Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
25
Fev 13
publicado por José Geraldo, às 23:10link do post | comentar

O amigo leitor que se pergunta o porquê dessa postagem saiba que se trata de uma descoberta notável, que me salvou do ostracismo um dos melhores contos (quase uma noveleta) que eu jamais escrevi. Terminada a história, maravilhosamente ambientada nos «sertões do leste» de Minas Gerais, em um momento indefinido do Segundo Império (vários elementos na história indicam que se trata de um contexto pós-regencial), eis que me dei conta de um imperdoável e imenso anacronismo: o desfecho da história só fazia sentido mediante a atuação de uma força policial reconhecível como tal, do uniforme ao cavalo branco. Só que várias fontes consultadas me disseram que não havia tal força de segurança disponível naquela época e lugar. Fiquei muito chateado com essa descoberta, pus de lado a versão inicial da história, sem sequer fazer a revisão gramatical, e fui seguir com a vida. Hoje, porém, durante uma lida casual na Wikipédia, seguida de uma consulta ao Pai Google da Califórnia (que traz a informação desejada em 0,03 segundos), descobri que de fato havia.

A sensação que tive foi a melhor possível. Foi como descobrir que um velho amigo morto está de fato vivo. Agora posso concluir a história tendo a certeza de que o conto não ficará anacrônico. Ainda bem que não segui as dicas de um famoso blogueiro, que me sugeriu transformar a ação policial em algum tipo de evento sobrenatural (sei lá, com anjos ou demônios solucionando o conflito) ou realocar a história para o século XX. No primeiro caso eu teria criado um brutal deus ex machina (um dos cinco maiores defeitos que, em minha opinião, podem vitimar uma boa história) e no segundo caso teria que reescrever praticamente tudo — e muita coisa não faria sentido em outro momento de nossa história.

Conforme minhas fontes, citadas abaixo, havia uma polícia permanente na província de Minas Gerais, à parte as guardas municipais (subservientes aos políticos locais e, portanto, inúteis para os fins da história) e a Guarda Nacional (basicamente desmobilizada e inepta), apenas era uma força pouco numerosa e de ação limitada à capital e seus arredores (Batitucci, 2010). Tal força, porém, cujo efetivo sempre ficou em torno de 400 a 600 homens (entre praças e oficiais), serve perfeitamente para os fins da história que eu contei. Principalmente porque, em casos de necessidade, poderia incorporar oficiais do exército (Uruguai, 1865) e alistar voluntários temporários, os chamados «pedestres».

Embora tal força nunca tenha estado estacionada em qualquer parte de Minas Gerais a mais de vinte ou trinta quilômetros do Palácio Provincial, então localizado em Ouro Preto, não é descabido imaginar que ela pudesse ser destacada para missões excepcionais, sob o comando de um pequeno grupo de oficiais do exército de linha e aumentada, se necessário, por alguns voluntários — mas nunca por membros das guardas municipais de outros municípios, que por lei nunca podiam ser mandados em missão fora da localidade em que residiam (Vellasco, 2005). Apenas não houve, durante o Segundo Império, nenhum fato que justificasse tal medida excepcional. Ora, como a minha história é uma obra de ficção, eu tenho toda permissão para imaginar um tal evento.

Ademais, existe uma outra possibilidade: a do deslocamento de um corpo de Voluntários da Pátria, rumo ao porto do Rio de Janeiro e à Guerra do Paraguai. Tal corpo de voluntários, sob o comando de um oficial do exército, poderia ser tentado a interferir em um caso tão extraordinário quanto o que ocorre em minha história.

No primeiro caso a força policial seria enviada para resolver uma grave violação da paz civil. No segundo, policiais militares de passagem seriam envolvidos nos eventos. A segunda hipótese é historicamente muito mais verossímil do que a primeira, mas eu ainda estou considerando a possibilidade de mitificar um pouco a história mineira e imaginar uma força policial provincial combatendo o mal nos rincões do estado.

Nos próximos dias estarei revisando o conto, para publicação aqui no blogue. Se você tiver alguma sugestão a fazer sobre qual opção seria melhor, ou se tiver mais dados sobre a história da segurança pública em Minas Gerais, por favor deixe um comentário.

Para terminar brindo meus leitores com um parágrafo da obra do Visconde do Uruguai, exibindo a ortographia etymologica e também uma série de características coloquiais do português brasileiro, hoje proibidas pela gramática (e tem gente que nega que os nossos gramáticos sejam reacionários).

Posto que o acto addicional não se referisse a um typo determinado, nem declarasse o que se devia entender por força policial, comtudo pela significação da palavra, e idéa do tempo, parece que os seus autores tinhão em mente, uma força cidadôa e paisana do que militar propriamente e por isso mais propria para a policia, como é a força policial Ingleza e Franceza que não é militar, e formada e estabelecida em cada Municipio, para auxiliar suas autoridades policiaes.

Em lugar dessa força civil, quasi paisana, tem muitas Assembléas provinciaes criado exercitozinhos, e Corpos policiaes nas Capitaes das provincias, apparatosos, com Estados maiores, musicas, reformas, e muito dispendiosos apezar de serem os Soldados mesquinhamente pagos.

Grande parte da força desses Corpos é conservada nas Capitaes, ás vezes para apparato e falta em muitos Municipios a indispensavel para a guarda das cadêas, prisão de criminosos, serviço que vem a recahir sobre a Guarda Nacional.

A força publica destinada a defender o Imperio de seus inimigos, a manter a segurança e ordem publica, a fazer executar as leis e as ordens das autoridades compõe-se entre nós:

  • Do Exercito ou tropa de linha
  • Dos Corpos policiaes da Côrte e provincias
  • Da Guarda nacional
  • De Corpos de Pedestres em alguns lugares

A tropa de linha é evidentemente impropria para a policia das localidades, e para a execução das ordens das autoridades civis no descobrimento, perseguição e prisão de criminosos. Demais todas as vezes que é muito fraccionada, perde a instrução, a disciplina e desmoralisa-se.

Pela sua composição, principalmente quando são recrutados, dá-se o mesmo inconveniente nos Corpos policiaes, que são hoje uma especie de tropa de linha.

Salvo raras excepções, por motivos cuja exposição seria mui longa, pouco serve a força de linha entre nós para manter a policia nas localidades e executar ordens das autoridades. A força policial pelo modo por que está composta e organisada é insufficiente.

Em muitos lugares a maior parte do serviço policial vem a recahir sobre a Guarda nacional, isto é, sobre aquella parte da Guarda nacional que pela sua pobreza e posição não encontra meios de esquivar-se a um serviço desigual, irregular e frequentemente arbitrario, muitas vezes extremamente vexatorio, e por isso feito de má vontade e mal.

É demais o serviço policial um terrivel instrumento eleitoral para constranger a população desvalida a votar no sentido que convém aos prepotentes do lugar, que ordinariamente são os chefes da Guarda nacional.

Não tive tempo para fazer o cálculo exacto, mas creio que se juntarmos á despeza annual  que se faz com o Exercito, aquella que exigem o Corpo policial da Côrte e o das provincias, a Guarda nacional, etc. veremos subir a somma a a mais de 46 ou 47 mil contos. Veremos mais apparato que serviços reaes. É enorme a despeza e o vexame, e não temos nem Exercito, nem Guarda nacional e nem Policia que mereção esse nome. Temos apparato. Quanto á mim a organisação da força policial nas provincias é viciosa. Em lugar de centralisal-a toda nas Capitaes, conviria localisal-a.

Como se depreende dos parágrafos acima, muita coisa pode ter mudado nesse país, porém não a atração de nossos governantes pelo «apparato» em vez dos «serviços reaes». Tampouco mudou a estrutura das polícias estaduais, esses «exercitozinhos», como as chamou o Visconde do Uruguai. Moldadas a partir do Exército nacional, essas forças tinham mais papel cerimonial, para satisfazer o ego dos presidentes de províncias, do que efetivo. Podem ter ganhado mais poder com o tempo, mas continuam esse ser híbrido entre o exército e o serviço público de segurança. Militares a soldo do estado, mas teoricamente sob o comando do Exército nacional. Um verdadeiro monstro de Frankenstein.

O que o Visconde do Uruguai não diz, possivelmente porque não conseguiu ter esse discernimento, é que o estacionamento da forças policiais nas capitais, e a sua própria falta de efetivos, refletem os resultados da concentração de poder em torno dos «prepotentes dos lugares». Os coronéis da Guarda Nacional, chefes políticos e militares de seus municípios, não desejam uma força policial que não esteja sob seu comando e, por isso, repelem as iniciativas de policiamento mesmo quando necessárias. Em 1847 a província de Minas Gerais tentou estacionar trinta praças no vale do Rio Mucuri, para garantir a segurança das embarcações que utilizavam esta importante hidrovia, por causa da ocorrência de roubos numerosos na região. Os coronéis locais, incomodados com a ingerência provincial, denunciaram a iniciativa ao Conselho de Estado do Império, que eventualmente a julgou inconstitucional (Uruguai, 1865:175).

Nesse ponto o leitor deve estar a se perguntar: como tal força poderia ser decisiva nos graves eventos que meu conto narra se ela não era tolerada pelos coronéis nem para prender piratas fluviais no vale do Rio Mucuri? A resposta é simples: ela seria tolerada se os próprios coronéis a pedissem. Esse é o contexto de minha história: um grupo de coronéis, incomodado com os eventos que formam o pano de fundo do conto, solicita ao presidente da província um destacamento de praças profissionais, para auxiliar seus próprios voluntários civis na tarefa de exterminar o mal. E pronto, eis que temos um belo oficial em seu cavalo branco, portando um uniforme com quepe e dragonas.

A única coisa que me falta é descobrir como seria o uniforme de tais soldados. O conto sai quando eu deslindar isso. Por enquanto, por tudo que li, imagino esses homens vestindo dólmãs azuis com golas pretas e punhos da mesma cor, dragonas douradas nos ombros, calças azuis de brim com risca preta acompanhando o lado externo, botas de cano alto, cintura envolvida por uma faixa verde e amarela e vermelha (cores do brasão imperial). Os soldados usam quepes simples, de bico reto. Os oficiais usam quepes altos com penachos. Quepes sempre azuis, com detalhes em preto ou dourado. O comandante, e talvez algum capitão ou tenente, usa uma faixa diagonal sobre o peito, portanto insígnias de comando. O armamento seriam espingardas para os praças, fuzis para os oficiais. Todos teriam garruchas (pistolas antiquadas). Os praças teriam punhais de lâmina comprida (dois palmos ou mais) e os oficiais teriam espadas cerimoniais. Os voluntários da Guarda nacional seriam sem uniforme e seus oficiais também usariam azul, só que seus uniformes seriam mais elaborados: casacos azuis (não dólmãs) e calças brancas. Polainas em vez de botas. Quepes e dragonas mais elaborados. Imagino interessantíssimas interações entre essas duas forças tão antagônicas e de forças políticas tão díspares. Quem comandaria. Obviamente teria de ser um oficial do Exército, ou os oficiais da Guarda nacional não obedeceriam. Mas este oficial estaria a soldo da província (ganhando menos) e usando um uniforme menos vistoso e de menor prestígio. Acho que isso não vai acabar bem…

Referências

BATITUCCI, Eduardo Cerqueira. “A evolução institucional da Polícia no século XIX: Inglaterra, Estados Unidos e Brasil em perspectiva comparada”. Revista Brasileira de Segurança Pública. Ano 4, número 7, Ago/Set 2010.

LINO, Cássia Renata Scherer. “O Império das Polícias: Federalismo e Estado Unitário no Império do Brasil – 1831-1850. S.l., S.d.

SOUZA, Paulino José Soares de (Visconde do Uruguai). Estudos Práticos Sobre a Administração das Províncias no Brasil, Primeira Parte, Tomo II. Rio de Janeiro: Garnier, 1865.

VELLASCO, Ivan de Andrade. “A Polícia Imperial: Notas Sobre a Construção e a Ação da Força Policial (1831 –1850)”. In: XXIII Simpósio Nacional de História. Londrina:2005.


30
Jul 11
publicado por José Geraldo, às 00:30link do post | comentar

Para autores, em sete lições

  1. Não os escreva.
  2. Se porventura acabar escrevendo algum, jogue-o fora.
  3. Se por razões pessoais não conseguir jogá-lo fora, esconda-o.
  4. Se tiver de publicar, não faça de seus amigos os seus fregueses. Amizade e negócios não combinam.
  5. Se vender a amigos e eles elogiarem, não peça detalhes. Evite a decepção de descobrir que estão elogiando porque são amigos, mas nem leram.
  6. Somente se pedir detalhes (oh, ousadia!) e eles disserem coisas que fazem sentido, suspeite que o livro seja mesmo bom.
  7. Nesse caso, chore os que jogou fora.

Para leitores, em dez lições.

  1. Leia a sinopse. Se a sinopse já é um ruim, imagine o livro.
  2. Não ligue para o prefácio. Prefácios são escritos por amigos, ou por alguém pago para isso.
  3. Desconfie dos livros que têm longas introduções e apêndices, a menos que o nome do autor seja John Ronald Reuel Tolkien. Se precisam de muita explicação, é porque não conseguem explicar-se por si mesmos.
  4. Antes de ler um livro de setecentas páginas escrito por um desconhecido, escreva aquele livrinho de cem páginas que ele também escreveu. Quem escreve mal um livro de cem páginas, dificilmente se sairá melhor num outro mais longo.
  5. Evite livros que tentam atingir vários públicos ao mesmo tempo. Imagine um automóvel ao mesmo tempo econômico, compacto, fora-de-estrada, familiar, de luxo e esportivo.
  6. Desconfie de livros ambientados em lugares inventados: é um truque fácil para esconder a preguiça de pesquisar sobre lugares reais ou a falta de vivência real do autor.
  7. Quando o autor diz ostensivamente que o livro é resultado de anos de trabalho, ele está implorando que você goste.
  8. Desconfie de apelos emocionais (livros que falam de algum lugar pobre, da guerra que está na moda ou de lugares recentemente focados pela “caridade” internacional.
  9. Fuja de livros que têm muitos erros de ortografia. Se a editora não corrige o que é mais fácil de detectar, então esqueça revisão estilística, aconselhamento editorial ou uma política de seleção focada na qualidade.
  10. Nenhum livro de auto-ajuda presta. Eu disse “nenhum”. Isto inclui este em que você está pensando e também aquele que mudou a sua vida, e também aquele que todo mundo leu. Se acha que presta, talvez seja hora de variar suas leituras. Quem só come arroz provavelmente não imagina o gosto que feijão tem.

26
Dez 10
publicado por José Geraldo, às 15:12link do post | comentar

Poucos temas em literatura são tão abertos e fascinantes quanto a ficção científica pós-apocalíptica. Basicamente você tem o direito de «passar a régua» no mundo e reimaginar tudo a seu bel-prazer, dentro de certos limites (bastante amplos). O fato de tanta gente que faz isso ter exatamente a mesma ideia, de um Mundo Mad Max com baratas radioativas, é só falta de imaginação mesmo.

Dia desses, debatendo sobre o tema, eu tive essa «viagem alucinógena» sobre como seria a sociedade do futuro se após a extinção do homem algum tipo de pássaro canoro evoluísse de forma inteligente. Deu até vontade de escrever a história.

Eu imagino que o tipo mais extraordinário de ser que poderia evoluir para uma forma inteligente seria uma ave. Para isso, claro, teria que reposicionar e modificar suas asas, mas um passaroide inteligente seria uma criatura fascinante.

Dotado de penas, teria pouca necessidade de fabricar roupas e ditar moda. Uma criatura destas provavelmente não teria artes plásticas e nem regras de «decência» como nós as imaginamos.

Ovíparo, ele teria uma série de outras preocupações envolvendo a sua prole que nós nem sequer imaginamos. Os testes de DNA do programa do «Pardalzinho» (equivalente passeriforme do Ratinho) não envolveriam somente a dúvida quanto ao pai, mas também a mãe. Sem a gravidez, o papel social da mulher seria compartilhado com o do homem e possivelmente a sociedade seria muito igualitária.

Capazes de falar e cantar simultaneamente, suas línguas não envolveriam apenas sequencias de fonemas, mas também de sons musicais. Eles literalmente falariam através de canções. Inteligência desenvolvida e uma vida social complexa exigiriam que sua «fala» deixasse de ser simples como o canto de um bem-te-vi e adquirisse muito mais complexidade — talvez até polifonia.

Eles provavelmente se alimentariam de comida crua, devido a possuírem bico e moela. Isso significa que a arte da gastronomia seria desconhecida, bem como boa parte dos ritos sociais a ela relacionados.

Se não teriam artes plásticas, teriam altamente desenvolvida a música e a literatura (no fundo uma só coisa) e a dança teria sempre um cunho erótico.

Sem a pressão da frio e do alimento cru, eles só criariam uma civilização se tivessem que enfrentar algum tipo de desafio diferente. Imagino que a guerra seria esse desafio: diferentes espécies de passaroides competindo entre si resultaria em pressão evolutiva para que aperfeiçoassem a linguagem, para aperfeiçoar a estratégia militar e as habilidades manuais (para melhorar sua capacidade de coletar comida e também de agredir).


22
Ago 10
publicado por José Geraldo, às 20:49link do post | comentar

Amaralina tinha sido uma cidadezinha qualquer, com casas entre bananeiras, mulheres entre laranjeiras, pomares e amores para quem quer que soubesse vivê-los. Seguia sua vida besta bem devagar, entre montanhas bem altas, rios suficientemente traiçoeiros e solo providencialmente pobre de qualquer coisa que o bicho-homem pudesse querer arrancar à força de máquinas e dor.

A gente de lá era arredia e desconfiada de estranhos. Colonos tricentenários, muito pouco acostumados a quem não tivesse o falar líquido que eles tinham aprendido com os índios e os escravos, muito antes das modas de esses e erres que hoje impregnam todos os lugares. Mas mesmo assim eles não deixavam de ser pessoas calorosas, que sabiam aceitar os forasteiros, desde que mostrassem ser de confiança.

Um desses homens foi o professor Gualberto Silva. Ninguém lá nunca soube de onde ele veio, nem precisamente quando chegou. Uma localidade onde quase todos são analfabetos, onde não há jornal e mal há escola — não é surpresa que não tenham feito registro de quando ele apareceu. Por isso eu apenas sei que um belo dia deram por sua presença e ele foi ficando, ficando, ficou até morrer de velho e ninguém nunca soube de onde veio.

Gualberto era professor de música. Não se explica como ou porque uma criatura dessas foi pedir pouso lá em Amaralina, onde mal havia escola e ninguém nunca tinha ouvido falar de Bach. Alguns habitantes mais maliciosos do lugar sugerem que ele seria um criminoso fugido, outros que ele seria simplesmente um louco, mas outros, de coração mais puro, juram que ele apenas se encantou pelo silêncio, e pelas ancas morenas de Firmina das Neves. Firmina apenas sorri quando lhe perguntam, dizendo entre dentes que “não senhor, nunca soube de nada”. Mas todos sempre souberam que ela lhe cozinhava de dia e lhe aquecia a cama de noite e que eram dele os dois filhos clarinhos que teve solteira, ela que tinha não tinha na pele nenhuma herança que não fosse de índios ou de negros. Em Amaralina as pessoas não tinham esses escrúpulos: havia os comentários das comadres, mas ninguém a censurava porque até padre era coisa que raramente se via por lá, e viver amigado era tão normal que quando ouviam falar de alguém casado os habitantes diziam que era “casado como filho de coronel”.

Gualberto se tornou mestre-escola e ensinava aos moleques matutos coisas que surpreendiam. Até hoje quem passa por aquelas bandas fica besta de ver negros velhos de pé no chão que retiram de seus guarda-roupas rústicas rabecas cortadas ao estilo de violinos — e que executam nelas músicas que não se imagina que alguém nos cafundós de Minas Gerais possa ter aprendido. Como o velho Heitor dos Santos, que me trouxe lágrimas aos olhos com uma execução agreste e extraordinária dos Concertos de Brandenburgo.

Mas um dia Amaralina foi tomada de assalto pelo rádio. Inicialmente ninguém notou muita diferença, porque o rádio era, no começo, meio inocente dos terrores que traria. Basicamente ele trouxe música, um tipo diferente de barulho a que o povo de lá não estava acostumado. Claro, eles conheciam viola, pandeiro e outros objetos que produzem ruídos organizados, mas isso não é música, música é o que toca no rádio, e precisa ser gravado no Rio de Janeiro para ser “de verdade”. O rádio e o toca-fitas desempregaram os violeiros e fizeram as aulas de música artesanal do professor Gualberto saírem de moda.

Gualberto tinha especial predileção por instrumentos de sopro. Era um flautista folclórico, que fazia firulas e vozes no instrumento, flertando com melodias fugidias, mas nunca fúteis. Costumava passar pelas estradas à noite com o seu frágil flautim de bambu, e as notas das cantatas de Haydn flutuavam naquele sertão perdido, como almas penadas. Ele era o único que não tinha medo de fantasmas e nem de mulas sem cabeça — e nisso conseguiu convencer a Firmina, que muita vez saiu com ele pelas trevas silenciosas fazendo indecências nas moitas. Gualberto era um homem excêntrico, mas querido. Junto com o coração de Firmina tinha conquistado a amizade de muita gente — e a sua música era parte disso: humildemente aceitava tocar nas festas dos santos e nas festas improvisadas de “amigamento”.

A chegada da “música” não o desempregou, apenas lhe fez ficar melancólico. Antes as crianças paravam para ouvi-lo imitar pios de pássaros na flauta. Com a chegada da música as pessoas nem querem mais ouvir os próprios pássaros. Foi ficando perigoso andar de noite, especialmente a fazer indecências nas moitas, porque mais gente também andava, indo e vindo de bailes aqui e ali, nem sempre com boas intenções.

Preso em casa com sua cabocla e seus dois meninos, Gualberto se sentiu de novo como um pássaro. Nunca disse a ninguém quando tinha se sentido antes do mesmo jeito, mas as más línguas inventaram hipóteses que envolviam sempre sangue. Com o tempo foi definhando, ficando afastado das pessoas, enfadado do flautim. Ele sempre fora um solitário, desde que sua mulher morrera de parto antes mesmo que ele fosse para Amarelinha. Tinha Firmina, mas não tinha amigos. A companhia das pessoas nas festas eram todos os amigos que tinha. A flauta lhe abria portas, que o rádio e sua música fecharam. Ele deixara de ser o homem que enfeitiçava a todos com seus floreios e restou o magro e esquisito forasteiro, com seu jeito diferente e suas manias. Até a Firmina, um dia, achou-se aflita com tudo e, insuflada por um intrigante, saiu de casa e foi viver com Valentino Silva, o valentão local, na casa que ele ganhara de um coronel, pagamento de mortes, segundo diziam.

Aposentou-se da escola o Gualberto. O governo do Estado lhe deu uma pensão, devidamente miserável, como convém ao pagamento digno. No lugar da velha escola de terra batida, ergueram um colégio, onde pedagogos formados ensinavam muitas coisas, mas nenhum tocava flauta nem conhecia os pássaros.

Gualberto passava as tardes no alpendre da velha casa, sozinho com sua flauta, sofrendo a saudade de Firmina e a catarata que lentamente vinha. Não aceitou nunca ter sido abandonado, sempre repetiu que ela lhe fora tirada à força. Muita gente acreditou nisso quando Valentino, num instante de desespero, a matou a foiçadas. Estranhamente a morte ocorreu na estrada da Fonte, que seguia até a casinha de Gualberto.

Pela primeira em muitas décadas deu polícia no lugar. Vieram doze soldados com um mandado e um oficial, para prender o Valentino, que diziam procurado em outro estado. Nunca o acharam, dizem que se matou na Represa da Onça, ou ali o mataram, para que nunca falasse. Mas os soldados trouxeram terror a Gualberto, não se sabe o porquê. De saber que andavam por perto perguntando às pessoas por pistas do pistoleiro ele ficou afônico e afinal, definhado como estava, falhou-lhe no peito o ventrículo esquerdo, segundo disse o doutor que o enterrou.

Morto Gualberto, morta Firmina, os meninos sumidos no mundo, não sobrou ninguém que lhe fizesse velório. Apenas a Domingas, irmã da Firmina, chorou o seu corpo quando o puseram na cova.

Isso foi tudo há umas três décadas, e ninguém mais fala em Firmina nem meninos e nem Gualberto. O flautista está esquecido, não lhe sabem sequer o nome. Dizem que foi um perdedor apenas, que ficou sem nada no fim. Eu acho que foi o mundo que perdeu, que somos nós que nada mais temos.

Texto escrito em fevereiro de 2010, para o antigo Mundos & Fundos, e atualizado nesta data.


21
Ago 10
publicado por José Geraldo, às 11:43link do post | comentar

Três homens das cavernas estavam descansando na porta da caverna à tarde depois de se empaturrarem de carne de mamute, manteiga de leite de camela e algumas frutas silvestres. De repente um raio atingiu uma árvore próxima e ela começou a queimar.

O primeiro deles correu para dentro da caverna e começou a gritar que os espíritos haviam decidido destruir o mundo e que era preciso apaziguá-los. As mulheres, as crianças e os tolos acreditaram nele e levaram um filhote de javali para ser queimado no fogo da árvore. Alguns resmungaram que era um desperdício de comida — mas foram logo calados a pontapés e urros.

O segundo não teve medo. Antes mesmo de o javali chegar, foi até a árvore, pegou um galho em chamas e botou fogo com ele em outro arbusto. Ele entendeu, então que o fogo era algo tão natural quanto a água, o vento ou o peido. Deu uma gargalhada e disse para os demais: “não temam, é só uma coisa da natureza e pode ser bom para nós!”.

Os seguidores do primeiro ficaram ofendidos e insultados e o apedrejaram.

O terceiro homem das cavernas, que tinha estado observando tudo, pegou outro galho em chamas e com ele ameaçou queimar todo mundo. Os outros hominídeos ficaram com medo dele porque ele controlava o Fogo e o obedeceram. Depois disso ele fez uma aliança com o líder do sacrifício do javali e juntos surgiram o primeiro chefe e o primeiro pajé.

Depois que o fogo apagou o povo da caverna começou a murmurar e teriam acabado matando os dois, mas houve um incêndio na savana, os dois aproveitaram e pegaram mais um pouco de fogo e tiveram o cuidado de manter queimando uma fogueira em um lugar especial, no alto de uma montanha. Assim surgiu o primeiro templo.

Demorou mais ou menos 235.000 anos para aparecer outro cientista.


09
Jun 10
publicado por José Geraldo, às 23:07link do post | comentar

Debate sobre a possibilidade da existência de Deus, em uma dessas comunidades céticas do Orkut. Desesperado diante da irredutível descrença da turma, um evangélico postou a seguinte colocação:

Suponha que você morresse e se reconhecesse em um corpo espiritual, sendo que nesse corpo você ainda seria capaz de pensar e raciocinar, sendo a única diferença entre estar vivo e estar morto a incapacidade de interagir com o mundo material, preservando, desse modo, a identidade e a individualidade. Nesse estado você ainda teria dúvidas da existência de Deus?

Não respondi a pergunta, o debate não me interessava, mas estas palavras (que não foram exatamente assim, mas foram algo parecido) ficaram se retorcendo dentro de minha cabeça, como se houvesse algo nelas que merecesse mais assunto. Então, de repente, me dei conta: poucos foram os autores que tentaram contar essa história!

Deixei de lado minha leitura de Schopenhauer e varri a poeira de cima dos lugares de meu cérebro onde estavam arquivadas as lembranças de meus tempos de frequentar centro espírita. Fui puxando um fio aqui e ali e... bingo! Eis-me escrevendo um romance espírita outra vez!

Muitos autores não se dão conta das excelentes possibilidades que a temática espírita oferece, especialmente considerando a constrangedora falta de qualidade de muitos livros no mercado. Pois bem, me aguardem!

Mas aguardem sentados, que os meus romances eu escrevo movido a leite de pata.

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27
Dez 08
publicado por José Geraldo, às 21:37link do post | comentar

Estamos em um futuro não muito distante (dez, quinze anos) em uma metrópole sul-americana qualquer. Temos um personagem, vamos chamá-lo por num nome simples, bonito e português: Téo. Nosso personagem trabalha para um serviço secreto da polícia, a que, por falta de nome melhor, chamaremos simplesmente de “P-2”. Sua atual missão é localizar e eliminar quem for o responsável por uma série de brutais assassinatos de empresários e políticos corruptíssimos, mas fedidos de tão ricos (a “P-2” não prende, ela é a “briga de gangues” que elimina os criminosos que se tornaram perigosos demais).

Inicialmente se pensou que os crimes fossem obra da Máfia, mas Téo, com suas conexões no submundo, logo descartou essa hipótese e descobriu que o criminoso era “independente”. Mais tarde descobriu que em vez de criminoso eram criminosas, duas, que se faziam de prostitutas de luxo e matavam os clientes da forma mais hedionda possível, sempre deixando o sangue dentro de garrafas e os bagos pendurados no lustre. Mais tarde ainda ele descobriu nem eram elas, mas “aquilo”: duas androides assassinas.

Agora que temos essa sinopse em mente, para um filme estilo Blade Runner, vamos passar a um breve intervalo linguístico. Vamos falar da língua que é falada na cidade onde se passa a história: o esperanto. A circunstância de se falar esperanto é explicada por uma dessas ditaduras de filmes de ficção científica, que têm o poder de impor goela abaixo do povo qualquer projeto porra-louca. Só mesmo um totalitarismo extremo convenceria um grande número de pessoas a falar esperanto.

Como todo mundo sabe o esperanto é uma língua artificial, bastante regular e relativamente fácil de aprender. O que nem todo mundo sabe é que as coisas nem sempre soam bem em esperanto. As dificuldades causadas por isso estão sendo um empecilho no caminho de Téo pois ele está começando a tropeçar na gramática e na pronúncia, como se alguma coisa dentro dele rejeitasse a artificialidade da prima lingvo internacia.

Em esperanto, todas as palavras pertencem a uma classe única, e se tornam substantivos, adjetivos, advérbios de modo ou verbos dependendo dos sufixos que usamos nelas. Vamos a um exemplo, a palavra viro (ser humano), se torna vira (humano), viroj (“seres humanos), virino (“ser humano fêmea” — a coisa mais parecida com “mulher” que se pode dizer em esperanto) etc. Isto não é muito elegante, pois uma “mulher” não é exatamente um homem feminino, tal como “mãe” não é um pai-fêmea (patrino).

Para piorar as coisas, o esperanto só usa um artigo (sem noção de número nem gênero) e ainda tem o “caso acusativo” (os objetos diretos devem ser marcados com o sufixo “n”). Somando tudo isso, é muito fácil formar palavras longas em esperanto — e estas nem sempre soam bem.

Outra coisa estranha do esperanto é o prefixo “bo” usado para formar palavras que indicam semelhança incompleta. Por exemplo, um bopatro é um padrasto, ou seja, algo “mais ou menos” como um pai. Certamente um androide deve ser um boviro (algo “quase” humano). Pelo menos é o raciocínio que Teó está tendo nesse momento.

Para piorar as coisas, algumas palavras de uso muito comum acabam sendo difíceis de pronunciar. Quando terminou de transcrever a gravação de um grampo telefônico, Téo teve de dizer a seu chefe Mi transskribis la konversacio. Agora ele está quebrando a língua para tentar dizer “procurar” (ĉerĉar) porque é exatamente isso que ele está fazendo, embora não o saiba dizer sem morder os lábios.

Neste exato momento nosso herói está sob a chuva, usando uma capa de plástico e um guarda chuva preto, em frente a um cassino clandestino da temida Zona Leste. À mão, oculta dentro da capa, uma pistola com balas de urânio enriquecido, doze tiros fatais que penetram até aço inoxidável. Seus informantes foram peremptórios: as duas androides assassinas estão em uma orgia com executivos pedófilos de um grupo empresarial grego e políticos nordestinos homossexuais, que se desenrola em uma sauna gay de fachada que pertence a um cartel de lavanderias paquistanesas.

O problema é que ele não sabe como são essas androides, ainda. Não tem fotos, apenas retratos falados. Se entrar na festinha não saberá dizer quem são. Mas o que realmente o deixa nervoso não é nem isso, é o tremendo mico que ele vai pagar quando entrar no inferninho e gritar com sua voz de detetive de história em quadrinhos:

Mi ĉerĉas la bovirinojn!

“Às vezes” — pensa Téo, no bom e velho português brasileiro, dialeto mineiro — “me dá uma vontade de largar tudo isso e voltar para Barbacena…”


28
Out 08
publicado por José Geraldo, às 20:32link do post | comentar

Mentir se tornou tão essencial, em grande parte graças à facilidade com que se mente impunemente, que até mesmo o sucesso se tornou uma mentira. Não, não quero aqui dizer que o sucesso seja uma ilusão, mas que as pessoas de sucesso, muitas vezes, não o são. A difusão da mentira por todas as instâncias da vida chega a trazer desvantagens a quem resolve agir de forma honesta, tal como os alunos que realmente fazem suas redações que, não é raro, recebem notas menores do que aqueles que as colam da Internet ou então pedem a estranhos que as façam. A mentira tem mais resultados do que a sinceridade porque não é possível premeditar a verdade para que seja adequada ao contexto.

Diante deste estado de coisas, resistir à tentação de mentir se torna uma obrigação moral, uma forma de resistência à degradação dos valores, à erosão daquilo que nossos pais chamavam de “vergonha na cara”. Resistir, porém, se torna o caminho para o fracasso.

Aleixo não tem “vergonha na cara” nem projetos seus: tem um salário e o hábito de humilhar os que ganham menos. Prefere pisar em quem prefere fracassos totais ou parciais enquanto se esmera em capacitar-se para realizá-los. Faz isso porque não suporta pessoas que realizam coisas: sucesso para ele é status que se herda, não situação que se adquire.

Não tem ambições, mas cobiças estruturadas, soluções rápidas e mágicas que, no fundo, ocultam algo mais do que mera incompetência: a inapetência pelo aprendizado. Se fosse possível viver sem ter sequer aprendido a respirar, talvez Aleixo gostasse.

Sua vida inteira é baseada em mentiras. Colou na prova durante a escola primária, “passou” em um vestibular fajuto de uma faculdade privada desesperada por alunos, foi aprovado graças a manter em dia o carnê das prestações da compra do diploma. Depois que obteve uma graduação rasa qualquer em um curso de “negócios” caracterizado por pouco rigor acadêmico, passou a colecionar especializações inúteis cursadas em fins-de-semana ou à distância e usou seus belos certificados para rechear um currículo sempre superior à sua competência.

Depois de fracassar na gestão de seu próprio negócio, tornou-se consultor de mercado a serviço de um órgão público onde trabalha seu pai. Quando o contrato de prestação de serviços foi denunciado por uma CPI, deixou o ramo de consultoria e “passou” num concurso para assessor parlamentar na Assembleia Legislativa, pelo menos até que o STF acabou com o nepotismo. Foi nessa época em que se casou com a rica e insana filha de um milionário paulista. Para manter o casamento, teve de aceitar as orgias da moça e batizar os filhos do casal sem questionar, mas graças aos seus chifres estoicamente suportados se tornou membro do conselho diretor da indústria do sogro, cargo no qual se esmerou em fazer retiradas pro-labore.

Segundo a avaliação da maioria dos brasileiros, Aleixo, que esta semana chegou aos 40 anos, é um exemplo de sucesso porque a mentira se tornou uma verdadeira obsessão de nossa era. Pervade o poder, as relações, as artes, tudo. A música já não se faz pela música, mas pela destinação de ganhar dinheiro. O sexo já não é expressão de afetos ou desejos, mas a saciedade de impulsos banais, a satisfação de necessidades quantificáveis economicamente no setor de “serviços”.

Sob a ótica de tais valores, ele é um verdadeiro gênio da raça. Mas não aos seus próprios olhos. Depois de duas décadas ocultando a homossexualidade ele não suportou mais e declarou-se ao office-boy que lhe servia cafezinho.

O garoto tinha jeitão efeminado e delicado, andava sempre bem vestido e bem penteado. Parecia mesmo ser “fruta”. Aleixo o vigiara, apaixonadamente, por quase três meses antes de, finalmente, criar coragem.

Infelizmente para Aleixo, no entanto, as coisas não saíram como previsto: Naninho recusou os convites e, assustado e ofendido, retirou-se da sala.

Aleixo o demitiu, claro, inventou uma justa causa qualquer que maculasse o currículo do rapaz e lhe retirasse qualquer credibilidade, para que nunca qualquer indiscrição sua fosse levada a sério.

No entanto, a dor da saudade foi mais forte e Aleixo resolveu perdoar tudo. Preencheu um cheque de vinte mil reais e foi até o distante subúrbio onde morava o office-boy de olhos grandes e jeito suave que lhe roubara o coração.

Ao parar à porta viu-o saindo de casa de mãos dadas com uma morena de um metro e noventa de altura, aos beijos e abraços. Ambos usavam uniformes de artes marciais, ele com faixa marrom, ela com faixa vermelha. Andavam pela rua descuidadamente, aos beijos e trocando olhares.

Aleixo não suportou a dor de ver a cena e voltou para a firma quase aos prantos, mesmo sendo já noite. Trancou-se no escritório e tomou uma dose cavalar de veneno de rato e se atirou do oitavo andar para ter certeza de não escapar.

Morreu ainda na calçada, infelizmente antes que pudesse ver a morena de um metro e noventa fazendo ponto na esquina dos travecos.


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