haver dados sobre a maioria dos países, a nossa educação goza de um status de praga do Egito, apesar de, segundo nosso governo, estar «no caminho certo». Com alguma boa vontade, querendo crer que ele tem razão, eu diria que demos os primeiros passos, os primeiros dois passos, de uma jornada equivalente à conquista da Índia por Alexandre, com a esperança de que dará certo, ao contrário do famoso episódio histórico. Alexandre pelo menos sabia onde ficava a Índia, receio, porém, que as pessoas que gerem nosso sistema educacional tenham apenas uma vaga ideia.

É com certa vergonha que esclareço isso, mas dado o nível médio de analfabetização do público neste país (75% de pessoas sem suficiente domínio da leitura), é sempre bom alertar que, no parágrafo acima, a Índia é empregada uma vez como metáfora.

Tal como o índio ficava fascinado por espelhos e imaginava virtudes para o pequeno objeto luminoso que não compreendia, nós, como verdadeiros botocudos, continuamos querendo soluções mágicas para nossos problemas, e gostamos mais das que brilham do que das que funcionam. Damos mais valor a espelhos e contas do que a facas. E agora o Ministério da Educação descobriu outra fórmula mágica.

Nosso sistema educacional é tão absurdo que eu duvido que ele tenha chegado a este ponto por uma evolução natural das coisas. Ele só pode ser defeituoso de propósito, porque não faltaram, em nossa história, iniciativas grandes que poderiam nos ter feito avançar muito. A ditadura de Vargas criou o sistema público de ensino, excelente, mas não se deu prosseguimento com a implantação de escolas modelo pelo país. Se uma quantidade suficiente delas tivesse sido criada, a massa crítica de pessoas esclarecidas que sairiam delas teria tido um efeito a impulsionar por mais estruturas semelhantes. O MoBrAl dos militares, apesar dos ranços ideológicos, poderia ter erradicado o analfabetismo e dado ensino primário a quase toda a população. Às favas com as ideologias, muitos países do mundo só erradicaram o analfabetismo sob o tacão de ditas, duras ou brandas (Turquia de Atatürk, URSS, Alemanha de Bismarck, China de Mao, Vietnã comunista, Cuba castrista). Mesmo que os militares tivessem as piores intenções, se o MoBrAl cumprisse seu fim esse país seria outro, porque não há nada mais revolucionário do que alfabetizar um povo (leiam MacLuhan).

Então é evidente que todas as iniciativas educacionais no Brasil sempre foram sabotadas, especialmente quando pareciam «no caminho certo». Para cada passo à frente, um ou dois para os lados, ou para trás. E quando surgia alguma voz iluminada trazendo ideias originais (ó, o horror!) vinha a seguir uma onda de idolatria cega de modelos importados. Tivemos Paulo Freire pouco antes de importarmos o sistema americano de «high school» (devidamente tropicalizado com a remoção de suas virtudes, como o período integral, as aulas de artes, a educação física e o ônibus escolar amarelo).

Em uma coisa, porém, todos os idealizadores de nosso sistema educacional sempre tiveram em comum: é uma excelente ideia reformar. Nem bem você começa a se acostumar com a divisão do sistema educacional em primário, admissão, secundário e terciário vem uma reforma e cria o primeiro grau e o segundo. E quando já estavamos acostuados a contar oito séries e mais três surge o segundo grau técnico, com primeiro ano básico, fazendo o secundário ter quatro anos. Ao longo de todo esse tempo, enquanto os intelectuais se ocupavam fazendo reformas e tentando reconectar fios nas cabeças dos alunos, vicejou a indústria do cursinho, que ensinava aos egressos dessas escolas-laboratório o mínimo necessário para entrarem numa faculdade e se manterem lá.

A ideia de reformar faz sentido, se você quer proteger o próprio traseiro. Se nada está funcionando, vão procurar demitir primeiro quem «não está fazendo nada», então pareça ocupado andando de um lado para outro com uma planilha de dados na mão e dando marteladas a esmo, de vez em quando propondo demolir uma parede ou comprar um mesa nova. Essa faina dá a impressão de que você tem um projeto, um propósito. Mais que isso, dá a impressão de que você é útil para o funcinoamento da coisa, enquanto o faz-nada que só fica tentando entender o que não está funcionando é um câncer do sistema que precisa ser logo operado.

E dá-lhe reforma educacional. Foram cinco durante a República Velha, quatro durante a ditadura de Vargas, quinze anos de debates até se chegar à primeira Lei de Diretrizes e Bases (1961), três reformas durante o regime militar, e pelo menos duas (três ou quatro, dependendo de como você conte) desde a redemocratização. Quinze reformas educacionais em 123 anos de República. Uma média de uma reforma educacional a cada oito anos. Praticamente ninguém nesse país se formou sem «sofrer» uma reforma educacional. E eu nem mencionei as mudanças que não foram implementadas através de reformas constitucionais ou leis ordinárias. Se formos contar as mudanças efetivadas através de portarias do Ministério da Educação (e seus equivalentes passados) a gente chega ao absurdo número de 52 mudanças estruturais na nossa educação em 123 anos de República. E os nossos alunos tiram notas ruins porque são burros, não é mesmo? Aham…

Há momentos em que eu começo a pensar que não importa muito se estamos mesmo indo na direção certa. Eu gostaria que simplesmente fôssemos por tempo suficiente em alguma direção, qualquer direção, para termos como saber se é a direção certa. A impressão que tenho, ao estudar a história de nossa educação, é que ficamos rodopiando no mesmo lugar, babando para qualquer novidade surgida nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, no Japão, na URSS ou na puta-que-o-pariu. E dá-lhe ensino técnico, método Kumon, construtivismo, escola nova, ginásios, vestibulares, interdisciplinaridade, behaviorismo etc. Queremos ser tudo, ter tudo. Queremos que a nossa educação empregue todas as teorias educacionais do mundo. O que equivale a querermos que nosso carro seja ao mesmo tempo pick-up, perua, carro de passeio, esportivo e compacto.

Quando é que vamos parar com essa mania de ficar mexendo na máquina? Quanto tempo até algum iluminado ter a ideia de que, talvez, quem sabe, possivelmente, o nosso sistema educacional, seja ele qual for, funcionaria se simplesmente os professores pudessem trabalhar em paz? Não precisa ficar reinventando a roda, mudando a distribuição de séries, criando nomenclaturas. Vamos simplesmente dar formação sólida aos mestres escola, pagar-lhes salários razoáveis, oferecer-lhes cursos de reciclagem periodicamente, dar segurança e estrutura às escolas. Depois que tivermos feito isso por uns dez ou vinte anos, no mínimo, e esgotado o potencial de crescimento orgânico de nosso sistema, tosco que seja, vamos pensar em aperfeiçoamentos metodológicos. Vamos primeiro consertar o motor e lanternar direito esse calhambeque, depois a gente compra bancos de couro, pneus radiais e, quem sabe, turbine a máquina.

27
Jan 13
publicado por José Geraldo, às 14:40link do post | comentar
Esta página registrará atualizações na disponibilidade da versão impressa da minha tradução do romance “A Casa no Limiar”, de William Hope Hodgson.
  • Compre de Lulu.com: US$ 5.95 (atualmente R$ 12,08). Formato US Trade (13,97 cm x 21,59 cm).
  • Compre da AGBook.com.br: R$ 30,95. Formato A5.
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Agradeço sugestões de outros sites onde possa cadastrá-lo.
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    14
    Fev 12
    publicado por José Geraldo, às 21:45link do post | comentar | ver comentários (1)

    Dei-me conta disso por causa de um desses movimentos literários altruístas e anticapitalistas que surgiram por aí. Acho que o nome é «Doe um Livro», ou coisa parecida. Eu estava esperando em uma fila de banco, ocasião em que o bom gosto fica seriamente comprometido e você pode se pegar lendo com interesse o verso de sua fatura de cartão de crédito ou uma brochura publicitária esquecida por um cliente que foi embora. Estava eu justamente desesperado em busca de letras para ler quando uma moça bonita, apesar do estranho piercing negro em seu nariz, que parecia um troço de catarro, me ofereceu um livro.

    — Não, obrigado — recusei educadamente como minha mãe me ensinou a fazer da primeira vez para toda e qualquer oferta.

    — Por favor — insistiu a garota com um sorriso de teclado de piano, ou melhor, de sanfona, porque o seu rosto não parava quieto em cima do pescoço.

    — Mas… você está… me dando o seu livro…

    — Oh, sim. Por favor, não estranhe.

    Então ela me falou uns três ou quatro minutos sobre seu movimento de difusão da leitura, sobre a ideia de comprar o livro, ler e depois dar para alguém ler. Acho que era «Esqueça um Livro», ou algo assim, esqueci…

    Recebi o livro, cuidadosa e femininamente encapado em plástico vermelho, com uma falta de jeito provinciana. Acho que jamais na minha vida um estranho me dera qualquer coisa além de motivos para desconfiança.

    Mas enquanto o recebia notei o olhar fuzilante do segurança em nossa direção, verdadeiro agente da repressão ignara, pronto para confiscar a obra ou para dizer que tínhamos de consumi-la em leitódromos cuidadosamente controlados. Ele veio andando em nossa direção, deixando balançar na cintura o grosso cassetete preto, mais volumoso que os braços de cigarra da garota sorridente e irriquieta. Que se levantou apavorada, uma traficante surpresa pela visita da viatura. Ela se misturou entre os clientes, aproveitando-se de sua estatura de ninfa, e nunca mais a vi.

    O guarda chegou perto demais, e me abordou com uma voz de tuba:

    — Aquela garota estava incomodando o senhor?

    — De forma alguma, ela só me deu iss…

    Ainda estava com metade de «isso aqui» dentro da boca e ele já arrancara o livro de minha mão.

    — Eu fico muito revoltado mesmo com esse tipo de coisa. É um absurdo completo!! A barbárie tá tomando conta do país, a imundície se alastra pelas ruas e qualquer cidadão de bem está exposto.

    — Mas ela só…

    O guarda arrancou a capa do livro com violência, usando seus dedos de elefante. Só então percebi do que ele me salvara, quase em lágrimas, agradeci-lhe efusivamente como se ele fosse um irmão que eu não vira por vinte anos:

    — É mesmo vergonhoso que a gente não possa esperar em paz na fila do banco sem correr o risco dessa violência — eu lhe disse.

    O mundo de Farenheit 451 seria terrível. Baixos espíritos literários são mais memorizáveis do que o Grande Sertão: Veredas, e para malus1 adicional a presença de um declamador de romance de auto-ajuda na sua vizinhança é mais agressiva do que a presença de um romance do Mago na estante, presente da namorada que acha lindo você ser escritor e pensou que lhe estava agradando muito com aquela obra cheia de verdades.2

    1 Um «neolatinismo» inventado para ser o antônimo de «bonus».

    2 O autor sugere que este conto seja lido de forma iterativa, retornando ao começo depois de ler o último parágrafo, e assim sucessivamente até o leitor ter a certeza de que realmente passou a odiar o autor.


    14
    Jan 12
    publicado por José Geraldo, às 15:57link do post | comentar

    Reconhecidamente autor de obras insuportáveis para quem efetivamente lê, em vez de comprar para enfeitar estante ou para ter «lições de vida», Paulo Coelho se tornou o pivô de uma curiosa briga na internet nas últimas semanas. Eu, como sempre, marido traído em matéria de notícias culturais, fiquei sabendo só agora. Em uma postagem no Twitter, o Mago chamou de insuportável o novo livro de Mário Sabino. Achei a atitude do mago bastante imoral, embora o livro criticado seja mesmo, provavelmente, difícil de suportar. Para que o leitor possa entender as razões de meu julgamento, vou fazer um apanhado da história.

    Mário Sabino é um jornalista brasileiro. Como muitos jornalistas, tem uma plataforma gratuita para lançar-se como autor literário (mas provavelmente vociferou contra a derrubada da exigência de diploma para o exercício do jornalismo e não aceitaria que autores literários tentassem a mão no jornalismo). Mário Sabino, ao que parece, nunca se notabilizou como repórter, mas chegou a cargos de mando relevantes em publicações como IstoÉ e, até recentemente, Veja. É um cara de ultra-direita (se for sincero), ou totalmente prostituído para a direita (caso não seja). Não tenho problemas com sua ideologia: apenas discordo antipodamente dela (em qualquer das hipóteses). Não estou aqui para falar de sua postura profissional, e nem sequer de suas qualidades de autor, mas do entrevero Sabino/Coelho. Quem não quiser ler a minha versão, pode procurar no Google, que está bombando com o assunto, ou ler a resenha do Luiz Nassif, um jornalista que, a julgar pelo que escreve, deve ser uma ótima pessoa (não o conheço pessoalmente).

    Na qualidade de editor-chefe da revista Veja, Mário Sabino sofreu vários tipos de críticas quanto à sua conduta profissional. Estas críticas não me interessam. O que me interessa é que este período de sua vida coincidiu com o início de sua carreira literária. Tal como eu, Sabino é um late bloomer, ou seja, só começou a publicar tardiamente. A diferença é que eu publico em editora pequena e tenho quase nula repercussão. Sabino, devido ao poder emanado de sua condição de manda-chuva editorial de uma das principais publicações do país, publicou pela Editora Record. Tal como muitas celebridades, vendeu muito, mais pelo nome conhecido e pela divulgação recíproca entre seus pares. Provavelmente teria vendido algumas dezenas de exemplares apenas, se em vez de editor-chefe da veja ele fosse editor-chefe da Folha de Cabrobó ou da Gazeta Leopoldinense. É preciso desconfiar do sucesso que é alimentado pelo poder.

    Pelo que pude verificar, Sabino publicou quatro livros durante sua fase na Veja (não sei e não quero saber se publicou algum antes): dois romances e dois volumes de contos, a saber:

    O Dia em que Matei Meu Pai
    Romance, traduzido para italiano, espanhol (Argentina), francês, holandês, inglês (Austrália e Nova Zelândia), coreano e romeno. Republicado em Publicado em Portugal. Ou seja: deve ser um livro razoável, ou não teria atraído tanta atenção. Se bem que ficou notoriamente fora de países importantes do mundo literário, como Espanha, México, Rússia, Polônia e Alemanha, e certas traduções foram publicadas na periferia (em inglês, na Austrália e Nova Zelândia, em espanhol, na Argentina). De qualquer forma, eu estaria rindo de orelha a orelha se tivesse tido repercussão igual.
    O Antinarciso
    Coletânea de contos, vencedor do Prêmio Clarice Lispector, da Biblioteca Nacional.
    A Boca da Verdade
    Coletânea de contos. Ao contrário dos dois livros anteriores, nem foi traduzido no exterior e nem ganhou prêmio.
    O Vício do Amor
    Romance, publicado recentemente, e pivô da crise com Paulo Coelho.

    Na época em que era editor-chefe da Veja, os livros de Sabino foram bastante elogiados na imprensa brasileira. Aliás, os elogios e a vendagem de tais obras foi alvo de uma controvérsia, com suspeita de manipulação da lista dos Mais Vendidos, além de certas relações inadequadas no mercado editorial.

    Nada disso importa, porém, se considerarmos que, por medo ou indiferença, os livros de Sabino eram elogiados (ainda que esses elogios fossem ouvidos apenas pelo eco), foram vendidos e foram promovidos na grande imprensa. Paulo Coelho, por exemplo, jamais se manifestara sobre o caso. E tinha direito, visto que ser autor de obras insuportáveis não impede um crítico de detectar a insuportabilidade alheia. Como meu dentista certa vez disse: «mau hálito você só sente o dos outros». Falta de talento é uma espécie de «mau hálito», mas, em nome da higiene universal da arte, não devemos esperar que somente os de boca limpa tenham o direito de se incomodar com o hálito alheio.

    Acontece que Mário Sabino foi demitido (ou demitiu-se) da Veja no final do ano, em circunstâncias ainda misteriosas. A ser verdade o que se especula por aí, sua saída, se por demissão, foi em condições tão desfavoráveis que dificilmente ele ainda terá um futuro no ramo. Espero que tenha uma boa poupança. E não demorou para que se manifestassem alguns que permaneceram em silêncio durante todo o tempo em que Sabino detinha o poder fulminatório da Veja em suas mãos. Veículos de imprensa, como o Valor Econômico (que é um jornal de economia, não de literatura) e a Folha de São Paulo não perderam tempo em atacar-lhe justamente no que um autor (bom ou mau) tem de mais sensível: a sua auto-estima de criador. Depois que o inimigo é derrotado, aparecem muitos heróis para ir no campo de batalha cuspir nos cadáveres, dizia um antigo ditado polonês (ou iídiche, não consegui descobrir). Além de perder subitamente seu poder de editor-chefe da maior revista deste país, Sabino ainda foi chamado de vários adjetivos.

    E justamente Paulo Coelho, notório autor de livros insuportabilíssimos, tuitou que o último livro de Sabino seria insuportável. A julgar pelas resenhas, deve ser mesmo. Mas por que razão será que Paulo Coelho deixou para falar mal de Sabino apenas depois de ele ter perdido seu emprego na Veja?

    Em tempo, se alguém quiser tuitar que meu livro é insuportável, favor deixar o link do blogue e da editora. E se tiver mais artigos interessantes, talvez eu ponha no blogroll.

    P. S. — não se trata aqui de ficar implorando por atenção. A questão é que, para um autor, a divulgação de seu livro é sempre interessante, mesmo que seja uma divulgação negativa. A literatura é uma das únicas profissões na qual um renome, mesmo horrível, ajuda a vender. Além do mais, ao contrário de certos autores, eu já desencanei de minha obra, e vejo os comentários, mesmo os mais críticos, com distanciamento. Quem não consegue esse distanciamento (e parece que o Mário Sabino ainda não consegue) acaba desestimulando a crítica, ou fazendo com que ela se torne rancorosa.


    24
    Out 11
    publicado por José Geraldo, às 23:13link do post | comentar

    Entre 10 e 12 de novembro acontecerá o III Festival Literário de Cataguases (FELICA). Pela segunda vez estarei lá. Ano passado fui apenas assistir, mas esse ano estarei do lado de cima do palco, em uma mesa redonda literária. Aproveitarei a oportunidade para divulgar (e autografar) o meu romance “Praia do Sossego”, que assim ganhará seu merecido evento de lançamento — que eu não havia podido fazer antes devido a limitaçõe$ resultantes de alguns imprevistos.

    Em breve começarei a enviar a todos os meus conhecidos os meus convitinhos virtuais para o evento, sem falar em convites de papel, em tamanho cartão de visita, que vou entregar pessoalmente a todos os meus amigos, colegas, parentes e conhecidos. Como tenho certeza de que será um evento interessante, convidarei sem remorsos todo mundo que possa. Eventos culturais como esse devem ser valorizados com a presença de quem gosta de arte. Detalhe que não vou convidar só para a minha noite, mas para o evento de uma forma geral.

    Participar de um festival literário como o FELICA será muito gratificante devido ao nível das pessoas envolvidas. Esse ano, por exemplo, teremos quinze autores participando (contando comigo), entre eles alguns nomes famosos para quem acompanha a cena literária: Chacal, Elisa Lucinda, Ondjaki, Sabrina Abreu, Ana Paula Maia, Roseana Murray, Bartolomeu Campos de Queirós, Miklós Palluch, Otávio Júnior, Elias Fajardo, Marcelo Benini, Maria Vargas e Luciano Sheikk (quem está sem link é porque não tem blog nem site).

    Outro motivo para me sentir gratificado é o tema da mesa redonda de que participarei, que será sobre a imagem do artista maldito, drogado, embriagado, inebriado, etc. É um tema bastante amplo, que tem apelo popular e dá muito pano para manga, como se diz no coloquial...


    23
    Set 11
    publicado por José Geraldo, às 20:20link do post | comentar | ver comentários (1)

    Denilson Ricci, responsável pelo Site Lovecraft está prestes a lançar ao mundo um dos mais ousados projetos editoriais independentes dos últimos tempos, talvez o mais ousado da década até agora. Movido apenas pelo trabalho de voluntários (tradução, revisão, ilustração, projeto gráfico, catalogação) e com a proposta de venda a um grupo fechado de compradores, ele pretende dar à luz um volume que deve, em breve, ser referência para autores brasileiros de ficção científica e horror: a primeira edição abrangente das obras de H. P. Lovecraft no Brasil.

    O objetivo é ambicioso: reunir as obras mais significativas do mestre do horror cósmico, tanto em prosa quanto em verso, em um volume ilustrado e acompanhado de prefácio e de uma longa biografia do autor. Espera-se que o volume tenha mais de 400 páginas! Além disso, a edição será em formato grande, em papel de primeira qualidade, em vez das edições de bolso que normalmente são reservadas para os gêneros “menores” (como a ficção científica e o horror) pelas editoras tradicionais.

    Esta edição foi possível porque toda a obra do autor encontra-se em domínio público no Brasil desde 2007, considerando que ele morreu em 1937. Mas de nada adiantaria a obra estar disponível se Denílson não conseguisse reunir, através da internet, uma variada equipe de pessoas de todas as partes do país, das mais diversas profissões e interesses. Tradutores, revisores, críticos, biógrafos, desenhistas, designers. Coordenando um grupo de dezenas de pessoas, separadas pelas distâncias físicas e culturais que a Internet, e apenas ela, permite vencer, o editor nos traz a esse momento glorioso, em que nasce, quase de um parto, um livro destinado a ser referência pelos anos que hão de vir.

    Sinto profundo orgulho de ter colaborado nesse trabalho, com a tradução de nada menos que quatro contos do Mestre, dos quais três devem ser aproveitados nesse primeiro volume:*

    • A Busca de Iranon (The Quest of Iranon),
    • Um Sussurro na Escuridão (A Whisperer in Darkness),
    • O Habitante das Trevas (The Haunter of the Dark)
    • O Depoimento de Randolph Carter (The Statement of Randolph Carter)

    Visite o Site Lovecraft para mais informações, e prepare alguns cobres para comprar, até janeiro ou fevereiro, a primeira edição de luxo e independente das obras de H. P. Lovecraft no Brasil.

    Sugiro fazer já a sua reserva, pois a tiragem será restrita aos que encomendarem. Eu já encomendei OS MEUS.

    *Sim, ouso dizer “primeiro volume” porque seria mais do que apropriado usar o conhecimento já adquirido e fazer um segundo volume. O autor tem obras em quantidade suficiente para alimentar várias repetições desse projeto. E eu ainda sonho, muito em traduzir para o português The Dream-Quest for Unknown Kadath.


    03
    Set 11
    publicado por José Geraldo, às 19:12link do post | comentar

    Estou finalizando a tradução do último capítulo do livro do Hodgson hoje e começarei a preparar a publicação desta obra de forma independente. Pretendo utilizar os serviços do Lulu.com e do AGBook. Possivelmente vou colocar no Kindle store e outros lugares também, desde que tenha condições de fazer isso sem grandes burocracias. A edição será preparada em dois formatos: EPUB e PDF. Pretendo também preparar uma versão para impressão, que poderá ser adquirida através destes sites.

    Se você gostou da tradução e pretende anexá-la ao seu leitor de livros digitais (ou e-book reader, como preferem alguns) ou pôr de pé em sua estante, vá reservando uns cobres porque a data prevista será meados de novembro. A tempo de dar de presente no Newtal…

    Atualização em 05 de setembro de 2011: Terminei ontem à noite a tradução dos últimos capítulos. A publicação no blog terminará em 18 de outubro, com o epílogo. Até lá eu vou começar a formatar o e-book e fazer as revisões necessárias.

    Atualização em 09 de setembro de 2011: Ontem voltei a pesquisar sobre o formato de arquivo Djvu e até andei brincando com alguns programinhas de conversão. Fiquei espantado de ver que em alguns casos os arquivos Djvu conseguem ser 85% menores que os PDF e mantêm a mesma qualidade de impressão! O visor de Djvu para Linux (djview) ainda tem uma característica interessante: carrega uma página de cada vez, fazendo que ao clicar no arquivo você tenha uma janela instantânea aberta com a capa! Acho que vou fazer o ebook em Djvu em vez de PDF.


    30
    Jul 11
    publicado por José Geraldo, às 00:30link do post | comentar

    Para autores, em sete lições

    1. Não os escreva.
    2. Se porventura acabar escrevendo algum, jogue-o fora.
    3. Se por razões pessoais não conseguir jogá-lo fora, esconda-o.
    4. Se tiver de publicar, não faça de seus amigos os seus fregueses. Amizade e negócios não combinam.
    5. Se vender a amigos e eles elogiarem, não peça detalhes. Evite a decepção de descobrir que estão elogiando porque são amigos, mas nem leram.
    6. Somente se pedir detalhes (oh, ousadia!) e eles disserem coisas que fazem sentido, suspeite que o livro seja mesmo bom.
    7. Nesse caso, chore os que jogou fora.

    Para leitores, em dez lições.

    1. Leia a sinopse. Se a sinopse já é um ruim, imagine o livro.
    2. Não ligue para o prefácio. Prefácios são escritos por amigos, ou por alguém pago para isso.
    3. Desconfie dos livros que têm longas introduções e apêndices, a menos que o nome do autor seja John Ronald Reuel Tolkien. Se precisam de muita explicação, é porque não conseguem explicar-se por si mesmos.
    4. Antes de ler um livro de setecentas páginas escrito por um desconhecido, escreva aquele livrinho de cem páginas que ele também escreveu. Quem escreve mal um livro de cem páginas, dificilmente se sairá melhor num outro mais longo.
    5. Evite livros que tentam atingir vários públicos ao mesmo tempo. Imagine um automóvel ao mesmo tempo econômico, compacto, fora-de-estrada, familiar, de luxo e esportivo.
    6. Desconfie de livros ambientados em lugares inventados: é um truque fácil para esconder a preguiça de pesquisar sobre lugares reais ou a falta de vivência real do autor.
    7. Quando o autor diz ostensivamente que o livro é resultado de anos de trabalho, ele está implorando que você goste.
    8. Desconfie de apelos emocionais (livros que falam de algum lugar pobre, da guerra que está na moda ou de lugares recentemente focados pela “caridade” internacional.
    9. Fuja de livros que têm muitos erros de ortografia. Se a editora não corrige o que é mais fácil de detectar, então esqueça revisão estilística, aconselhamento editorial ou uma política de seleção focada na qualidade.
    10. Nenhum livro de auto-ajuda presta. Eu disse “nenhum”. Isto inclui este em que você está pensando e também aquele que mudou a sua vida, e também aquele que todo mundo leu. Se acha que presta, talvez seja hora de variar suas leituras. Quem só come arroz provavelmente não imagina o gosto que feijão tem.

    08
    Jul 11
    publicado por José Geraldo, às 19:07link do post | comentar | ver comentários (1)

    A viagem entre Cataguases (minha cidade natal) e o local onde fica a Praia do Sossego (a verdadeira, que inspirou alguns dos episódios de meu romance deste nome) dura apenas algumas horas. Mas a viagem entre a concepção e a publicação de minha obra de estreia em livro demorou bem mais que isso: foram 11 anos!

    Hoje finalmente recebi um email da editora confirmando que meu romance de 218 páginas, além dos cem exemplares que adquiri para noite de autógrafos e promoções várias, também está à venda no website. Este passo era psicologicamente muito importante para mim, pois somente desta forma posso finalmente saber que meu livro foi “publicado” (com todos os efes e erres que esta palavra não tem).

    Agora convido a todos os amigos virtuais que fiz nesses quase seis anos de atividade nas redes sociais: conheçam este meu humilde trabalho, no qual coloquei muita inspiração, mas nem tanta transpiração, ao contrário do que os onze anos podem dar a entender, pois boa parte deste prazo foi perdida entre a concepção inicial e a revisão final, sem falar do ano e meio de negociações com a editora e com o meu orçamento…

    Desde hoje já posso me considerar realizado. Sou um autor publicado, e não publiquei pouca porcaria não, é um livrinho grossinho o suficiente para parar em pé na estante.

    Quanto aos amigos que residem na minha cidade natal, ou em Leopoldina, onde atualmente vivo, ou em qualquer cidadezinha das redondezas (incluindo Juiz de Fora, nosso distrito comercial…) dentro em breve organizarei um evento para marcar formalmente minha entrada, com casca e tudo, no mundo das letras.


    08
    Mai 11
    publicado por José Geraldo, às 21:06link do post | comentar

    Após uma gestação demorada e cheia de indas e vindas, finalmente está saindo, pela Editora Multifoco, o meu romance de estreia, Praia do Sossego. Escrito penosamente ao longo de onze anos (entre 1999 e 2010), este livro é importantíssimo para mim, quase um filho, pois ele contém trechos escritos em cada um desses onze anos (ainda que a revisão final seja entre 2009 e 2010). Trata-se de um verdadeiro testemunho de minha carreira literária, uma obra que contem todas as características básicas de minha ficção e de minha poesia de juventude, mesclando romantismo quase piegas com cenas picantes de sexo, citações existencialistas, ingenuidade juvenil, aventuras pelas estradas do Brasil e um cuidado quase gótico com o vocabulário.

    Escrevê-lo foi praticamente uma Ilíada, uma aventura sem rumo e sem limites, que me custou muitas negativas mal educadas e muito desprezo por parte de pessoas que se acham escritores só porque pagam para publicar seus romances melosos e participam de movimentos inexpressivos. Por causa desse livro eu fui chamado de idiota, fui ridicularizado por trolls no Orkut e fui tachado de louco por membros da família que não conseguem acreditar que os escritores são capazes de escrever obras de ficção.

    E eis que aí vem ele! A editora já me mandou o sinal verde, os livros estão na gráfica e começaram a ser-me entregues, sempre em lotes de trinta de cada vez, a partir do final do mês. Lançá-lo representa um momento de profunda realização, ainda que hoje eu tenha consciência de que teria escrito de forma diferente quase dois terços de suas páginas. Aliás, exatamente por isso. Se não o lançasse, eu o mutilaria de novo e perder-se-ia esse testemunho importante de minha juventude e de seus sonhos literários.

    Começa agora a parte complicada: pôr para girar as engrenagens de minhas amizades, meus contatos com antigos professores, com as pessoas que acreditam em meu talento. Vou precisar gastar dinheiro e provavelmente não o recuperarei vendendo os exemplares. Mas ponho no mundo este livro, que me custou sangue e pele.

    Mas de que se trata, exatamente, esse livro que tanto custou a sair?

    Praia do Sossego é uma novela (gênero literário no Brasil muito confundido com o romance) sobre um jovem que atravessa uma depressão, causada principalmente pela morte precoce de sua amada. Não, eu não estou estragando a surpresa, isto está no Prólogo! A narrativa segue duas linhas convergentes, que se unem mais ou menos na metade do livro. A primeira linha segue o presente, no qual o protagonista, Ricardo, faz uma viagem a um lugar obscuro do qual apenas ouvira falar (a tal Praia do Sossego) para “respirar liberdade” e tentar distrair-se dos lugares que lhe lembravam a falecida Helena. Ao mesmo tempo, ele recapitula em flashbacks (intercalados como sonhos seus) todos os episódios de sua vida entre o momento em que conheceu Helena, no último ano do segundo grau, até o dia em que ela morreu, vítima de uma leucemia (a história se passa em algum momento do início dos anos 1990 e transplantes de medula ainda eram coisa de ficção científica). A linha presente é dinâmica e fortemente narrativa, acompanhando sua passagem por diversas cidades e encontrando vários personagens diferentes, com os quais ele, sempre tímido, quase nunca interage. Os flashbacks são fortemente metafóricos e poéticos, quase oníricos. No momento em que as duas linhas do argumento finalmente se encontram, a história se desata em outra direção, com outro estilo, rumo a um desfecho diferente do que Ricardo desejava.

    Nesta obra tento manter a maior economia possível de personagens. Além de Ricardo, em torno do qual gira toda a história, só temos mais oito personagens vivos e o fantasma de Helena nos sonhos dele. Para um livro de cerca de 200 páginas isso parece pouco, mas é mais do que suficiente, se você considerar que a história que se conta não acontece “lá fora” em um mundo cheio de pessoas, mas “cá dentro” dos personagens, onde só coexistem as lembranças que eles escolhem conservar. A economia de personagens é fruto de um foco: originalmente havia mais, porém eu os fui “matando” ou simplesmente abandonando à medida em que fui revisando o livro. A morte de alguns personagens foi dolorosa: pela necessidade de eliminar um casal de personagens que parecia sobrar na maioria das cenas da Praia eu tive que limar uma magnífica cena romântica sob o luar que me custara um mês escrevendo. A cena se foi, relegada a um conto ainda inédito.

    E assim eu cheguei ao conjunto que hoje perfaz este livro que me chegará as mãos nos próximos dias. Poucos personagens, vários cenários e uma ação mais concentrada em reações e reflexões do que em feitos e aventuras. Com esse conjunto lhes conto uma história que é essencialmente romântica, embora dotada de um certo “corte” enviesado que não é exatamente o das histórias românticas estilo Sabrina e Júlia. Essa é a história que eu vou convidar-lhes a conhecer quando lançar, em algum momento do mês de junho, o meu romance de estreia.

    Um pós-escrito: cumprindo uma antiga aposta/promessa feita há muitos anos ao meu amigo Emerson “Toquinho” Teixeira Cardoso, poeta cataguasense e gente boa toda vida, não estou me desgastando para fazer um opúsculo, mas um livro que para em pé na estante… São mais de duzentas páginas, bicho!


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