Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
16
Mar 13
publicado por José Geraldo, às 11:33link do post | comentar | ver comentários (1)
Este é um texto que eu gostaria que todo mundo copiasse e compartilhasse, com ou sem atribuição de autoria.

O copiador de conteúdo trabalha contra o objetivo maior do novato, que é o de tornar-se conhe­cido. Aquilo que ele semeia, o copiador vem e arranca. Se você é um escritor novo e des­co­nhe­cido, o seu maior inimigo não é o editor vampiro, porque ele não pode invadir o seu bolso a menos que você o convide a entrar. Com alguma dose de bom senso e bons conselhos, você pode até conseguir utilizar em seu proveito os serviços de uma editora ruim. Mas você não pode fugir do copiador de conteúdo, a menos que evite blogar.

Esta é uma solução inaceitável, porém. Como não blogar se justamente o blogue é o meio pelo qual o escritor anônimo pode esperar chegar a um público e ser reconhecido? As gavetas não avaliarão o seu texto e as quatro paredes de seu quarto nunca lhe oferecerão um contrato. Eis, então, a monstruosidade do copiador de conteúdo, e eis porque os estou convidando a entrarem comigo nessa luta.

É legítimo que o jovem autor, ou o autor amador, jovem ou não, crie blogues para compartir os seus textos com o mundo. A internet oferece essa via para aqueles que não têm mídia. Muitos autores começaram blogando, lá fora até mais do que aqui. Quando cria um blogue para compartilhar os seus textos, o que espera é que pessoas venham ler e retornem caso gostem. Você quer que memorizem o seu nome para que adquiram seu livro, se futu­ramente aparecer numa prateleira de livraria, material ou virtual. Acessoriamente você pode esperar ganhar algum dinheiro com anúncios. Cada um desses objetivos é frustrado pelo copiador.

O copiador de conteúdo cria um blogue ou saite, mas o utiliza para republicar textos escritos por outras pessoas, retirados de outros blogues ou saites, em vez de populá-lo com os seus pró­prios textos, ou de autores exclusivos. Isto pode ser feito com o consentimento do autor e con­forme con­di­ções negociadas (podendo ou não envolver valores). Neste caso, não há sacanagem envolvida. Se, por acaso, houver erro nos procedimentos, é caso para se corrigir. No máximo, pedir desculpas. A sacanagem começa quando a transferência ocorre à revelia do autor e/ou desrespeitando as condi­ções propostas.

Idealmente, não deveria haver nenhuma cópia de conteúdo porque, como disse acima, o autor coloca seu texto na internet para se promover. O autor “gosta de aparecer”. Se não gostasse, não criava blogue, não fazia Facebook, não participava de antologia, nada disso. Então, quando tira o texto do blogue e o leva para outro lugar, você está desaparecendo um pouco com a promoção que o autor queria fazer para si. No entanto, se você faz um bom tra­balho de divulgação do seu grande meta-blogue ou saite, o autor não vai se importar com isso porque a visibilidade que ele terá com o seu texto, mesmo entre dezenas, em um saite muito visitado pode ser maior do que a de seu obscuro blogue original. Por isso, esse “idealmente” é muito relativo. E ninguém deve ter vergonha de copiar texto de blogue para pôr no seu saite, pelos motivos acima expostos.

É justamente essa visibilidade que traz a "remuneração" metafórica que o autor busca. Você deve permitir que o autor usufrua do benefício de ter um texto no seu grande meta-blogue ou saite, através do aumento da exposição de seu blogue original e de seu nome. Caso você crie obstáculos para essa visibilidade do autor você está sendo canalha com ele. E esse texto é contra você. Você é parte do que está errado no mundo. Você é um vampiro de conteúdo.

O primeiro passo da vampiragem é não notificar o autor. Esse simples aviso já é uma remu­ne­ração para um autor amador. Dependendo do renome de seu saite, o autor mandará e-mail a muita gente para gabar-se que foi selecionado (o que não deixa de ser publicidade gratuita para você). É um estímulo, também, para que ele continue produzindo.

Em seguida está a não atribuição de um link recíproco (backlink). Esse link direcionará os leitores do texto para o endereço de onde foi retirado. Quem gostar daquele texto procurará ler outros do mesmo autor. Esse aumento de tráfego poderá gerar receita de publicidade para o autor (através de AdSense ou outro serviço) ou pode servir como outro estímulo.

O último nível em que ainda dá para supor a boa fé está na remoção do crédito da autoria. Ainda é possível pensar que foi apenas erro (caso tenha sido um caso isolado) ou um mero desconhecimento da etiqueta (especialmente no caso de traduções). Mas a remoção da autoria já é uma ação perniciosa, que trabalha contra o reconhecimento do trabalho do autor, cer­ta­mente já lhe causando grande frustração. Muitos textos acabam se tornando apócrifos por causa disso, negando crédito a quem realmente os escreveu.

Saindo do terreno dos incautos e caindo firmemente na área da picaretagem amadora, existe gente que se atribui (ou a outrem) a autoria dos textos copiados. Isso nem sempre é aparente, basta uma simples notícia de copyright no rodapé da página (frequentemente adicionada por padrão a todas as páginas do blogue ou saite) para configurar uma reivindicação de autoria. Picare­tas um pouco mais mal-intencionados vão mascarar a autoria original introduzindo pequenas altera­ções no texto (adição ou subtração de palavras, mudança da configuração de parágrafos). Alterações que não resistem segundos a uma análise em um programa de diff. Se o picareta for ainda mais sofisticado, tentará forjar uma prova de anterioridade da autoria, blogando com data retroativa (algo fácil de se fazer na maioria das plataformas de blogue).

Picaretas realmente profissionais tentarão impedir que o autor identifique o roubo de seu texto e suprimirão suas tentativas de protesto caso ele apareça reclamando em grupos do Facebook, comunidades do Orkut/Plus, clãs do Netlog, blogues coletivos, fóruns, etc. Esses são mais perigosos, porque não agem sozinhos: conseguem parceiros para ajudá-los a mode­rar comentários ou até mesmo para hackear o blogue do autor, ou fazer-lhe um ataque DdoS. Com a ajuda desses parceiros, e também de sockpuppets (perfis falsos em redes sociais e fóruns), produzirão uma campanha
de ofuscamento do feito, difamação do autor e obstaculi­za­ção de toda tentativa de esclarecer o que aconteceu.

Caso o ataque continue por bastante tempo e seja efetivo para apagar a vida online do autor (dele­ção de blogue, expulsão de comu­ni­dades/grupos), o copiador poderá impedir defi­ni­ti­va­mente que se reivindique sua pro­priedade original do texto. Porém, como são poucos os auto­res que identi­fi­cam tais abusos e "correm atrás" de seus direi­tos, o esforço dispendido pelos copi­a­dores é pequeno. O objetivo desta campanha é torná-lo maior, para que seja menos lucra­tivo (em termos de remuneração monetária ou subjetiva).

Nem todo copiador de conteúdo tem a intenção de prejudicar o autor do texto original. Todos, porém, pensam em ganhar alguma coisa (dinheiro ou reconhecimento) com o seu projeto. Quando esse ganho não impede que o autor também ganhe alguma coisa por si, temos uma relação justa e até desejável. A coisa só se torna imoral quando o copiador, além de ganhar, impede (intencionalmente ou não) que o autor também ganhe.

Algumas destas práticas descritas são “benignas” (na mesma acepção de “tumor benigno”) porque é pos­sível supor que não houve intenção. Outras são malignas justa­mente por­que a suposição é improvável. Mas algumas são muito malig­nas pois, além da intenção ser evi­dente, ainda fica evidenciado um trabalho persistente de manutenção ou extensão do dano.

Acredito que uma boa prática para saites ou blogues que publicam conteúdo alheio deveria envol­ver os seguintes passos:
  1. Contactar ao autor, informando-lhe que um texto seu foi selecionado para publicação. Mesmo que o contato não seja possível, se o autor tiver publicado sob uma licença que pres­supõe auto­riza­ção de cópia, como a Creative­Commons usada no meu blogue, ainda se poderá fazer a publi­cação, desde que respeitados os passos seguintes, mas sem autorização não se deverá nunca republicar texto algum.
  2. O contato deve sempre perguntar ao autor se ele autoriza a publicação do texto tal como está no blogue ou se deseja fazer alguma revisão.
  3. A publicação sempre deverá incluir atribuição de autoria visível (no cabeçalho, nunca no rodapé) e deverá ser oferecido um link para o endereço de onde o texto foi retirado (preferencialmente vinculado ao nome do autor ou, menos elegantemente, no rodapé).
  4. Para valorizar os autores, especialmente os que tiverem mais de um texto republicado, é boa ideia criar uma página de perfil, com foto, minibiografia e lista de seus textos constantes no local.
Agindo desta forma, os meta-blogues ou saites que reproduzem conteúdo estarão oferecendo aos autores uma compensação justa pelo trabalho que realizam e manterão esses autores moti­vados a continuar escrevendo e compartilhando textos na internet. Agindo de outra forma, será cada vez mais frequentes que os escritores tenham receio de colocar o seu texto na rede (como eu já deixei de fazer), o que reduzirá a longo prazo a quantidade e a qualidade dos textos livremente dispo­níveis para leitura on-line. A menos que esse seja o seu objetivo, acre­dito que você será sensi­bilizado por este manifesto e adequará suas práticas.

02
Jan 13
publicado por José Geraldo, às 01:09link do post | comentar | ver comentários (1)
Faz alguns dias que eu comecei a analisar o caso de Christopher Schewe, um idiota americano que aparece no YouTube comendo ou bebendo coisas com uma voracidade de avestruz no cio. Passou o fim de ano e eu me detive mais churrasqueando e entupindo os cornos de cidra barata e cerveja do que pensando no que continuar escrevendo sobre o tal babacão. Perdi a onda. Não vou continuar. Pensar em gente imbecil me imbeciliza, me estressa além da conta.

Vocês que já ouviram falar do cara, já devem estar procurando por suas aventuras na internet, inclusive seu famoso vídeo da ingestão de uma garrafa inteira de absinto (que seu fígado descanse em paz, Chris).

Depois de passarem por esse ordálio estúpido e sem razão, sugiro que se perguntem por que motivo esses conteúdos esdrúxulos atraem tanta atenção. Tanto filme bom para se ver, tanto livro legal para se ler, tanto blog como o meu ou melhor, e a audiência da internet vai para vídeos de um americano retardado que enfia uma garrafa de Coca Cola de dois litros pela boca adentro  e vai arrotando pela beirada da boca enquanto se enche daquele lixo tóxico com cor de chorume.

Se você assistiu a todos os vídeos que mencionei (e dos quais eu só ouvi falar através de comentários, depois de ter assistido o da Coca Cola e o do absinto) e alguns outros mais, saiba que você é parte daquilo que está errado no mundo. Sinta-se feliz em ser um semeador do apocalipse.

Mas pelo menos vá rindo enquanto semeia. O mínimo que um idiota merece é todos reconheçam sua idiotice. O suicídio é a eutanásia do imbecil.

21
Nov 12
publicado por José Geraldo, às 20:30link do post | comentar
Ninguém vivia muito tempo para prestar atenção ao tempo, que era sempre o presente, cada vez que amanhecia. Significava que a noite terminara sem o encontro de uma fera, sem as garras gélidas da terra rasgarem. O passado só existia através do mito, das coisas acontecidas ninguém sabia quando, nem onde, nem com quem. O mito também era uma espécie de tempo coagulado, cíclico, interminável. Alguém poderia pensar que era horrível ser um deus, e ter que refazer a criação do mundo sempre, ter que viver sempre a fazer as mesmas coisas.

Mas quando justamente ninguém viveria muito tempo, era possível ainda viver com vagar. Diante de tão pouco tempo, a coisa sábia que se fazia era viver cada hora com a profundidade de uma pequena eternidade. E as semanas, passadas ao mito, se acumulavam na memória sem saudade. Saudade existe quando a gente descobre que o tempo passa. Jovens demoram nisso: nenhum jovem sabe que morrerá.

Cada nova civilização descobriu um modo de criar velocidade. Mas nenhuma conseguiu a perfeição antes da nossa: somos os animais mais velozes que já existiram. Temos pressa, muita pressa, porque vivemos muito. Parece um paradoxo, visto que os homens das cavernas viviam com um peso tão diferente. Mas nós temos essa pressa porque, por mais que tenhamos esticado o cordão da vida até rebentar por si, sem crime e sem doença, a verdade é que o tempo imenso que obtivemos nos parece pouco, porque sabemos que morreremos.

Nós, os velozes, somos os primeiros mortais inteiramente cônscios disso. Sabemos disso em nossos ossos, porque os nossos olhos e mentes ainda se recusam a crer. A saudade e a pressa existem porque somos muito velhos no mundo, porque temos muitos velhos. Na época em que não havia velhos, era como se ninguém fosse nunca morrer, como se cada óbito fosse uma fatalidade, uma interferência dos deuses, alguma coisa assim. Era uma espécie de imortalidade, que terminava sempre quando alguém ou algo interferia.

Não temos tempo para viver cada dia, porque temos uma vida inteira pela frente. Uma vida inteira significa toda a vida que se pode ter. Não há outra, não há mais, não há cheque especial no saldo dos anos, não há mais gasolina para a alma. O peso disso nos faz correr, e tudo se torna provisório.

10
Nov 12
publicado por José Geraldo, às 23:49link do post | comentar | ver comentários (2)
ou «Porque os discursos superficiais de ódio ecoam com tanto vigor»
Acabo de me deparar no Facebook com alguém compartilhando a pequena história em quadrinhos acima. Logo que a li percebi que ali havia assunto para mais do que meramente um «Curtir» ou um «Compartilhar», mesmo porque não me senti impelido a nenhuma das duas coisas. Como aquela rede social não é muito receptiva a elucubrações mais compridas, preferi postar aqui, mesmo sabendo que menos gente lerá, curtirá ou compartilhará.


A tirinha expressa, de fato, muito mais do que está dito nas palavras de seu protagonista: ela é a vingança, possibilitada pela instantaneidade do fluxo de informações na internet, daqueles que sempre detestaram a poesia, mas sempre tiveram esse ressentimento represado pela inexistência de um canal que o amplificasse e difundisse. Estas pessoas a quem chamo de «ressentidas» sempre existiram, não passaram a surgir ontem, e possivelmente existiam antes em número muito mais significativo em relação à população em geral.

Portanto, que ninguém interprete esse texto como uma catilinária contra nossos tempos e costumes. Limitar-me a isso seria, de fato, dar eco à crítica, pois seria uma defesa estúpida de algo que, por si, não carece de defesa. Aquilo que existe por si não carece de justificativas. As coisas não têm, em si, nenhuma razão moral de ser, como muito bem disse Nietzsche, em um aforisma que é útil em múltiplos sentidos: não existem fenômenos morais, apenas derivações (ou explicações, segundo algumas traduções) morais dos fenômenos. Muita gente «odeia» a poesia, e no entanto a poesia existe, permanece e existirá. Como disse Mário Quintana, «toda essa gente que fica atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho».

O que cabe ser dito é, de fato, tentar entender a consistência desse «ódio» (que vai entre aspas doravante, posto que não é um ódio de fato, mas uma coisa outra, que obedece a leis diferentes do ódio em si, que é uma reação irracional momentânea). É preciso que investiguemos a natureza desse ódio, agora que ele extravasa dos bueiros por onde corria, pois já não é possível ignorarmos que algo cheira mal nessa metafórica Dinamarca.

A principal manifestação do «ódio» à poesia se dirige não contra o texto em si, mas contra o «poeta», este ser esfíngico, admirado de uma forma torta e inadequada, a ponto de a palavra ter sido tomada como epíteto por compositores populares (nem sempre poéticos) e apropriada até mesmo em ditos populares: «fulano, calado, é um poeta». Este «ódio» é, de fato, apenas uma faceta da discriminação agressiva (ou «bullying» como hoje se diz) contra os tipos sociais divergentes de uma norma impositiva. Em uma sociedade como a nossa, na qual a cultura originalmente foi apenas um verniz de civilização, tangibilizado por um diploma devidamente europeu ou pela prática de costumes importados daquelas latitudes, sempre foi natural que certos comportamentos fossem circunscritos a certos grupos sociais. Assim como se espera que o negro seja malemolente, que o suburbano seja esperto, que o interiorano seja ingênuo e que o baiano seja indolente; nunca se esperou que alguém do povo possuísse, de fato, os tiques e taques privativos da elite, entre os quais diplomas, erudição e talentos artísticos. Pobre não faz arte, faz artesanato, não faz poesia, mas faz letra de música. Mais ou menos assim.

Exceções acontecem, quando devidamente legitimadas pela elite, que está frequentemente em busca de ídolos, como um Machado de Assis. Mas quando o talento, mesmo equivalente, não encontra essa legitimação, por alguma razão nem sempre inteligível, o pobre artista, além de fustigado pela pobreza que persiste, ainda sofre o escárnio de uma sociedade que vê nele como postiça e ilegítima a mesma atitude que louva como visceral e própria em um dos luminares escolhidos. Um breve estudo comparativo das obras e biografias de artistas malditos, como Lima Barreto ou Cruz e Sousa, por exemplo, nos deixa com a pergunta incômoda sobre o motivo de não terem sido aceitos por um sistema que aceitava gente de talento evidentemente menor.

As explicações estão dadas acima: residem na divisão de classes de cunho pós-escravagista, divisão que só permite a ascensão social daqueles que são, por alguma razão, «aceitos» pelo sistema. Daqueles que são «branqueados» no processo, tal e qual os pecadores são «lavados no sangue do Cordeiro» para poderem entrar no Reino dos Céus.


Este quadrinho, porém, vai mais fundo do que esta manifestação de escárnio contra os «patinhos feios», que sempre existiu e pôde ser sentida por todos nós que escrevemos, pelo menos uma vez ou duas na vida, a menos que tenhamos sido abençoados com uma idiotice beatífica que nos impede de enxergar o desprezo alheio, ou tenhamos adquirido um calo sensorial que nos insensibiliza para isso. Vai mais fundo porque ele não se limita a zombar dos que «ousam» ser poetas sem terem sido, previamente, autorizados a isso, por um concurso, uma editora, uma academia ou a bênção de um figurão das nossas letras belas. Zomba da poesia em si,  e isso nos exige uma reflexão além.

Por que alguém odiaria poesia, a ponto de execrá-la publicamente, dizendo que «limparia a bunda» com a obra de Augusto dos Anjos? A escatologia é um argumento fácil para quem não tem argumentos. O macaco atira excrementos nos visitantes do zoológico. Não obstante ele continua sendo o macaco,  e os visitantes continuam sendo os visitantes. Atirar excrementos não modifica a situação de submissão e desumanidade do símio enjaulado e nem desumaniza os visitantes, que poderão lavar-se depois e ter uma divertida história para contar. E limpar a bunda com a poesia de Augusto dos Anjos em nada a modifica, e nem à bunda de quem a usou para tal fim. Evidentemente essa manifestação bárbara de desprezo pela obra de alguém que morreu há tanto tempo expressa algum tipo de sentimento mais profundo e duradouro do que o desprazer de não ter gostado de um ou dois sonetos. Qual a jaula mental onde se encontra este ser que recorre a excrementos para agredir aquilo que não entende?

Vivemos atualmente uma fase perigosa no mundo, após tantas décadas de triunfo da ciência, com suas conquistas e perigos, com os dois gumes de seus conhecimentos, com a exigência de responsabilidade diante das múltiplas possibilidades de cada conquista nova. Parece que muita gente se assusta com a obrigação de escolher se vai usar a radiação para curar o câncer ou para causá-lo, se vai usar o foguete para nos levar à Lua ou de volta à Idade da Pedra. Diante desses dilemas, há hoje quem reaja ao modo do avestruz mitológico (não o real), que enfia a cabeça na areia diante do susto. Refiro-me à reação anti intelectual que grassa pelo mundo e que, apesar de nossa ignorância de periferia deslumbrada, não começou aqui.

O modo de pensar anti intelectual, não irracional, não confundam por favor, surgiu, de fato, nos Estados Unidos, nos anos sessenta, e hoje podemos ver com clareza como. Alan Bloom já o havia percebido em 1986, ano em que escreveu uma obra hoje esquecida, mas que devia ser mais lida: The Closing of the American Mind («O Fechamento das Mentes Americanas», traduzido porcamente para o português como «O Declínio da Cultura Ocidental», refletindo a subserviência do tradutor e editores, prontos a aceitar o império ianque não apenas como centro do mundo, mas resumo dele). O anti intelectualismo é a crença de que as imperfeições da ciência significam que as soluções científicas não devem ser buscadas. Houve vários momentos de triunfo desta mentalidade, e talvez o mais significativo tenha sido a «luta antimanicomial», que ajudou a desmantelar toda tentativa de abordagem e tratamento científico das patologias da mente em nome de uma filosofia segundo a qual os limites entre a loucura e a normalidade seriam uma convenção social. Ora, vivemos em uma sociedade, e quase tudo nela é convenção social. O triunfo do anti intelectualismo consiste em convencer-nos de que o fato de vivermos sob convenções significa que as convenções são arbitrárias e políticas baseadas nelas são injustas. Em vez de buscar aperfeiçoar as convenções, devemos aboli-las. Com toda sua virtude humanista, a luta antimanicomial abriu caminho para o questionamento da ciência enquanto alternativa viável de abordagem dos problemas sociais. Isto acaba sendo útil aos sistemas de poder, especialmente quando surgem indícios de ação humana na modificação dos padrões climáticos da Terra. Se a ciência está em xeque, então as decisões políticas não precisam considerá-la. Eis o monstro criado pela luta antimanicomial a longo prazo. Tal como não precisamos tratar dos loucos, pois a loucura é uma categoria arbitrária imposta pela cultura, também não precisamos evitar as modificações ambientais que inadvertidamente causamos por nosso estilo de vida, pois os modelos e parâmetros usados pela ciência para determinar a realidade destas modificações são também arbitrários e sujeitos a influências culturais.

O anti intelectualismo é um populismo filosófico. Nada afaga mais o ego instável do ignorante do que ser chamado de sábio. Chame um homem por aquilo que não é e ele se sentirá feliz, desde que acredite sinceramente que não há malícia de sua parte. Desde que ele esteja seguro de que a calúnia é imerecida e o elogio é verdadeiro. Do contrário, se supuser a calúnia uma realidade e o elogio, uma falsidade, reagirá com agressividade. Eu já havia notado isso em 2010, quando escrevi «O Sábio Louco e o Ignorante Vigoroso», pequeno texto no qual observei que, como disse Caetano Veloso, «Narciso odeia tudo que não é espelho». O ignorante odeia o sábio por ele ser sábio, mas quer ter, ele mesmo, o nome de sábio. Diga ao ignorante que o sábio não o é, mas ele sim, e, caso a afirmativa inspire confiança, o afago ao ego do idiota produzirá um deslumbre genuíno.

O ignorante precisa acreditar que não há prejuízo em sua ignorância. De outra forma, sente-se incompleto, precário. Para combater esta sensação de vazio, que o inquieta mas ele não sabe expressar, ele busca o elogio, busca a sensação segura de que «sabe». Venda a este cara a ilusão de que «sabe», de que «pode saber em apenas cinco lições» ou, melhor ainda, que «já sabe». Olavo de Carvalho acredita que conseguiu desmentir Newton e Einstein. Muitos são os que o elogiam, fazendo com que ele se sinta, de fato, um injustiçado pelo Nobel. Dão-lhe até medalha para melhorar a ilusão. Que se multiplica através dos excrementos verbais que ele difunde, e que são assimilados e replicados por outros que, tão vazios quanto ele, aceitamo como sucedânea do conhecimento a mistificação que ele divulga.

Este fenômeno é reforçado quando o ignorante possui algum conhecimento, mas só um pouco. Temei ao homem de um livro só, disse o santo filósofo. Ele não conhece, de fato, quase nada do mundo, mas domina tão bem seu quase nada que adquire uma certeza, uma autoconfiança que intimida. E agarra-se a esta migalha, que lhe confere autoridade.

E onde entra nisso a poesia? Pobre poesia, pobre e inútil poesia. Que sempre sofreu com esta pecha de inutil, e graças a Deus que ela o é. A pior coisa que pode acontecer à literatura é que lhe encontrem alguma utilidade. Não há maior tédio do que nos livros julgados os mais adequados pelo sistema educacional. Se tachados de «educativos» então, aí se encontra um indutor de letargia mais poderoso que a mosca tsé-tsé.

A poesia entra nisso como mais uma manifestação de intelectualidade. Se vivemos uma reação contra a intelectualidade que é útil (ninguém duvida das previsões do tempo, ora bolas, nem da capacidade voadora dos aviões e foguetes), quanto mais contra as pobres formas inúteis de intelectualidade! É muito fácil falar contra a poesia: é algo que poucos entendem, que raros gostam, que poucos praticam. É um saco de pancadas tradicional daqueles que sempre satirizaram os pendores de questionamento que brotassem da boca do pobre. A poesia é o senhor gordo e lento no qual o macaco consegue acertar mais excrementos.

09
Nov 12
publicado por José Geraldo, às 00:12link do post | comentar

O poetinha desceu do ônibus já suado e despenteado. O óculos empenado na cara, a camisa amassada pela viagem desajeitada, a umidade incomodando por debaixo da roupa, o hálito amargo devido ao nervoso e ao fígado. Bateu no peito para ter certeza de que seu poema, copiado com capricho na velha máquina de escrever, se encontrava ainda intacto. Não estava: tanto suor o amolecera. Retirou-o do bolso e desdobrou com cuidado, quase com lágrimas. O mesmo calor que o molhara não o secaria. Xingou algum palavrão absoluto, mas timidamente o fez. Preferiu cruzar a rua em direção ao humilde teatro onde teria lugar o concurso municipal de poesia, para o qual se inscrevera com aquelas gotejantes exalações das chagas de sua alma torturada. Esperava a glória, não meros três mil reais de prêmio. Mas na falta da glória, o dinheiro cairia bem. Não é verdade que se compra a glória com dinheiro, dinheiro é só uma desculpa que a gente usa, o consolo da glória inatingida, inatingível, definitivamente deixada em outra esquina, numa rua diferente da que tomamos, possivelmente noutro bairro, cidade ou planeta. Quando ganhamos dinheiro a saudade da glória dói um pouco menos, mas ainda dói.

Tinha “vinte e cinco anos de sonho, de sangue e de América do Sul” e “por força desse destino” ouvia o som dos gringos e lia a poesia dos mortos. Julgava-se inteligente o bastante: conhecia as antologias. Estava muito bem informado, de tudo que tocava no rádio ou saía no jornal. Estava na moda, em perfeita simetria com com a televisão e o cinema. Sei que, assim falando, dá para pensar que esse jeito era o óbvio de 93, mas de fato o poetinha era especial de uma maneira: não conseguira ser igual a todos os demais, então restava-lhe o destino de ser diferente. Não por escolha — que teria preferido uma cara mais bonita, uma família rica ou um pinto bem maior.

E estava ali diante do teatro municipal como se fosse receber um prêmio internacional.

Quando chegou ao outro lado da rua, já estranhando que houvesse tão pouca gente, percebeu que Isaura estava sob a sombra de um oiti, vigiando sua chegada como quem tocaia sua caça. Ele não a convidara, claro. Não supusera que poesia lhe interessasse mais do que a vida sexual das tarântulas. Mas ela soubera do concurso, de alguma forma, e viera. Sua primeira esperança foi o engano: talvez só fosse alguém parecida. Esperança falha:

—Boa noite, Isaura. Que surpresa vê-la por aqui?

—Boa noite, Cacai. Você não me convidou, mas eu vim.

—Desculpa não convidar, mas eu não sabia que você gostava de poesia.

—Eu gosto de você.

Então Isaura não viera atrás de poesia, viera mesmo para vigiá-lo, como imaginara.

—Veio sozinha?

—Desculpa não trazer plateia, querido, mas fiquei sabendo muito em cima da hora.

Tomou-a pelo braço e foi entrando. Isaura não era exatamente bonita, mas tinha um corpinho jeitoso, uma voz que não era excessivamente doce e uma dose cavalar de ciúmes injetada nos olhos.

Dentro do teatro fazia uma temparatura que agradaria a Lúcifer. Os ventiladores pareciam maçaricos e as janelas, bocas de fornalhas. Algumas senhoras da sociedade padeciam de leques fora de moda e de uma vontade impossível de falar, tão custoso o esforço de qualquer músculo naquelas circunstâncias. Por sorte anoitecia já, e logo aquele ambiente saariano melhoraria. Demoraria só o suficiente para sua camisa terminar de ficar molhada, seu cabelo arrepiado, seu rosto engordurado de transpiração, o papel ainda mais molengo e os óculos embaçados escorregando no nariz, querendo cair.

Sentaram-se o mais perto possível da porta, pois aquela parede do teatro ficava pelo menos meio oculta pelas copas gordas das árvores. Alguns loucos haviam se sentado junto à parede que acabara de receber o sol de toda a tarde. Mas eles não suavam tanto: não tinham vindo de ônibus e os tecidos caros de suas roupas eram mais porosos à temperatura.

O mestre de cerimônias subiu ao palco, fazendo o teste dos microfones e convidando quem ainda tivesse que entrar. Então apareceu gente de todos os lugares inimagináveis, bem poucos entrando pela porta frontal. Só faltou alguém entrar pela janela lateral, a que se debruçava sobre o fétido riacho, porque pelo menos de uma outra janela entrou alguém. Uma moça de vestido verde, cafona a ponto de parecer cortado de uma cortina velha, tomou a palavra e convidou os autores presentes a se dirigirem aos bastidores, para identificarem-se e tomar conhecimento do protocolo. O poetinha se levantou, pernas bambas e óculos quase caindo da ponta do nariz, e acompanhou-a, juntamente com vários outros, por uma porta ao lado do pequeno palco.

Os bastidores estavam razoavelmente frescos, graças a um aparelho de ar condicionado e ao isolamento termoacústico. Naquele ambiente tão controlado e silencioso o poetinha pôde contemplar os que, com ele, lutariam pela glória das musas.

Era um grupo bastante heterogêneo, com tantas idades, sexos e cores quanto possível. Havia um velhinho de terno que declamava em cochichos, parecendo ensaiar-se, uma garota que não parecia ter mais de quinze anos, um senhor gorducho que usava uma estranha camisa azul estampada de flores psicodélicas, um rapaz que aparentava algum tipo de deficiência mental, uma senhora empertigada, que olhava a todos com um jeito de professora, um sujeito cabeludo, desarrumado e de olhos tristes… e a moça de vestido azul voltou, pedindo a atenção de todos antes que o poetinha tivesse conseguido fixar-se mentalmente em cada um.

— Senhoras, senhores. Venham comigo.

Acompanharam-na até a orquestra, onde foram convidados a sentar-se.

— Permanecerão aqui aguardando a vez. Cada um se levantará quando chamado e se dirigirá ao palco, juntamente com os seus parceiros. Durante as apresentações, pedimos que os que estiverem aguardando, e os que já tiverem se apresentado, permaneçam em silêncio.

O palco, enfeitado de flores de plástico e papel crepom, tinha uma larga mesa para abrigar sete jurados. “Para que tantos?” — pensou o poetinha. Sentou num lugar tão obscuro quanto possível. Deu uma olhada para trás, para ver Irene lá, sentada e acenando. Os demais foram se aboletando cada um a seu gosto.

Resolveu que não os olharia. Fixar-se neles o faria nervoso. Abriu o papel e recomeçou a repetir os versos, que ele mesmo escrevera, mas que pareciam fugidios como se tivessem sido extraídos de uma bíblia marciana.

Não há um número de 0900para encomendar o que lhe falta,mas mesmo então mantenha calmae não quebre ainda o telefonese a noite conseguir inquietar-lhe.Ele é só uma máquina sem culpa,que por dinheiro você pode usar.Não há nenhum comando própriopara desligar da alma essa dor,mas ainda assim mantenha a calmae não quebre o seu computador.Se você lhe perguntar aonde irele não terá resposta para dar:ele é só uma máquina estúpidaque não mente para lhe agradar.Desligue a tomada da paredee todo o perigo vai passar.Não há nenhuma lata que contenhasabores similares ao amor que houve,mas não deprede nunca o mercadose o que mais lhe falta em casanão pode ser comprado lá.Ali é só um refúgio de consumo,templo de quem come em vez de amar.Está tudo certo se você sair,desde que não saia sem pagar.Mas não creia no que dizem esses rótulos,esqueça tudo, tudo está errado:nem prateleiras nem teclados lhe respondemse você lhes perguntar pelo passado.

Tinha receio de ter sido uma má escolha. Cada vez que olhava para trás, nos olhos do público pingado que comparecera, tinha menos certeza de que seus versos inquietos causariam bom impacto. A glória que lhe sorria em sonhos parecia rir-lhe então, e ria dele.

Chamaram a senhora com cara de professora. Ela subiu ao palco desvencilhando-se de uma bolsa que não teve aonde pôr, senão sobre a mesa do júri — pretexto para cumprimentar cada um, vários deles aparentando ser colegas seus na profissão. Postou-se como uma cantora de ópera, abriu os braços como uma estranha ave depenada que ainda quer voar, e começou a declamar versos duros, cortados a martelo e talhadeira, no material eterno da pedra: versos de soneto, mais perfeitos em suas rimas do que claros no que diziam. Terminou deixando em todos a convicção de que sua obra não tinha sequer um hemistíquio deslocado ou um hiato, essa indecência, mas ninguém conseguiu saber exatamente do que falara seu poema.

O rapaz que aparentava deficiência mental foi o segundo. Subiu ao palco ajudado por um bando de crianças e duas professoras de música com violões. As professoras dedilhavam peças pseudoflamencas enquanto as crianças, pelo menos aparentemente, tentavam cantar a Bachina número cinco de Villa-Lobos. Passado um minuto disto, o rapaz deu um desnecessário boa noite e uma criança descalça entrou no palco para lere o poema dele, alguma coisa singela que falava sobre andar descalço na grama. A ideia era piegas ao extremo, os versos eram de uma banalidade total. A menina que lia parecia tropeçar na falta de pontuação. Mas no fim ouviu-se uma salva de palmas ensurdecedora. O poetinha olhou para trás e viu umas dezenas a mais de pessoas: certamente parentes, conhecidos, professores, vizinhos, colegas do moço. Todos gritavam “Jair! Jair! Jair” como se os pés das musas tivessem tocado aquele palco.

Em seguida subiu o velhino de terno, que desfiou, no melhor estilo pregador de praça, uma chorumela religiosa que parecia interminável. E de fato era: ele extrapolou os cinco minutos dados a cada concorrente e, mesmo avisado duas vezes, ainda continuava. Por fim, pegaram-no pelo braço e o ajudaram a descer até seu lugar. Mesmo assim ele ainda andava olhando para trás, em direção ao microfone como a mulher de Ló sentindo saudades de Sodoma, e ainda defenestrando versos que já ninguém ouvia.

Seguiu-se uma sucessão de apresentações mais comedidas, umas duas ou três, todas tão sonolentas que o poetinha cochilou mesmo. Acordou com as palmas dadas à menina de quinze anos, que se curvava diante da platéia, imensamente agradecida, exibindo a bunda para os jurados, por causa de sua saia muito curta. O poeta maconheiro, que ainda não se apresentara, cometeu um ato de terrorismo poético que foi o melhor momento da noite: gritou à garota que agradecesse também aos jurados.

Talvez por vingança, ou sei lá o que, chamaram-no a seguir. Ele subiu ao palco acompanhado de um violão e de uma moça tatuada que lhe levou uma vara de incenso. Deixou-a acesa no chão e dedilhou o instrumento. Começou a declamar, deixando espaços compridos entre os versos, durante os quais as notas percutidas em cada sílaba ficavam reverberando misticamente no ar. Era um poema sobre natureza, discos voadores, sonhos, anjos, coisas psicodélicas e também sobre cogumelos e flores.

Então chamaram o poetinha. Subiu ao palco, amarfanhado e já malcheiroso de suor. Enquanto passava pelos bastidores deram-lhe uma cópia nova do poema, talvez por misericórdia. Mas ainda no caminho até o palco percebeu que haviam “corrigido” algumas coisas com que não concordava, então resolveu ignorar e lere mesmo a sua cópia molhada de suor, escondendo-a atrás da folha nova e rija que lhe haviam entregado.

Fechou os olhos e se imaginou sozinho no próprio quarto. O silêncio geral o ajudou. Olhou para os papéis, que tinha à mão esquerda, ergueu-os no ar e soltou. De repente teve a confiança de que precisava. As duas folhas, nova e velha, caíram dançando pelo ar enquanto ele declamava os versos devagar, parando nas ênfases, exaltando as metáforas, até as que não pusera lá. Como sempre, lembrou-se de fazer duas correções em trechos que soavam mal. Quando terminou, suando sobre as luzes fortes que iluminavam o palco, abriu os braços e se curvou, em agradecimento prévio aos aplausos que não vieram. Veio um silêncio quente, denso, úmido.

Ergueu-se meio eletrificado, mas embebido de uma decepção tranquilamente grande. Uma lágrima brotou escondida num canto do rosto, disfarçou-a limpando a testa e se vingou da moça de verde dando-lhe a mão suada para sair do palco.

O último a subir foi o senhor gorducho de camisa estampada. Este apareceu no palco verdadeiramente transfigurado. Durante o breve trânsito pelos bastidores, desabotoara a camisa e deixara ver sob ela uma outra, de malha, com uma estampa berrante que os óculos embaçados do poetinha não lhe deixaram ver direito. Ouviu-se música: um samba tocado com cuidado no piano do teatro, e o gorducho sapateou no ritmo justo.

O samba foi ralentando, adquirindo um outro andamento, ficando esvaziado como uma chuva que vai emagrecendo no fim da tarde. O homem abriu o peito que soou cavo e potente como um canhão, sua voz rasgou o teatro, com pouca ajuda do fraco microfone. E foi declamando uma série de trovas simples, com rimas do segundo verso com o quarto. Não parecia haver muito nexo entre elas, mas a última foi “matadora”, ao conseguir uma “improvável” rima do nome da amada Ivete com a necessidade de, por causa da distância, namorá-la pela internet. Uma onda de gargalhadas atravessou o teatro, dezenas de vozes de pessoas que achavam surpreendente alguma rima que não fosse do tipo “amor e dor”.

Os jurados, então, deram por encerrada a fase de apresentações e convidaram os presentes, autores inclusos, para o coquetel que estava servido na sala contígua. Após o coquetel seria feita a premiação.

O poetinha foi o último a deixar seu lugar. Não tinha vontadede comer ovo de codorna com fios de ovos, nem salaminho ao limão, nem azeitonas pretas no vinagre. Não beberia nada além de água com gás, possivelmente aceitaria uma rodela de limão no fundo.

Não aconteceu nada de extraordinário no coquetel, além do desfile de frivolidades simples. Meia hora apenas e os salgados se acabando quando finalmente anunciou-se o fim das deliberações dos jurados, que aparentavam a gravidade de quem vai condenar alguém à forca.

— Para o terceiro lugar— anunciou o mestre de cerimônias — Fabiana Lima, com seu poema “Amor aos Pedaços”.

O poetinha achou graça de darem um prêmio à menina. Valera a pena mostrar a bunda aos jurados, afinal.

— Para o segundo lugar, Ana Vicentina Gonçalves, com o poema “Face ao Estige”.

A professora conseguira impressionar aos jurados, afinal, com seu meticuloso exercício de versificação. Devia alguma coisa de genial naquele poema, apesar de soar tão duro. Era uma professora, afinal, e os jurados eram professores. Alguém devia representar a classe naquele concurso.

— Antes de anunciarmos o poema vencedor, gostaríamos de entregar um prêmio realmente especial, pelo conjunto da obra.

O poetinha olhou em torno, tentando adivinhar quem mereceria uma honraria tal. Haveria inadvertidamente entre os pretendentes ao prêmio algum que fosse acadêmico, ou que tivesse já vários livros publicados? Não, não era isso:

— Ao poeta Jair de Sousa Lima, que é um exemplo para todos nós.

Era o rapaz que aparentava deficiência mental. Ele subiu ao palco sorrindo meio abobado, acompanhado de várias outras pessoas, certamente parentes e amigos. Deram-lhe um bonito troféu, maior que os outros dois que já haviam sido entregues.

O poetinha, ainda se sentindo perdido no assunto, resolveu pedir ajuda ao único entre os candidatos que lhe parecia acessível, o poeta maconheiro:

— Quem é esse cara do prêmio especial? Não vi nada de extraordinário na obra dele hoje — perguntou em um cochicho.

— Ora, é só um portador de necessidades especiais que inscreveu alguma coisa no concurso. Para não serem crueis com ele patrocinaram esse prêmio.

— Mas isso não faz sentido, que espécie de concurso é esse em que a gente concorre contra alunos da APAE?

— É um concurso como qualquer outro, ou você acha que é melhor do que o garoto? Você só não tem uma APAE para estudar e uma família para lhe pagar um troféu.

O poetinha quis revidar, mas subitamente deu-se conta de que era aquilo mesmo. Quanto poeta do mundo se empresta a glória da escola onde comprou seu diploma, ou é propelido pelo dinheiro da família até as salas dos melhores revisores, aos selos das melhores editoras e às listas dos mais vendidos? Mais honesto aquele rapaz, que não o fazia por querer, e aquela família que tinha plena consciência de que estava apenas comprando horas de felicidade para ele. Melhor isso que a ilusão de ser um novo gênio literário só porque nasceu no lugar certo e estudou com pessoas influentes. Ou talvez estivesse ressentido, e o ressentimento nos conta mentiras para justificar nossa insignificância.

Por fim o mestre de cerimônias pediu a palavra para o grande momento da noite.

— Senhoras e senhores, neste momento gostaria de pedir uma salva de palmas para o nosso vencedor, com sua obra inovadora e surpreendente, Antônio Gomes e suas “Trovas para Ivete”.

O poetinha quase engasgou com a própria língua. O poeta maconheiro apenas ria.

— Como é isso? “Inovadora”? O cara escreveu umas trovas em redondilha!

— Fica calmo, rapaz, tudo é parte do jogo.

— Como assim, “surpreendente”? A única coisa diferente em todo o poema era a palavra “internet” no final, rimando com o nome da suposta amada dele, que ele só batizou assim por causa da rima!

— Não seja despeitado, o poema dele pelo menos todo mundo entendeu.

O poetinha se levantou para aplaudir, junto com os outros, e os foi acompanhando para fora, mortificado de sair do concurso sem prêmio nenhum, apesar da “obra prima” que arrancara das entranhas de sua própria alma enquanto o sambista gorducho amealhava três mil reais graças a cinco trovas simples sobre amar de longe uma tal de Ivete. Sentia-se ultrajado, esbulhado, feito de palhaço. Apenas o poeta maconheiro o ajudava a ter perspectiva:

— Você esperava o que, rapaz? Um concurso de poesia no interior, com um juri formado pela pequena burguesia local? Queria que dessem o prêmio a um forasteiro como você? Queria que dessem o prêmio a um pobre como um de nós? Que premiassem um poema inconformista, como o seu, ou como o meu?

— Olha, o problema não é eu ter perdido. O problema é “ele” ter ganhado.

— Foda-se isso, você ainda não entendeu para que você e eu servimos aqui? Nós somos só a escada em que eles sobem para ganhar seus certificados inúteis. Estamos aqui para dar brilho à cerimônia deles.

Mesmo assim, eu tenho a certeza de que meu poema era bom. Como não ganhei nada?

O poeta maconheiro o levou à janela que dava para o riacho fétido, o canto onde ninguém queria ir, mostrou-lhe as luzes da cidade e disse:

— Veja só, rapaz, tudo isso é ilusão. Ilusão, ilusão, tudo é ilusão. Eles fazem cerimônias, trocam certificados e títulos, dão-se prêmios, batizam ruas com os nomes de seus parentes. Mas depois eles morrem e fica só a placa na esquina, sem que ninguém saiba quem foi. Tudo é poeira no vento. Esse concurso, esse prêmio, até o dinheiro que o cara ganhou. E não pense que lhe adiantaria alguma coisa se você ganhasse. Adiantaria menos do que adiantou para o gorducho: ele vai beber esse dinheiro em uísque e deixar o troféu num canto da área de serviço. Mas você, faria o que com o troféu, o certificado e o dinheiro? Três mil não consertam sua vida, o certificado não lhe abre nenhuma porta, o troféu é um monstrengo horrível. Fique feliz de ter perdido, e aprecie a companhia.

— Que companhia?

— Você perdeu em ótima companhia nesta noite. Você perdeu em companhia de Augusto Frederico Schmidt, entremeado com versos de Péricles Eugênio da Silva Ramos, Rui Ribeiro Couto, Raul de Leoni e Alphonsus de Guimaraens.

— Você está falando do seu poema?

— Sim, claro. Uma colagem de versos absolutamente lindos, de poemas obscuros de autores absolutamente incontestáveis. E eles nem perceberam e nem premiaram.

O poetinha sorriu:

— Acho que ano que vem tentarei participar com umas traduções de Evgeni Evtushenko que estou tentando a partir do francês.

— Esse é o espírito, cara. Se você não pode ser rei, seja um bom bobo da corte, que é o único com permissão para rir do rei.

O poeta maconheiro recebeu o abraço de sua mulher e convidou:

— Vamos afogar esse seu ressentimento em uma copada generosa de vinho com catuaba?

O poetinha lembrou-se de Irene, acenou-lhe, e, claro, disse que aceitava.


21
Ago 12
publicado por José Geraldo, às 22:22link do post | comentar | ver comentários (2)

Júlio era um “programa humano”. Esse era o nome pelo qual os líderes do Magistério Supremo os chamavam. Pessoas cujos cérebros haviam recebido, ao longo de uma vida inteira, informações subliminares destinadas a prepará-las para o momento em que o Grande Mestre resolvesse usá-las. Todos sabiam que os programas humanos eram amplamente conduzidos na Terra inteira e muitos os odiavam, mas vivia-se um tempo em que até odiar o Magistério já se tornara algo cuidadosamente controlado, pelo Magistério.

Sempre tivera a impressão de que o programa que recebia sem perceber toda  vez que ia à Escola, especialmente nas vezes em que estava só na Biblioteca, era de um tipo diferente, mais importante. Diziam que ele era apenas um convencido, mas ele nunca se importara: durante anos esperara pelo momento do Chamado, que nunca parecia vir. Até o dia em que o Mestre Local o chamou, instruiu-o a limpar os sapatos corretamente e vestir uma roupa mais casual, e então lhe destinou à mais difícil de todas as missões: Encontrar e Destruir o Último Reduto dos rebeldes.

Ninguém sabia onde ficava o Último Reduto. Esta era uma informação mantida em absoluto segredo pelo Magistério, supondo-se, é claro, que o próprio Magistério saberia. Mas o Magistério, logicamente, sabia tudo. Ou talvez não. Por um momento a certeza de Júlio quanto à Verdade dos Ensinamentos vacilou, mas ele se livrou de tais hesitações, argumentou contra sua falta de objetividade e começou a tentar lembrar os detalhes da missão, a fim de reencontrar sua identidade. Ao mesmo tempo, tentava detectar onde estava, saber se tinha chegado ou não ao seu destino.

Saíra da Terra em uma nave Columba-III, subluminal, como todas que ainda se construía. Alguns diziam que no passado houvera naves capazes de viajar acima da velocidade da luz, provavelmente uma lenda plantada pelos rebeldes. Ou talvez os humanos  estivessem perdendo seus antigos conhecimentos. Novamente Júlio sentiu o calafrio da dúvida. “Isto não é possível: sob a condução do Magistério o Conhecimento se multiplica.” Era uma frase feita, programada em sua mente desde a mais tenra infância. Uma frase que lhe dava conforto.

Ao despertar se sentira saindo de um sono de séculos, mas não se lembrava quanto tempo dormira. Na sua mente não havia noite anterior, nem planos para depois de acordar, o que era muito estranho, mas se lembrava que seu nome era Júlio e tinha uma missão: Encontrar e destruir.

Superou a força das lembranças e tentou acostumar-se com a luz abundante. Olhou em torno, mas da cama em que estava deitado não conseguia ver quase nada. Eram paredes verde-pálidas, inodoras. A janela, estranhamente pesada e tosca, não parecia de plástico nem de alumínio. Algum material estranho, meio esponjoso e não totalmente rígido. Estava fechada, bloqueando toda a luz, exceto por furinhos na parte superior, pelos quais se filtrava uma réstia azulada. O quarto era mobiliado apenas pela cama e por uma espécie de roupeiro feito do mesmo material da janela, diferentemente da cama, que parecia ser de aço, embora não muito puro.

Tentou erguer-se e descobriu que estava amarrado pelos tornozelos e suas mãos estavam presas à cabeceira e modo que não pudessem alcançar os pés. Esta descoberta o fez ficar sobressaltado.  Positivamente não o reconheciam como um Aluno. Conseguira reencontrar sua identidade. Isto lhe fez sentir-se melhor. Era um Aluno, mas havia sido tornado em Mensageiro. Mensageiro da Morte. Tinham-no enviado em animação suspensa dentro de uma nave automática do tipo Columba-III, para encontrar e destruir o Último Reduto dos Rebeldes.

Então perguntou-se onde estava: Tinha chegado ao Último Reduto? Tinha retornado à Terra? Ou estava delirando em seu profundo sono criogênico, talvez por indução de um processo de eutanásia desencadeado pelos sistemas automáticos da nave? Ainda precisava de mais informações para decidir no que crer. Então lembrou-se que não podia estar morto, não de acordo com as Lições. Se estivesse, deveria estar no Céu dos Heróis, sendo recebido por Deus.

Ouviu vozes aproximando-se. Como furtivo mensageiro, recolheu-se em uma posição relaxada e fingiu dormir.

Eram dois: um homem e uma mulher. Entraram no quarto. Com os olhos fechados, não conseguia vê-los, restava-lhe ouvi-los e sentir seus cheiros.

O homem tinha um cheiro estranho, ardido, lembrava alguma das fragrâncias padronizadas, mas não exatamente. A mulher era quase inodora, a não ser pelo distante e ácido perfume de alguma coisa que ele nem sabia o que era. Ambos falavam em voz baixa, pausada, mas ele não conseguia entender uma só palavra do que diziam. As palavras vinham ao seu ouvido como uma algaravia qualquer, mas as entonações não deixavam dúvida de que havia um diálogo racional e contido.

Sentiu a algo frio em sua axila direita: estavam-lhe tomando a temperatura. Outra mão o apalpou no abdômen. Entre risos, a voz masculina comentou alguma coisa talvez relacionada às microscópicas reações de seu corpo ao toque daquelas mãos estranhas.

Uma mão feminina o tocou na barriga. Reuniu todas as suas forças para tentar se segurar, fingir ainda que estava a dormir para tentar captar informações. A mão feminina, atrevidamente, deslizou para debaixo do lençol, em direção aos Lugares Interditos. Então foi impossível manter-se quieto. Fingiu acordar.

Estava diante de duas pessoas de aparência saudável, mas não muito natural. A mulher era loura e corpulenta, com seios avantajados. O homem era um tanto atarracado, grisalho e de poucos cabelos. Júlio nunca vira ninguém calvo. Devia estar em alguma região bastante remota, onde o Magistério é menos atuante e as pessoas chafurdam na ignorância.

Lembrou-se de estar em sua nave, em missão. Finalmente sua mente confusa completou o raciocínio suficiente para dar-se conta de que não se lembrava do dia anterior, nem dos anos anteriores, nem das décadas anteriores. Não havia o que lembrar. Passara décadas, talvez séculos, dentro de uma nave subluminal Columba-III, em busca de algum lugar perdido no cosmos onde estivesse o Último Reduto dos Rebeldes. Que deveria encontrar e destruir, de alguma forma que somente o programa posto dentro de si saberia lhe indicar.

Os visitantes o deixaram só. Por algumas horas permaneceu desastrosamente só naquele quarto isento de estímulos. A cabeça lhe doía, as pernas se revoltavam querendo levantar, as costas pareciam passadas em uma lixa. E do lado de fora, aqueles doces mas irritantes pequenos ruídos semi-musicais que iam e vinham, martelando seus ouvidos.

O que mais lhe deixava confuso era a profundidade da amnésia que lhe sobreviera durante a viagem. O destino para o qual sua nave fora programada  era distante para uma vida humana, mas os sistemas de suporte eram suficientes para mantê-lo vivo e saudável por mais que o dobro do tempo da viagem. E deveria acordar suavemente algumas semanas antes do pouso, estar pronto para descer desperto e cumprir sua missão. Mas não conseguia mais lembrar qual exatamente a sua missão. Sim, chegar até o Último Reduto. Mas e depois? O que um homem só poderia fazer para destruir um planeta?

Algumas horas depois recebeu outras visitas. Várias visitas. O homenzinho calvo trouxe cinco outros consigo, inclusive duas mulheres macérrimas e autoritárias, que, no entanto, o olhavam de longe, quase com medo. Por quase vinte minutos conversaram entre si naquela língua diabólica, ao mesmo tempo tão foneticamente próxima, tão musical, mas tão diferente de tudo que ouvira. Algumas vezes as frases pareciam encadear-se, quase fazendo sentido, mas depois degringolavam em longos pântanos inflados de consoantes.

Tinha a certeza de que seu destino poderia ser decidido por aquelas pessoas. A percepção de que o assunto era sério lhe dava um desconforto profundo. Uma vontade de pegar sua arma portátil e acioná-la. Mesmo tendo sido desenvolvida apenas como um  método de suicídio ritualístico, ela poderia causar um bom estrago naquela gente, se disparada a uma curta distância. Mas não seria com um tiro de pistola que destruiria o Último Reduto, por isso se conteve.

Por fim, um dos visitantes determinou alguma coisa que os demais concordaram como apropriada. A consequência disso, minutos depois, foi removerem as amarras que o mantinham preso à cama. Ao se mexer, então, descobriu que estava vestido apenas com uma espécie de roupão de tecido fino, mas engomado a ponto de ficar duro. Seu primeiro impulso foi o de atacar aqueles homens e desfigurá-los a unha se fosse preciso. Mas sua racionalidade, mesmo sob o efeito de anos de condicionamento, lhe dizia que demonstrar imediata hostilidade seria inapropriado, pelo menos enquanto não soubesse onde estava ou, mais importante, onde estava a bomba. Se é que havia uma bomba capaz de matar um planeta.

Levantou-se e começou a tentar caminhar pelo quarto. Haviam sido tantos os anos, ou séculos, que seus músculos estavam presos, tentavam desobedecer à sua ordem de levar o corpo a algum lugar. Algo dizia que demoraria ainda muito tempo a conseguir sair daquele quarto. Algo lhe disse que tentar atacar aquelas pessoas teria sido inútil e teriam interpretado sua hostilidade como um simples esforço de convalescente para erguer-se da cama.

Mas conseguiu caminhar depois de alguns momentos penosos, momentos durante os quais se sentiu como Bambi aprendendo a andar. A lembrança do filme que vira tantas vezes lhe deu mais determinação. Por fim, certificando-se de que não estava demasiadamente nu, resolveu sair pela porta, ver o que havia lá fora.

Durante todo este tempo os seis visitantes apenas observaram. Com curiosidade, como se ele fosse apenas um animal inofensivo. Será que não imaginavam que ele era o Mensageiro da Morte enviado pelo Supremo Magistério?

Abriu a porta e tentou caminhar pelo corredor. Era longo, pavimentado de ladrilhos cinzentos e gastos. Estava vazio e conduzia a um pátio iluminado pela mesma luz azul que filtrava pelos furos na janela do quarto. Seguiu apoiando-se na parede onde fosse necessário. Os seis o seguiam. Ao chegar ao pátio percebeu que era um estranho hospital o lugar onde estava: além de praticamente vazio, terminava em um jardim quase irreal.

O jardim era coberto por uma vegetação uniforme, verde-azulada. A intervalos regulares havia bancos pintados de branco-azulado nos quais os pacientes tomavam sol. O sol!

Ao vê-lo, pôde ter a certeza de que não estava na Terra. Não poderia estar, de forma alguma. No céu havia um grande sol vermelho, de brilho fraco e tamanho angular maior que o da Lua. A pino estava outro, este fortíssimo, azulado. Um sistema duplo? Ou apenas uma estrela vermelha localizada nas proximidades de uma gigante azul? Rígel! Era essa a lendária destinação dos Últimos Rebeldes. Aquele planeta era o Último Reduto! Havia chegado ao destino!

Não conseguiu segurar a felicidade. Ajoelhou-se naquele estranho gramado macio e gritou a plenos pulmões: «O Mensageiro Chegou para os Últimos Hereges!» Mas ao se levantar sentiu a boca amarga e a alma vazia, como um papel de bala que alguém descartou. Não conseguia entender o que devia fazer.

Uma mulher, de aspecto envelhecido, mas ainda bonita, voltou-se em sua direção. Estava, como várias outras pessoas, sentada num dos banquinhos azulados. Ela o olhou fixamente, por um momento, depois soltou uma gargalhada. Que irreverência! Uma rebelde insolente zombando de um Mensageiro da Morte! Júlio anotou mentalmente que a estrangularia com suas próprias mãos, tão logo tivesse novamente força nas mãos, antes de detonar o explosivo e acabar com aquele patético planeta.

Mas a mulher não se impressionou. Levantou-se de onde estava e veio em sua direção. A dois passos dele ela se deteve e fez o sinal secreto! Ela era uma irmã! Uma Mensageira também!

— Há quanto tempo está aqui, irmã?

Entre os iniciados não há necessidade alguma de formalidades. Mas ela não reagiu da mesma forma que esperara:

— Creio que uns dois anos, irmão, mas não deveríamos nos saudar antes?

Júlio se sentiu confuso. «Saudar» não era algo lhe fora ensinado como importante. A menos que ela fosse uma Mestra, mas ela só poderia ser, naquele tempo e lugar, uma Mensageira, como ele.

Deu-se conta, então, do estranho sotaque daquela mulher. Parecia pertencer a uma outra época, décadas ou séculos antes.

— Está aqui há tanto tempo e ainda não destruíste o Último Reduto?

— Não. Por que eu o destruiria?

— Esta é nossa missão. Para isso fomos enviados.

Ela gargalhou de novo, mas desta vez Júlio percebeu que era uma risada tão amarga quanto a bílis que lhe chegava à boca e o fazia querer vomitar.  Um brilho rutilante apareceu em seus olhos. Então ela se aproximou dele, de uma forma que os Mensageiros são ensinados a não fazer, pôs-lhe a mão no ombro e aproximou seu rosto. De alguma forma esse gesto não lhe causou a repulsa que deveria. Então ela sussurrou:

— Estou aqui há tanto tempo que nem me lembro mais.

Um Mensageiro não deve ter sentimentos de compaixão ou pena. Mas Júlio teve, mais por pressentimento, mais por senso de pura profecia, do que por realmente ter alguma empatia com a pobre.

Depois de tentar infrutiferamente comunicar-se com alguns dos outros que vagavam pelo jardim, retornou ao banco onde encontrara a mensageira. Ela ainda estava lá, os olhos protegidos do brilho selvagem da estrela miravam uma planta que parecia crescer a olhos vistos, ou apenas se agitava ao vento. Vento, a primeira vez em anos. Quando ventara pela última vez em sua vida? Todas as coisas boas da vida acontecem quando está ventando, lhe dissera uma tia, quando ainda era menino, quando nem fora selecionado. Duvidara dela: não ventara no dia em que seguira para a Escola.

— Irmã, que lugar é esse onde estamos? O que vamos fazer?

— Irmão — ela disse — tente se acostumar com a ideia de que está morto.

— Eu não estou morto!

— De uma certa forma sim. Eu e você estamos, somos Mensageiros da Morte.

— Sim, o Mensageiro morre para o mundo e nasce para Deus no exato instante em que se dedica.

— Não, irmão. Somos Mensageiros da Morte não mais porque a trazemos, mas porque viemos do Reino da Morte.

Não compreendo, irmã. Isto é uma heresia.

Ela lhe apontou para cima:

— Este não é o sol, e esta noite não terá as estrelas que você conhece.

— Sei disso, irmã, esta é Rígel, a gigante azul.

— Não, irmão, não é. É uma estrela azul, jovem e forte, mas não aquela que nos disseram. Esta é a estrela que iluminará o futuro da humanidade.

Seria possível? Algo dentro de si ainda se recusava a crer.

— Continuo não entendendo, irmã.

— A Terra, querido irmão, a Terra já não existe mais. A única humanidade que resta é a que a Terra rejeitou, a que colonizou as estrelas. E cá estamos, relíquias de um planeta morto, mortos andando entre os vivos, portando lembranças de um mundo que eles não conheceram. Irmão, eles nem sequer sabem que nós os odiamos.

— Isto é ótimo. Significa que não suspeitam de nada. Vamos agir.

Júlio havia sido programado muito bem, mas suas tentativas de dar prosseguimento ao programa eram apenas um disfarce para a confusão e o pavor que começavam a ser formar em sua mente. Talvez a distância do Magistério, o tempo passado no bojo de uma nave-baleia, como um Jonas tecnológico, não por dias, mas por séculos ou milênios, ou talvez as drogas desconhecidas que os médicos daquele lugar que lha haviam dado. Alguma destas coisas estava minando a frieza que lhe fora ensinada: começou a tomar consciência de coisas que sempre soubera, mas que nunca realmente assimilara. Sua viagem era sem volta, seu destino era a morte. Matar e morrer, ou apenas morrer. Aqueles que o enviavam sequer teriam o prazer de ver destruída a civilização herege. Seu projeto não tinha nenhuma dedicação real, era apenas um ritual vazio. Viera destruir um planeta, munido de uma pistola. Nunca lhe disseram nada sobre viver depois, sobre encontrar alguém ou tentar aprender uma língua nova. Não tinha consigo sua arma nem os seus implantes de lavagem cerebral. Sentia-se desprotegido e alienado, obrigado a pensar por si. E com que dureza pensava, ajudado por implantes biônicos que o faziam ter mais memória, pensar mais rápido, entrar em loops confusos de processamento os quais somente chutes irracionais solucionavam.

— O que você está fazendo aqui?

— Tentando aprender a língua deles, para convencer-lhes de que não sou louca.

— O que fizeram com a bomba?

— Venha comigo, vou lhe mostrar.

O hospital tinha apenas uma cerquinha baixa, do mesmo material das janelas. Nada impedia que se entrasse ou saísse, como se naquele mundo entrar e sair fossem coisas somente feitas quando e onde permitido. Mas a Mensageira não o levou para fora, mas para um canto do pátio onde havia um depósito de pedaços retorcidos de metal. Entre eles alguns cascos de bombas.

— Desde que aprendi a falar um pouco a língua deles, irmão, eu consegui entender alguma coisa.

— Se já sabe falar a língua deles...

— Falta-me convencer-lhes de que não sou louca.

— Quer ouvir o que descobri?

Júlio não queria. Queria matar alguém, queria destruir um planeta. Queria cumprir a missão de sua vida. Queria chorar porque de repente se dava conta de que não tinha sua vida, não tivera. Mas uma avassaladora impotência o dominava, talvez efeito daquele maligno sol azul. De repente não ouvia mais nem a irmã, nem a grama crescendo, nem as pessoas passando, nem o próprio coração batendo. Um escuro o cercou e o deitou no chão. No conforto calmo do chão. Mas não era o chão seguro da velha Terra, mas pedra dura de um chão alienígena, onde nem podia morrer em paz.

***

De trás das grossas janelas de vidro da sala de gerência o Doutor Pankoff observa o novo paciente interagindo com os demais. Seus colegas o observam, com um ar de seriedade científica mesclado a uma forma adulterada de compaixão.

— Quantos esse mês, doutor?

— Este foi só o segundo. Mas no mês passado tivemos nove.

— Não é curioso que tantos tenham aparecido em tão pouco tempo?

— Se os cálculos de nossos Antepassados estiverem certos… — os demais o encararam com reprovação pela ousadia, mas ele continuou — é de se esperar que esta onda Mensageiros da Morte recrudesça dentro de alguns anos.

— Eu nunca entendi este cálculo.

—  Nem eu. Por isso o benefício da dúvida. Afinal, não sou astrofísico. O que sei é que esses centenas de Mensageiros da Morte estão começando a se tornar um problema social. No começo eles chegavam tão raramente que quando aparecia outro o primeiro já estava morto ou muito velho; eles envelhecem cedo, como vocês sabem. Agora nós temos duzentos e quarenta pobres diabos mentalmente imaturos e confusos que se acham Destruidores de Planetas andando pelo jardim usando pantufas de lã e jalecos de algodão. Nenhum deles utilizável em qualquer atividade econômica, mas ninguém sonharia em simplesmente matá-los.

— Não é isso que nós fazemos. De forma nenhuma o fazemos. São seres humanos, primitivos, mas humanos.

— Mais do que isso: eles são um reservatório genético importante, de uma época em que nosso genoma ainda não havia sofrido influência da química deste planeta e dos raios de Rígel. Logo estaremos migrando para um lugar mais seguro, porque esta menina aí — ele indicou a estrela com o queixo — deverá esterilizar uma ampla região do espaço dentro de uns poucos milhões de anos.

— Mas para esta finalidade que o senhor está pensando, Doutor Pankoff, as amostras de sangue e cabelos coletadas já resolvem o problema… — atalhou uma Doutora Lamar de nariz adunco e expressão de quem seguramente jamais tivera um orgasmo na vida.

— Não exatamente da melhor maneira – insinuou Pankoff.

O Doutor Jones observou que, de fato, o genoma sintetizado perdia parte de suas características. Suas melhores características — observou Pankoff. Os outros fizem um constrangido silêncio, entre a reprovação e a incredulidade.

Quando todos saíram, após o esfriamento do assunto, o calvo médico se sentou em sua poltrona giratória à beira da janela e contemplou os pacientes, segurando entre os dedos, escondidos dentro do profundo bolso do jaleco, uma estranha medalha de resina que atravessara anos luz de espaço.

No jardim a conversa da Irmã com o recém chegado terminava. Ela vinha para a ala central sozinha, enquanto o apatetado novato caminhava sem rumo pelo gramado. Pankoff retirou do bolso a medalhe e contemplou nela a empalidecida imagem tridimensional de Alice. Pobre Alice. É lamentável que os padrões genéticos dos terráqueos lhes permitam viver tão pouco…


04
Jul 12
publicado por José Geraldo, às 08:40link do post | comentar
A tristeza deste século que chegaserá de não haver mais horas mortase nem fantasmas nelas.Um mundo iluminado, limpo e organizado,sem espaço para transgressões.A melancolia será subterrânea e todos acuados,teremos de ter e de ostentar.Os seres tristes sorrirão tambéme se atracarão às lumináriasem busca de pé no remoinho.A agonia que haverá na nova eraserá o som do mundo ininterruptoacima da perspectiva do infinito,mais forte que o pulsar dos corações.Um mundo preenchido, pleno e certificadoonde a insatisfação será um problema secundáriodiante da impossibilidade evidentede ouvirem nossos gritos.Os seres tristes somente poderãosoltar-se numa alegria fingida e sem sentidoe dançar para não mostrarem o que são.A repressão que espera na esquina será a ausência de ouvidos.Será estar na praça do infinitolendo um romance de cavalaria.O mundo ritmado funcionará aindae todos seguirão o enterro de seus dias,como relógios, inconscientes das horas.A solidão nos Belos Tempos será somentedelinear um pensamento e descobrir depoisque a solidez de um momento é ilusão.Como a bolha de sabão que sobepara estourar contra a vidraça sem voar.Nós passamos e não deixamos traço,e não voamos, a não ser cá dentro.E parece haver além beleza e umidade,mas o breve instante que pensamosnão é bastante que o vento nos carregue:o homem é uma bolha de sabão que sonhae não há janela aberta e nem vento.

17
Jun 12
publicado por José Geraldo, às 13:18link do post | comentar | ver comentários (2)

Vão me xingar dos nomes mais diversos, mas hoje tive de admitir: sou do tempo em que os divertimentos inocentes eram bem mais inocentes e as coisas simples eram bem mais fáceis de conseguir. Enquanto estou aqui tentando esquecer uma crise de fígado vendo bobagens na internet, eis que ouço a patroa e as crianças na sala, vendo televisão. O simples fato de haver uma televisão ligada no domingo à tarde já significa que existe uma neblina de estupidez no ar, mas a gente não liga televisão para aprender, mas para distrair. O caso é que a atração que estava passando me fez pensar que, talvez, a entrevista forjada do Gugu com líderes do PCC não foi o momento mais escroto da história da televisão brasileira — e já vou explicar por que.

A «atração» (entre aspas porque deveria causar repulsão) é um quadro do programa da Anna Hickman que se chama «Interrogatório» e consiste em fazer convidados pseudofamosos adivinharem, através de tentativa e erro, com dicas dadas a cada erro, uma cena de crime. Funciona assim: alguém da plateia escolhe um dos convidados do dia, e diz que ele matou alguém famoso usando algum método inusitado. Os convidados, claro, estão isolados acusticamente do auditório. Durante vários minutos a seguir a apresentadora indagou umas doze vezes a cada um deles «quem você matou», «por que você matou» e «como você matou». A atração foi divertida, ao que parece, pois a plateia deu gargalhadas com a dificuldade de Sidney Magal para adivinhar que teria matado Neymar na praia com uma linguiça.

Ora, dirão, os descolados, por que você está escandalizado com isso? É apenas uma diversão inocente. Achar graça da ideia de matar alguém é apenas uma coisa divertida para se pensar num domingo à tarde. Errado estou eu, de achar isto deprimente. Mas eu não achei graça nenhuma, tanto quanto Neymar não deve ter achado. Mas errado estou eu.


09
Jun 12
publicado por José Geraldo, às 22:43link do post | comentar | ver comentários (1)

Discordo de Cazuza. A sinceridade não é tão importante assim, se o conteúdo for, no fim das contas, desagradável. Queremos a verdade, isso é o mínimo que nós queremos. Mas uma verdade que não doa muito. Pelo menos é o que eu quero. Não posso falar por você que me lê, claro, mas creio ter uma compreensão universal entre os não masoquistas. Quando temos a verdade, a sinceridade é que não importa: muitas vezes descobrimos o que é real enxergando nas entrelinhas do que foi escrito, atentando para gestos ou trejeitos enquanto o interlocutor nos fala. Então se quiser mentir, que minta, se tivermos a capacidade de entender. Nestes casos, uma mentira pode revelar uma forma de atenção, uma espécie de carinho verbal. E há momentos em que, sinceramente, queremos um corpo, com amor ou não.


07
Jan 12
publicado por José Geraldo, às 00:11link do post | comentar

Esta foi uma pergunta que me fiz durante um bom tempo. Esta postagem pretende esclarecer a resposta, com números frios e inquestionáveis. Mas antes de passar aos números gostaria de, primeiro, colocar na mesa as cartas que vou jogar, para que fique clara a linha de raciocínio que pretendo seguir.

Tipos de recompensa que o blogueiro pode esperar

Entendo que há três tipos de recompensa a que pode aspirar quem publica conteúdo na internet, a saber: notoriedade, remuneração e autossatisfação. Acredito que os termos são de uso corrente e é quase desnecessário defini-los para o público em geral. Mesmo assim, para que não reste sombra de dúvida de meu caminho, vou defini-los segundo o meu entendimento.

O blogueiro busca notoriedade quando pretende que o conteúdo de seu blogue repercuta e lhe franqueie acesso a editoras, imprensa ou algo assim. Quer remuneração quando pretende ganhar os caraminguás do AdSense ou fazer contratos de publicidade. Estas são as duas principais formas de recompensa a que um blogueiro aspira. Ambas estão interligadas, unha e carne entre si, embora não de forma automática. Quem atinge notoriedade costuma obter remuneração. Não necessariamente ocorre o mesmo na situação inversa: blogue pode render dinheiro e ser irrelevante. Não necessariamente ocorre uma coisa como consequência da outra: blogues relevantes podem não render dinheiro, ou render menos do que o blogueiro espera. A relação que ocorre é que dificilmente se ganha dinheiro com um blogue irrelevante, desconhecido.

Sobre a terceira forma de recompensa eu não vou falar porque ela já está superada para mim. Já não faço coisa alguma pensando em apenas «mostrar para os amigos» ou obter algum tipo de prazer narcisístico em «estar na web». Desta forma, deixo claro aqui que minha análise sobre «valer a pena» se refere exclusivamente aos dois primeiros aspectos.

Os blogues não são todos iguais, nem os blogueiros

Não pretendo me comparar livremente com qualquer outro cidadão da blogosfera. Tenho consciência de minhas limitações, inclusive geográficas. Não espero ter o mesmo tipo de repercussão que um blogueiro da moda que frequenta as festas das capitais, tem amizades em jornais e está perfeitamente antenado com o momento. Especialmente tenho consciência de que blogues de literatura não são como blogues de humor, de informática ou mesmo de contos eróticos. A literatura atinge um público menor e específico. Obviamente não criei meu blogue esperando ter vinte mil visitas diárias e ganhar três mil reais por mês só com AdSense. Suponho até que casos assim — no Brasil — são invenção de blogueiro boquirroto que gosta de gabar-se.

Existe um segundo aspecto de diferença envolvido: o já citado elemento geográfico. Uma vez que a maior parte do público da internet se localiza nas grandes cidades, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo, parece-me natural que blogueiros ali também localizados tenham mais facilidade de acesso ao público, por falarem de assuntos que dizem respeito a esse público. Reza a lenda, porém, que a internet tem o poder de derrubar estas barreiras culturais e apresentar o nosso trabalho ao mundo, e que blogues são úteis para isso. Meu blogue foi, de certa forma, um experimento nesse sentido.

O que eu realmente esperava obter

Sendo verdade a ideia de que a internet remove barreiras culturais e franqueia acesso ao mundo para quem está isolado no interior — e eu acredito que isto seja verdade — meu objetivo era avaliar em que medida este efeito se sente, e se vale a pena confiar nele para, através de um blogue, romper a casca de indiferença com que a capital olha para o interior. Então, de forma simplista, poderia dizer que meu objetivo era, com o blog, obter um público, pequeno que fosse.

Delimitação do experimento

O blogue «Letras Elétricas» foi criado em 19 de agosto de 2010 a partir de um blogue anterior, chamado «Maldição Eletrônica», no qual eu escrevia sobre a utilização de ferramentas específicas de linha de comando, como o LaTeX, para produzir lay-outs profissionais de livros e revistas. Com o tempo foi rareando meu interesse no tema e, com os problemas que meu antigo site estava tendo desde que o serviço de hospedagem fizera upgrade de seus servidores, acabei começando a postar textos literários nele. Então, no dia 19 de agosto de 2010, mudei o nome e a URL do blogue, acrescentando-lhe também contador de visitas (oculto) e AdSense.

Os dados utilizados para as estatísticas que vou analisar foram coletados entre 01 de setembro de 2010 e 31 de dezembro de 2011, um total de 487 dias. Optei por não considerar os dados referentes ao mês de agosto de 2010. Não apenas por ser um mês incompleto, mas também porque acredito que não havia, ainda, tendências estabelecidas que valesse a pena analisar.

Resultados

Ao final do artigo há um gráfico contendo uma visualização dos dados que passarei a analisar. Você pode consultá-lo para compreender melhor as tendências que detectei. Eis uma tabulação dos dados coletados junto ao Analytics:

scoped>.bld, .mrg, .top, .bdy, .btm {font-family: inherit; font-size: 75%}.bld, .mrg, .top {text-align: center; color: white; background: #250302;}.bld, .mrg {border-top: 2px solid#250302; font-weight: bold; vertical-align: top}.mrg {border-bottom: 1px solid #250302;}.bld {border-bottom: none}.top {border-bottom: 1px solid #250302; vertical-align: bottom}.bdy {background: #cbb; color: black}.btm {border-top: 1px solid #250302; border-bottom: 2px solid #250302; background: white; color: black; vertical-align: bottom}.ctr {text-align: center}.rgt {text-align: right}.brd {border-right: 1px solid#250302; }

mais sobre mim
Março 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


comentários novos
Ótima informação, recentemente usei uma charge e p...
Muito bom o seu texto mostra direção e orientaçaoh...
Fechei para textos de ficção. Não vou mais blogar ...
Eu tenho acompanhado esses casos, não só contra vo...
Lamento muito que isso tenha ocorrido. Como sabe a...
Este saite está bem melhor.
Já ia esquecendo de comentar: sou novo por aqui e ...
Essa modificação do modo de ensino da língua portu...
Chico e Caetano, respectivamente, com os "eco...
Vai sair em inglês no CBSS esta sexta-feira... :)R...
Posts mais comentados
pesquisar neste blog
 
arquivos
blogs SAPO