Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
09
Set 12
publicado por José Geraldo, às 11:57link do post | comentar

A simples sensação de estar em uma cidade muito grande me assusta um pouco. Juiz de Fora é a maior cidade onde consigo me locomover sem ser acometido pelo pavor existencialista de subitamente deixar de existir, graças a uma facada no escuro, um carro bomba ou uma bala perdida. Cidades grandes têm trânsito confuso, motoristas nervosos que, do nada, podem descer de seus carros brandidos símbolos fálicos e ejaculando em projetis sua impotência diante do imenso pé da cidade, que os pisa e achata contra o solo. Cidades grandes têm exércitos de miseráveis famintos arrancando sua sobrevivência como podem, às vezes como não deveriam.

Mas quando ando pelas ruas de uma cidadezinha do interior, mesmo a centenas de quilômetros da minha, a sensação que tenho é de estar o tempo todo andando entre os braços abertos de amigos e parentes. O ritmo da vida vai devagar, como deve ser, ninguém parece andar armado, a não se precauções. Até os miseráveis são menos agressivos, porque são menos agredidos.

Cada vez que vou a um lugar pequeno eu tenho a certeza de que a salvação deste país, e deste mundo, reside na destruição deste monstro chamado metrópole, que encaixota os seres humanos em imensos depósitos numerados.

Salvar o mundo envolve remover o concreto e o asfalto, replantar um pouco da vida verde que havia antes, deixar os bichos pisarem a terra livremente, sem o risco de atropelamento por gente que tem pressa demais, e só um coração. Chamem-me idealista, mas quando eu penso no crescimento das cidades eu tenho medo, o medo que tem quem vê crescendo uma mancha de formato irregular em sua pele. A pele do mundo é como se fosse um pouco a minha pele. E as cidades, que um dia foram somente sardas, estão se transformando em tumores.


14
Set 11
publicado por José Geraldo, às 18:00link do post | comentar | ver comentários (2)

Carlos Drummond de Andrade publicou em 1934 um livro intitulado “Brejo das Almas”, assim chamado em homenagem a um município do norte do estado de Minas Gerais. Os habitantes desse lugar, ingratos, em vez de aceitarem a homenagem do grande poeta, acabaram mudando o nome do lugar, em 1948, para “Francisco Sá” em comemoração a alguém que certamente merece ser comemorado, mas que não tem nem o charme e nem o enigma do nome original, literalmente, que o município recebera ao ser emancipado em 1923.

Uma coisa é certa, qualquer pessoa dotada de senso poético preferiria mil vezes morar no Brejo das Almas do que em Francisco Sá. Existem inúmeras cidades homenageando inúmeros franciscos, todos homens de caráter e dignos de honras, mas quantas cidades há que conjugam um nome de tanto impacto e a lembrança de um dos maiores poetas da língua portuguesa?

Drummond, talvez ofendido pelo rebatismo, nunca mais deu nome de lugar a nenhum livro seu. E a cidade, que seria eternamente lembrada toda vez que alguém lesse uma biografia do poeta, está condenada ao olvido, esse tipo de esquecimento poético que é muito mais grave do que o opróbio, porque esse, pelo menos, pode trazer a reboque alguma notoriedade.


10
Jul 11
publicado por José Geraldo, às 10:15link do post | comentar | ver comentários (2)

Quando eu comecei a escrever o romance “Praia do Sossego” eu nem sabia que havia um lugar com esse nome, apenas imaginei que existiria e tratei de escrever a história de alguém em busca de paz que acabava indo para lá. Então um belo dia a minha então namorada me disse que uma amiga dela tinha uma casa em um lugar que tinha exatamente esse nome. Tive de ir lá, não apenas para passar uma semana sozinho e namorando à beira-mar, mas também para conhecer o lugar de nome tão mágico, a respeito do qual eu estava escrevendo o que, na época, eu ainda chamava de “romance espírita com pretensões artísticas” (não, amigo leitor, para o bem ou para o mal, a obra que finalmente publiquei não é uma obra espírita).

Voltei mais três vezes à Praia do Sossego real. Mais uma vez com a mesma namorada, meses depois. Uma vez com amigos, em uma excursão desastrosa. E uma vez com a minha esposa, meu irmão, minha cunhada e minhas filhas, desta vez um dos melhores passeios que fiz na vida. Além destas visitas físicas, foram incontáveis as visitas imaginárias, nas quais vivi ou revivi acontecimentos (reais ou imaginários) que foram incorporados ao romance (não, amigo leitor, não é um romance nem remotamente autobiográfico, embora duas das cenas nele narradas sejam baseadas em coisas que aconteceram, respectivamente, comigo e com uma outra ex-namorada).

Agora que o romance está saindo, imagino que as pessoas que vivem na verdadeira Praia do Sossego (e/ou arredores) gostarão de saber que meu livro realmente se refere à sua cidade. E quem não conhece, talvez queira conhecer por conta da obra. Então, em consideração ao povo hospitaleiro de lá, eu revelo a localização de minha história.

Praia do Sossego é uma das praias do município fluminense de São Francisco de Itabapoana, mais especificamente uma que se localiza no distrito de Santa Clara, ao lado de um canal que separa este distrito de um outro, chamado Guaxindiba. Você pode ver Praia do Sossego no Google Maps aqui.


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