Em um mundo eternamente provisório, efêmeras letras elétricas nas telas de dispositivos eletrônicos.
09
Mai 12
publicado por José Geraldo, às 22:30link do post | comentar | ver comentários (1)

Uma verdade sobre a qual pouco se reflete é que existe, de fato, uma diferença abismal entre ter a capacidade de fazer alguma coisa e saber fazê-la bem. Em geral as pessoas estão mais preocupadas em conseguir fazer do que em passar além disso e fazer bem. É um tipo de «estética punk» que valoriza mais a «atitude» do que a habilidade. Os punks, como se sabe, eram músicos que tinham inveja do dinheiro que ganhavam bandas como o Led Zeppelin e o Yes mas, não sabendo tocar nem a décima parte do que o Steve Howe fazia com o pé esquerdo enquanto via televisão, fizeram um ataque calhorda a esses grupos acusando-os justamente de terem se afastado da juventude por tocarem uma música «elitista» e ganharem rios de grana com ela. No fundo o que eles chamavam de «elitismo» era a capacidade de tocar bem os seus instrumentos.

Os punks não foram os inventores do despeito — apenas os seus mais conhecidos e bem sucedidos praticantes nas últimas décadas — mas uma ideia, quando solta no mundo, ganha asas e cresce até chegar a lugares onde o seu criador original nem sonhava. Imagino que alguns músicos dos primórdios do movimento punk tenham aprendido a tocar melhor desde então e passaram a respeitar sujeitos como o Jimmy Page; ao mesmo tempo em que devem sentir arrelia nos dentes ao ouvir boa parte da música de hoje — e que só existe porque muita gente entrou pelo buraco que os punks arrombaram no muro que separa a mediocridade do sucesso. Exemplos dessa evolução não faltam lá fora: Robert Smith, do The Cure, não suporta ouvir o primeiro disco de sua banda, e David Byrne, do Talking Heads, largou a música e virou produtor (sendo responsável pela divulgação nos EUA do trabalho de gente como o nosso Tom Zé).

Estes dois parágrafos iniciais, que certamente só farão pleno sentido para quem entende algo de música, servem de introdução para uma constatação que me sobreveio hoje ao receber mais uma «revista eletrônica» (recebo umas seis ou sete por semana, algumas anexadas ao e-mail, outras com uma educada hiperligação me convidando a baixá-la de um servidor na internet). A constatação de que, no ramo das publicações amadoras, ninguém mais se importa em fazer bem feito. Pode-se fazer feio, que é falta de educação dizer isso. Só que eu sou mesmo mal educado e não me acanho de dizer: a maioria das publicações independentes padece de uma feiura que dói nos olhos.

Claro que eu não espero que alguém que faz uma revista amadora tenha capacidade de dar-lhe um acabamento do nível de uma revista semanal publicada por uma grande editora. Não há tempo para isso e certamente os editores amadores não têm grana para comprar os programas profissionais necessários para tanto (e mesmo que os obtenham pela via da pirataria, não terão tempo para aprendê-los até chegarem ao mesmo nível de um profissional gráfico). Mas existem certos erros básicos, que poderiam ser evitados com sensibilidade (para observar como são feitas as revistas profissionais), alguma pesquisa sobre o tema (para conhecer o bê-a-bá da formatação de documentos) e uma certa dose de talento (que nem todo mundo tem). Sem sensibilidade, talento e conhecimento; o resultado é que as revistas eletrônicas amadoras são frequentemente feias, e feias de doer, e ficam mais feias ainda se o leitor resolver imprimir para ler em papel ou distribuir (o que algumas delas chegam a implorar que o leitor faça). Eu acho que não existe desculpa para isso: basta pensar no que significa «amador». Se o amador é alguém que «ama» fazer aquilo que se propõe a fazer, então é de se esperar que o amador se dedique. Quem ama se dedica. E quem se dedica procura o conhecimento, trabalha a sua sensibilidade, aprimora o talento. Com bastante conhecimento e alguma sensibilidade, compensa-se bastante a insuficiência do talento, por exemplo. Portanto, ainda que seja desculpável a falta de talento, nada desculpa a ignorância. Nada. Principalmente nos dias de hoje, em que se pode achar informação sobre quase tudo na internet.

Eu mesmo já abordei em vezes anteriores (Formatando Páginas com a Medida Áurea e Medida Áurea e Páginas Confortáveis) alguns temas relacionados à formatação, sempre ressaltando que as «regras» de formatação de documentos não são arbitrárias, mas baseadas em boas práticas que resultam em textos mais agradáveis de ler. Por exemplo: existe uma ciência na quantidade máxima de letras por linha e de linhas por página, uma ciência que, inclusive, se baseia na fisiologia, que explica o funcionamento do olho humano. Mas o amador dirá que essas «firulas» não são importantes, que o importante é ter realizado algo. É um raciocínio que seria respeitável em um mundo onde poucos fizessem alguma coisa. Com tantas facilidades oferecidas hoje pelos computadores, realmente parece haver muita gente fazendo e-zines amadores. Diante desta realidade este raciocínio é uma condenação à mediocridade. Por favor não incluam textos meus neste tipo de publicação. Nos fanzines de antigamente, penosamente xerocados, muitas vezes escritos à mão por falta até de máquina de escrever, havia lugar para a feiura e eu não me importava de ser publicado ali. Mas nesses de hoje, produzidos aos montes usando qualquer editor de textos, a feiura é apenas falta de vontade de evoluir. E me importa aparecer em um trabalho feito por alguém que não se importa com a qualidade.

A estética do «faça você mesmo» impede que o amador evolua. O simples ato de fazer parece bastar. Não há um objetivo ulterior, de superar, de melhorar, de fazer algo que simplesmente faça a diferença em um mundo tosco, onde cada vez mais as pessoas pensam menos em realizar e mais em «fazer». Um mundo no qual os amadores não amam o que fazem, pois não estão ganhando nada com isso. Um mundo, em suma, no qual o amor verdadeiro só é oferecido por aqueles que cobram por isso. Triste mundo esse, em quesó as prostitutas fazem amor direito. Esta frase final eu dedico ao meu amigo Ronaldo Roque, que a inspirou.


29
Jun 11
publicado por José Geraldo, às 17:00link do post | comentar | ver comentários (2)

Algumas pessoas que andaram lendo meu já antigo post sobre construção de página usando a medida áurea (que sempre está entre os favoritos do blob, mesmo não sendo uma obra literária) me perguntaram qual a finalidade de tal trabalho. Como toda pergunta inocente, merece uma boa resposta.

Eu já tinha sinalizado no artigo que em nosso país as pessoas estão mais acostumadas a tentar economizar papel do que a pensar na página de texto como algo que será lido. Mas tem algo ainda pior, as famigeradas “normas da ABNT” descendem das arcaicas “laudas” em papel ofício, do tempo em que os documentos penosamente datilografados eram encadernados em arame ou perfurados para arquivamento em pasta-fichário. Por isso temos essa obsessão com margens esquerdas mais largas (para deixar lugar para a perfuração!) e estranhamos uma página tipograficamente construída.

Mas este post não é sobre o que se faz, mas sobre como se fazia, e como se deveria voltar a fazer.

Um livro organizado segundo os cânones da construção de página tem margens mais largas nas bordas externa (em vez da interna) e inferior (em vez da superior). Isto é exatamente o contrário da prática usual no Brasil. Isto é assim porque livros são feitos para serem lidos.

Quando você pega um livro para ler, por onde o segura? Certamente não é pela borda interna da folha (isso é ridículo), mas pela externa. A margem externa é mais larga porque é geralmente sobre ela que repousará o seu polegar enquanto você lê. É em nome do conforto de poder pegar o livro na mão para ler que as páginas de formato tradicional possuem essas medidas. Imagino que você muitas vezes, ao ler, já se praguejou pela dificuldade de fazê-lo sem ter uma mesa para apoio. Livros são feitos para leitura em qualquer lugar, não precisa esperar onde tenha uma mesa. Livros baseados nos cânones de construção de página (medidas áureas) são feitos para leitura confortável mesmo ao ar livre ou fora da biblioteca. São livros feitos para quem gosta de ler. São livros para leitura sem ritual.

A margem inferior é um pouco mais difícil de explicar, mas faz tanto sentido quanto a externa. Os livros são geralmente postos de pé na estante. Se a estante não for suficientemente seca, é possível que a umidade corroa a parte inferior da página. A razão da margeminferior mais larga é preservar a integridade da mancha de texto caso a estante seja afetada por mofo ou umidade. Antigamente havia ainda duas razões adicionais para a margem inferior: o hábito de tomar notas no rodapé e a presença de ilustrações. Em obras de texto denso, não ilustradas, era comum que os leitores tomassem suas notas no rodapé (parte inferior da página). Esta tradição está meio perdida, visto que hoje associamos “notas de rodapé” com trechos de texto presentes dentro da própria mancha de texto da página, e não como comentários feitos pelo dono do livro. Nos antigos volumes era comum que as ilustrações ficassem fora da mancha de texto porque elas precisavam ser feitas em um processo separado. Em geral se imprimia a figura primeiro (geralmente usando xilogravura) e somente depois a página era impressa por cima em tipografia. As iluminuras medievais também tinham ilustrações à margem, especialmente os textos religiosos, como uma forma de desestimular a anotação pelo leitor (entre outras razões mil).

Espero que esta informação lhe faça refletir sobre a possibilidade de utilizar medidas “áureas” em seus próximos livros ou manuscritos. Certamente gastará mais papel, mas produzirá livros muito bonitos.

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15
Mar 11
publicado por José Geraldo, às 20:13link do post | comentar

Estou fazendo algumas modificações cosméticas nas postagens, seguindo as ideias retiradas do blog The Elements of Typographic Style. Trata-se de um trabalho que procura recomendar meios e métodos para melhorar, através de CSS a aparência da apresentação de textos na Internet adaptando a secular tradição tipográfica que é examinada pelo poeta canadense Robert Bringhurst em seu livro de mesmo nome (lista de desejos para o próximo natal, queridos amigos). Foi de lá que extraí uma série de ideias que, pelo menos em minha opinião, já melhoraram bastante a aparência das postagens.

Ainda é cedo para compilar uma lista de todas as melhoras que estão sendo implementadas porque eu ainda estou adicionando novas declarações à folha de estilos do blog (em breve eu vou ter que dar uma enxugada no modelo também, que está ficando lento e grande). Aliás, nem é disso que eu estou querendo falar, é do sistema a que estou recorrendo para editar rapidamente as postagens já existentes e prepará-las para receber os estilos.

Seria extremamente tedioso abrir cada postagem e fazer toda uma série de modificações e colar de volta. Aliás, simplesmente abrir cada postagem, copiar e depois colar de volta já é um tédio. Para diminuir a carga de serviço, e salvar meus pobres dedos, eu construí um tosco script em bash, através do qual gasto menos de um segundo para fazer todas as edições necessárias em cada post. As modificações feitas são:

  • Remoção de todas as quebras de linha introduzidas pelo horrível editor do blogger,
  • Criação de marcações de parágrafo para todos os blocos de texto,
  • Substituição de três pontos (“...”) por reticências tipográficas verdadeiras (“…”),
  • Substituição de hífens ou sequências de hífens por travessões tipográficos verdadeiros (“—”),
  • Remoção de todos os parágrafos vazios e linhas em branco,
  • Remoção ou substituição de tags fora do padrão por estilos css;
  • Substituição de todas as aspas "quadradas" por aspas “tipográficas”.

Com todos esses melhoramentos, o código fica pronto para ser apresentado da nova maneira, incluindo o controle de margens de parágrafos. Para quem se interesse, o script que estou usando está salvo no Pastebin.com.

Esta é mais uma das coisas que eu aprendi a fazer durante os dias em que estive fora da Internet.

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14
Ago 10
publicado por José Geraldo, às 15:14link do post | comentar

A história da Internet pode ser descrita em três fases: a fase do texto puro, a fase das “fontes básicas” e uma nova fase que está para começar.

Na fase do texto puro, que vem dos primórdios até o surgimento da linguagem HTML (“linguagem de marcação de hipertexto”) não existiam propriamente “páginas” a se visitar, mas arquivos de texto para você baixar. Esse tipo de Internet, a era dos BBS e do CompuServe, entre outras coisas, ficou tão para trás que hoje mesmo quem a viveu tem dificuldade para explicar como era. Era uma fase em que se usava navegar em FTP ou Gopher (um protocolo moribundo e outro recentemente abandonado) e a interatividade era mínima: o bacana era encontrar um arquivo de texto, especialmente um que contivesse informações “proibidas”. A internet era a pirataria da informação!

Um exemplo desta fase, que ainda pode ser achado por aí nos últimos sites FTP importantes, é o famoso “methods file”, surgido em um fórum de discussão dos antigos BBS chamado alt.suicide.holiday. Neste fórum se discutia basicamente sobre suicídio, e o arquivo em questão é uma peça surrealista que explica onde, como e quando se suicidar. Os diferentes métodos são analisados segundo sua eficácia, a dor envolvida e a disponibilidade. Alguns métodos são claramente humorísticos, outros são reais. Os ingredientes e suas doses são reais: você realmente pode se matar seguindo as instruções, mas ao ler as descrições dos resultados e a análise das consequências em caso de falha você dificilmente vai querer tentar.

A segunda fase da Internet começou quando Tim Berns-Lee e outros inventaram o HTML, o que permitiu o surgimento das páginas e dos sítios (conjuntos de páginas). Nesta época surgiu a possibilidade de formatação do texto (cores, alinhamentos, tamanhos de fontes, efeitos especiais, imagens, tabelas, tudo que você quisesse imaginar). Infelizmente, a formatação ainda dependia da disponibilidade de fontes no computador do usuário que estivessem de acordo com as fontes pretendidas pelo autor da página. Como isso raramente acontecia, ninguém se preocupava em especificar as fontes, isso era problema do navegador, ou das preferências do usuário.

Mas então a Microsoft doou para uso geral as famosas “fontes básicas da Internet”, que se tornaram rapidamente muito populares. Com isso os desenvolvedores de aplicações na rede passaram a especificar fontes para seus sites. Já não era preciso deixar a escolha para o navegador que o usuário estivesse empregando: era possível dizer, por exemplo, que determinado texto seria em determinada fonte, esperando razoavelmente que esta fonte estivesse disponível no computador do usuário. Um pouco mais tarde, com a popularização das folhas de estilo (“Cascading Style Sheets”), foi possível assegurar que em mais de 99% dos casos um sítio se pareceria como o autor pretendia: bastava usar os conjuntos de fontes semelhantes (“font stacks”). Entre esses, os mais populares sempre foram “Helvetica, Geneva, Arial, sans-serif” ou “'Times Roman', 'Times New Roman', Times, serif”. Recentemente fontes menos convencionais começaram a ser usadas, como Georgia, Lucida Grande, etc. A fonte Verdana, devido à sua grande popularidade se tornou a preferida de nove em dez sítios. É a fonte padrão do Orkut, por exemplo.

Mas havia um problema: as fontes disponíveis eram poucas. Na verdade, o programa de fontes para a Internet da Microsoft só incluía onze — Andale Mono, Arial, Arial Black, Comic Sans MS, Courier New, Georgia, Impact, Times New Roman, Trebuchet, Verdana e Webdings (Webdings) — das quais somente seis (Arial, Courier New, Georgia, Times New Roman, Trebuchet e Verdana) eram famílias completas. Além destas, o sistema operacional Windows ainda incluía uma série de fontes que não estavam disponíveis para baixar do sítio da Microsoft: Book Antiqua, Bookman Old Style, Haettenschweiler e Tahoma. Estas também logo se tornaram populares, especialmente a última.</fonf>

Combinando as fontes mais encontradas do Windows com outras fontes semelhantes, comuns em outros sistemas operacionais (como as fontes URW, comuns no Linux) era possível ter boa dose de previsibilidade na aparência final. Mas isso ainda era muito pouco, porque as fontes mais comumente disponíveis eram conservadoras demais. Com pouco tempo todo mundo já estava enjoado de ver tudo escrito em Verdana.

Estar enjoado causava estranhos sintomas em algumas pessoas. Por exemplo, há quem use extensivamente a fonte Verdana, tamanho 14 ou que use Comic Sans até para convites de formatura ou anúncios de funerárias.

Agora estamos começando a terceira fase da Web: já é possível especificar exatamente qual fonte o usuário verá na tela. Este meu humilde blog é um exemplo da aplicação desta nova tecnologia. Se você me está visitando usando Opera ou Firefox (ou algum outro navegador que entenda os padrões W3C), você está vendo este texto formatado na fonte “Neuton”, de Brian Zick.

Não tenho ainda muita condição de falar sobre o impacto que isso vai ter, mas suponho que no futuro a Web se tornará um lugar muito mais interessante de se visitar.

Aguardemos.

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14
Jun 10
publicado por José Geraldo, às 20:35link do post | comentar | ver comentários (2)

A medida áurea é uma proporção ideal entre duas grandezas, supostamente mais harmônica ao olhar. Empregada ao longo dos milênios na matemática e nas artes e encontrada na maioria das obras primas da humanidade. Podemos definir a “medida áurea” como uma relação entre duas grandezas determinadas na qual a soma de ambas dividida pela maior é igual à maior dividida pela menor, ou, em notação matemática:

( a + b ) / a = a / b

O resultado desta divisão é sempre uma dízima periódica, mas a proporção resultante é tida como mais “harmônica” ao olhar, embora não se saiba exatamente porque. O fato é que tal medida é conhecida desde os tempos dos gregos e foi extensivamente empregada em muitas famosas obras arquitetônicas.

Você pode usar a medida áurea também para formatar livros. Na verdade esse tem sido o seu uso mais frequente nos últimos séculos, desde os tempos dos manuscritos iluminados da Idade Média. O principal obstáculo é que o tipo de papel a que estamos acostumados não se baseia na medida áurea, mas em divisões exatas por dois: repare bem que uma folha de papel A5 corresponde ao tamanho de cada uma das metades de uma folha de papel A4 dobrado ao meio horizontalmente. Isto resulta em um formato muito diferente da medida áurea, mas ainda bastante harmonioso.

Um exemplo de proporção áurea é a relação entre os números 3 e 5, que é muito usada em tamanhos de bandeiras, entre as quais a nossa. Divida 8 por 5 e 5 por três e obterá o mesmo número. Uma folha de papel “áurea” teria tamanhos proporcionais a 3 e 5, por exemplo. Tal medida é muito diferente de um papel A4, por exemplo, que tem 210mm x 297mm. Observe que:

( 210 + 297 ) / 297 = 1,707070
297 / 210 = 1,414285

Temos portanto que uma folha de A4 não segue a medida áurea! O mesmo ocorre com o formato “carta”, padrão nos EUA (medidas abaixo em polegadas):

( 8,5 + 11 ) / 11 = 1,772727
11  / 8,5 = 1,294117

Apesar dessa limitação, que nos impede de usar um formato puramente “áureo”, ainda podemos formatar um livro segundo essas medidas, limitando-nos a outros aspectos que não o tamanho da folha de papel: a área de texto.

Para criar um desenho de página segundo a medida áurea, vamos utilizar uma folha de papel A4 e uma régua de pelo menos 30 cm (idealmente seria uma de 50 cm). Esta folha será dobrada exatamente ao meio para produzir o que seria o equivalente a uma folha A5 (mais tarde você poderá usar a mesma técnica em folhas de A4 ao colocar duas lado a lado). Observe na figura a seguir como é feita a construção das proporções para uma página A5:

Tendo dobrado a folha ao meio, ligamos os quatro cantos da página usando diagonais que se cruzam exatamente no centro desta. Este esquema foi construído da seguinte forma:

  1. Dobradura ao meio (linha pontilhada cinza);
  2. Diagonais da página inteira (linhas vermelhas);
  3. Diagonais das metades (linha azul-marinho);
  4. Linha perpendicular (verde) cruzando o ponto de intersecção da diagonal da metade direita com a diagonal inferior-esquerda/superior-direita (opcionalmente você pode inverter e usar a diagonal idêntica na outra metade da página);
  5. Ligação entre a borda da página, no ponto em que a linha verde a atinge, e a intersecção superior-esquerda/inferior-direita, na página oposta (linha azul-celeste);
  6. A margem superior da página, paralela à borda, deverá cruzar a intersecção entre a linha azul-celeste e a diagonal da metade direita (azul-marinho), seguindo apenas até encontrar as diagonais da página inteira (vermelhas);
  7. As margens externas são traçadas entre o ponto em que a margem superior atinge (mas não ultrapassa) as diagonais de página inteira (vermelhas) e seguem até tocarem as diagonais das respectivas metades (azul-marinho);
  8. A margem inferior é traçada ligando os pontos em que as margens externas tocam as diagonais de cada metade;
  9. As margens internas são traçadas perpendicularmente à margem inferior, ligando-a aos pontos em que a margem superior cruza a diagonal de cada metade.

Na ilustração acima, as áreas sombreadas abaixo da margem inferior correspondem ao espaço destinado a notas de rodapé.

Você deve estar se perguntando porque as margens são tão desproporcionais e a resposta disto é muito simples: margens precisam ser desproporcionais. As margens externas precisam ser mais largas porque, em primeiro lugar, os livros costumam estragar nas bordas mais facilmente do que no miolo e, em segundo lugar, porque o leitor poderá querer tomar notas à margem. As margens inferiores, por sua vez, precisam ser largas o bastante para que o leitor possa segurar o livro sem que o polegar interfira na leitura. Desta forma, uma página assim proporcionada resultará numa experiência de leitura mais agradável.

Agora que você já definiu um esquema de margens perfeitamente baseado na medida áurea, está na hora de escolher um tamanho de fonte que resulte em linhas de no máximo 67 caracteres e páginas com no máximo 33 linhas. Estas são as medidas ideais para que a página não seja cansativa.

O resultado desta empreitada será um livro totalmente “alienígena” em relação ao que se vê no Brasil, onde a prática é mais voltada para economizar papel do que para produzir uma leitura confortável. Mas você logo perceberá as vantagens de trabalhar diferente, e de acordo com princípios milenarmente testados.

Até a próxima.


07
Dez 09
publicado por José Geraldo, às 21:36link do post | comentar

Quando você analisa um documento preparado através do LaTeX em comparação com outro preparado em um editor de textos tradicional, salta à vista o quanto o primeiro é mais polido do que o segundo — especialmente se as fontes padrão do TeX não forem usadas (pois elas têm problemas de legibilidade devido, pasmem, à alta resolução das modernas telas e impressoras. A maior parte das razões para essa discrepância é por demais sutil para que um observador casual as perceba, mas o efeito geral é perceptível até para um leigo.

As razões da diferença podem ser resumidas em seis, das quais as cinco primeiras são universais no mundo TeX e a última é específica de certos documentos mais recentes, e mais avançados:

  1. Ligaturas
  2. Ajustes de transição entre caracteres (kerning)
  3. Algoritmo de cálculo dinâmico da espessura dos caracteres (hinting)
  4. Algoritmo de hifenização por parágrafo
  5. Ajuste vertical de espaçamento
  6. Microtipografia

Ligaturas

Ligaturas são símbolos que substituem seqüências de caracteres. Há três categorias básicas de ligaturas: as que são usadas para aumentar a legibilidade, as que são usadas segundo a tradição tipográfica e as que são usadas por razões meramente estéticas.

Um exemplo de ligatura útil para aumentar a legibilidade é a ligatura “fi”. Na maioria das fontes o arremate do “f” colide com o pingo do “i”, um detalhe quase imperceptível, mas que distrai o olho durante a leitura de um texto mais extenso.

As ligaturas históricas são as que foram abolidas após a invenção da tipografia moderna (a partir do século XIX). Algumas são até bonitas, mas a maioria prejudicaria a leitura porque não estamos acostumados a ver dois “oo” entrelaçados, ou um “s” que se conecta com o “t” seguinte, coisas assim.

As ligaturas estéticas não tem raiz história, mas podem ser inventadas livremente pelo tipógrafo. Entre elas, recentemente, surgiu o interrobang, uma junção de um ponto de exclamação com um ponto de interrogação.

O LaTeX tem a capacidade de inserir automaticamente as ligaturas essenciais, além de ter mecanismos para acessar as outras. Uma outra vantagem de usar ligaturas é economia de espaço. Dependendo da fonte, algumas ligaturas podem economizar, em uma página, o espaço equivalente a quase um quarto de uma linha.

Kerning

Esse é um ajuste, feito manualmente, do posicionamento dos caracteres em relação aos demais. O objetivo do kerning é diminuir os espaços em branco e tornar o texto mais fluido durante a leitura. Um software que não seja capaz de usar esse ajuste vai produzir espaços entre letras em seqüências como “AVA, To, LT, ij” etc. — o que é muito tosco.

Hinting

Trata-se de um algoritmo que calcula a espessura de uma fonte de acordo com o tamanho, de forma que os tamanhos menores fiquem mais finos e os maiores mais grossos. No caso do LaTeX isso não é tão importante, visto que as fontes padrão possuem versões diferentes para os diferentes tamanhos, mas se você está usando fontes não-padrão (e você certamente quererá fazer isso) então perceberá que os documentos feitos com o LaTeX têm fontes mais pesadas e legíveis.

Hifenização

Normalmente a hifenização está desativada nos processadores de textos e, quando ativada, ela é calculada linha a linha. O LaTeX possui um poderoso algoritmo de hifenização que considera parágrafos inteiros, resultando em um texto muito mais compactado.

Ajuste Vertical

A menos que você tenha usado a opção raggedbottom, o LaTeX cuidará de preencher inteiramente a página até a última linha, evitando que a margem inferior varie de largura (tente fazer isso em qualquer processador de texto!). Em vez de deixar espaço em branco no fim da página, ele acrescenta imperceptíveis espaços adicionais entre os parágrafos (mas se a sua página tiver poucos parágrafos tais espaços serão perceptíveis).

O ajuste vertical é um tanto problemático se você usa a opção de controle automático de linhas órfãs e viúvas, porque nesses casos a quantidade de espaço adicionado será maior. De qualquer forma, esse problema teria mesmo que ser contornado manualmente através de ajustes de espaçamento.

Microtipografia

Disponível apenas com o compilador pdfTeX, a opção microtype adiciona a capacidade de ajuste fino do espaçamento entre os caracteres, possibilitando a compressão ou expansão de um parágrafo, além de oferecer protusão de caracteres no início da linha ou extrusão de caracteres no final de linha.

Protusão quer dizer puxar para a esquerda, para fora da margem, uma parte de algum caracteres que tenha desequilíbrio para a esquerda, como por exemplo o “W”. A primeira base da letra fica sobre a margem e o braço esquerdo fica fora. Com isso, a linha escura da margem fica mais regular.

Extrusão quer dizer empurrar mais para a dirieta, para fora da margem, um caractere ou parte de caractere que não ocupa plenamente seu espaço. Por exemplo, uma vírgula ou a haste de um “f”. Ficando fora da margem, esses detalhes não interferem na linha escura, permitindo uma “mancha” de página mais regular.

Concluindo

Utilizando o LaTeX para produzir seus documentos imprimíveis você tem como conseguir uma qualidade de lay-out muito superior ao que obteria com outro software. Quer um exemplo claro? O texto deste post formatado pelo OpenOffice e pelo pdfLaTeX, em ambos os casos usando a fonte URW Arial, tamanho 10.


27
Mai 09
publicado por José Geraldo, às 11:10link do post | comentar

O processo de preparação do arquivo para impressão envolve duas coisas distintas: 1) separar miolo de capa e 2) preparar a capa em formato aberto.

Separação e Preparo da Capa

Esta foi a parte mais fácil, mas demorou até que eu percebesse o óbvio: pdfpages. Graças a este sensacional comando eu pude extrair a primeira e a última páginas do arquivo PDF contendo a revista inteira e montar as duas em formato aberto, exigido pela gráfica.

Para isto eu recorri ao seguinte código:

\documentclass{article}\usepackage{geometry}\geometry{ verbose,paperheight=30.34cm, % o tamanho exigido é umpaperwidth=42.61cm,  % pouco maior que o A3 tmargin=0mm,        % por causa do corte. bmargin=0mm, lmargin=0mm, rmargin=0mm, headsep=0mm, footskip=0mm}\usepackage{pdfpages}\begin{document}\thispagestyle{empty}\includepdf[pages={32,1},nup=2x1]{Demo.pdf}\end{document}

Notem a simplicidade e a elegância desta solução! O pacote pdfpages é realmente sensacional!

Separação e preparo do miolo

Agora só precisamos de um comando que separe as páginas do miolo. A solução que estou usando é o pdftk, mas este é um programa em Java (o que não me agrada muito porque para instalá-lo é preciso puxar mais de 30 MB de arquivos da rede. Enquanto não aparece solução melhor, fica ele mesmo, que pelo menos não reconverte o PDF, ao contrário de outras opções que testei.

O comando para separar o miolo é esse aqui:

pdftk Demo.pdf cat 3-30 output Miolo.pdf

E desta forma temos um arquivo chamado Capa.pdf gerado pela compilação do Capa.tex integralmente transcrito no início desta postagem e um arquivo Miolo.pdf gerado pelo comando acima listado. Basta encaminhar os dois para a gráfica e aguardar.


26
Mai 09
publicado por José Geraldo, às 10:35link do post | comentar

Minha mais recente aventura, enquanto convalesço de uma cirurgia para retirada de uma vesícula supurada, é fazer uma revista literária para a comunidade "Novos Escritores do Brasil" — da qual vocês já devem ter ouvido falar anteriormente.

Boa parte do que eu fiz para esta revista aproveita um estilo chamado dtp-like.sty que eu havia criado originalmente em 2007. Por esta razão muita coisa eu simplesmente não sei mais como funciona. Este registro tem, entre outras motivações, deixar registrado o processo para quando eu quiser utilizar de novo aquelas idéias.

Resumo geral:

  1. Digitar o conteúdo,
  2. Criar a capa e a contracapa,
  3. Criar os índices e referências automáticos,
  4. Inserir ilustrações e acertar as arestas,
  5. Compilar,
  6. Cortar o PDF separando capa de miolo
  7. Encaminhar para a Lulu

Neste processo é preciso ter em conta que o número de páginas deve ser múltiplo de 4, para evitar que a gráfica insira páginas em branco que vão enfeiar o produto final (são aceitáveis em um livro de dezenas de páginas, mas não em uma revista).

Preâmbulo do Documento

Queremos uma revista que ocupe ao máximo uma folha de papel A4, alternando quantidade de colunas (uma, duas, três) e com layout diferenciado frente e verso. Para isso as configurações básicas são:

\documentclass[a4paper,10pt,twoside,twocolumn]{article}
Atenção para os comandos twoside, twocolumn e 10pt!
\usepackage{epic,multicol}
O pacote epic é para usar figuras como plano de fundo e o multicol permite criar seções em colunas em uma página de uma coluna só ou até dentro de uma coluna.
\usepackage{dtp-like}
Esse é o meu pacote de configuração da revista, ainda tosco e sem comentários, mas eficiente. Quando a revista tiver saído eu vou fazer uma atualização dele e pôr aqui para download.
\usepackage[brazil]{polyglossia}\usepackage{fontspec}\usepackage{xunicode}\usepackage{xltxtra}
Usaremos o XeTeX para ter acesso liberado a fontes do sistema. Além disso o XeTeX introduz alguns comandos muito úteis, como o \addfontfeature, através do qual podemos controlar a cor e o tamanho do texto de forma muito precisa. Essa revista não poderia ter sido feita no pdfTeX.
\def\Name{o verbo}\title{\Name}\def\Nome{Revista dos Novos Escritores do Brasil}\author{\Nome}\def\edition{MAIO}\def\Year{2009}\def\Numero{1}\def\Ano{I}\def\Editora{Lulu Inc.}
Algumas predefinições para uso futuro.
\newcommand{\issue}{Ano \Ano, No.\ \numero, \edition/\Year}
Aqui criamos o comando "\issue" que sempre imprimirá os dados da edição atual da revista.
\def\style{Liberation}\def\MainFont{\style\space Serif}\def\SansFont{\style\space Sans}\def\MonoFont{\style\space Mono}\def\logofont{\style\space Serif}\newcommand\LogoFont[1]{{\fontspec[Scale=12.5]{\logofont}\bfseries\em\color{white} #1}}\newcommand\MarqueeFont[1]{{\fontspec[Scale=5]{\logofont}\bfseries\em #1}}\newcommand\IssueFont[1]{{\fontspec[Scale=1.25]{\SansFont}\color[gray]{0.9} #1}}\newcommand\issuefont[1]{{\fontspec[Scale=1]{\SansFont} #1}}\newcommand\newsfont[1]{{\fontspec[Scale=3.25]{\SansFont}\bfseries\em #1}}\newcommand\coverfootfont[1]{\sffamily #1}\newcommand\mailfont{\fontspec[Scale=MatchLowercase]{Droid Sans Fallback}}\defaultfontfeatures{Mapping=tex-text,RawFeature={+kern}}\setromanfont{\MainFont}\setsansfont[Scale=MatchLowercase]{\SansFont}\setmonofont[Scale=MatchLowercase]{Droid Sans Fallback}
Ufa! Aqui temos algo um pouco mais complexo. Ao longo da revista utilizaremos diversas variedades de tamanhos e estilos de fontes, todos definidos aqui. Desta forma, se quisermos mudar na revista inteira, bastará mudar aqui. Atenção para a macro \style através da qual armazenamos um nome básico de fonte que depois é replicado nos demais estilos. Essa macro é para usar conjuntos completos de fontes, dando aparência harmoniosa à revista. Exemplos desses conjuntos são:
  • Liberation (Ascender Corp., para Red Hat Inc.)
  • Droid (Ascender Corp., para Google Inc.)
  • Free (Free Software Foundation)
  • DejaVu (Bitstream Inc. para Free Software Foundation)
  • Aboriginal (Ascender Corp., para o Governo do Canadá)
  • Nimbus (URW++ GmbH para Free Software Foundation)
  • Bitstream Vera (Bitstream Inc. para Gnome Foundation)
  • Luxi (Bigelow & Holmes)
  • Lucida (Bigelow & Holmes para Sun Inc.)
Combinar fontes que não fazem parte de um conjunto é possível também, mas além de ser esteticamente arriscado se você não tiver bom gosto, ainda exigirá que você faça modificações no meu código aí... rsrs
\news{Poemas\\\medskip Contos\\\medskip Crônicas\\\medskip Crítica}\coverfoot{{\addfontfeature{Scale=0.9}\printindex}}
Os comandos \news e \coverfoot (definidos no estilo dtp-like) preenchem o conteúdo da capa.
\usepackage{makeidx}\makeindex\usepackage{nomencl}\makenomenclature
Estes comandos são muito importantes porque através deles será gerada a relação de autores, que terá duas formas: uma, na capa, acompanhada do número da página em que aparecem, funcionará como substituta do índice, e a outra, na quarta capa, acompanhada do e-mail. O comando \makeindex gera o comando \printindex e o comando \makenomenclature gera o \printnomenclature (no fim das contas ainda não usaremos este, mas ainda é preciso usar o \makenomenclature.

Página de abertura

A revista começa na página três, contendo os seguintes elementos: um quadro — exibindo o nome da revista, seu slogan e a identificação do número — o editorial, uma lista de diários virtuais favoritos (que você pode trocar por outra coisa) e o “expediente”.

\makecover\thispagestyle{empty}\clearpage\marquee\section*{Editorial}\section*{Blogs favoritos}\vfill\par\hrulefill\parIdentificação da revista, responsáveis, editora, etc.\onecolumn
E assim você começa a digitar o conteúdo.

Regras para digitação do conteúdo

Em primeiro lugar, você já deverá saber alternar entre uma e duas colunas (\onecolumn e \twocolumn) e usar o pacote multicols. Fica a critério de seu bom senso e bom gosto distribuir o texto e as ilustrações pelo corpo da revista. Não tenho como ensinar tudo aqui. O “pulo do gato” não é para qualquer onça dar...

Mas eu vou ensinar o truque para gerar os índices. Ele se baseia na utilização de um comando personalizado para abrir as seções. O comando é esse aqui:

\addsection{Nome do autor}{email do autor}{nome do texto}

Fique à vontade para criar o conteúdo da revista como preferir. Apenas use esse comando para armazenar os dados dos textos e autores. Inclusive, se preferir, você poderá gerar um índice tradicional usando o comando \tableofcontents. Vai funcionar direitim tamém.

Principais definições do estilo dtp-like

Algumas coisas que eu alterei são apenas opções de configuração de pacotes normais do LaTeX. Esta parte eu vou deixar a critério do bom gosto e do bom senso do leitor, apenas vou explicar os novos códigos que criei.

\RequirePackage{graphicx}\RequirePackage[hang]{footmisc}\RequirePackage{xcolor}\RequirePackage{eso-pic} % figura de fundo\RequirePackage{fancybox} % caixas de texto coloridas\RequirePackage{paralist,enumitem} % listas mais bonitas\setlist{nolistsep}
Estes pacotes são essenciais.
\RequirePackage{longtable} % tabelas que passam da página\RequirePackage{booktabs} % tabelas estilo livro\RequirePackage{colortbl} % tabelas coloridas\RequirePackage{lettrine} % capitulares\RequirePackage{cuted} % trecho em coluna única em página \twocolumn\RequirePackage{hyphenat} % controlar hífens\RequirePackage{verse} % formatar versos\definecolor{url}{gray}{0.2}
Estes podem ser ou não, dependendo do que você quiser fazer
\newcommand{\mytocentry}[3]{{\bfseries #1}, por #2}
Primeiro comando realmente importante. Este comando permite que a sua \tableofcontents exiba o título da obra em negrito, seguido pela frase “por Autor”, o que fica muito mais bonito que o sumário tradicional.
\renewcommand{\thesection}{}\newcommand{\addsection}[3]{\section[\sbtocentry{#3}{#1}{#2}]{#3}\index{#1}{\hfill\em\noindent{#1}}\nomenclature{#1}{(\url{#2})}}
Este código define um novo comando de abertura de seção, que armazena dados para os índices e para nosso sumário personalizado.
\makeatletter\providecommand\BackgroundPicture[1]{%  \setlength{\unitlength}{1pt}%  \put(0,\strip@pt\paperheight){%  \parbox[t][1\paperheight]{1\paperwidth}{%  \vfill\begin{center}    \includegraphics[width=1\paperwidth,keepaspectratio]{#1}\end{center}\vfill}}}\makeatother
Esse código cria um comando para inserção simplificada de uma figura de fundo na capa. A configuração é de centralizar a figura na área de página total.
\providecommand{\@news}{}\newcommand{\news}[1]{\renewcommand{\@news}{\vfill\begin{flushright}\newsfont{#1}\\\bigskip\end{flushright}}}\providecommand{\@coverfoot}{}\newcommand{\coverfoot}[1]{\renewcommand{\@coverfoot}{\coverfootfont{#1}}}
Criação dos comandos de manchete (\news) e rodapé da capa (\coverfoot).
\fancypagestyle{cover}{\fancyhf{}\renewcommand{\headrulewidth}{0pt}\renewcommand{\footrulewidth}{0pt}\fancyfoot{}}\makeatletter\providecommand{\makecover}{%\thispagestyle{cover}\onecolumn\begin{minipage}[H]{1\textwidth}\begin{center}\LogoFont{\Name}\\\bigskip\IssueFont{\Nome}\space\space\IssueFont{\issue}\end{center}\end{minipage}\pagecolor{covercolor}\AddToShipoutPicture*{\BackgroundPicture{FiguraCapa}}{\color{white}\@news\@coverfoot}\twocolumn\pagecolor{white}}\makeatother
Este comando cria uma capa personalizada, com uma figura de plano de fundo e da cor covercolor (que você deverá ter definido antes a seu gosto). Se o arquivo da figura da capa se chamar literalmente FiguraCapa você não precisa editar nada. Se tiver outro nome, você deverá mudar. Dããã...
\newcommand\marquee{\begin{center}\noindent\MarqueeFont{\Name}\par\medskip\noindent{\large\scshape\Nome}\smallskip\noindent\issuefont{\issue}\par\hrulefill\par\end{center}}
O comando marquee criará um selo de identificação da revista, que você poderá posicionar onde quiser. Na configuração padrão ele fica acima do Editorial.
\RequirePackage{sectsty}\allsectionsfont{\centering\sffamily}
Este código é importante se você quiser que a fonte dos títulos seja diferente da fonte do texto.
\renewenvironment{theindex}{\textbf{Apresentando:\quad\quad}\renewcommand\item{}}{}
Aqui nós estamos mudando o comportamento padrão do índice remissivo para que apresente os autores em um parágrafo só.

Configurações do makeindex

Utilizo o pacote makeindex para gerar um índice remissivo de autores, com indicação da página em que estão publicados. Este índice é formatado segundo as seguintes configurações, que devem estar armazenadas em um arquivo de extensão *.ist do mesmo nome do documento base:

actual '='quote '!'level '>'preamble"\\nopagebreak\\begin{theindex}"postamble"\\end{theindex}\\quad\\quad"item_x1   "\n \\subitem "item_x2   "\n \\subsubitem "delim_0   " ("delim_t    ")\\quad"group_skip ""lethead_prefix   "{\\bfseries "lethead_suffix   "\\hfil}\\nopagebreak\n"lethead_flag       0heading_prefix   "{\\bfseries "heading_suffix   "\\hfil}\\nopagebreak\n"headings_flag       0

O comando para gerar o índice é:

makeindex -s "$doc_base.ist" "$doc_base"

Configurações do nomencl

Utilizo o pacote nomencl para gerar um índice de autores acompanhado por seus e-mails. Esta não é a finalidade original do pacote, que se presta a criar glossários. Por isso eu não consegui fazer esta parte funcionar perfeitamente. Em vez do comando \printnomenclature eu estou simplesmente incluindo o arquivo de extensão *.nls que é gerado pelo comando:

makeindex "$doc_base.nlo" -s nomencl.ist -t "$doc_base.nlg" -o "$doc_base.nls"

Antes de fazer a inclusão é necessário limpar do arquivo *.nls algumas marcas de formatação, o que eu faço usando o sed:

sed -e 's/\\item \[/\\quad\\textbf\{/g' sed -e 's/\]\\begingroup /\}\\quad/g'sed -e 's/^[ \t]*//' -e '/nompageref/d' sed -e '/description/d'

No meu editor de LaTeX eu criei um script no menu que executa tudo isso como um one-liner, mas talvez seja melhor criar um shell script que automatize isso já no processo do makeindex. Preciso da ajuda de um guru de shell para isso, pois sou cru nessa área.

Por fim, faça a inclusão:

\renewcommand{\nomeqref}[1]{\iffalse{#1}\fi}\noindent\hrulefill\\\input{Demo.nls}\noindent\hrulefill

A redefinição do comando \nomeqref é essencial para não dar erro, mas as linhas (\hrulefill) são só estética, gosto meu...

Conclusões

Espero ter conseguido provar que dá para fazer um layout de revista usando o LaTeX (algo que pouca gente supunha possível). Dentro de alguns dias a revista vai estar disponível à venda e vou postar o link aqui para quem quiser conferir. Garanto que ficou muito bacana.


24
Mar 09
publicado por José Geraldo, às 22:54link do post | comentar

Os arquivos paperback.tex, hardcover.tex, pocket.tex e screen.tex são responsáveis pela definição do tamanho de página em que será impresso o livro. Notem que eu não carreguei junto com a classe as definições padrão de tamanho de página (a5paper). Isto é porque o pacote geometry permite um controle muito mais refinado.

O formato padrão de livro que eu utilizei ao publicar pela Lulu.com foi o que eles chamam de “paperback”, que tem várias opções de tamanho de papel. Devido à minha familiaridade com os padrões de papel da iso eu preferi usar o tamanho A5, que é bastante adequado para a maioria dos formatos de livro.

Para fazer o seu livro em formato A5, use a seguinte configuração em seu preâmbulo:

\usepackage[a5paper,bmargin=2cm,tmargin=2cm,%rmargin=2cm,lmargin=2cm,%includefoot, footskip=6ex]{geometry}

No exemplo acima você percebe que o pacote é carregado com as opções de tamanho de papel A5 e definindo margens “quadradas” de 2cm em todos os lados. A opção “includefoot” significa que o rodapé da página (onde ficarão os números de página) será posto “dentro” da margem de 2cm. Por isso, se você quer uma margem inferior bonita, poderá optar por definir uma “bmargin” menor que 2cm. Eu tentei e não gostei, mas gosto é gosto.

Depois de definir o formato A5 para o meu livro eu descobri, para meu desgosto, que as opções de tamanho de papel para as versões em capa dura não incluíam o tamanho que eu escolhera. Para contornar isso eu retirei as configurações de tamanho de página do preâmbulo e salvei em um arquivo à parte. Depois criei outro arquivo contendo as definições necessárias para o formato de papel não-padrão que a Lulu usa para edições de capa dura. Agora eu podia alternar entre os formatos na hora de compilar o arquivo!

As definições para o formato em capa dura são:

\usepackage{fontspec}\usepackage{xunicode}\usepackage{xltxtra}\usepackage[paperheight=9in,paperwidth=6in,%hmarginratio=3:2]{geometry}\defaultfontfeatures{Scale=1.1,Mapping=tex-text,%RawFeature={+kern}}

Aqui temos um pouco de magia negra em ação. Eu tive de remover também a configuração padrão de fontes e incluir nos arquivos que geram os formatos diferentes. Isto foi necessário porque compilando o mesmo livro em dois tamanhos de papel diferentes, com margens diferentes, é também necessário usar tamanhos de fonte diferentes. A versão em capa dura tem um papel maior, por isso nela eu uso uma fonte 10% maior.

Eu tive de definir um formato de papel fora do padrão (“paperheight” e “paperwidth”) e simplifiquei a definição de margens simplesmente revertendo o padrão do LaTeX, que é colocar margens mais largas do lado de fora a fim de acomodar as notas marginais. De resto, confiei na sabedoria do LaTeX e não me arrependi.

Os pacotes fontspec, xunicode e xltxtra, bem como as defaultfontfeatures tiveram de ser copiadas e colocadas no arquivo paperback.tex também (lá a opção "Scale" foi retirada).

assuntos: , ,

24
Fev 09
publicado por José Geraldo, às 16:53link do post | comentar

Através do LaTeX é possível obter um grau razoável de separação entre conteúdo e apresentação, o suficiente para ter certo controle sobre a forma do documento. Em nossa experiência tentaremos gerar quatro versões de um mesmo documento (um texto de romance com 140 páginas em a5):

  • uma versão em paperback tamanho a5
  • uma versão "hardcover" com papel ligeiramente maior
  • uma versão "pocket" com papel menor e bem mais estreito
  • uma versão otimizada para leitura on-line

A segunda versão terá menos páginas (cerca de 15% de páginas a menos) e a terceira terá bem mais páginas (cerca de 30% a mais). A versão para leitura on-line terá mais ou menos a mesma quantidade de páginas que a versão "pocket".

Para isso o documento será composto de oito arquivos:

  • arquivo mestre
    • arquivo de configurações básicas
    • arquivo de configuração de papel
    • arquivo de hifenização
    • arquivo de configuração de fontes
    • arquivo de configurações avançadas
    • gerador de capa e conteúdo pré-textual
    • conteúdo

Sugiro que você crie uma pasta com o nome do documento e dentro dela um arquivo nomedodocumento.tex. Os demais arquivos se chamarão:

  • preamble.tex
  • paperback.tex / hardcover.tex / pocket.tex / screen.tex
  • hyphenation.tex
  • fontspec.tex
  • config.tex
  • maketitle.tex
  • content.tex

Você poderá mudar os nomes dos arquivos sempre que quiser, mas eu recomendo começar com esses nomes — que são os que eu uso — para simplificar.

Arquivo mestre

O arquivo mestre deve conter o seguinte:

\RequirePackage{ifpdf}\ifpdf\documentclass[pdftex,twoside,12pt]{scrbook}\usepackage[brazil]{babel}\else\documentclass[twoside,12pt]{scrbook}\usepackage[brazil]{polyglossia}\fi\newcommand\book{} % título do livro\newcommand\covertop{} %  aqui dividimos o título em até três\newcommand\covermid{} % partes a fim de facilitar a formatação\newcommand\coverbottom{}\title{\book}\usepackage{sectsty}\partfont{\thispagestyle{empty}\huge}\chapterfont{\centering\Large}\sectionfont{\centering\large\sffamily}\newcommand\flourish{\fontspec{DejaVu Sans}❦} % separador\newcommand\genre{} % para uso na ficha catalográfica\newcommand\indiceum{Novela: Século \textsc{xxi}: Ficção brasileira}\newcommand\indicedois{Ficção: Novela: Novelas brasileiras}\newcommand\covertopfont{\fontsize{40bp}{40bp}\selectfont\bfseries}\newcommand\covermidfont{\fontsize{40bp}{40bp}\selectfont\bfseries}\newcommand\coverbottomfont{\fontsize{40bp}{40bp}\selectfont\bfseries}% os comandos das três linhas acima formatarão a capa\input{paperback} % configura o tamanho do papel\input{hyphenation} % arquivo global de hifenização, opcional\ifpdf\input{pdflatex} % configura as fontes, se usar pdfTeX\else\input{fontspec} % configura as fontes, se usar XeTeX\fi\input{config} % outras configurações avançadas\input{maketitle} % capa personalizada\input{content}
Observe na configuração acima que o mesmo arquivo pode ser compilado tanto pelo pdfTeX (mais conservador, apenas fontes do LaTeX) quanto pelo XeTeX (mais avançado e menos estável, incluindo fontes em geral).Se não quiser utilizar ainda todas as configurações avançadas, comente as linhas {paperback}, {config} e {maketitle}, crie um arquivo content.tex com o seu texto e vamos experimentar o que o LaTeX pode fazer.

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